Autores
- VINÍCIUS ABREUUFPAEmail: vinicciusabreu@gmail.com
- LUZIANE MESQUITAUFPAEmail: luzianeluz36@gmail.com
Resumo
O ensino de Geomorfologia pode ser desafiador devido à natureza pragmática dos
seus conceitos. Para tornar o ensino mais atrativo, novas tecnologias e
metodologias têm sido desenvolvidas, como a modelagem 3D e a realidade aumentada.
Neste contexto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para investigar a
importância das tecnologias de informação, como ferramentas auxiliares no processo
de ensino-aprendizagem. Este estudo objetivou selecionar softwares adequados para
aplicar em uma escola campo do Residência Pedagógica em Geografia, no núcleo de
Belém-PA. A metodologia proposta inclui o aprofundamento teórico, a exploração dos
softwares selecionados, as orientações para utilização das tecnologias em sala de
aula e a discussão sobre os desafios de ensinar Geomorfologia.
Palavras chaves
Modelagem 3D; Geomorfologia; Ensino-Aprenzizagem; Pará; Softwares
Introdução
A Geografia Física apresenta desafios no campo didático quando se trata de
ensinar essa área para estudantes do ensino básico. Os conceitos densos e
pragmáticos que compõem essa área muitas vezes não conseguem despertar o
interesse dos alunos se apresentados de forma convencional. É preciso utilizar
uma nova dinâmica didática ou relacionar o assunto com o cotidiano dos alunos
para garantir que eles fixem o conteúdo e desenvolvam competência na disciplina
(MOREIRA,2010). Caso contrário, ensinar Geografia Física pode se tornar um
desafio tanto para os alunos quanto para os professores. Diante desse
entendimento Falconi (2004, pg.6) destaca que ‘’os professores devem criar novas
situações de aprendizagem que estimulem a observação, a descrição, a
experimentação, a representação, a comparação e a construção de explicações,
analogia e síntese dessas relações’’.
Paralelo a isso, a Geomorfologia é um ramo da Geografia Física que se dedica ao
estudo das formas de relevo e a sua evolução. Porém, o ensino dos conceitos
dessa disciplina pode ser um desafio, especialmente em relação a áreas complexas
ou pouco conhecidas pelos estudantes. Para superar essa dificuldade, têm sido
desenvolvidas novas tecnologias e metodologias de ensino, entre elas temos a
modelagem 3D e a realidade aumentada. Com essa tecnologia, é possível aos alunos
visualizarem e interagirem com modelos tridimensionais e hologramas,
proporcionando uma experiência mais dinâmica e imersiva. Nesse viés, é fatídico
que a produção de materiais didáticos além de auxiliar os professores no
processo de organização de atividades ensino, igualmente contribuem para uma
maior interação e reflexão durante as aulas. (BOTELHO, 2005)
Com essas novas metodologias, os professores podem tornar o ensino da
geomorfologia mais atraente e acessível, criando um ambiente de aprendizagem
mais envolvente e interativo. Ao promover o uso de tecnologias tridimensionais e
de realidade aumentada, os alunos podem desenvolver habilidades de observação,
interpretação e análise, preparando-os para enfrentar desafios cada vez mais
complexos na área da geografia. Diante disso, almeja-se buscar tecnologias
acessíveis, práticas e intuitivas, tanto para o docente quanto para o discente,
para além disso que sejam capazes de explicar as principais formas de relevo do
Brasil. Como forma de contribuir com o estudo local, esta proposta tem
especificidades atinentes ao Estado do Pará, entretanto pode ser aplicada em
diferentes espaços.
Material e métodos
O presente trabalho tem como proposta desenvolver uma contribuição à metodologia
aplicada no ensino de conceitos básicos de Geomorfologia. Nesta ótica, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica visando investigar a importância das
tecnologias de informação como ferramentas auxiliares no processo de ensino-
aprendizagem, bem como as tecnologias mais apropriadas para este fim. Nossa
pesquisa é acompanhada de uma orientação didática para guiar o uso de
tecnologias tridimensionais no ensino.
No entanto, quando se trata de tecnologias tridimensionais, pode ser desafiador
encontrar softwares que sejam gratuitos e adequados para dispositivos mais
simples. Os softwares foram selecionados levando-se em conta critérios como
acessibilidade, desempenho em diferentes dispositivos, qualidade e adequação do
conteúdo didático disponibilizado. Além disso, foi importante verificar a
qualidade dessas ferramentas digitais e se elas apresentam as informações de
forma clara e precisa. Softwares muito pesados ou que apresentem bugs podem
prejudicar a experiência do usuário e, consequentemente, afetar o aprendizado
Após a seleção inicial dos programas, foi realizada uma avaliação mais detalhada
de cada um deles. Foram testados os softwares que apresentaram maior número de
indicações positivas, verificando-se o desempenho em diferentes modelos de
aparelhos, bem como a qualidade e adequação do conteúdo didático oferecido.
Desta forma, para a elaboração desse plano de ensino, nossa metodologia pode ser
dividida em 3 partes descritas nos tópicos que compõem esse trabalho:
1.Etapa: Aprofundamento teórico no uso de tecnologias como auxiliares pedagógico
no processo de ensino-aprendizagem.
