Autores
- MATHEUS CUNHAUFPAEmail: matheusgabrieldossantoscunha@gmail.com
- RAISSA DIASUFPAEmail: raissameguins@gmail.com
- MARCOS SOARESUFPAEmail: marcs.soares1@gmail.com
- FLAVIO MASCARENHASUFPAEmail: flaviomascarenhs@gmail.com
- MARCOS CAMPOSUFPAEmail: marcos.campos@ifch.ufpa.br
- CAIO RODRIGUESUFPAEmail: caio.vsr1994@gmail.com
- MARIA HELENA NASCIMENTOUFPAEmail: vmariahelenas@gmail.com
- LUZIANE LUZUFPAEmail: luzianeluz36@gmail.com
Resumo
Este presente artigo abordou os desafios do ensino de geomorfologia para os
estudantes da Ilha do Combu–PA, contextualizando-o com métodos de ensino de
Geomorfologia, cujo propósito foi a inserção da tecnologia para uma aprendizagem
eficiente e um ensino mais didático. Foi feito essa análise a partir de alunos
ribeirinhos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Monsenhor Azevedo.
Utilizou-se a tecnologia, através da realidade aumentada, e a produção de
maquete
como método de ensino para a maior compreensão do conteúdo ministrado baseado
nas
vivências desses alunos. Após a aplicação dos recursos
observou-se uma maior absorção dos conteúdos propostos e melhora na participação
dos alunos. Desse modo, percebeu-se um avanço significativo nessa aprendizagem,
onde ficou evidente um salto na compreensão dos mesmos, desde a assimilação de
conceitos básicos geográficos até o entendimento da geomorfologia da sua região.
Palavras chaves
Educação; Ensino; Ribeirinhos; Geomorfologia; Compreensão
Introdução
A Ilha do Combu é uma Área de Proteção Ambiental (APA), por meio da lei no
6.083, de 13 de novembro de 1997, com a finalidade de promover a proteção e a
utilização racional dos recursos naturais, e, especialmente, para conter a
derrubada de açaizeiros para extração de palmito. A APA passou a fazer parte da
constituição do “Parque Ecológico do Município de Belém” (PEMB) voltado a
garantir espaços ambientais e recursos naturais que possibilitem melhores
condições de vida na cidade. O Estado do Pará é banhado por uma longa e extensa
rede hídrica, a sua capital é convergente à Baía do Guajará, parte do seu
território, área de 87.389,54 km, é banhada pelo Rio Guamá, o qual tem
influência, diretamente, na dinâmica dos habitantes de parte da região
metropolitana de Belém.
O município tem seu território composto por mais de 43 Ilhas, ao sul, são
encontradas 8 Ilhas, sendo as mais extensas a Ilha do Maracujá, Combu, Murucutu
e Ilha Grande. Castro (2006) considera Belém uma cidade fluvial, banhada na sua
quase totalidade por rios e igarapés, assentada em terras baixas e margeada por
imenso igapó. Constituindo-se, até os dias de hoje, em divisões internas, por
bairros de terra firme e baixadas.
A capital paraense está totalmente atrelada às Ilhas na região insular da
capital, mais especificamente, a Ilha do Combu, entretanto, tal relação é
conveniente quando se trata da questão econômica e totalmente contraditória
quando vista pela óptica educacional, tendo em vista, a dificuldade ao acesso a
uma educação de qualidade por parte dessas comunidades. Nesse sentindo, ao
analisar as realidades socioeconômicas e educacionais de alunos ribeirinhos da
Escola Estadual de Ensino Fundamental Monsenhor Azevedo, que fica localizada no
estado do Pará, na cidade de Belém, mais especificadamente, no bairro da Condor
(coordenada geográfica em UTM: 780889.278E 9836846.362N 22M), fica evidente as
lacunas deixadas pela falta de um ensino de geomorfologia que seja atrativo e
eficiente, traçando uma lógica baseada no entendimento do lugar (TUAN, 1983), e
das perspectivas das etapas do desenvolvimento cognitivo (PIAGET, 1970), Carlos
(2007) disserta a respeito de lugar:
“ A produção espacial realiza-se no plano do cotidiano e aparece nas formas de
apropriação, utilização e ocupação d um determinado lugar e num momento
específico. Uma vez que cada sujeito se situa num espaço, o lugar permite pensar
o viver, o habitar, o trabalho, o lazer enquanto situações vividas, revelando,
no nível do cotidiano, os conflitos do mundo moderno” (CARLOS, 2007, p. 20).
