Autores
- BRUNA DA CRUZ ANDRADEUNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSOEmail: bruna.c.andrade@live.com
- GABREILA VITÓRIA LEITE SILVAUNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSOEmail: gabriela.vitoria@unemat.br
- LEILA NALIS PAIVA DA SILVA ANDRADEUNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSOEmail: leilaandrade@unemat.br
- GUSTAVO ROBERTO DOS SANTOS LEANDROUNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSOEmail: gustavo.lenadro@unemat.br
- KEMILLY DE MELO SHIMIZUUNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSOEmail: kemilly.melo@unemat.br
- FABIO JUNIOR DO ESPIRITO SANTO ANDRADEUNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSOEmail: fabio_jr.andrade@hotmail.com
Resumo
O estudo teve como objetivo identificar a ocupação e os tipos de uso da terra na
escala espaço temporal na sub-bacia hidrográfica do rio Matrinxã, Mato Grosso.
Foram realizados levantamentos bibliográficos sobre a temática em livros,
artigos e consultado no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE sobre as atividades econômicas. Foram confeccionados mapas de localização
e uso da terra com o software ArcGis 10.3 utilizando imagem do satélite RapidEye
– 2013 – IMB, resolução de 30 m, com projeção espacial em escala 1:50.000 em 5
bandas espectrais. Os resultados nos anos de 1984 e 2017 demonstraram o uso
intenso na sub-bacia, especialmente para agricultura. Nesses últimos 33 anos a
área de tensão ecológica diminuiu 384,91 km² e aumentou 384,73 km² de área
destinada a agricultura com plantio de lavouras permanentes e temporárias.
Assim, com o levantamento do uso, pode-se verificar uma redução da vegetação
para práticas na agropecuária.
Palavras chaves
Uso e ocupação; Cobertura vegetal; Canal fluvial; Atividades econômicas ; Escala temporal
Introdução
A ocupação desordenada do solo em bacias hidrográficas, com rápidas mudanças
decorrentes das políticas e dos incentivos governamentais, altera o equilíbrio
natural do sistema. Nesse contexto, dentre as atividades que causam degradação
podem ser citadas as práticas agrícolas, desmatamento, mineração,
superpastoreiro e urbanização (GUERRA e CUNHA, 2017).
Esse processo de uso e ocupação rural tem como principais causas: desmatamento,
utilização de práticas inadequadas às condições topográficas, contaminação do
meio ambiente por vários tipos de agroquímicos e, a inexistência de capacitação
e orientação aos produtores rurais (GEBLER e PALHARES, 2007).
Assim, deve-se atentar as modificações impostas devido a ocupação em áreas
rurais pois, suas atividades necessitam de grandes extensões de terra. E, na
maioria das vezes, o desmatamento de grandes áreas é realizado sem as devidas
práticas conservacionistas, causando muitas vezes assoreamento dos rios e
inundações (GUERRA e MARÇAL, 2015).
Com isso, atualmente existem muitas maneiras do homem exercer influência
sobre a qualidade e a quantidade da água dos rios sem se preocupar com as leis
que regem os recursos hídricos. As modificações das características da bacia
hidrográfica para as atividades antrópicas como: irrigação, urbanização provocam
alterações significativas no sistema fluvial (GUERRA e MARÇAL, 2015).
O aproveitamento das águas fluviais, com o fechamento de um rio para
formação de reservatório, causa certos impactos nos canais fluviais e ocasionam
efeitos com reações muitas vezes irreversíveis. A construção de barragem em rios
rompe a sequência natural deles, na parte a montante da barragem, o nível de
base local é levantado, alterado a forma do canal e a capacidade de transporte
sólido, quando ocorre o assoreamento no fundo do rio principal e seus afluentes.
Os impactos não se limitam apenas no local, mas sim em todo o perfil do canal
(GUERRA e CUNHA, 2013).
