Autores
- ALINE VARGAS DE MORAESUFMSEmail: aline.vargas@ufms.br
- EMERSON FIGUEIREDO LEITEUFMSEmail: emerson.leite@ufms.br
- ELISÂNGELA MARTINS DE CARVALHOUFMSEmail: elisangela.carvalho@ufms.br
Resumo
Atualmente diversas pessoas buscam por atrativos turísticos que as mantenham em
contato especialmente com meio natural e suas mais variadas paisagens. Nesse
contexto ressalta-se a importância dos estudos geomorfológicos e morfológicos
dos variados terrenos servindo de interesse também para a avaliação da
geodiversidade e do patrimônio geomorfológico de um local ou região (Dantas,
2008). Assim, a presente proposta tem como objetivo mapear atributos
geomorfológicos visando contribuir com a trilha turística localizada no
empreendimento turístico Pousada da Serra. Para isso, foi elaborado no software
QGIS 3.10 um mapa geomorfológico e sua descrição do município de Aquidauana e
posteriormente foram realizadas trilhas para o reconhecimento da área de estudo,
com levantamentos de dados geomorfológicos, observando a paisagem e o
comportamento do terreno. Como resultado, foram feitos mapas de hipsometria,
declividade e confecção de um banner informativo com as informações topográficas
da trilha.
Palavras chaves
Turismo; Trilha; Paisagem; Geomorfologia ; Geodiversidade
Introdução
Atualmente diversas pessoas buscam por atrativos turísticos que as mantenham em
contato especialmente com meio natural e suas mais variadas paisagens. Existe
uma diversidade de paisagens naturais e as práticas turísticas nessas áreas,
quando bem planejadas e executadas, contribuem para sua divulgação e
preservação.
Tendo em vista essa relação entre turismo e meio natural se faz necessário o
controle do número de pessoas que visitam certas regiões turísticas, pois o não
controle compromete ou agravam os ambientes que já possuem algum tipo de
fragilidade ou vulnerabilidade (Ramos, 2004). Nesse contexto ressalta-se a
importância dos estudos geomorfológicos e morfológicos dos variados terrenos
servindo de interesse também para a avaliação da geodiversidade e do patrimônio
geomorfológico de um local ou região (Dantas, 2008).
Para a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM, 2006), a
geodiversidade estuda o meio físico dos variados ambientes juntamente com todos
os processos que originaram diferentes paisagens, rochas, relevos, águas etc.,
que propiciam o desenvolvimento da vida e dos valores culturais, econômicos e
turísticos.
As atividades turísticas planejadas, sejam elas particulares ou públicas,
utilizam das paisagens e podem contribuir para a preservação e divulgação de
possíveis patrimônios geomorfológicos, sendo este, parte integrante da
geodiversidade por apresentar elementos naturais de interesse.
O conceito de patrimônio geomorfológico pode ser entendido como o conjunto de
locais e objetos geomorfológicos com suas características genéticas, de raridade
ou conteúdo que possam ter determinado valor científico, econômico, social ou
cultural para conservação, contribuindo para a preservação de potenciais
turísticos e elementos naturais (Pereira et al 2006).
Um exemplo das praticas turísticas em ambiente natural são aquelas feitas por
meio de trilhas e que podem ser ferramentas essenciais para a conservação da
geodiversidade, para o entendimento dos turistas sobre os elementos físicos do
local, estimular a preocupação com o patrimônio natural e também como forma de
educação ambiental e recurso didático para o ensino das geociências (Oliveira et
al, 2016).
Assim, a presente proposta tem como objetivo mapear atributos geomorfológicos
visando contribuir com a trilha turística localizada no empreendimento turístico
Pousada da Serra. A área de estudo localiza-se no distrito de Camisão,
coordenadas 20°28’38,1” S e 55°37’50,9” W, no município de Aquidauana, MS
(Figura 1).