Nesse sentindo, residentes do curso de Geografia, participantes do programa do
Governo Federal, chamado Residência Pedagógica, voltado para formação de
professores, cujo tema é “valorização dos estudos amazônicos na educação básica:
uma abordagem da sociedade/natureza para o fortalecimento da relação
escola/universidade” foram inseridos na escola Monsenhor Azevedo, vivenciando as
lacunas e dificuldades na aprendizagem dos alunos, nesse sentindo parte-se da
visão que o ensino deve relacionar-se com o lugar em que estão inseridos, pois
dessa forma, há uma melhor manutenção da aprendizagem, surge o debate acerca das
formas de ensino da geomorfologia, de que forma ensinar tais conceitos,
utilizando-se de métodos tradicionais até a inserção da tecnologia como forma de
dinamizar essa aprendizagem, o presente artigo visa relacionar esse ensino
levando em consideração o contexto social em que os alunos estão inseridos, para
que o ensino tenha possibilidade de efetivação.
Material e métodos
O presente artigo visa discorrer acerca do ensino de Geomorfologia, analisando-o
na realidade de alunos ribeirinhos da região insular de Belém, mais
especificamente, da Ilha do Combu-Pa, matriculados na Escola Estadual de Ensino
Fundamental Monsenhor Azevedo, localizada no bairro da Condor, Belém-PA,
relacionando suas vivências e realidade desigual quando comparados com alunos de
Belém, nesse sentido, parte-se da teoria de Yi-Fu Tuan (1983) onde o indivíduo
entende o mundo a partir do seu lugar.
Para compreender suas vivências e dificuldades, foi realizada um trabalho de
campo, uma visita para a Ilha do Combu, além disso, para localizarmos a região
e caracterizar a sua Geomorfologia, foi realizado um curso para a construção dos
mapas presentes no artigo, para os dados Geomorfológicos e Pedológicos
foram usados os dados do Bdia, banco de informações ambientais, onde foi feito a
caracterização do relevo e solo.
A princípio fez-se necessário compreender e analisar qual era o entendimento dos
alunos acerca de conceitos geomorfológicos de sua própria região, a partir da
ideia de Ross (2012) onde apresenta o homem como agente geomorfológico, para
isso foi realizada uma diagnose com 12 perguntas sobre a geomorfologia da
região em que vivem, logo, a Ilha do Combu, com isso, ficou evidente a ausência
de um conhecimento sólido, com predominância do conhecimento empírico, nesse
sentido, surge o questionamento de como ensinar Geomorfologia, diante da
ausência de bases educacionais, recursos e interesse dos alunos, segundo Goulart
(2008), baseando-se na teoria da Epistemologia Genética de Piaget, considerando
que há uma transição do pensamento operacional concreto para o pensamento
operacional formal, faz-se necessário a dinamização do ensino de Geomorfologia,
para isso os residentes atuantes na escola aplicaram atividades dinâmicas em
suas regências, que é o momento em que cada residente fica frente à turma para
que atue como professor, nesse sentindo, foram realizadas aulas de campo,
atividades interativas, uso de maquetes e a inserção da tecnologia, por meio de
atividades que usam realidade aumentada, dessa forma, observou-se uma melhora,
significativa na aprendizagem e interesse dos alunos.
Resultado e discussão
A Ilha do Combu (Figura 1) pertence ao domínio do sistema fluvial do Rio Guamá,
cercada por um terreno de terraços fluviais e planícies de inundação (Figura 2),
“as planícies de inundação e terraços fluviais, que ocupam os vales dos
principais rios amazônicos, em geral apresentam dezenas de quilômetros de
largura, consistindo em zonas deposicionais, em atividade na região.” (PONTES,
2013, P.60). Esses terraços são o resultado da sedimentação dos depósitos
fluviais durante as cheias anuais e são considerados regiões elevadas em
comparação com as planícies baixas.
