Autores
- MARCOS ANTÔNIO VIEIRA DIASUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBAEmail: mv020393@gmail.com
- RAFAEL ALBUQUERQUE XAVIERUNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBAEmail: rafaelxavier@servidor.uepb.edu.br
- NÁDSON RICARDO LEITE DE SOUZAUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBAEmail: nad_ric@hotmail.com
- INOCENCIO DE OLIVEIRA BORGES NETOUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁEmail: iobngpb@gmail.com
Resumo
O Parque Estadual do Pico do Jabre (PEPJ), entre os municípios de Maturéia e Mãe
d’ Água no Estado da Paraíba, é uma unidade de conservação do tipo integral,
criada pelo decreto estadual de n° 23.060/2002. Nos últimos anos, vem crescendo
o turismo no PEPJ, tendo como principal atrativo o ponto mais alto da Paraíba
(1.197m). Desta forma, este estudo teve como objetivo realizar um levantamento
da geodiversidade do PEPJ e, caracterizar o relevo granítico. Foram realizados
trabalhos de campo para inventariar a geodiversidade e as formas de relevo
granítico foram analisadas segundo Bastos et al. (2021). Os resultados indicaram
5 Geossítios com vários exemplares de relevos graníticos expressivos à
geodiversidade. Muitos desses locais ainda são desconhecidos, e precisam ser
estudados e diviulgados. Sugere-se que esses locais devem ser protegidos e
utilizados de forma sustentável, pois além da beleza cênica constituem-se
elementos que preservam a própria história geológica do local.
Palavras chaves
Pico do Jabre; Relevos Graníticos; Macroformas; Microformas; Unidade de Conservação
Introdução
O conceito de Geodiversidade é relativamente recente, surgindo segundo Sharples
(2002) em 1993 na conferência da Terra na Austrália, por outro lado, Brilha
(2005) defende que o conceito foi usado pela primeira vez na conferência de
conservação geológica e paisagística em Malvern, no Reino Unido, no mesmo ano.
Para além da origem do termo, deve-se levar em consideração sua importância e
contribuição para a natureza, pois a geodiversidade consiste na variedade de
elementos abióticos do planeta terra (BRILHA, 2005; CPRM, 2006; GRAY, 2004).
Os estudiosos da temática como: Shaples (2002), Gray (2004), Brilha (2005),
Mansur (2010), Jorge e Guerra (2016) entre outros, entendem a geodiversidade
como a variedade de solos, rochas, relevo e processos que modelam a crosta
terrestre, bem como, o resultado desses processos. Para a CPRM (2006) o estudo
da geodiversidade consiste na composição do meio físico (abiótico) da paisagem e
dos processos e fenômenos que dão origem as diversas feições geológicas,
geomorfológicas, geográficas, entre outros. Em concordância com essas
percepções, pode-se considerar que a diversidade elementos abióticos é tão
importante quanto a biodiversidade, pois, o meio abiótico é fornece o alicerce
ao desenvolvimento da vida no planeta.
Levando em consideração as premissas e a importância da geodiversidade para o
contexto geológico-geomorfológico, neste trabalho buscou-se caracterizar os
relevos graníticos na área do Parque Estadual do Pico do Jabre (PEPJ),
localizado entre os municípios de Maturéia e Mãe d’Água no estado da Paraíba. O
local possui diversas particularidades que o torna relevante, que vão de
elementos de flora e fauna, como também, elementos abióticos como diversas
geoformas graníticas.
Aplicou-se a proposta taxonômica sugerida por Bastos et al. (2021), onde os
autores classificam o relevo de ambientes graníticos em 5 ordens: táxon, classe,
subclasse, descrição e morfologia. A proposta de uma taxonomia do relevo
granítico consiste no pressuposto das diversas macroformas e microforma, do
relevo, uma vez que o ambiente cristalino não segue um padrão específico de
forma, isso dar-se-á por diversos fatores de litologia, condições atmosféricas,
relevo, entre outros.
Material e métodos
Área de Estudo
O recorte do presente trabalho é o Parque Estadual do Pico do Jabre (PEPJ)
localizado entre os municípios de Maturéia e Mãe d’Água no estado da Paraíba,
conforme as seguintes coordenadas: Latitude 7° 16’ 1’’/7° 14’ 46’’S e Longitude
37° 22’ 48’’/37° 24’ 0’’ W (Figura 1).
Figura 1 – Localização do Parque Estadual do Pico do Jabre, no estado da
Paraíba.
