Autores
- ERICK DA SILVA AMORIMUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCOEmail: erick.dsilvaamorim@gmail.com
- JULIANA TERTO DO NASCIMENTOUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCOEmail: juliana.tnascimento@upe.br
- GABRIEL ALAN DE SOUSA SOARESUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCOEmail: gabriel_alan98@hotmail.com
- DANIEL DANTAS MOREIRA GOMESUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCOEmail: daniel.gomes@upe.br
Resumo
Voçoroca é um dos estágios mais avançados da erosão da superfície terrestre,
ganhando maior complexidade quando em área urbana. Com a contribuição das
Geotecnologias e das técnicas de Geoprocessamento, fica-se mais prático e mais
fácil analisar áreas onde esse fenômeno ocorre, bem como identificar quais os
principais fatores que contribuem para sua evolução. O objetivo central desse
trabalho se baseia em analisar os processos erosivos em áreas que apresentam
suscetibilidade ao fenômeno de voçorocamento que ocorrem na mancha urbana de
Garanhuns, buscando compreender quais os principais fatores responsáveis por seu
desenvolvimento e os principais riscos à sociedade. Para a elaboração desse
trabalho foi feita uma análise das características da área, e coleta e
tratamento de dados geográficos, para a produção cartográfica. Assim, foi
possível encontrar áreas suscetíveis e áreas onde existem processos de
voçorocas, sendo necessário a implantação de práticas de proteção nessas áreas.
Palavras chaves
erosão; voçoroca; geoprocessamento; suscetibilidade ao voçorocamento; encosta
Introdução
Enxergando todos os fenômenos inseridos no planeta, funcionando com base em
relações de interdependência, sejam fenômenos naturais, sejam sociais, pode-se
compreender que a soma dos elementos, o conjunto de cada parte que constitui
cada fenômeno, é de uma relevância muito maior para entender como esses
fenômenos se configuram e agem dentro de uma visão sistêmica, ou seja “o
pensamento sistêmico é contextual[...] requer que para se entender alguma coisa
é necessário entende-la, como tal, e em um determinado contexto maior, ou seja
como componente de um sistema maior, que é o seu também chamando ambiente”
(UHLMANN, 2002, p.15).
Corroborando com essa ideia, de relação direta entre sociedade e natureza,
existem vários autores que se preocupam em buscar esse caminho de compreensão,
explorando alguns campos que se ajudam para entender como os fenômenos ocorrem
de forma sistêmica, portanto Mendonça (1996) fala que a geografia é uma ciência
fundamental para a compreensão do jogo de influencias exercidas pela sociedade e
a natureza na formação dos espaços, dessa forma, ambos compondo uma relação
sistêmica entre si.
Ferreira e Pinton (2022) admitem a existência de problemas ambientais relativos
às mudanças morfológicas ocasionadas pelas ações antrópicas nos centros urbanos.
Essas ações fazem parte do cotidiano de cada pessoa, de cada cidade, cada lugar
que tenha um processo de ocupação antrópica urbana acontecendo, o próprio
crescimento urbano, quando feito de forma inadequada, pode contribuir com o
surgimento e evolução de diversos problemas ambientais que rebatem na própria
sociedade, e um dos problemas mais observados em diversas paisagens pelo país é
o das voçorocas.
A voçoroca é um dos estágios mais avançados da erosão linear, que ocorre na
superfície terrestre, e ganha maior complexidade quando em área urbana, pois a
sociedade acaba por contribuir com o seu desenvolvimento, de forma a dificultar
sua contenção. O aparecimento de voçorocas, atualmente, está muito ligado a
interferência antrópica, quer seja pela expansão horizontal do espaço rural e/ou
urbano, quer seja pelo manejo dispensado a determinadas áreas (VIEIRA, 2018).
Com a contribuição das Geotecnologias e das técnicas de Geoprocessamento, fica-
se mais prático, e mais fácil analisar áreas onde esse fenômeno ocorre, e como
se dá a evolução dos seus processos, bem como identificar quais os principais
fatores que contribuem para sua evolução, e é com base nisso que “o uso das
técnicas de Geoprocessamento e de Sensoriamento Remoto, integralizadas nos
Sistemas de Informação Geográfica, tem permitido a análise de fenômenos cada vez
mais complexos” (SILVA, ROCHA e AQUINO, 2016, p.178), algo que os autores dizem
ser inalcançável pelo que a cartografia tradicional dispõe, devido suas diversas
limitações.
Em volta de todo esse contexto, o objetivo central desse trabalho se baseia em
analisar os processos erosivos em áreas que apresentam suscetibilidade ao
fenômeno de voçorocamento que ocorrem na mancha urbana de Garanhuns, buscando
compreender quais os principais fatores responsáveis por seu desenvolvimento e
os principais riscos à sociedade.