A Ilha do Combu possui geomorfologia distinta, apresentando uma extensa
planície aluvial delimitada pelas margens dos rios caudalosos Guamá e Acará.
Além disso, terraços fluviais pontilham a paisagem, elevados acima da planície
como depósitos de sedimentos depositados pelas cheias dos rios ao longo do
tempo. As flutuações do nível das águas dos rios exercem influência
significativa sobre esta área, levando a uma paisagem em constante evolução de
ilhas e planícies aluviais.
A região em análise caracteriza-se por uma notável atividade fluvial,
marcada pelo perpétuo deslocamento dos cursos dos rios e depósitos sedimentares.
Esta característica molda significativamente a paisagem e impacta o uso da terra
a longo prazo. As terras baixas e as margens dos rios constituem a porção mais
significativa da ilha, com igapós e vegetação de várzeas distribuídas por toda
parte. Os rios da Bacia Amazônica influenciam fortemente a região, moldando a
formação de ilhas e várzeas (CURI; RESENDE; SANTANA, 1988).
O solo da Ilha do Combu pertence à classificação Gleissolo, segundo o Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS, 2006). Esse tipo de solo pode ser
considerado adequado para o cultivo de uma grande variedade de culturas devido à
sua alta fertilidade natural, mas é importante lembrar que o manejo do solo deve
ser cuidadoso para evitar a sua compactação e a degradação da sua fertilidade
natural.
Portanto, é importante considerar as condições climáticas da região e as
culturas bem-adaptadas ao clima e umidade da região, como Açaí, Cupuaçu, Pupunha
etc. O clima equatorial úmido (CAVALCANTI, 2009), que possui altas temperaturas
e altos índices pluviométricos é fator predominante no modo de vida da região e
nas atividades econômicas e da dinâmica e riqueza de espécies da flora e fauna.
Nos centros urbanos existe toda uma gama de infraestrutura educacional
com escolas bem equipadas e recursos educativos mais elaborados, porém não há
nenhuma escola na Ilha do Combu que possa oferecer a mesma educação, as únicas
duas escolas que funcionavam nas ilhas encerraram suas atividades entre 2021 e
2022, mostrando o descaso do poder público com essas comunidades.
Segundo Ross 2012, o homem interfere na construção e reordenação dos espaços
físicos, nesse sentido, enfatiza-o como agente geomorfológico, nesse víeis, as
comunidades ribeirinhas conseguem explicar os conceitos geomorfológicas da sua
região, porém, da sua forma, empírica. Diante dessa realidade é de conhecimento
que o saber ribeirinho têm uma face própria, onde seus conhecimentos
tradicionais e culturais, não podem ser tratados separadamente dos processos de
escolarização, essa ideia reforça o pensamento de que a Geomorfologia possui
conteúdos presentes no cotidiano de todas as sociedades (TORRES e SANTANA,
2009). É notável que, os conceitos acadêmicos são termos longes da realidade
dessas comunidades. Diante disso, no contexto escolar, é preciso pensar em algo
mais didático e próximo da realidade desses indivíduos, a utilização das
diferentes linguagens é uma estratégia que possibilita o enriquecimento das
aulas de geografia, colaborando para a sensibilização das relações existentes
entre a sociedade e a natureza.
Foi proposta uma diagnose, com 12 perguntas, para alunos ribeirinhos da Escola
Estadual Monsenhor Azevedo, para comparar seus conhecimentos sobre a Ilha em que
vivem. Nesse viés, quando se trata sobre a ideia de pertencimento, fica nítido
essa expressiva relação, quando perguntados sobre como enxergavam o Rio Guamá,
as respostas foram: “vejo como brincadeira”, “felicidade”, etc, mostrando como
essa relação é real e concreta, Para Tuan (1983), o lugar é marcado por três
palavras-chave: percepção, experiência e valores. Os lugares guardam e são
núcleos de valor, por isso eles podem ser totalmente aprendidos através de uma
experiência total englobando relações íntimas, próprias e relações externas.
Quando perguntados sobre solo e relevo, a situação expressa preocupação diante
da idade, série, e local em que estão inseridos, a grande maioria, não sabe
responder, nem formular um pensamento a respeito dessas temáticas, tal fato,
mostra a precariedade do ensino de Geomorfologia, atrelado a falta de iniciativa
didática para uma melhor manutenção da aprendizagem, o fato dessa lacuna existir
é negligenciado, diante da justificativa da precariedade da educação, é como se
essa barreira não servisse para ser ultrapassada, pelo contrário, existe para
paralisar a ação da aprendizagem.
