• 14° SINAGEO – Simpósio Nacional de Geomorfologia
  • Corumbá / MS
  • 24 a 30 de Agosto de 2023

USO DE LEGUMINOSA E ALTERAÇÕES DAS PROPRIEDADES FÍSICAS EM ARGISSOLO VERMELHO DISTRÓFICO ABRUPTO NA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE PESQUISA DE EROSÃO-ASSENTAMENTO FAZENDA ENGENHO NOVO (EEPE-AFEN) – MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO/RJ

Autores

  • LARYSSA SOUZA DE ALMEIDAUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/ FFPEmail: laryssasouzadealmeida@gmail.com
  • ANA VALÉRIA FREIRE ALLEMÃO BERTOLINOUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/ FFPEmail: anabertolino@uol.com.br
  • THIAGO NEVES SIMEÃOUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/ FFPEmail: thiagoneves078@gmail.com
  • VITÓRIA NICKNIG ALEXANDREUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/ FFPEmail: vitorianicknigrj@hotmail.com
  • JEFERSON ROSA DA SILVAUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/ FFPEmail: profjefersonrosageo@gmail.com

Resumo

Em áreas onde apresenta atividades agrícolas é essencial o uso de práticas de manejo que ajudam à conservação do solo. O trabalho tem como objetivo central avaliar as modificações ocorridas nas propriedades físicas dos solos em decorrência do uso de leguminosas. Os resultados de granulometria evidenciaram uma diminuição da fração areia do topo do solo para a região de subsuperfície, ocorrendo o inverso com a fração da argila, o que demonstra a presença de uma descontinuidade hidráulica ao longo do perfil. Em relação aos dados de macroporosidade constatou-se que a parcela com presença de leguminosas (AP) apresentou um valor de macroporos mais expressivos em relação à parcela sem cobertura (SC), sendo os valores de microporosidade similares. Já a densidade do solo na parcela AP apresentou valores menores em relação à parcela SC. Entende- se que o manejo com leguminosas auxiliou na melhoria das propriedades físicas do solo temporalmente, diferente do tratamento sem cobertura vegetal.

Palavras chaves

argissolo; propriedades físicas; leguminosa; manejo; conservação

Introdução

O solo é o resultado de combinações, como: material de origem, clima, relevo organismos e tempo (Resende et. al, 2014). É um recurso natural que apresenta um sistema trifásico (sólido, líquido e gasoso), dinâmico e heterogêneo, que sofre interações antrópicas e naturais (EMBRAPA, 2018). Sendo assim, para Reichardt & Timm (2016) o emprego de práticas de manejo que contribuam para a conservação física, química e biológica do solo é essencial. Vários fatores podem ajudar e/ou afetar a conservação do solo. O tipo de cobertura vegetal, manejo e uso adequado contribuem para a regeneração do sistema, por outro lado, o uso de arado, falta de cobertura vegetal, pisoteio de gado, etc., podem, minimizar a infiltração e aumentar a erosão do solo (Guerra et. al.,2014). As áreas mantidas sem cobertura vegetal são as mais predispostas a efeitos desfavoráveis, que acarretam perdas de água e solo e até de nutrientes por erosão e lixiviação (CALEGARI, 2008). O manejo do solo provoca mudanças na estrutura natural e facilita uma série de transformações. Dependendo da técnica de preparo utilizada, podem ocorrer modificações que beneficiem e/ou prejudiquem o sistema. Sendo que, mudanças podem levar a alterações no comportamento hidrológico que intensificam a erosão em áreas específicas (Guerra et al., 2014). A vulnerabilidade dos solos à erosão é variada estando estreitamente associada às propriedades físicas, químicas e biológicas. Dependendo da classe de solo algumas variáveis tornam-se mais importantes do que outras (BERTONI e LOBARDI NETO, 2008). Uma solução para reduzir o impacto da erosão pode estar associado à restauração da cobertura vegetal, pois tem a função ecológica de recuperar o solo. O objetivo da vegetação é aumentar a concentração de matéria orgânica, restaurando corpos orgânicos e melhorando as características físicas, químicas e biológicas do solo. As leguminosas são amplamente utilizadas em práticas de adubação verde e têm uma forte capacidade de fixação biológica de nitrogênio, além de auxiliar no aumento do conteúdo de matéria orgânica do solo, e também, são amplamente utilizados como culturas de cobertura. (ESPINDOLA et al., 2005). Por causa dessa combinação de fatores, as leguminosas são consideradas plantas melhoradoras do solo (BORGES; XAVIER & CARVALHO, 2015). A leguminosa denominada de amendoim forrageiro (Arachis pintoi), utilizada neste estudo é uma leguminosa perene rasteira nativa do Brasil que se adapta a temperaturas baixas extremas e tolera secas moderadas principalmente em climas tropicais e subtropicais. Tem altura média de 0,20 a 0,40 m e possui raiz rotativa. Adapta-se a solos argilosos e arenosos, mas produz uma vegetação mais numerosas nos solos mais férteis. Essa leguminosa tem boa tolerância ao sombreamento e ao pisoteio e é recomendada para cobertura permanente do solo em culturas perenes destinadas a controlar a erosão, competir com plantas invasoras e fixar nitrogênio atmosférico (Embrapa, 2004; FORTUNATO, 2019). Desse modo, o estudo tem como objetivo central avaliar as modificações ocorridas nas propriedades físicas dos solos em decorrência da adubação verde.

