Autores
- MARIANA MANRIQUE TONDATIUNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEMEmail: mmanriquetondati@gmail.com
- EDUARDO MORAISUNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEMEmail: esmorais2@uem.br
Resumo
Barramentos geram grandes impactos nos rios com a regulação da vazão e limitação
do suprimento de sedimentos. O objetivo dessa pesquisa foi identificar os
barramentos em operação na bacia hidrográfica do rio Ivaí, delimitar as suas
áreas de drenagens e caracterizar os seus aspectos geográficos, como a geologia,
geomorfologia, pedologia e fitogeografia. Constatou-se a presença de 16
barragens para finalidade de geração de energia elétrica em tributários do rio
Ivaí, com áreas de drenagens que ocupam 12,66% da bacia hidrográfica. Estas
áreas de drenagem caracterizam-se, majoritariamente, por rochas das Formação
Serra Geral – Grupo São Bento (72%), localizam-se no Terceiro Planalto
Paranaense (70,5%), com Latossolos (58,5%) e Floresta Ombrófila Mista (98,2%). O
estudo indica que parte das áreas de drenagem dos barramentos estão inseridas em
importantes tributários de descarga de água e de carga suspensa para o rio Ivaí.
Palavras chaves
Barragens; Hidrelétricas; Impactos; Geomorfologia Fluvial; Sedimentos
Introdução
Os rios sempre foram um dos principais meios de sobrevivência para a humanidade,
e embora sejam essenciais para o funcionamento da vida, infelizmente é muito
comum que sejam alvos de impactos antrópicos, com destaque à construção de
barramentos/reservatórios. Segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento
Básico (ANA) (2021), os reservatórios caracterizam o volume de água retido por
barragens, e as barragens representam as estruturas construídas com a finalidade
de represar um curso de água. Conforme Coelho (2008), a construção de barragens
é considerada uma intervenção humana de grande impacto, que provoca várias
alterações no rio, como por exemplo, o rompimento do seu equilíbrio
longitudinal. Assim como, impacta a conectividade longitudinal da bacia
hidrográfica (ZANANDREA et al., 2020).
O estado do Paraná é o terceiro estado com o maior potencial de geração de
energia elétrica do país, pois as suas características geomorfológicas
apresentam altos desníveis que contribuem com a geração de energia através da
força da água (KLIEMANN e DELARIVA, 2015). O Brasil possui empreendimentos
hidrelétricos, classificados pela ANEEL (2020), como: Usina Hidrelétrica – UHE –
é a que tem maior capacidade de geração de energia, com potencial hidráulico de
potência superior a 5.000 KW e igual ou inferior a 50.000 KW; Pequena Central
Hidrelétrica – PCH - pode gerar quantidade menor de energia, com potência
superior a 5.000 KW e igual ou inferior a 30.000 KW; e as Centrais Geradoras
Hidrelétricas – CGH - com potência igual ou inferior a 5.000 KW.
Pouco ainda se conhece com estudos geomorfológicos sobre a distribuição de
barramentos em bacias hidrográficas, apesar da abordagem estratégica
possibilitar identificar afluentes principais que fornecerem maiores descargas
de água e sedimentos, e de certa forma, serem responsáveis pelo bom
funcionamento do sistema da unidade (LATRUBESSE et al., 2017). O objetivo dessa
pesquisa foi identificar os barramentos em operação na bacia hidrográfica do rio
Ivaí, delimitar as respectivas áreas de drenagens e caracterizar os seus
aspectos geográficos, como a geologia, geomorfologia, pedologia e fitogeografia.
A bacia hidrográfica do rio Ivaí, área em estudo, se localiza no sul do Brasil,
estado do Paraná, com área de 36.587 km², aproximadamente 20% do território
paraense, e é considerada a segunda maior bacia hidrográfica do estado do Paraná
(FUJITA, 2009; SANTOS, 2015). Embora o rio Ivaí tenha alto potencial
hidrelétrico, devido aos vales rochosos, estreitos e corredeiras nos cursos
superior e médio, o seu tronco é preservado, e somente algumas barragens em
tributários, com efeitos geomorfológicos pouco conhecidos, estão em
funcionamento.
Material e métodos
O desenvolvimento desta pesquisa foi constituído através de um banco de dados de
informações geográficas em Sistema de Informação Geográfica (SIG) no QGIS. Foram
introduzidos diversos produtos cartográficos como: rede hidrográfica (ANA 2018),
limite da bacia hidrográfica (SUDERHSA, 2007) e outros dados temáticos retirados
do site do IAT, além da declividade do INPE (2011). Para obter a localização dos
barramentos em operação, se utilizou dados da ANEEL (2022). A existência dos
barramentos e reservatórios foi aferida com imagens orbitais recentes
disponibilizadas na plataforma Google Earth. Realizou-se a delimitação das áreas
de drenagens sob influência de barramento de empreendimentos hidrelétricos a
partir do eixo dos barramentos, a quantificação em km² ocupada e da caracterização
geográfica que contemplou aspectos geográficos como: geologia, geomorfologia,
pedologia e fitogeografia.
Resultado e discussão
A bacia hidrográfica do rio Ivaí possui 4.626 km² de área de drenagem sob
influência de barramentos de empreendimentos hidrelétricos, ou seja, área
equivalente a 12,66% da bacia hidrográfica (Figura 1). Considerando informações
fornecidas pela Agência Nacional de Energia Hidrelétrica – ANEEL (2022), são 16
barramentos em fase de operação: uma UHE, cinco PCH’s e 10 CGH’s, distribuídos
exclusivamente no alto curso da bacia hidrográfica (COMITÊ DA BACIA DO ALTO
IVAÍ, 2012). Ressalta-se que foram desconsideradas desta análise cinco CGH´s e
uma PCH pela ausência da identificação de reservatório e barramento em imagens
orbitais recentes.
