• 14° SINAGEO – Simpósio Nacional de Geomorfologia
  • Corumbá / MS
  • 24 a 30 de Agosto de 2023

TRILHAS TURÍSTICAS COMO MEIO DE DIVULGAÇÃO DE ATRIBUTOS GEOMORFOLÓGICOS

Autores

  • ALINE VARGAS DE MORAESUFMSEmail: aline.vargas@ufms.br
  • EMERSON FIGUEIREDO LEITEUFMSEmail: emerson.leite@ufms.br
  • ELISÂNGELA MARTINS DE CARVALHOUFMSEmail: elisangela.carvalho@ufms.br

Resumo

Atualmente diversas pessoas buscam por atrativos turísticos que as mantenham em contato especialmente com meio natural e suas mais variadas paisagens. Nesse contexto ressalta-se a importância dos estudos geomorfológicos e morfológicos dos variados terrenos servindo de interesse também para a avaliação da geodiversidade e do patrimônio geomorfológico de um local ou região (Dantas, 2008). Assim, a presente proposta tem como objetivo mapear atributos geomorfológicos visando contribuir com a trilha turística localizada no empreendimento turístico Pousada da Serra. Para isso, foi elaborado no software QGIS 3.10 um mapa geomorfológico e sua descrição do município de Aquidauana e posteriormente foram realizadas trilhas para o reconhecimento da área de estudo, com levantamentos de dados geomorfológicos, observando a paisagem e o comportamento do terreno. Como resultado, foram feitos mapas de hipsometria, declividade e confecção de um banner informativo com as informações topográficas da trilha.

Palavras chaves

Turismo; Trilha; Paisagem; Geomorfologia ; Geodiversidade

Introdução

Atualmente diversas pessoas buscam por atrativos turísticos que as mantenham em contato especialmente com meio natural e suas mais variadas paisagens. Existe uma diversidade de paisagens naturais e as práticas turísticas nessas áreas, quando bem planejadas e executadas, contribuem para sua divulgação e preservação. Tendo em vista essa relação entre turismo e meio natural se faz necessário o controle do número de pessoas que visitam certas regiões turísticas, pois o não controle compromete ou agravam os ambientes que já possuem algum tipo de fragilidade ou vulnerabilidade (Ramos, 2004). Nesse contexto ressalta-se a importância dos estudos geomorfológicos e morfológicos dos variados terrenos servindo de interesse também para a avaliação da geodiversidade e do patrimônio geomorfológico de um local ou região (Dantas, 2008). Para a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM, 2006), a geodiversidade estuda o meio físico dos variados ambientes juntamente com todos os processos que originaram diferentes paisagens, rochas, relevos, águas etc., que propiciam o desenvolvimento da vida e dos valores culturais, econômicos e turísticos. As atividades turísticas planejadas, sejam elas particulares ou públicas, utilizam das paisagens e podem contribuir para a preservação e divulgação de possíveis patrimônios geomorfológicos, sendo este, parte integrante da geodiversidade por apresentar elementos naturais de interesse. O conceito de patrimônio geomorfológico pode ser entendido como o conjunto de locais e objetos geomorfológicos com suas características genéticas, de raridade ou conteúdo que possam ter determinado valor científico, econômico, social ou cultural para conservação, contribuindo para a preservação de potenciais turísticos e elementos naturais (Pereira et al 2006). Um exemplo das praticas turísticas em ambiente natural são aquelas feitas por meio de trilhas e que podem ser ferramentas essenciais para a conservação da geodiversidade, para o entendimento dos turistas sobre os elementos físicos do local, estimular a preocupação com o patrimônio natural e também como forma de educação ambiental e recurso didático para o ensino das geociências (Oliveira et al, 2016). Assim, a presente proposta tem como objetivo mapear atributos geomorfológicos visando contribuir com a trilha turística localizada no empreendimento turístico Pousada da Serra. A área de estudo localiza-se no distrito de Camisão, coordenadas 20°28’38,1” S e 55°37’50,9” W, no município de Aquidauana, MS (Figura 1).