Por sua vez, a política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e o sistema
Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (SINGREH) constituem um conjunto de leis
apresentadas pelo Executivo em 1991, cujo substituído de 1994 propõe, entre
outros itens, a utilização da bacia hidrográfica como unidade de gestão (GUERRA
E CUNHA, 1966).
Nota-se que, as áreas de preservação permanente (APPs) são áreas protegidas
cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas (BRASIL LEI nº 12.651/2012).
Desse modo, as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e
intermitente, devem conter áreas de preservação permanente segundo a lei
12.727/2012 em largura mínima de “30 (trinta) metros, para os cursos d’água de
menos de 10 (dez) metros de largura, 50 (cinquenta) metros, para os cursos
d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura” [...] (BRASIL
LEI nº 12.651/2012). Assim, o estudo teve como objetivo identificar a ocupação e
os tipos de uso da terra na escala espaço temporal na sub-bacia hidrográfica do
rio Matrinxã, munícipio de Itaúba - Mato Grosso tendo em vista a apropriação do
relevo e de seus recursos hídricos. “O rio Matrinxã está localizado entre as
coordenadas geográficas 10º 59’ e 11º 1’ 30” sul e 55º 49’ 30” e 55º 52’ oeste
no município de Itaúba, Mato Grosso” (ANDRADE et al., 2018, p. 265) (Figura 1)
Material e métodos
Para a realização dessa pesquisa foram realizados levantamentos bibliográficos,
sobre a respectiva temática, em livros, revista, teses, artigos entre outras
fontes de dados, com os principais, autores e pesquisadores sobre o assunto
supracitado, com o intuito de obter dados relevantes e importantes para o
desenvolvimento da pesquisa.
Foram confeccionados mapas de uso nos anos de 1984 e 2017. Os referentes
períodos foram selecionados, por serem os dados (imagem) mais antigos
intermediários e outros mais recentes. O Sistema de Informação Gerencial (SIG)
permite analisar e interpretar trechos relativos à superfície terrestre.
O geoprocessamento de dados representa formas sobre a terra, as pessoas usam o
sistema SIG para visualizar, discutir, analisar e entender os dados sobre o
mundo e as atividades humanas como construções, desmatamento, queimadas entre
outros. Através de mapas e análise espacial podemos revelar pontos ou problemas,
e mostrar as conexões avançadas por meio de banco de dados (ESRI, 2012 apud
MACHADO, ANDRADE e MACHADO, 2015).
Os mapas foram elaborados no software ArcGis 10.3 utilizando imagem do satélite
RapidEye – 2013 – IMB, resolução de 30 m, com projeção espacial em escala
1:50.000 em 5 bandas espectrais.
Resultado e discussão
O município de Itaúba apresenta um nome originado de uma madeira, da árvore
Mezilaurus itaúba, espécie da família das lauráceas que exibe folhas espessas e
oblongas, pequenas flores e frutos de bagas negras, conhecida popularmente como
Itaúba que significa dura como pedra ou madeira de pedra. Devido as
características da madeira os primeiros desbravadores queriam indicar que o povo
desta região fazia questão de uma alma decidida, firme, resistente, dura na luta
da vida como a itaúba nas matas. Sendo que essa mesma árvore é considerada a
rainha das madeiras de construção (FERREIRA e SILVA, 2008).
Os primeiros habitantes foram os primitivos povos indígenas Kayabí que mais
tarde com a abertura da Br-163 foram levados para a reserva indígena do parque
nacional do Xingu. As terras localizadas nessa região receberam a denominação de
“selvagem” e de “trindade” que tinha como principal intuito compra e venda. Essa
designação permaneceu até o período em que as terras foram vendidas como títulos
para os irmãos Bedim em 1973, seus colonizadores (FERREIRA e SILVA, 2008).
O principal interesse dos irmãos Bedim era exploração da Madeira Itaúba, dando
origem ao principal meio econômica do município. Com essas explorações e
abertura de pastagens vieram mais pioneiros, muitos conhecidos no município como
Erci Vicente dos Santos, Getúlio Gelioli, Jorge Strapazzon, João Pelechatti
dentre outros (PMI, 2018).