O PEPJ possui o ponto mais elevado do estado da Paraíba e o segundo do Nordeste
Setentrional, chegando a 1.197 metros de altitude. A área está inserida no
contexto do Planalto da Borborema que é um escudo cristalino do Pré-Cambriano
formado a pelo menos 500 milhões de anos ao norte do Cratón São Francisco e a
leste da bacia do Parnaíba (ALMEIDA et al., 2000).
De forma mais precisa, o PEPJ localiza-se na escarpa oriental do Planalto da
Borborema, do ponto de vista da litologia, a Provincia Borborema é um complexo
cristalino composto por rochas graníticas, granodioritos, quartzos e monzonito
(CPRM, 2006). Os processos endógenos de deformação causaram falhas e zonas de
cisalhamento sentido NE-SW e E-W e, segundo as concepções de Almeida e Ulbrich
(2003) a maior parte desses granitos aflorados, são oriundos dessas falhas,
pois, o magma no Ciclo brasiliano em alta atividade de tectonismo perpassa a
falhas e resfria-se formando compartimentos graníticos que posteriormente seriam
exumados e expostos a superfície para os processos de intemperismo e modelagem,
formando assim, diferentes tipos de feições em escala macro e de microformas,
como pôde ser visto no PEPJ.
A área está situada no semiárido paraibano, sendo considerada um brejo de
altitude (AGRA et al., 2004; GOMES et al., 2021; MARQUES et al., 2021) e é de
extrema importância biológica (CUNHA; SILVA-JUNIOR, 2018; LOPES-SILVA et al.,
2022). A vegetação é caracterizada como Floresta Estacional Semidecidual
Montana, e de acordo com a altitude, apresenta diferenças florísticas. A
caatinga é dominante até a cota de 500 m (AGRA et al., 2004). A partir de 900 m
predomina a Floresta Semidecidual Montana com espécies da Mata Atlântica e do
Cerrado (GOMES et al., 2021), e entre 500 e 900 m é uma zona de transição.
Procedimentos metodológicos
A fim de alcançar os objetivos, o trabalho foi realizado em 3 etapas, 1ª)
levantamento bibliográfico, 2ª) reconhecimento dos elementos abióticos por meio
trabalhos de campo, e 3ª) classificação taxonômica a partir da proposta de
Bastos et al. (2021).
A primeira etapa levou em consideração as principais contribuições acerca da
geodiversidsde, com ênfase em relevos graníticos tento como base a proposta
taxonômica de Bastos et al. (2021), para tanto, optou-se em fazer o levantamento
bibliográfico a partir dos principais pesquisadores da geodiversidade como:
Sharples (2002), Gray (2004), Brilha (2005), Mansur (2010), Jorge e Guerra
(2016) entre outros, tal como, a proposta taxonômica de relevos graníticos já
mencionada.
A segunda etapa consistiu no reconhecimento do PEPJ, onde foi feito a
caracterização da geodiversidade do local, no dia 26/04/2023, com auxílio de:
GPS, câmera fotográfica, drone e planilhas com as principais informações da
metodologia de Bastos et al. (2021), onde foi possível visualizar as macro e
microformas do PEPJ.
Por fim, a terceira e última etapa foi a classificação do relevo por meio da
proposta taxonômica de ambientes graníticos sugerida por Bastos et al. (2021),
como já foi salientado, desse modo, optou-se em caracterizar a geodiversidade de
5 geossítios, a saber: Pico do Jabre, Pedra do Caboclo, Pedra do Talhado, Pedra
do Vento e Pedra das Duas Irmãs, pois, são áreas que já possuem reconhecimento
popular da importância desses ambientes.
Resultado e discussão
Com base no levantamento feito no PEPJ, foi possível identificar expressiva
geodiversidade no local, sobretudo, os relevos graníticos, o que possibilitou
uma compreensão das formas e processos atuantes na área. A Tabela 1, apresenta
as classes e feições dos relevos graníticos que foram encontrados em cada
geossítio do PEPJ.
Como pode ser visto na Tabela 1, os geossítios estudados dentro do PEPJ, possuem
diversas feições geomorfológicas que se destacam na paisagem do ponto mais alto
da Paraíba, testemunhando os processos que modelaram o relevo, nesse sentido,
apesar de apresentarem características similares, cada geossítio possui
particularidades e feições com diferentes formas. A Figura 2 exibe algumas
microformas encontradas nos geossítios.