2.Etapa: Exploração dos softwares selecionados e análise de sua adequação de
suas funcionalidades para o ensino de geomorfologia, bem como sua
acessibilidade, praticidade e intuitividade.
3.Etapa: Orientações para a utilização das tecnologias tridimensionais em sala
de aula.
4.Etapa: Discussão sobre os desafios de ensinar Geomorfologia em função de sua
natureza pragmática.
Quanto à construção dos dados, realizamos uma pesquisa nos repositórios digitais
do Google Acadêmico, na Scientific Electronic Library Online (SciELO), portais e
bibliotecas digitais, além dos portais dos periódicos online.
Resultado e discussão
Os resultados obtidos por meio da pesquisa bibliográfica nos fizeram constatar
que, o uso de softwares como auxiliares pedagógicos no processo de ensino
aprendizagem tem se tornado cada vez mais comum nas instituições de ensino.
Estes softwares são utilizados para proporcionar um ambiente de aprendizagem que
possibilite uma melhor interação entre professores e alunos, além de oferecer
uma série de ferramentas que podem auxiliar no processo de ensino. Desta forma,
Vieira (2011) ressalta a importância de o professor utilizar as tecnologias da
informação e comunicação como uma alternativa para facilitar a transmissão do
conhecimento e auxiliar no aprendizado diário.
De acordo com Aguiar (2016, p.47), a impressão 3D pode ser utilizada como uma
ferramenta de aprendizagem que ajuda os alunos a pensarem de forma diferente e a
enxergarem o mundo de maneira distinta. Além disso, a impressão 3D pode criar
ambientes que estimulam adequadamente os estudantes que se sentem indiferentes
em relação à escola, permitindo-lhes maior autonomia no aprendizado e
valorizando seus conhecimentos prévios.
Deve-se salientar que a capacidade de explorar diferentes perspectivas e ângulos
das formas de relevo é uma das maiores vantagens dos programas de modelagem 3D
para o ensino de geomorfologia. Com essa abordagem, os estudantes podem obter
uma compreensão mais completa e aprofundada da geomorfologia. Ademais, o
uso de modelos tridimensionais pode simplificar a compreensão de conceitos
complexos e pragmáticos, tornando o aprendizado mais dinâmico e interativo.
Para MORAES, “o simples acesso à tecnologia, em si, não é o aspecto mais
importante, mas sim, a criação de novos ambientes de aprendizagem e de novas
dinâmicas sociais a partir do uso dessas novas ferramentas”. (MORAES, 1997). É
crucial destacar que a implementação de softwares tridimensionais não deve ser
encarada como uma panaceia para as dificuldades enfrentadas no âmbito da
educação. O uso de tecnologias educacionais deve estar integrado a uma abordagem
pedagógica que inclua a reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem e a
formação constante dos professores.
3.1 Exploração e análise dos programas.
Como mencionado anteriormente, foi realizada uma avalição de vários softwares.
Foram testados as ferramentas que apresentaram maior número de indicações
positivas, verificando-se o desempenho em diferentes modelos de aparelhos e
sistemas operacionais, bem como a qualidade e adequação do conteúdo didático
oferecido.
Em seguida, ao término da análise dos aplicativos, concluiu-se que o Microsoft
Visualizador 3D é o que melhor atende aos critérios estabelecidos e, portanto,
será utilizado como ferramenta para o ensino de Geomorfologia. O Microsoft
Visualizador 3D é particularmente vantajoso por sua rapidez e facilidade de
download, levando apenas alguns segundos para ser instalado em dispositivos. A
avaliação dos aplicativos 3D foi essencial para garantir a escolha das
ferramentas mais adequadas para a proposta de ensino em questão.
3.2 Microsoft Visualizador 3D
O Microsoft Visualizador 3D demonstrou ser uma ferramenta útil para o ensino de
Geomorfologia, sendo ideal para o uso em laboratórios. Com sua capacidade de
visualizar modelos tridimensionais, os estudantes podem ter uma compreensão mais
completa e dinâmica dos processos geomorfológicos que moldam a superfície
terrestre. Com o Visualizador 3D, é possível explorar e manipular modelos 3D de
forma interativa, permitindo que os estudantes tenham uma perspectiva mais
abrangente da paisagem. Por exemplo, podem visualizar montanhas, vales, morros,
depressões e entre outras formas de relevo em diferentes escalas e ângulos. Seu
uso é bem simples, basta você baixar um arquivo tridimensional e clicar em cima
dele que o software abre uma interface simplória.(Figura 1):
Através do Microsoft Visualizador 3D é possível, por exemplo, abordar de maneira
divertida os domínios morfoclimáticos do Brasil. Diante disto, é realizável a
caracterização dos mares e morros e até mesmo do domínio amazônico. Podemos
visualizar até mesmo as unidades morfoestruturais mais acentuadas do Sul do
Pará, como os embasamentos cristalinos, como indica Pontes e Furtado em seu
mapeamento de unidades de relevo do Estado do Pará (2008, pg.60).(Figura 2):
A saber, estes autores classificaram 17 unidades de relevos no Estado do Pará e
dividiram em 4 unidades morfoestruturais fundamenta-se na proposta de Ross
(1990), em que tange às unidades de relevo em táxons, assim, definiu-se em:
Depósitos Sedimentares Quaternários (Holocênico e Pleistocênico), Bacias e
Coberturas Sedimentares, Coberturas Metassedimentares e os embasamentos
cristalinos. Segundo o Atlas Geográfico Escolar do Estado Pará, as terras
altas do Estado do Pará possuem altitudes de 300m e acima de 600m, incluindo as
serras de Cachimbo, Cubencraquem, Carajás, Acari, Tumucumaque e Ipitinga. Assim,
a medida de altitude do Pará pode variar entre 0 e mais de 600 metros.