O município teve um longo processo de criação que ocorreu através da sua Lei n.º
4.158, de 18 de dezembro de 1977, sancionada pelo governador Garcia Neto, assim
criando o distrito de Itaúba, com território jurisdicionado ao município de
Chapada dos Guimarães, que abrangia vasta área. Posteriormente através da Lei
Estadual n° 5.005, de 13 de maio de 1986 foi criado efetivamente o município,
que hoje abrange uma área de 4.529,581 km², Itaúba está localizada ao norte do
estado as margens da BR- 163 no Km 907 a aproximadamente 568 Km da capital
Cuiabá. Itaúba tem como municípios vizinhos Ipiranga do Norte, Claudia, Sinop,
Tabaporã, Nova Santa Helena, Colider e Nova Canaã do Norte (IBGE, 2010).
A principal atividade econômica é no setor madeireiro destacando-se também na
Pecuária Intensiva, com sistema de cria, recria e engorda. Na agricultura as
culturas principais são o arroz e milho, dentre outros produtos para
subsistência, atualmente o município vem sendo diversificados com outros
cultivos, principalmente o plantio de soja (IBGE, 2010).
A caracterização e mapeamento de uso e ocupação do solo em unidades de bacia não
pode se basear somente em análise de imagens de satélites artificiais, a região
estudada deve passar por um levantamento de dados através do pesquisador para
que assim seja possível saber o que está acontecendo na mesma, quais serão as
possíveis realidades futuras e confirmar a realidade atual (CHUERUBIM e PAVANIN,
2013).
A área da sub-bacia hidrográfica do rio Matrinxã corresponde a 862,51 km².
Nesses 33 anos analisados essa unidade de análise passou pelo processo de
ocupação intenso com a redução da cobertura vegetal e o aumento do uso,
principalmente para agricultura (Figura 2).
Pode-se observar que no ano de 1984 a área de tensão ecológica correspondia a
827,43 km² cerca de 95,93% de área preservada, onde 4,01% eram utilizados para a
agricultura (Figura 3).
Figura 3. Dados relativos ao uso e cobertura vegetal da sub bacia hidrográfica
do rio Matrinxã.Os dados mostram uma grande diferença entre os anos analisados
dentre elas a grande taxa de desmatamento para a agricultura chegando a 419,37
km² que corresponde à 48,62% da área total da bacia, restando hoje apenas 51,30%
de área preservada. Nota-se também o desenvolvimento com o período dos corpos
hídricos que teve um aumento significativo chegando em 1984 a 0,44 km² e em 2017
a 0,62 km² da área da bacia higrográfica (Figura 3).O rio Tapaíuna afluente da
margem esquerda do rio Tele Pires tem um uso comum com o rio Matrinxã. Segundo
Carvalho (2018) no atual contexto da sub bacia do Tapaíuna, verifica-se o avanço
da atividade agrícola e é esperado que, com o transcorrer do tempo ocorra a
substituição do uso das atividades pecuárias pelo cultivo de lavouras
temporárias de milho e soja. Pode-se ressaltar ainda o uso da pesca como
economia recente, dados do IBGE revelam os altos índices de pescado para venda
nesses afluentes.
Ambos os afluentes têm em suas margens casas para ribeirinhos, no caso do rio
Tapaíuna até um frigorífico para peixes encontra-se dentro de suas áreas de
preservação permanente (CARVALHO, 2018). Também, durante o campo no rio Matrinxã
foi possível observar uma casa localizada no ambiente de confluência, onde pode-
se notar muitas armadilhas para peixes.
Essa recente atividade pesqueira gera lucro para os ribeirinhos e atrai
interesse de vários comerciantes. Essa atual economia baseada na pesca é reflexo
da construção da UHE a jusante do afluente, onde ela atua como barreira para os
peixes. Para a realização desta atividade surge a necessidade de construção de
casas assim o ambiente fluvial é comprometido pois, com a construção dessas
edificações, parte da vegetação das áreas de APPs é retirada, o que gera sérios
problemas ambientais como a erosão marginal.
