Autores
- GEOVANA MARIA FREITAS DE PAULAIFMGEmail: geovanamariaf@gmail.com
- SANDY DA CONCEIÇÃO DE PAULAIFMGEmail: sendypaulla@gmail.com
- CECÍLIA FELIX ANDRADE SILVAIFMG-OPEmail: cecilia.andrade@ifmg.edu.br
- JAIRO RODRIGUES SILVAIFMG-OPEmail: jairo.rodrigues@ifmg.edu.br
- GUILHERME DE OLIVEIRA WALTERIFMG-OPEmail: guilherme.walter@ifmg.edu.br
Resumo
A utilização de novas metodologias no ensino de conteúdos geográficos vem se
destacando no âmbito escolar, despertando o interesse, cativando o aluno e
facilitando o processo de ensino e aprendizagem. Este artigo tem como objetivo o
uso da impressora 3D para o ensino de Geomorfologia, de forma que consiga ilustrar
o fenômeno de movimento de massas que ocorreu no Morro da Forca, localizado no
município de Ouro Preto-MG, onde buscou trazer o conceito ao estudar a realidade
vivenciada pelos alunos. Sendo assim, o estudo permitiu observar a aplicabilidade
do uso da impressão 3D dentro sala de aula o que contribuiu para despertar o senso
crítico e a criatividade dos alunos. Os resultados foram bastantes satisfatórios,
onde foi possível contatar a participação e absorção do conteúdo trabalhado.
Palavras chaves
Impressão 3D; Ensino; Movimentos de massa; Geomorfologia; Novas Tecnologi
Introdução
As novas gerações de alunos, estudantes do século XXI nascem e crescem em um
mundo amplamente digital, o seu processo de aprendizagem está cercado de
dispositivos tecnológicos atrativos e informacionais. Diante disso, apresenta-se
o questionamento: como fazer com que os alunos tenham interesse em aprender no
ambiente escolar? Entretanto, partindo dessa premissa surge a necessidade do
uso de novas tecnologias digitais buscando trazer o conteúdo mais próximo a
realidade do aluno. Alguns autores como Vygotsky (2001), apontam que alguns
conceitos científicos são trabalhados na escola e, segundo o autor, por sua
natureza, promovem desenvolvimento, o que destaca o importante papel da escola.
Contudo, novos métodos de aprendizagem estão sendo criados para que os docentes
fujam do ensino tradicional, e consiga prender a atenção dos alunos contribuindo
para seu processo de aprendizagem, sendo a tecnologia sua grande aliada dentro
da sala de aula, fazendo com que o ensino se torne cada vez mais dinâmico e
interessante para os alunos. No ensino de Geomorfologia, novas práticas são
muito importantes para a compreensão do conteúdo, e para ilustrar diversos
conceitos, onde busca-se aproximar a teoria das atividades práticas.
No contexto educacional, o uso da impressora 3D possibilita a construção
recursos didáticos não encontrados facilmente no mercado. De acordo com Silva e
Souza (2022), o uso de impressora 3D facilita o ensino de geografia, pois o
aluno consegue perceber o abstrato a partir de algo concreto que é as formas
impressas.
Evangelista e Oliveira et all (2021), afirmam que as impressoras 3D permitem aos
educadores uma maior facilidade em criar e produzir modelos físicos sem a
necessidade de possuir muitas habilidades de manufatura, podendo assim fazer uso
de diversas ferramentas e recursos, ressaltando ainda que a qualidade dessa
tecnologia se sobrepõe a capacidade de causar criatividade no estudante. E a
partir daí desenvolve-se o cognitivo do discente quando utilizado de maneira
atrelada ao conteúdo estudado. A impressão 3D pode ser um fator de inclusão para
deficientes visuais, a partir do princípio que o aluno com cegueira ou baixa
visão conseguirá entender e integrar -se ao conteúdo explicado através do toque
em peças de alto relevo.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho é utilizar a Impressora 3D como
ferramenta de ensino para o estudo da geomorfologia, na temática dos movimentos
de massa, tendo como estudo de caso o Morro da Forca em Ouro Preto-MG para os
alunos do primeiro ano do ensino médio do curso técnico integrado em edificações
e administração do Instituto Federal de Minas Gerais – campus Ouro Preto.
Material e métodos
Em escala local, o artigo aborda a temática de áreas de risco a partir de
eventos geológicos ocorridos no Morro da Forca. Situa-se no centro histórico de
Ouro Preto, 90 km da capital Belo Horizonte. Além disso, cerca-se por antigas
construções, como por exemplo a praça da estação ferroviária de Ouro Preto
construída em 1888.