Material e métodos

O presente estudo vem sendo desenvolvido no munícipio de São Gonçalo, em relevo suave colinoso, com declividade de 15% e elevação de 38 m, na Estação Experimental de Pesquisa de Erosão Assentamento Fazenda Engenho Novo (Mapa e Figura 1). Sendo assim, estudados em duas parcelas experimentais do tipo Wichmeyer (MEYER & WICHMEYER, 1969), com delimitações de chapas galvanizadas com dimensão 4x22m, que totaliza 88 m2, que são conectadas as caixas coletoras de 1000L e vem sendo monitoradas desde 2015 (Figura 1). As parcelas apresentam diferentes tipos de manejo: a) parcela sem cobertura vegetal (T0): não é empregado nenhum tipo de cobertura vegetal, assim é mantida sua total exposição às condições atmosféricas e b) parcela com presença de leguminosas (T1): presença de leguminosa do tipo amendoim forrageiro (Arachis pintoi). As mudas foram plantadas no final de novembro de 2021 e replantadas em janeiro de 2022. O espaçamento utilizado foi de 60 cm entre as pequenas covas de uma profundidade entre 2-3 cm. Foram realizadas análises de granulometria, porosidade total, macroporosidade, microporosidade e densidade aparente foram realizadas no Laboratório de Geociências – UERJ/FFP. Para a análise de granulometria foram retiradas amostras deformadas, nas porções alta, média e baixa da encosta nas duas parcelas T0 e T1, em três profundidades específicas (0 – 5 cm; 20-25 cm e 40-45 cm). As análises foram realizadas utilizando o Método da Pipeta (EMBRAPA, 2021). Para a obtenção de amostras indeformadas para os ensaios de porosidade total, macroporosidade e microporosidade foram realizadas segundo o Método do Anel Volumétrico (EMBRAPA, 2021). Foram coletadas 05 amostras na profundidade de 0 – 5 cm, dentro das parcelas de erosão (T0 e T1), em três momentos distintos: a)1°coleta: dia 23/11/2021; foram realizados ensaios de porosidade total; e densidade aparente; b) 2°coleta: dia 15/02/2022; foram realizados ensaios de porosidade total; e densidade aparente; c) 3°coleta: dia 30/05/2022; foram realizados ensaios de porosidade total, macroporosidade, microporosidade e densidade aparente. Para realização dos ensaios de porosidade total, macroporosidade e microporosidade foi utilizado o método da mesa de tensão (EMBRAPA, 2021), foram coletadas amostras indeformadas em quintuplicatas com anéis de 50 cm 3. Em laboratório, as amostras foram saturadas por 24 horas. Para se verificar o grau de saturação das amostras, as mesmas foram pesadas ao longo do tempo até o peso constante. Após a saturação as amostras foram transferidas para a mesa de tensão e colocadas sobre um mata-borrão por um período de 72 horas ou mais (dependendo do material), sob uma tensão de 60 cm de água. Esta tensão é suficiente para retirar somente a água contida nos macroporos das amostras. Após a retirada da água dos macroporos, pesa-se novamente as amostras e coloca-se em estufa por 24 horas, obtendo-se o peso da amostra seca a 110 ºC. Por intermédio das equações abaixo obtém-se os valores de porosidade total, macroporosidade, microporosidade e densidade aparente. Porosidade Total (Pt) = [(a - b)-(c - d)] / e Em que: (a) Massa do conj. amostra – cilindro – tecido – elástico saturado, em kg; (b) Massa do conj. amostra – cilindro – tecido – elástico seco a 105 °C, em kg; (c) Massa do conj. cilindro – tecido – elástico saturado, em kg; (d) Massa do conj. cilindro – tecido – elástico seco a 105 °C, em kg; e (e) Volume total da amostra, em m3. Nesse caso, assume-se que o volume total da amostra é igual ao volume do cilindro. Para os cálculos da macroporosidade (%) e microporosidade (%), respectivamente: Microporosidade (Mi) = (a – b) / c Em que: (a) Massa do solo seco + água retida, após equilíbrio com um potencial de 6 kPa (60 cm de coluna de água), em g; (b) Massa do solo seco a 105 ºC, em g; e (c) Volume total da amostra, em cm3 (nesse caso, assume-se que o volume total da amostra é igual ao volume do cilindro).