Material e métodos
Foram realizadas trilhas para o reconhecimento da área de estudo, com
levantamentos de dados geomorfológicos, observando a paisagem e o comportamento
do terreno.
Posteriormente foi elaborado no Software QGIS 3.10 um mapa geomorfológico do
município de Aquidauana, a partir de Shapeffiles do Plano de Conservação do Alto
Pantanal – PCBA (1997); foi utilizado também Shapefiles da rede de drenagem
(FBDS) e estradas (DNIT).
Para elaboração dos mapas de hipsometria e declividade da área de interesse foi
utilizado o Modelo Digital de Elevação – MDE (Topodata/INPE); com uso do GPS
foram coletadas as elevações e coordenadas geográficas para desenhar e calcular
a extensão da trilha.
Após a elaboração dos mapas foi realizada a descrição a partir de fontes como
PCBAP (1997), EMBRAPA (1979), entre outros, para então, elaborar um banner com
as principais informações da área, considerando informações como altitude,
declividade e as unidades geomorfológicas.
Resultado e discussão
O município de Aquidauana está localizado na porção centro – oeste do Mato
Grosso do Sul, considerando sua compartimentação geomorfológica, possui duas
unidades morfoestruturais, sendo elas, a Bacia Sedimentar do Paraná e a Bacia
Sedimentar do Pantanal (Brasil, 1997). Predominam em Aquidauana as seguintes
unidades geomorfológicas: Depressão São Jerônimo/Aquidauana, Depressão do
Miranda/Aquidauana, Planalto de Maracaju, Pantanal do Taquari, Pantanal do
Abobral/Negro, Pantanal de Aquidauana, Pantanal de Miranda e Pantanal do
Nabileque. A área Pousada da Serra compreende duas dessas classes, Depressão do
Miranda/Aquidauana e o Planalto de Maracaju.
A trilha possui 2,8 km de extensão e até a realização dos trabalhos sobre as
características físicas da trilha, o percurso era desprovido de recurso
interpretativo. A partir dos resultados obtidos com os levantamentos foi
confeccionado um banner (figura 2) contendo informações sobre aspectos
topográficos da trilha visando dar suporte as atividades turísticas locais,
possibilitando ao turista conhecer informações relacionadas a altitude,
declividade e das paisagens que serão contempladas, com linguagem simples, porém
sem perder o valor cientifico.
Os turistas, juntamente com o guia responsável, partem de uma altitude de 190
metros, como mostrado na figura 2, percorrem o trecho principal da trilha com
630 metros de extensão, sendo que, o primeiro trecho apresenta terrenos mais
planos (3 a 8% de declividade) e logo depois, no segundo e terceiro trecho as
declividades ficam mais acentuadas, variando de 8 a 20% no segundo trecho e de
20 a 45% no terceiro, apresentando um terreno acidentado e íngreme sendo preciso
o auxílio de cordas para facilitar a caminhada.
Seguindo para a porção norte da trilha, a caminhada é de 380 metros de extensão
até chegar no Mirante da Serra, local com 258 metros de altitude. O nome foi
dado pela visão que se tem dos morros esculpidos sobre rochas areníticas da
Formação Aquidauana que forma modelados planos ou de dissecação do tipo tabular.
A porção sul é o ponto de maior elevação no perímetro da trilha, o mirante
principal recebe o nome de mirante do sol com 300 metros de altitude e apresenta
um percurso com 400 metros de extensão, o terreno tem comportamento tabular e
pouco acidentado.
Os mirantes (figura 3a e 3b) são pontos da trilha onde os turistas podem
visualizar o relevo rebaixado característico da planície pantaneira. Cerca de
76,03% do município de Aquidauana é formado pelos pantanais, de acordo com
Brasil (1997) os Pantanais caracterizam-se por modelados de acumulação, são
áreas de planícies desenvolvidas por depósitos de sedimentos trazidos pelos rios
com predominância de campos inundáveis e sedimentos arenosos inconsolidados, ou
seja, são áreas de acumulação inundáveis e áreas de planície fluviolacustres.