Segundo Timo (2019) a morfologia do local pode se dividir em quatro
partes sendo elas, um platô no topo quase sem inclinação, a encosta Oeste, a
encosta Sul na qual apresenta inclinação variável e a encosta Leste que não
possui acesso. Ao sul do Morro da Forca encontra-se uma delimitação pelo
córrego do Funil. Já o maciço do Morro está inserido no Grupo Sabará,
caracterizada como uma sequência metapelítica dominada por xistos, filitos,
metaritmitos e metavulcânicas, com raras lentes de quartzito. A rocha encontra-
se muito alterada em toda a extensão do maciço. Em alguns pontos é possível
constatar que a rocha se tornou saprólito.
A vegetação é de grande porte em quase todo maciço. Normalmente, as
raízes das árvores estão associadas às fraturas. Além disso, as fraturas são
responsáveis pela drenagem principal do maciço, não havendo sistema de drenagem
(TIMO, 2019). A morfologia do município é caracterizada, segundo Sobreira e
Fonseca (2001) por planaltos de altitudes diversas variando de 1060 m e 1400 m e
vales alongados.
O morro da Forca destaca-se por recorrentes quadros de movimentos gravitacionais
de massa sendo o escorregamento e a quebra de blocos. Pelo fato desses
movimentos ocorrerem principalmente dentro do perímetro urbano, a grande
preocupação está nos danos econômicos e humanos que esses movimentos possam
causar. Segundo a Defesa Civil de Ouro Preto, atualmente a sede foi mapeada com
313 áreas de risco, divididas em risco alto ou risco muito alto. Por isso,
conscientizar moradores e frequentadores da cidade é extremamente importante e
necessário.
No dia 28 de fevereiro, realizou-se trabalho de campo. Utilizando-se um Drone
Mavic Pro, através do voo de aproximadamente dez minutos, coletou-se noventa e
quatro imagens de alta resolução da área de interesse. O plano de voo foi feito
utilizando-se o aplicativo gratuito Drone Deploy, posteriormente realizou-se o
processamento no próprio software para a geração do mosaico e do modelo 3D
utilizado para gerar o molde da impressão. Em seguida partiu-se para fatiamento
através do software Cura e impressão do Modelo Digital do Terreno – MDT. Nessa
etapa contou-se o apoio do Ambiente de Inovação do Instituto Federal de Minas
Gerais campus Ouro Preto no qual disponibilizou os recursos necessários e o
auxílio técnico para que a impressão se tornasse exequível. A impressão foi
realizada em trinta e seis horas, etapa na qual houve a necessidade de vistoria
da impressão durante todo o processo pelos autores do projeto (Figura 1).
Optou realizar a impressão em duas cores, sendo o vermelho representando o
movimento de massa presente no Morro da Forca e em verde o restante do morro.
Partindo para a atividade prática, estabeleceu-se uma parceria com a professora
regente da disciplina de Geografia, nessa oportunidade a professora cedeu 3
horas aulas para a aplicação do projeto junto aos alunos do primeiro ano dos
cursos técnicos integrados de edificações e administração.
Para a primeira aula expositiva explicou o assunto, material elaborado no site
Canva, aula contendo conceitos e a explicação do que é movimento de massa e
áreas de riscos, essa abordagem contemplou a escala local, pelo fato de Ouro
Preto ser suscetível a movimentos de massas, decorrentes da morfologia e
morfometria das vertentes.
Após a realização da atividade, os alunos tiveram a possibilidade de ver e tocar
no modelo de impressão 3D do Morro da Forca, facilitando a compreensão da
dinâmica estudada na aula anterior (Figura 2).
Resultado e discussão
Nos dias atuais a tecnologia vem ganhando destaque e utilizá-las como aliada
para o processo de aprendizagem torna as aulas mais lúdicas e capazes de captar
a atenção dos discentes e consequentemente um maior aproveitamento e compreensão
do conteúdo ensinado em sala. Autores como Buss e Mackedanz (2017) e Bacich e
Moran (2018) evidenciam o quanto é importante promover uma educação inovadora,
foi com essa convicção que realizou-se a atividade e os resultados alcançados
permitiram observar o interesse e a criatividade dos discentes.
Os alunos no primeiro momento mostraram-se bastante empolgados com a proposta. A
partir da realidade local, vivenciada pelo aluno para abordar os conteúdos
geográficos, obteve-se um novo olhar onde foi possível buscar a conscientização
do que são áreas de risco, incentivar um olhar crítico sobre a realidade local,
onde mudanças na paisagem podem ser indicativos de novos desastres.
Relacionar o fenômeno estudado na geomorfologia com o último acontecimento no
morro, fez com que os alunos entendessem o ocorrido e a importância de ações
para conscientização dos moradores próximos das áreas de risco. Ao conhecerem o
site da Defesa Civil observou-se a preocupação e curiosidade dos alunos diante
da realidade vivida, essa prática foi extremamente interessante principalmente
por tratarmos de riscos alto ou muito alto na cidade, mesmo aqueles que não
moram em Ouro Preto, ficaram interessados na prática por possuir parentes ou
amigos na cidade, de maneira que esses possuem certo sentimento de
pertencimento.