Resultado e discussão

O solo presente na área de estudo, são os Argissolos são solos constituídos por material mineral com horizonte B textural, com evidente incremento no teor de argila do horizonte superficial para o horizonte B, com ou sem decréscimo nos horizontes subjacentes. A transição entre A e Bt é usualmente clara, abrupta ou gradual. A textura varia de arenosa a argilosa no horizonte A, e de média a muito argilosa no horizonte B textural, sempre havendo aumento no teor de argila daquele para este. Os perfis destes solos são geralmente profundos, variando de 1,50 a 2,50 m, sendo de bem a moderadamente drenados e, devido à diferença de textura do horizonte A para o B são reconhecidamente suscetíveis à ocorrência de processos erosivos (EMBRAPA/SiBCS, 2015). Desse modo, o estudo foi desenvolvido em Argissolos Vermelho Distrófico Abrupto, que possui a camada mais superficial denominada de Horizonte Ap, que representa a camada de cultivo e revolvida, mais comumente utilizada pelas culturas. A textura é classificada como franco-argilo-arenosa. Abaixo está o horizonte Bt1, de transição, com 10 cm de espessura, apresentando uma textura argilosa. Em seguida está o horizonte Bt2, com cerca de 40 cm de espessura, tendo uma textura bem argilosa. Por fim, o horizonte C, tem textura argilosa. O caráter distrófico decorreu do valor de saturação de bases inferiores a 50 % no horizonte diagnóstico B. Finalmente, um aumento no teor de argila em pequenas distâncias na zona de transição imediata entre os horizontes Ap e Bt1 resultando em um horizonte diagnóstico Btextural. Os resultados demonstram que o horizonte superficial (0-5 cm) da parcela SC – T0 apresenta uma fração de argila mais baixa (180 g/kg-1), por ser gradativamente perdida em decorrência dos processos erosivos. Já a fração de areia (680 g/kg-1) se apresenta mais alta pela perda da argila. Já o silte nas três profundidades apresentam proximidades (entre 130 a 140 g/kg-1). Na parcela AP – T1, na profundidade de 0-5 cm a fração de areia (720 g/kg-1) se apresenta mais alta que na parcela SC – T0, na profundidade de 40 cm apresenta a fração de areia e argila similares (440 g/kg-1), já a fração de silte é mais alta na profundidade de 20 cm (240 g/kg-1) e mais baixa na profundidade de 40 cm (120 g/kg-1). Na parcela T0, a profundidade 0 – 5 cm apresenta a classe textural de franco arenosa, na de 20 cm argilo-arenosa e na de 40 cm argilosa. Já na parcela T1 a profundidade 0 – 5 cm apresenta-se de modo similar a T0 como tendo a classe predominante de franco arenosa, a profundidade de 20 cm encontra-se a classe a franco arenosa e na de 40 cm argilosa. Em síntese, é importante ressaltar que a limitação física do Argissolo presente na área de estudo está relacionada à mudança estrutural abrupta da transição natural entre as profundidades 0 a 40 cm. Isto promove uma descontinuidade hidráulica entre o topo do solo e o horizonte subjacente, tornando-o mais suscetível à erosão hídrica. Os resultados de porosidade total e densidade do solo da parcela T0 demonstram, na primeira coleta (23/11/2021), valores da ordem de 36% e 1,3 g/cm3 respectivamente. Já