Autores
- HENRIQUE MOURAUNIVRSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: henrique.moura@ifch.ufpa.br
- KAYQUE DIASUNIVRSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: kayquedias093@gmail.com
- LUCIVALDO FERREIRAUNIVRSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: lucivaldo.ferreira@ananindeua.ufpa.br
- ALAN ARAÚJOUNIVRSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: alanaraujo@ufpa.br
- JOÃO NAHUMUNIVRSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: prof.joaonahum@gmail.com
Resumo
Os infortúnios causados pelas mudanças climáticas relatados pelo mundo todo,
trazendo consigo diversos problemas relacionados a enchentes, deslizamentos,
secas, entre outros eventos prejudiciais ao local. Na região amazônica
brasileira, tais desastres são testemunhados em vários Estados que compõem esta,
isso, influenciado não só pelo clima, como também pela geomorfologia estrutural
da área e pela urbanização desordenada que vêm acontecendo no mundo todo.
Portanto, através do estudo de casos relacionados ao tema, a obtenção de dados
pluviométricos e geomorfológicos, além da análise da relação existente entre os
fatores citados para identificar a relação entre a dinâmica da paisagem sob a
óptica do clima e da estrutura do relevo na microrregião de Tomé-Açu. Assim,
enfatiza-se a importância de estudos como esse para a gestão e proteção do meio
ambiente pela sociedade e pelo Estado, especialmente em um contexto de mudanças
climáticas e expansão populacional em áreas físicas vulneráveis.
Palavras chaves
Clima; Expansão Urbana; Risco Geomorfológico; Desastres Naturais; Inundações
Introdução
Desastres causados por inundações são registrados pela mídia global todos os
anos. Muitas vezes esses são intensificados pela intrusão humana no meio
natural, causando diversos problemas a muitos países que sofrem com perdas
materiais e sociais, de forma direta ou indireta (BOTELHO, 2004).
No Brasil, esses eventos se mostram comuns, principalmente em áreas físicas de
maiores riscos ambientais (planícies, depressões e fundo de vales), onde o
escoamento superficial é limitado pelo precário, ou mesmo inexistente, sistema
de drenagem local (TEODORO; NUNES, 2010).
A urbanização desordenada das cidades brasileiras, construídas historicamente à
margens de rios, e o desmatamento da floresta para a expansão destas, diminui a
eficiência desse meio em se proteger contra tal fenômeno ligado às flutuações da
quantidade de chuva (MONTEIRO, 2011; LIMA; AMORIM, 2014; SILVA; MONTENEGRO;
ROCHA, 2014).
O Estado do Pará (Amazônia Oriental)pode ser caracterizado pelos elevados
índices pluviométricos devido a sua localização geográfica sobre influência da
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) da Terra, presencia todos os anos
relatos sobre enchentes em áreas urbanas, agrícolas ou naturais, muitas vezes
esquecidas pelo governo, e cada vez mais propícias a catástrofes no meio natural
e urbano (PEGADO et al, 2014; CUPERTINO et al, 2019).
As crescentes modificações no espaço natural do Pará, tornam os estudos sobre a
dinâmica climática, assim como os de geomorfologia, fundamentais para o
planejamento de diversos setores econômicos - industrial, pecuário e agrícola
(SODRÉ; RODRIGUES, 2013; FURTADO; PONTE, 2013; RIBEIRO et al., 2014). Com
objetivo de melhor compreender esses fenômenos, diversos trabalhos que retratam
a influência climática sobre o meio natural no Estado do Pará foram
desenvolvidos, com destaque para trabalhos de Sodré e Rodrigues (2013), Santiago
e Turrini (2015), Moraes et al. (2022) e Santos e Pontes (2022), os quais trazem
à tona a importância da compreensão climática e geomorfológica também para a
saúde e o desenvolvimento humano e econômico de uma região.
Diante do exposto, o objetivo da presente artigo é analisar a relação do clima e
do relevo sobre os desastres naturais na microrregião de Tomé-Açu (nordeste
paraense), a qual é composta por 5 municípios, clima tropical-úmido com altos
níveis de precipitação, e que vem sofrendo impactos ambientais nos últimos 20
anos com o desflorestamento para expansão urbana e o plantio de dendê.
Material e métodos
A microrregião paraense Tomé-Açu é composta pelos municípios de Tomé Açu, Acará,
Moju, Concórdia do Pará e Tailândia, e segundo estimativas do IBGE para o ano de
2021, possui 350.398 habitantes, sendo Tailândia e Moju os municípios mais
populosos. O território sofreu e sofre com as mudanças relacionadas a introdução
da dendeicultura, que trouxe consigo novas formas de trabalho que ecoaram de
maneira tão significativa no espaço, extrapolando as relações de trabalho,
impactando o modo de vida de seus moradores, assim como a relação que estes
tinham com o meio ambiente local (CARVALHO, 2016).