Ademais, a iniciativa de levar outros recursos para fugir de aulas tradicionais
foi bastante satisfatório uma vez que os alunos demonstraram bastante interesse,
preocupação e zelo pela dinâmica territorial da cidade. Os cartazes elaborados
pelos discentes são informativos no que se diz a conscientização dos riscos e
também o descaso do poder público (Figura 3). As histórias em quadrinhos,
charges e memes elaboradas pelos mesmos foram bastante satisfatórias a partir do
princípio que alguns aproveitaram o momento para usar a ilustração como alerta,
outros expressaram uma crítica referente ao acontecimento aos movimentos de
massa no Morro da Forca em Ouro Preto. A utilização de histórias e quadrinhos
podem integrar grupos de debates, assim como rodas de conversa, pois convidam à
participação coletiva sobre um determinado tema, que vai resultar em um processo
de construção e transformação de ideias, facilitando a troca de experiências de
forma contextualizada (SILVA et al., 2007).
A partir da aula anterior, elaboração dos cartazes juntamente com a observação
e o contato com a impressão 3D foi notado o entendimento, como também
despertaram neles o senso crítico diante da problemática retratada, o que
facilitou a elaboração da atividade proposta e absorção do conteúdo. Desta
forma, acredita-se que novas metodologias diferenciadas no ensino de
geomorfologia podem estimular os alunos para o desejo de aprender.
Fonte: Acervo próprio: Morro da Forca impresso em 3D
Fonte: Acervo próprio
Fonte: Acervo próprio
Considerações Finais
A aplicabilidade do uso da impressão 3D dentro da sala de aula contribuiu
significativamente para a aprendizagem dos alunos. Todas etapas foram pensadas e
analisadas de forma que seja de fácil absorção do conteúdo pelos discentes.
Através da aula, os alunos despertaram o pensamento crítico, e tiveram a
oportunidade de observar o fenômeno de movimento de massa que ocorreu
recentemente na cidade sede de Ouro Preto, cuja representação do fenômeno foi
impresso em 3D.
As histórias em quadrinhos, charges e memes elaborados colocou em pauta o senso
crítico do aluno, alguns aproveitaram o momento para usar a ilustração como
alerta, outros expressaram uma crítica referente ao ocorrido. Ademais, a
iniciativa de levar outros recursos para fugir de aulas tradicionais foi
bastante satisfatório uma vez que os alunos demonstraram interesse, preocupação
e zelo.
Ao analisar todo processo e os resultados obtidos, notou-se um aumento
significativo quanto a compreensão dos conteúdos de geomorfologia. O método
atingiu os objetivos esperados. Vale salientar que os resultados apresentados
juntamente com a experiência adquirida do desenvolvimento das atividades,
evidencia que os estudantes estão abertos a formas atípicas de aprendizagem e
também um aumento significativo na participação durante as aulas. Novos métodos
de aprendizagem fazem com o que o aluno seja o protagonista do seu processo de
ensino e aprendizagem e o professor seja um intermediador desse processo de
forma didática.
Agradecimentos
Referências
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EVANGELISTA, F. L. Oliveira, L. M.. Estudo das consequências da aplicação de impressoras 3D no ambiente escolar. Physicae Organum, v. 7, n.1, p. 39-58, Brasília, 2021. https://periodicos.unb.br/index.php/physicae/issue/view/2218. Acesso em 27 jan.2023.
OLIVEIRA, M. A. T. de. Movimentos gravitacionais de massa: avaliação do risco geotécnico para edificações próximas ao Morro da Forca, no distrito sede do município de Ouro Preto, por meio do Método do Índice de Risco (iR). 2022. 74 f. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) - Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2022.
RELVAS, C. A. M. (2018), O Mundo da Impressão 3d e o Fabrico Digital, 1ª edição
Acesso em 28 fev 2023
SAMPAIO, CPD; MARTINS, RFF. A modelagem 3d virtual e a impressão 3d como ferramentas de apoio ao aprendizado na educação infantil: viabilidade e possibilidades de aplicação. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2013. Acesso em 27 jan. 2023
SOBREIRA, F. G.; FONSECA, M. A. Impactos físicos e sociais de antigas atividades de mineração em Ouro Preto, Brasil. Geotecnia, Ouro Preto, julho 2001. Acesso em 13 mar. 2023
TIMO, V. P.. Caracterização geológica-geotécnica e propostas de estabilização do Morro da Forca - Ouro Preto. 2019. 134 f. Monografia (Graduação em Engenharia Geológica) - Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2019.Acesso em 13 mar. 2023