Cabe salientar que o uso e ocupação do solo em áreas marginais de rios ocasiona
intensos processos de degradação ao meio ambiente, devido cultivos de lavouras,
pastagem, construção de empreendimentos e dentre outros. Pois a execução dessas
atividades é a retirada da cobertura vegetal ocasiona a perda da proteção do
solo e ocasiona alterações no meio ambiente com relação a sedimentação e
biodiversidade (VIEIRA et al., 2007 apud SOUZA, 2012).
Deste modo vale ressaltar a importância da manutenção das Áreas de Preservação
Permanente, pois protegem os ambientes fluviais e controla o processo de erosão
das margens, gerando maior cuidado e conservação do afluente.
Metodologia: Área de estudo
- Mapas de Uso e Ocupação da Sub Bacia Hidrográfica do rio Matrinxã dos anos de 1984 e 2017.Elaborado por: Miranda (2017).
Dados relativos ao uso e cobertura vegetal da sub bacia hidrográfica do rio Matrinxã.Org.: Bruna da Cruz Andrade (2017)
Considerações Finais
O uso e ocupação do entorno do rio Matrinxã, desde 1984, baseia-se nas atividades
pesqueiras e agrícolas. Há 33 anos a área vem sendo desmatada, devido a expansão
do agronegócio. Destaca-se que o município de Itaúba possui grandes índice de
extração vegetal, associado também à atividades agrícolas e a pecuária.
Portanto, com a aceleração dos processos causados através da perca de vegetação, o
rio Matrinxã, futuramente, pode ter sua hidrodinâmica e morfologia gravemente
alterados em virtude da regulação de suas águas. Assim, surge a necessidade de
preservação desse sistema pois, trata-se de um importante afluente do rio Teles
Pires, o qual demanda de um efetivo gerenciamento de recursos hídricos tendo em
vista o avanço do desmatamento na região e as demandas dos usos da terra.
Agradecimentos
A Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado de Mato Grosso- FAPEMAT, á Universidade
do Estado de Mato Grosso-UNEMAT.
Referências
ANDRADE, B. C.; OLIVEIRA, J. A.; ANDRADE, L. N. P. S. Transporte de sedimentos e análise hidrodinâmicas na sub-bacia do rio Matrinxã no município de Itaúba-Mato Grosso. In: SILVA, I. A. S.; FERREIRA, E.; FERREIRA, A. R. Geografia: contextos e interfaces, coletânea da XVII semana de geografia. 1ª ed. Ananindeua: Itacaiúnas, 2018.
GEBLER, L.; PALHARES, Julio Cesar Pascale. Gestão Ambiental na Agropecuária. Planejamento do espaço rural por meio da microbaciaHidrografica. Brasília, DF: Embrapa informações tecnológicas, 2007. 310 p.
GUERRA, A. J. T.; MARÇAL, M. dos S. Geomorfologia Ambiental. 7 ed. Rio de Janeiro: Bretrand Brasil, 2015. 190 p.
CUNHA, S. B. da; GUERRA, A. T. Geomorfologia: exercícios, técnicas e aplicações. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da. Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 217. 372 p.
SOUSA, C. A. de. (org) Bacia hidrográfica do rio Paraguai-MT: dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental. São Carlos: Editora Cubo, 2012.
FERREIRA, J. C. V.; SILVA, J. de M. Cidades de Mato Grosso. Cuiabá: Editora Memória Brasileira, 2008.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Banco de dados e estatísticas sobre Pecuária ano 2004 a 2016.
PAVANIN, E. V.; CHERUBIM, M. L. Geoprocessamento da bacia do córrego Vinhedo em Uberlândia-MG. Boletim Goiano de Geografia, Goiânia, v. 33, n. 2, p.135-153.\mai\ago. 2013.