Material e métodos
2.1. Área de estudo
Para a realização da pesquisa, foi escolhido uma sub-bacia hidrográfica do
município de Garanhuns, localizado no estado de Pernambuco, mesorregião do
agreste, setor meridional. Situada entre as Latitudes 8º53’02’’S-8º54’08’’S e
Longitudes 36º27’17’’W-36º28’18’’W (figura 1). A sub-bacia selecionada para essa
análise se refere a um dos setores de canais tributários do Rio Mundaú, que é o
principal canal de drenagem que abastece o município, sendo o riacho Brejo do
Columinho seu canal de drenagem, e está situada nos limites da mancha urbana de
Garanhuns. Alexandre, Candeias e Gomes (2020) apontam que as chuvas na área se
concentram entre os meses de maio a julho, com média de 782,5 mm anuais,
temperatura média de 20,2 ºC e tem amplitude altimétrica entre 740 e 949 metros
acima do nível do mar.
A área de estudo se encontra no Planalto da Borborema, sobre litologia de
Quartzitos; seu relevo está subdividido em quatro unidades taxonômicas: Planalto
da Borborema (táxon 1), Cimeira da Borborema (táxon 2), Chapadas e Platôs (Táxon
3) e Área de dissecação homogênea de topos convexos (táxon 4) (GOMES et al,
2016; ALEXANDRE et al, 2018; ALEXANDRE, CANDEIAS e GOMES, 2019) e tem
predominância de Latossolo amarelo.
Bastos (2019) diz que o Quartzito possui uma alta resistência devido ao fato de
ser constituído basicamente por quartzo, um dos minerais mais resistentes do
planeta, o que limita sua capacidade de sofrer com a erosão superficial, isso
explica o porquê dessa litologia resistir sobre um embasamento gnáissico, devido
sua alta capacidade de resistência intempérica.
2.2. Coleta e tratamento dos dados
Os dados geográficos geoprocessados e utilizados para a produção cartográfica
foram: os vetores com os limites territoriais obtidos pelo site do IBGE, camada
vetorial contendo as linhas de drenagem, disponível no site da ANA, dados
matriciais referentes às ortofotos, onde foram utilizadas as imagens cedidas
pelo PE3D e Google Earth, os dados topográficos (MDE, MDT e Hipsometria) foram
disponibilizados pelo PE3D, os dados de uso e ocupação da terra e de solos foram
baixados pelo site da EMBRAPA, a camada com as unidades litologicas foi baixada
pelo site da CPRM.
Esses dados foram geoprocessados em um SIG, aqui utilizado o aplicativo QGIS,
por possuir acesso livre e download gratuito, onde a camada de drenagem foi
melhorada para a escala de 1:5.000, por meio da análise do relevo sombreado,
gerado a partir do MDT do PE3D, a camada contendo as formas de uso e ocupação da
terra foi ajustada à escala de 1:5.000, com o suporte da ortofoto baixada pelo
PE3D, os dados de solo e litologia permaneceram na escala de 1:100.000, os dados
do PE3D foram utilizados em escala de 1:5.000.
Por último, foi elaborado mapas para representar os elementos fisiográficos da
área analisa com base nesses dados obtividos, tanto mapas temáticos, quanto
mapas sobre os processos erosivos atuantes na área de estudo, somado à obtenção
de fotos retiradas em campo, com uso de um smartphone de uso pessoal.
Resultado e discussão
3.1. Dinâmica erosiva
A área analisada corresponde a um setor com diversas cabeceiras de vale, nesses
lugares a erosão remontante se mantém atuante, uma vez que “as incisões erosivas
se formam nas cabeceiras de vale, pois são nessas áreas que ocorre convergência
entre fluxos superficiais e fluxos subterrâneos” (OLIVEIRA, 2006, p.86),
portanto, trata-se de áreas onde os processos de erosão remontante estão em
constante atuação, em detrimento de encostas com altas declividades e solos bem
desenvolvidos e profundos. É nesse ponto, de cabeceiras, onde são observadas os
processos erosivos mais acelerados, portanto, as áreas mais suscetíveis e
aquelas onde há a presença de voçorocas.
Na área de estudo a predominância é de caatinga densa, com alguns pontos de
caatinga esparsa, caatinga essa que compõe a vegetação nativa da área, porém
encontra-se muito degradada em alguns pontos. Possui apenas algumas espécies
arbustivas espalhadas, a vegetação rasteira, composta principalmente por
gramíneas, predomina pelo vale, entretanto se apresenta em algumas áreas das
cabeceiras. A ausência de vegetação mais desenvolvida nesses setores diminui o
poder de interceptação das chuvas, causa saturação mais rápida do solo, bem como
aumento do escoamento superficial. Todo esse processo cria degraus no topo das
encostas, por onde os fluxos hídricos das chuvas, somado aos fluxos dos
efluentes que são despejados nesses setores, proporciona aumento do poder
incisivo da erosão, com a concentração dos fluxos em pequenas canalizações, que
podem resultar em sulcos ou ravinas, que vão ganhando maiores dimensões até
conectar-se com as cabeceiras de vales.