Material e métodos

Foram realizadas trilhas para o reconhecimento da área de estudo, com levantamentos de dados geomorfológicos, observando a paisagem e o comportamento do terreno. Posteriormente foi elaborado no Software QGIS 3.10 um mapa geomorfológico do município de Aquidauana, a partir de Shapeffiles do Plano de Conservação do Alto Pantanal – PCBA (1997); foi utilizado também Shapefiles da rede de drenagem (FBDS) e estradas (DNIT). Para elaboração dos mapas de hipsometria e declividade da área de interesse foi utilizado o Modelo Digital de Elevação – MDE (Topodata/INPE); com uso do GPS foram coletadas as elevações e coordenadas geográficas para desenhar e calcular a extensão da trilha. Após a elaboração dos mapas foi realizada a descrição a partir de fontes como PCBAP (1997), EMBRAPA (1979), entre outros, para então, elaborar um banner com as principais informações da área, considerando informações como altitude, declividade e as unidades geomorfológicas.

Resultado e discussão

O município de Aquidauana está localizado na porção centro – oeste do Mato Grosso do Sul, considerando sua compartimentação geomorfológica, possui duas unidades morfoestruturais, sendo elas, a Bacia Sedimentar do Paraná e a Bacia Sedimentar do Pantanal (Brasil, 1997). Predominam em Aquidauana as seguintes unidades geomorfológicas: Depressão São Jerônimo/Aquidauana, Depressão do Miranda/Aquidauana, Planalto de Maracaju, Pantanal do Taquari, Pantanal do Abobral/Negro, Pantanal de Aquidauana, Pantanal de Miranda e Pantanal do Nabileque. A área Pousada da Serra compreende duas dessas classes, Depressão do Miranda/Aquidauana e o Planalto de Maracaju. A trilha possui 2,8 km de extensão e até a realização dos trabalhos sobre as características físicas da trilha, o percurso era desprovido de recurso interpretativo. A partir dos resultados obtidos com os levantamentos foi confeccionado um banner (figura 2) contendo informações sobre aspectos topográficos da trilha visando dar suporte as atividades turísticas locais, possibilitando ao turista conhecer informações relacionadas a altitude, declividade e das paisagens que serão contempladas, com linguagem simples, porém sem perder o valor cientifico. Os turistas, juntamente com o guia responsável, partem de uma altitude de 190 metros, como mostrado na figura 2, percorrem o trecho principal da trilha com 630 metros de extensão, sendo que, o primeiro trecho apresenta terrenos mais planos (3 a 8% de declividade) e logo depois, no segundo e terceiro trecho as declividades ficam mais acentuadas, variando de 8 a 20% no segundo trecho e de 20 a 45% no terceiro, apresentando um terreno acidentado e íngreme sendo preciso o auxílio de cordas para facilitar a caminhada. Seguindo para a porção norte da trilha, a caminhada é de 380 metros de extensão até chegar no Mirante da Serra, local com 258 metros de altitude. O nome foi dado pela visão que se tem dos morros esculpidos sobre rochas areníticas da Formação Aquidauana que forma modelados planos ou de dissecação do tipo tabular. A porção sul é o ponto de maior elevação no perímetro da trilha, o mirante principal recebe o nome de mirante do sol com 300 metros de altitude e apresenta um percurso com 400 metros de extensão, o terreno tem comportamento tabular e pouco acidentado. Os mirantes (figura 3a e 3b) são pontos da trilha onde os turistas podem visualizar o relevo rebaixado característico da planície pantaneira. Cerca de 76,03% do município de Aquidauana é formado pelos pantanais, de acordo com Brasil (1997) os Pantanais caracterizam-se por modelados de acumulação, são áreas de planícies desenvolvidas por depósitos de sedimentos trazidos pelos rios com predominância de campos inundáveis e sedimentos arenosos inconsolidados, ou seja, são áreas de acumulação inundáveis e áreas de planície fluviolacustres. Já os morros que compõe a paisagem ao entorno são formados de rochas areníticas e apresentam modelados planos ou de dissecação do tipo tabular formando escarpas caracterizadas por rampas ou degraus de grande inclinação característicos de bordas de Planalto e que podem ser visualizadas durante a caminhada na trilha (figura 3c). Em todos os trechos da trilha é possível encontrar arenitos com diferentes texturas (fina, média e grossa) e observar os processos de intemperismo (Físico e químico), assim como conglomerados mostrados no exemplo da figura 3d, também é possível encontrar abrigos como mostrado no exemplo da figura 3e.