Já os morros que compõe a paisagem ao entorno são formados de rochas areníticas
e apresentam modelados planos ou de dissecação do tipo tabular formando escarpas
caracterizadas por rampas ou degraus de grande inclinação característicos de
bordas de Planalto e que podem ser visualizadas durante a caminhada na trilha
(figura 3c).
Em todos os trechos da trilha é possível encontrar arenitos com diferentes
texturas (fina, média e grossa) e observar os processos de intemperismo (Físico
e químico), assim como conglomerados mostrados no exemplo da figura 3d, também é
possível encontrar abrigos como mostrado no exemplo da figura 3e.
Figura 1 - Localização da Pousada da Serra
Figura 2 - Banner dos aspectos topográficos
Figura 3 - 3a) Vista da paisagem pelo Mirante da serra, observação de áreas de planície e morros. 3b) Vista da paisagem pelo Mirante Sol, observação de áreas de planície e morros. 3c) Escarpa (borda de planalto). 3d) Intemperismo sobre o afloramen
Considerações Finais
O turismo está intimamente ligado ao meio físico, pois explora as belezas
paisagísticas de certas áreas. Por meio dessa relação, o conhecimento
geomorfológico torna-se essencial para o desenvolvimento de atividades turísticas,
pois auxilia na disseminação do conhecimento geomorfológico e, por sua vez,
contribui para a conservação das paisagens.
Visando contribuir com a atividade turística, trabalhos sobre o meio físico são
essenciais, principalmente quando as informações técnicas podem ser transmitidas
de forma simplificada para o turista.
Pode ser considerado ainda que com uso de técnicas e suporte do geoprocessamento é
possível elaborar análises geomorfológicas preliminares para confrontar com as
informações encontradas nas áreas de interesse turístico, demonstrando ser uma
ferramenta importante no processo de levantamento de dados.
A produção do banner foi importante para o empreendimento turístico, visto que, a
partir de sua instalação, os turistas passaram a ter uma ideia das principais
características da trilha (distância do percurso, altitude, comportamento do
terreno). Além disso, os responsáveis pela trilha se mostraram empenhados em
compreender como é a dinâmica da formação do relevo e das rochas, sendo muito
importante para que sejam repassadas as informações necessárias ao público,
promovendo a conservação dos patrimônios geomorfológicos.
Agradecimentos
Agradeço á Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) e ao Programa de Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul - Campus de Aquidauana.
Referências
BRASIL. PCBAP – Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai (Pantanal). Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Brasília, 1997.
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Brasília: SGM-MME/CPRM, 2006.
DANTAS, M. E; ARNESTO, R. C. G; ADAMY, A. Origem das Paisagens. In Silva, C. R. da. Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o
presente e prever o futuro. Rio de Janeiro: CPRM, 2008.
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EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de. Súmula da 10. Reunião Técnica de Levantamento de Solos. Rio de Janeiro, 1979. 83p.
OLIVEIRA, J. M.C; TEIXEIRA G, A.J; AUGUSTINE F, M; SANTOS P, L; MUNIZ R, A; FINOTTI R. N, G. A Importância da trilha como instrumento de geoturismo e indicadora de Processos erosivos, o exemplo da trilha Sete Praias, Região Sul do Município de Ubatuba-SP. In XI Simpósio Nacional de Geomorfologia (SINAGEO), 11. 2016, Maringa. ANAIS: Geodiversidade e patrimônio geomorfológico. Nº 279. MARINGÁ / PR. 2016.
PEREIRA, D; PREREIRA, P; ALVES, M, I.C; BRILHA, J. Inventariação temática do patrimônio geomorfológico português. Publicações da Associação Portuguesa de Geomorfologia, VOL.3, APGeom, p 155-159.
RAMOS, C. G. Turismo e meio ambiente. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas. São Paulo - 2004. R.A. 441.078/0.