na segunda coleta (15/02/2022), verifica-se valores de 40% e 1,4 g/ cm3. Esses resultados demonstram um aumento do grau de compactação da parcela T0. Corroborando com esses resultados verifica-se na terceira coleta (30/05/2022) da parcela T0, um percentual baixo de macroporos, em torno de 14% (tabela 3) e um valor de densidade do solo alto (1,4 g/cm3). Sendo assim , esses resultados irão influenciar na diminuição da capacidade de infiltração, bem como no aumento do escoamento superficial e erosão dessa área. Em contrapartida, na parcela T1, a coleta realizada no dia 23/11/2021, demonstrou um valor de porosidade total em torno de 42% e um menor grau da densidade do solo (1,2 g/cm3). Na coleta 2 (15/02/2022), a porosidade total apresentou valores da ordem de 44% e densidade do solo de 1,3 g/cm3. Já na coleta 3 (30/05/2022), constatou-se valores de macroporos de 18% e densidade do solo de 1,3 g/cm3. Esses resultados demonstram que o uso de leguminosas foi eficaz na melhoria das propriedades físicas do solo o que irá influenciar no aumento da capacidade de infiltração dessa parcela. Segundo BRADY & WEIL (2013) a macroporosidade do solo permite a movimentação do ar e da água de modo livre, acomodando também os bioporos (as raízes e pequenos animais) principalmente em solos argilosos. Para Reinert et al. (2008) e BRADY & WEIL (2013), a densidade do solo é uma importante medida de qualidade para entender o grau de compactação que existe nos ambientes e é uma propriedade física derivada de fatores e processos de formação do solo.

Mapa e figura 1

O mapa sinaliza os lotes do assentamento, o Sitio Carvalho de Justiça e a localização da Estação Climatológica. Já a figura 1 é referente as parcelas.

Tabelas 1, 2 e 3

As tabelas são referentes Classificação textural das parcelas, dados de Porosidade total, densidade do solo, macro e microporosidade e os dados médios

Gráfico de granulometria

Valores médios das frações areia, silte e argila encontrados nas parcelas T0 e T1.

Considerações Finais

Os resultados das análises granulométricas evidenciaram que as frações de areia e argila tem teores maiores do que a fração de silte. Porém, a parcela SC – T0 apresenta uma fração de argila mais alta na profundidade de 0 – 5 cm, diferente da parcela AP – T1 e de areia mais alto no topo do solo, por estar exposto a processos erosivos. Na análise de macroporosidade e densidade do solo, verificou-se um aumento dos macroporos e uma diminuição da densidade na T1. Em conclusão, é importante destacar que existem limitações físicas do Argissolo presentes na área de estudo, onde são necessárias práticas de manejo e aproveitamento do solo que ajudem a preservar e melhorar as propriedades físicas. O manejo da parcela com leguminosas (T1) vem apresentando uma resposta muito significativa nas melhorias das propriedades físicas, em referência ao tratamento da parcela sem cobertura (T0).

Agradecimentos

Os autores expressam agradecimentos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro e ao PROINFRA/UERJ pelas bolsas e financiamentos concedidos.

Referências

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