Nas últimas décadas, o rio Ivaí tem sido alvo de estudos por possuir
características relevantes para a geração de energia hidroelétrica e não ter de
fato esse potencial explorado, diferentemente de outros rios paranaenses como o
rio Paraná e Paranapanema. Esse rio é representado como um modelo, uma exceção,
por possui um grande potencial para energia hidrelétrica, mas em sua bacia
hidrográfica existem apenas alguns barramentos em rios tributários (LELI et al.,
2017). Segundo Albuquerque (2015), o rio Ivaí e o rio Piquiri são os dois únicos
afluentes do rio Paraná que ainda não foram barrados, ou seja, refere-se ao
barramento do seu tronco. Porém, Fujita (2009), aponta que o rio Ivaí nasce na
confluência do rio dos Patos com o rio São João, destacando que o rio dos Patos
é o seu principal curso de origem. Nessa pesquisa foi averiguado que o rio dos
Patos está barrado em dois pontos do seu trecho, pela PCH Dois Saltos e a CGH
Salto Rio Branco.
Nessa pesquisa também foram caracterizados e quantificados os aspectos
geográficos referente a bacia hidrográfica do rio Ivaí, com foco nas áreas de
drenagens sob influência de barramentos de empreendimentos hidrelétrico, Tabela
1. Majoritariamente, essas áreas são compostas pela litologia Formação Serra
Geral – Grupo São Bento (72%), estão no Terceiro Planalto Paranaense (70,5%),
possuem declividade mais acentuadas, os solos possuem predominância de Latossolo
(58,5%) e a vegetação de Floresta Ombrófila Mista (98,2%).
Ainda, na Figura 1, é possível observar um panorama de todos os tributários do
rio Ivaí que se encontram sob influência de barramentos e as respectivas áreas
de drenagens. Por exemplo, os rios do Campo, Mourão, Corumbataí, Bocó, Barra
Preta, Pitanga, Pedrinho, Cachoeira, Marrecas e dos Patos, com áreas de
drenagens sob influência de barramentos. Na Figura 2, de acordo com as
características das áreas de drenagens, é possível observar a distribuição das
classes pedológicas e de declividade, associando as maiores declividades com o
neossolo, e as menores declividades com o latossolo.
Leli et al. (2017) apresentaram um panorama das contribuições de água e
sedimentos de tributários do rio Ivaí. A bacia hidrográfica do rio Corumbataí,
um dos principais afluentes da margem esquerda do rio Ivaí, contribui com uma
das maiores descargas de água. Apesar do rio Corumbataí não ter nenhum
barramento, há um barramento de uma CGH no rio Bocó, que é um de seus afluentes.
O rio Mourão, também considerado um dos afluentes principais do rio Ivaí,
juntamente com toda a sua rede de drenagem, contribui significativamente com a
descarga de água para o rio Ivaí. Este mesmo rio se encontra barrado em três
pontos, por uma UHE, uma PCH e uma CHG, além da presença do barramento de uma
CGH, no rio do Campo, um dos afluentes. Para Leli et al. (2017), as maiores
descargas de águas específicas, são correspondentes dos rios Marrecas e
Cachoeira, ambos com barramentos, uma PCH e uma CGH, respectivamente. Sendo o
rio Marrecas um afluente do rio Ivaí, no lado esquerdo, e o rio Cachoeira um
afluente do rio Marrecas. Ao considerar os dados de carga suspensa para o rio
Ivaí dos autores, destacam-se com valores mais expressivos os rios Corumbataí,
Mourão, Ligeiro, dos Patos e das Antas, principais afluentes do seu lado
esquerdo, o qual apresenta maiores valores de produção de sedimentos.
Considerando que o rio Mourão e dos Patos já estão barrados, além do rio
Corumbataí que possui barramento no seu afluente, o rio Bocó.
A figura representa a distribuição dos barramentos ao longo do limite da bacia hidrográfica do rio Ivaí, as respetivas áreas de drenagens e os rios.
A tabela mostra em km² e % todas as características geográficas da bacia hidrográfica do rio Ivaí e áreas de drenagens sob influência de barramentos.
A figura apresenta especificamente as características pedológicas e de declividades nas áreas de drenagem sob influência de barramentos.
Considerações Finais
O rio Ivaí possui barragens para finalidade de geração de energia elétrica
inseridas em afluentes da margem esquerda. As áreas de drenagens ocupadas pelos
barramentos abrangem 12,66% da bacia hidrográfica e todas ficam situadas na
unidade de gerenciamento do Alto Curso da bacia hidrográfica. A partir do
levantamento de características dessas áreas de drenagens, conclui-se que há sub-
bacias hidrográficas importantes contribuintes de descarga de água e carga
suspensa ao rio Ivaí, que atualmente se encontram sobre influência de barramento.
Como é o caso da bacia hidrográfica do rio Mourão, Corumbataí, Marrecas, Cachoeira
e dos Patos. Averiguou-se que dois, dos 16 barramentos mapeados, estão inseridos
no rio dos Patos, principal curso de origem do rio Ivaí. Também é notório que
ainda há sub-bacias hidrográficas com potencial produção de sedimentos e livres de
barramentos. Este cenário para o planejamento da integridade física do rio Ivaí e
de seus tributários.
Agradecimentos
Referências
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