O desenvolvimento metodológico da pesquisa inicia-se com o levantamento
bibliográfico de artigos, livros e documentos cartográficos que retratam as
características climáticas, geomorfológicas e socioeconômicas da região de
estudo. Em seguida executou-se mais 4 etapas, a saber: 1) A obtenção dos dados
cartográficos para delimitação da área, assim como os dados utilizados nas
definições das áreas antrópica e geomorfológica obtidas através das bases de
dados de instituições federais como o IBGE (2020), ANA (2020) e FUNAI (2019); 2)
Uso do plugin “Open Topography DEM Downloader” no QGIS 3.18, criado por Kyaw
Naing Win, onde foi gerado o Modelo de Elevação Digital (MDE) com dados satélite
Copernicus com resolução de 30 metros para execução do perfil topográfico pelo
plugin Profile tool, de autoria de Borys Jurgiel, Patrice Verchere, Etienne
Tourigny e Javier Becerra. 3) A construção de códigos escritos em JavaScript na
plataforma digital Google Earth Engine para obter os dados de precipitação
anuais e mensais produzidos pelos satélites “Climate Hazards Group InfraRed
Precipitation with Station data” (CHIRPS) para os períodos 2001 - 2010 e 2011-
2020. O código está disponível em
https://code.earthengine.google.com/57d39a47a7c00d05b22cdc5bf2eb1de0 ; 4) Por
fim, os dados gerados foram analisados e compilados no QGIS 3.18, estabelecendo
as classes altimétricas a áreas que sofrem maior influência climática.
Resultado e discussão
Nas últimas décadas a sociedade e os usos da terra se expandiram abruptamente,
na microrregião de Tomé-Açu, assim cada vez mais recursos são necessários para
se desenvolver as cidades e o campo, o que traz consigo diversos problemas
relacionados ao meio natural e à gestão pública, que intensificam os danos
advindos com inundações da planície fluvial dos rios (SANTIAGO; TURRINI, 2015;
LIMA et al., 2019; MORAES et al., 2022).
A microrregião de Tomé-Açu possui seu relevo com altitudes baixas, variando de 9
até um pouco mais de 80 metros (figura 1), a estrutura do mesmo, caracterizada
pela presença de unidades geomorfológicas de baixas elevações (Quadro 1), que
junto com clima que possa proporcionar grandes quantidades de chuvas em curtos
espaço de tempo, definem a ocorrência de inundações nas áreas mais baixas, as
quais agregam em seu leito o escoamento superficial das demais áreas, que, sem a
interferência antrópica, seria reduzido pela composição biótica da região
(AB’SABER, 1975; FURTADO; PONTE, 2013; SODRÉ; RODRIGUES, 2013).
O clima da microrregião de Tomé-Açu é característico na região amazônica, com
precipitações elevadas e prolongadas nos meses de dezembro a março, como pode
ser observado na figura 2. Percebe-se que ocorreu mudanças no quantitativo médio
de chuvas nas décadas de 2001-2010 e 2011-2020, que podem estar relacionados a
mudanças climática globais, ou aos episódios ENOS, que se torna uma preocupação
para as cidades construídas no território, que por consequência tendem a sofrer
com os desastres que uma enchente pode gerar (BOTELHO, 2004; SANTIAGO; TURRINI,
2015).
Dessa forma, ainda segundo Botelho (2004), a estrutura física do relevo
influencia na ocorrência das enchentes principalmente se tratando de municípios
localizados em áreas de planícies próximas a rios e de elevada precipitação
local, como o que percebemos nas cidades que compõe a microrregião de Tomé-Açu.
Com a dinâmica climática sofrendo constantes mudanças, além da expansão
populacional humana no mundo todo, vem crescendo cada vez mais a tendência de
intensificação de ameaças relacionadas a eventos em várias regiões do mundo
(SODRE; RODRIGUES, 2013). Na microrregião percebemos a mesma dinâmica quando
tratamos da relação dos diversos fatores que influenciam tal problemática.
Portando, como retrata Botelho, 2004; Sodré e Rodrigues, 2013; e Santiago e
Turrini, 2015, os eventos climáticos quando mal tratados e prevenidos de forma
correta sempre trará com si diversos problemas socioeconômicos que prejudicam a
relação de coexistência da vida de uma região, tornando assim trabalhos iguais a
esses de suma importância para a correta gestão e proteção do meio pelo Estado e
pela sociedade existente.
Mapa de média pluviométrica em 20 anos e graficos de precipitação média por mês e acumulado por anos
Caracterização da estrutura geomorfológica da microrregião
Mapa Hipsométrico da microrregião e localização das sedes municipais
Considerações Finais
A metodologia utilizada no trabalho nos permite afirmar que dentro da microrregião
de Tomé-Açu as cidades existentes se concentram nas partes mais baixas e próximas
a rios, as quais sofrem maior influência dos elevados níveis de precipitação.
Isso, intensificado pelo fato de que para a expansão dessas cidades muitos
recursos foram retirados do meio natural sujeitando o mesmo a suscetibilidade a
enchentes e seus prejuízos.
Entende-se, então, que essas áreas não se qualificam para tal passividade somente
por seu baixo relevo ou índice climático, mas também de sua interferência
antrópica local que, como demonstrado em diversos estudos, vem se tornando cada
vez mais crítica causando problemas não só ao ambiente como a própria sociedade em
questão.
Agradecimentos
A CAPES pelo fomento do Projeto Observatório do Dendê, e ao apoio Laboratório
Multidisciplinar de Estudos das Paisagens Amazônicas do Programa de Pós-graduação
em Geografia da UFPA.
Referências
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