3.3 Utilização do Microsoft visualizador 3D como recurso didático.
Para realizar a proposta de utilização de tecnologias tridimensionais para o
ensino de conceitos básicos de Geomorfologia, apropriando-se do software
Microsoft Visualizador 3D como principal ferramenta. Inicialmente, é necessário
que sejam selecionados conceitos básicos de Geomorfologia a serem trabalhados,
como relevo, bacias hidrográficas, encostas, planícies, entre outros. Em
seguida, que sejam buscados modelos 3D disponíveis na internet que
representassem esses conceitos.
A partir do site "www.thingiverse.com", é possível acessar diversos arquivos
tridimensionais de forma gratuita, bastando inserir o nome da unidade de relevo
ou da área desejada na barra de pesquisa. Em algumas ocasiões, não foi possível
encontrar os resultados desejados ao buscar por nomes em português, tendo em
vista que o site é internacional. Entretanto, ao realizar a busca utilizando
nomes em inglês, conseguimos encontrar o que precisávamos. (Figura 3):
Após a seleção dos modelos, é necessária uma organização em pasta dos arquivos
obtidos na internet para o Microsoft Visualizador 3D e adaptados para a
utilização em sala de aula. Não é necessário fazer qualquer tipo de importação,
basta abrir os arquivos baixados, desde que o Microsoft Visualizador 3D já
esteja na máquina. Em seguida, deve ser criado um roteiro de atividades com o
objetivo de explorar os recursos do software, como zoom, rotação e medição, para
auxiliar na compreensão dos conceitos de Geomorfologia pelos alunos.
4. Discussão
O ensino de geomorfologia pode ser bastante desafiador devido à natureza
pragmática de muitos dos conceitos envolvidos. A modelagem 3D pode ser uma
ferramenta valiosa para ajudar os alunos a visualizar esses conceitos de uma
forma mais concreta e tangível, permitindo que eles criem imagens mentais
tridimensionais que podem ajudar na compreensão.
A utilização de recursos didáticos interativos baseados em modelagem 3D pode
tornar o ensino de geomorfologia mais envolvente e acessível, ajudando os alunos
a superar a dificuldade de compreender conceitos pragmáticos que são
apresentados de forma pouco interativa em livros didáticos e ilustrações
bidimensionais.
Embora exista um mercado para modelagem 3D, atualmente há uma escassez de
conteúdo produzido especificamente para a área da Geomorfologia, provavelmente
devido à baixa demanda por esse tipo de conteúdo. Diante disto, eu provoco os
docentes brasileiros para a construção de um material didático tridimensional
gratuito, voltado ao ensino da Geomorfologia.
Neste sentido, em conformidade com Milton Santos(1994) não se deve reduzir a
Geografia a um conjunto de técnicas quantitativas e formais, sem considerar as
particularidades dos lugares e a relação entre as pessoas e o espaço, sendo
imprescindível uma geografia atenta as transformações sociais.
Figura 1 – formas de relevo exibidas no Microsoft Visualizador 3D. (a) Depressão em forma de cratera; (b) planalto; (c) Vale; (d) morro
Figura 2 – Estado do Pará visto no Microsoft Visualizador 3D
Figura 3 – Diversos arquivos tridimensionais obtidos.
Considerações Finais
Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo investigar a aplicação de
modelos 3D como ferramenta de ensino para a disciplina de geomorfologia, bem como
voltar a pesquisa para um estudo mais local no Estado do Pará. Foi possível
verificar que o ensino de geomorfologia é bastante desafiador devido à natureza
pragmática de muitos dos conceitos envolvidos, o que dificulta a visualização e
compreensão por parte dos alunos. No entanto, foi demonstrado que a modelagem 3D
pode ser uma ferramenta valiosa para ajudar os alunos a visualizar esses conceitos
de uma forma mais concreta e tangível. Entretanto, como mencionado anteriormente,
nem todas as escolas possuem acesso aos recursos tecnológicos necessários para a
aplicação da modelagem 3D. Dessa forma, urge buscar políticas públicas para
garantir que todos os alunos possam ter acesso ao conhecimento de forma
igualitária.
Agradecimentos
Agradeço ao Programa de Residência Pedagógica, ao Laboratório de Geografia Física
(LAGEOF) e à Faculdade de Geografia e Cartografia da UFPA por todo o suporte e
orientação fornecidos para a realização deste trabalho acadêmico.
Referências
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