Figura 1 - Localização da Pousada da Serra


Figura 2 - Banner dos aspectos topográficos


Figura 3 - 3a) Vista da paisagem pelo Mirante da serra, observação de áreas de planície e morros. 3b) Vista da paisagem pelo Mirante Sol, observação de áreas de planície e morros. 3c) Escarpa (borda de planalto). 3d) Intemperismo sobre o afloramen

Considerações Finais

O turismo está intimamente ligado ao meio físico, pois explora as belezas paisagísticas de certas áreas. Por meio dessa relação, o conhecimento geomorfológico torna-se essencial para o desenvolvimento de atividades turísticas, pois auxilia na disseminação do conhecimento geomorfológico e, por sua vez, contribui para a conservação das paisagens. Visando contribuir com a atividade turística, trabalhos sobre o meio físico são essenciais, principalmente quando as informações técnicas podem ser transmitidas de forma simplificada para o turista. Pode ser considerado ainda que com uso de técnicas e suporte do geoprocessamento é possível elaborar análises geomorfológicas preliminares para confrontar com as informações encontradas nas áreas de interesse turístico, demonstrando ser uma ferramenta importante no processo de levantamento de dados. A produção do banner foi importante para o empreendimento turístico, visto que, a partir de sua instalação, os turistas passaram a ter uma ideia das principais características da trilha (distância do percurso, altitude, comportamento do terreno). Além disso, os responsáveis pela trilha se mostraram empenhados em compreender como é a dinâmica da formação do relevo e das rochas, sendo muito importante para que sejam repassadas as informações necessárias ao público, promovendo a conservação dos patrimônios geomorfológicos.

Agradecimentos

Agradeço á Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) e ao Programa de Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - Campus de Aquidauana.

Referências

BRASIL. PCBAP – Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai (Pantanal). Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Brasília, 1997.
CPRM. Mapa geodiversidade do Brasil. Escala 1:2.500.000.
Brasília: SGM-MME/CPRM, 2006.
DANTAS, M. E; ARNESTO, R. C. G; ADAMY, A. Origem das Paisagens. In Silva, C. R. da. Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o
presente e prever o futuro. Rio de Janeiro: CPRM, 2008.
264 p.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de. Súmula da 10. Reunião Técnica de Levantamento de Solos. Rio de Janeiro, 1979. 83p.
OLIVEIRA, J. M.C; TEIXEIRA G, A.J; AUGUSTINE F, M; SANTOS P, L; MUNIZ R, A; FINOTTI R. N, G. A Importância da trilha como instrumento de geoturismo e indicadora de Processos erosivos, o exemplo da trilha Sete Praias, Região Sul do Município de Ubatuba-SP. In XI Simpósio Nacional de Geomorfologia (SINAGEO), 11. 2016, Maringa. ANAIS: Geodiversidade e patrimônio geomorfológico. Nº 279. MARINGÁ / PR. 2016.
PEREIRA, D; PREREIRA, P; ALVES, M, I.C; BRILHA, J. Inventariação temática do patrimônio geomorfológico português. Publicações da Associação Portuguesa de Geomorfologia, VOL.3, APGeom, p 155-159.
RAMOS, C. G. Turismo e meio ambiente. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas. São Paulo - 2004. R.A. 441.078/0.

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