A conjunção de um clima com características de períodos com forte umidade e
intensidade pluviométrica em distintas estações do ano atingem a camada
pedológica desse setor, mantendo uma relação direta com as características dos
solos que o compõe, estas garantem a maior ou menor capacidade de infiltração
das águas que escoam superficialmente pelo terreno, porém essa capacidade vai
depender de outros fatores, uma vez que o ambiente funciona de forma sistêmica,
que vão determinar os graus de erodibilidade do solo, bem como as feições que
ali irão se desenvolver. A área de estudo foi dividida em dois setores, Setor
Suscetível (SS) e Setor Ativo (SA).
3.2. Setor suscetível ao voçorocamento
O primeiro setor corresponde a uma porção da sub-bacia fortemente suscetível ao
voçorocamento, e o segundo é onde existem fortes processos de voçorocas. O SS é
uma área com algumas cabeceiras de vale, que possuem em seu entorno uma forte
ocupação urbana (figura 2), e nessas áreas de cabeceira, há uma predominância
dos processos da erosão remontante, que trabalha de forma à erodir a superfície
sentido à montante, em direção às residências ali próximas.
As encostas possuem declividades com angulações suficientes para manter um
escoamento superficial mais intenso, com valores acima dos 45% de angulação.
Encontram-se algumas áreas destinadas às práticas agrícolas, áreas recobertas
por vegetação de gramíneas, algumas espécies de vegetação arbórea, mas o que
chama atenção é a forte presença de lixo espalhado pela encosta, pois nesse
setor, onde a erosão avança no sentido das residências, retirando material
(sedimentos) das paredes das cabeceiras, foi instalado um pequeno aterro, por
onde os efluentes e escoamento pluvial escoam sobre, devido à falta de
saneamento básico, combinado as ruas sem pavimentação, criam-se canais de fluxo
concentrado que se unem às áreas de cabeceiras, agravando os processos erosivos
ali atuantes, tornando toda a área, que naturalmente possui instabilidade
morfológica, ainda mais suscetível ao surgimento de voçorocas.
3.3. Setor com voçoroca ativa
O SA é uma área onde os processos de voçoroca são mais intensos (figura 3).
Nota-se a presença de uma antiga voçoroca, aparentemente em estado de
estabilidade morfológica, a vegetação densa de grande porte é um sinal de sua
estabilidade, entretanto existe uma área em sua extremidade onde uma incisão
avança de forma acelerada, constituindo uma grande voçoroca, representando
riscos atuais para a população ali instalada.
Percebe-se nessa área dois fatores muito importantes, para compreender os
processos que ali atuam, o primeiro é por se tratar de uma área de convergência
dos fluxos de escoamento superficial, que se concentram naquele ponto devido a
ordenação das ruas do setor, criando uma grande ravina que se conecta à
voçoroca. O segundo fator é o despejo de efluentes vindos da tubulação de esgoto
sobre a encosta, processo que fragiliza a qualidade do solo e inibe o
crescimento de vegetação de grande porte.
É importante trazer que nessa voçoroca também foi feito um aterro, como
tentativa de conter seu avanço, porém a população acaba jogando lixo nessa área,
o que contribui com o agravando ainda maior dos processos erosivos. A
declividade das encostas dessa área é muito acentuada, portanto os fluxos de
escoamento superficial são muito intensos, e pelo solo das encostas da voçoroca
estarem expostos, o arraste de material é alto, resultando em maior avanço,
tanto lateral quanto vertical da voçoroca, tornando-a uma incisão de grandes
dimensões e grau de risco ambiental.
Nota-se a predominância de cabeceiras de vale, com forte ocupação antrópica, áreas de encostas descobertas, e cursos de escoamento concentrado.
Percebe-se que o setor da encosta à esquerda do vale encontra-se com áreas de solo descoberto, com convergência dos fluxos de escoamento superficial.
Considerações Finais
É necessário compreender os demais elementos que compõem o sistema em análise,
sobretudo, os processos que atuam nas áreas de cabeceiras de vale, que são feições
extremamente instáveis e suscetíveis aos processos erosivos. Diante disto, essas
áreas devem ser protegidas por leis que garantam sua preservação, sendo função dos
órgãos públicos e população manterem as leis em vigor e fiscalização dessas áreas,
pois ambos devem manter uma relação de cooperação.
Um grande problema responsável pela aceleração e desenvolvimento de voçorocas é o
crescimento urbano desordenado, no qual a população se organiza pelo espaço de
forma inapropriada, se instalando e utilizando de forma inadequada áreas que
deveriam ser protegidas e que apresentam graves riscos socioambientais, devido sua
instabilidade morfológica.
Existem diversas práticas utilizadas para tentar conter o avanço de uma voçoroca,
entre elas a revegetação das cabeceiras e áreas internas da voçoroca com espécies
que se adaptem àquele local, redirecionamento dos fluxos de escoamento superficial
com base em um sistema de saneamento básico adequado, entre outras, mediante um
bom planejamento e ordenamento espacial.
Agradecimentos
Referências
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