Na ciência geomorfológica, há a importância do recurso didático, não só
como um meio de conhecer o objeto desta ciência, mas para tornar a aula
prazerosa e eficiente para a aprendizagem. (GOULART 2008). Diversos recursos
podem ser usados, como o uso de maquetes, uso de aulas de campo, mediando o
aluno a conhecer seu lugar, a inserção da tecnologia, através da realidade
aumentada, trazendo o alunado, que estar permeado nesse mundo tecnológico a
conhecer o objeto geomorfológico.
Nesse sentido, foram realizadas aulas de Geomorfologia, na
Escola de Ensino Fundamental Monsenhor Azevedo, na turma do 8° Ano, utilizando
esses recursos, no primeiro momento, foi utilizado o método tradicional com o
uso do quadro e caneta para ensinar os conceitos básicos da região insular dos
alunos. Sabe-se que o primeiro contato com a introdução de Geomorfologia provém
de livros paradidáticos que em sua maioria não aborda a realidade dos alunos que
residem na região Norte do Brasil, dessa forma, procurou-se utilizar a
tecnologia e a exposição de maquete para mostrar de uma forma didática o mesmo
conteúdo presente nos livros, porém de forma lúdica. Para o uso da tecnologia
foi utilizado o aplicativo “Magipix" em que foi necessário programar fotos e
vídeos em realidade aumentada com o uso do smartphone (Figura 3), onde foi
exposta uma videoaula expondo os conceitos do Gleissolo para melhor
entendimento, na maquete foi exposta a dinâmica do solo e sua atividade quanto a
construção civil e seus comportamentos diante essas estruturas presentes nas
ilhas e margens. Assim como o processo de gleização que implica na coloração
desse solo, também foi exposto amostras coletadas do Gleissolo e Argiloso em
campo, onde puderam visualizar as diferenças. Contudo, a partir dessa maneira de
ensinar a geomorfologia da região foi possível reconhecer uma maior participação
da turma e trocas didáticas onde ficou nítido o encaminhamento do processo de
aprendizagem.
Sendo assim, a aplicação e a utilização de recursos tecnológicos em conteúdo em
que muitos docentes evitam usar é de extrema importância para o processo de
assimilação do aluno quanto ao ensino de geomorfologia, qual muitas vezes não
recebe real importância sendo fundamental para o entendimento das dinâmicas do
solo em que se reside, no contexto da região insular da região de Belém.
Mapa referente a localização da Ilha do Combu
Mapa das unidades de relevo da região metropolitana de Belém
Registros da regência dos residentes na escola Monsenhor Azevedo
Considerações Finais
Portanto, é evidente que o ensino de geomorfologia para alunos da região insular
de Belém, moradores da Ilha do Combu, é um extremo desafio frente a precariedade
de políticas públicas educacionais que amparem e garantam um ensino de qualidade,
dessa forma, o papel do professor é de fundamental importância ao compreender tais
questões e superá-las, utilizando-se de recursos didáticos que garantam essa
superação, partindo da ideia de lugar, de Milton Santos e Yi-Fu Tuan, nesse
sentido, é fundamental a dinamização nas aulas para que essa seja atrativa e
proveitosa, para isso, deve-se ir do tradicional à tecnologia, desde aulas
expositivas, atividades de campo, uso de maquetes, atividades com uso tecnológico,
como o uso da realidade aumentada, para que a aprendizagem seja garantida, como
foi feito com os alunos ribeirinhos da escola Monsenhor Azevedo, onde evidenciou-
se os resultados que a dinamização das aulas geram na aprendizagem desses alunos.
Dessa forma, fica evidente a importância da inserção da tecnologia, recursos
didáticos e uma didática que respeita a realidade do alunado.
Agradecimentos
Agradecemos a nossa preceptora Maria Helena Nascimento, que nos acompanha na
escola Monsenhor Azevedo e a Orientadora Luziane Luz, que nos conduziu na
elaboração desse artigo.
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