Partindo da concepção taxonômica sugerida por Bastos et al. (2021), o PEPJ está
localizado num maciço cristalino granítico, se configurando como uma macroforma,
apresentando formas e tamanhos diversos, isso se dá, pelo fato dos ambientes
graníticos não serem homogêneos e possuírem tipos de intemperismo distintos, por
questões de falhas, fraturas, como também fatores exógenos, que atuam na
litólogia causando diferentes formas intemperizadas (MAIA; NASCIMENTO, 2018), no
mesmo ambiente, segundo a taxonomia, há microformas que são feições residuais
que estão em destaque no relevo, em outras palavras, o PEPJ é um maciço
(macroforma) com microformas diversas. Diante dos levantamentos (Figura 2),
foram encontradas microformas de três tipos a saber: blocos graníticos, formas
dissolução e formas de fraturamento. A microforma de blocos graníticos
encontrada foi do tipo boulder, que são blocos arredondados, formados em
subsuperfície de clima úmido por meio de fraturas, e posteriormente expostos
pela remoção da camada intemperizada da crosta (solo) (Figura 2d).
Foi identificado microformas do tipo de dissolução como: tafoni, alvéolos,
karren, gnammas e flared slopes. Os tafoni são tipo de intemperismo cavernoso,
formando oco na rocha (Figura 2a), os alvéolos são pequenas perfurações
encontradas principalmente nas rochas com tafoni, pode ser considerado como um
estágio inicial de um tafone (Figura 2b). Já o karren é uma microforma comum em
rochas graníticas e são uma espécie de sulcos na rocha, podem ocorrer de forma
isolado (Figura 2c) ou em conjunto com outras. As gnammas são dissoluções
químicas, resultados da remoção de xenólitos menos resistentes na própria
litologia da rocha. Já as flared slopes são concavidades na base de afloramentos
verticalizados, pode ser encontrado em todos os tipos de clima. Já as
microformas de fraturamento, podem ser do tipo split rock e polygonal cracking.
De acordo com Basto et al. (2021) de forma geral, pode-se entender que split
rock é a divisão de um boulder por meio de uma fratura, apartando o bloco. E,
por fim, o polygonal cracking são rachaduras rasas na rocha, com semelhanças de
uma concha de tartaruga (Figura 2e).
Após o levantamento realizado em campo, foram identificados cinco geossítios,
cada um com suas particularidades e com relevante geodiversidade, sendo dessa
forma, uma área extremamente importante para a ciência, sociedade e para as
futuras gerações.
Geossítio Pico do Jabre (G1)
O geossítio Pico do Jabre está localizado no município de Maturéia-PB e está
inserido na Unidade de Conservação Estadual do tipo integral, é a principal
trilha feita por turistas que visitam o PEPJ, tem por sua vez, dois mirantes um
no sentido leste, que pode ser visto as compartimentações do Planalto da
Borborema, tento em vista que o Pico do Jabre é a maior elevação do estado da
Paraíba e o Segundo maior do Nordeste Setentrional, o segundo mirante é na
direção oeste, vista que pode-se contemplar a Superfície Sertaneja (mais
conhecida como Depressão Sertaneja) e ondulações suaves do relevo, além de
várias feições.
Além dos mirantes, o geossítio tem boulders, alvéolos e polygonal cracking,
feições que caracterizam diferentes tipos de modelagem do relevo, desde sua
formação, o Pico do Jabre possui elevado procura de turismo natural, tipo de
turismo que têm crescido no Brasil, sobretudo em Unidades de Conservação.
No entanto, há uma certa poluição visual no local, pois, o local possui uma
infraestrutura de telecomunicação (antenas), que fornecem sinal para toda a
Paraíba, além da poluição paisagística, pode-se levar em consideração
questionamento de possíveis impactos que podem ocorrer no local.
Geossítio Pedra do Caboclo (G2)
O Geossítio está localizado no PEPJ, é uma trilha acessível para todas as idades
e, com esforços, até para cadeirantes. Trata-se de um lajedo que se destaca no
relevo, por apresentar-se em uma área relativamente significativa, além do
lajedo, há a própria pedra do Caboclo que é um tafone, para mais, há diversas
feições de microformas como: boulders, honeycomb, gnammas, karrens, flared slops
e polygonal cracking.
Vale ressaltar que, além da geodiversidade, há pinturas nas rochas feitas pelos
Índios Cariris a pelo menos 3 mil anos, agregando valor ainda mais ao geossítio,
com pinturas rupestres dos Índios Cariris, as gravuras possuem desenhos que se
assemelham com o sol, cursos de rios, animais e outros elementos.
Geossítio Pedra do Talhado (G3)
Trata-se de um afloramento rochoso em um relevo íngreme, é a principal vista da
trilha do Pai Dantas, que começa em 816 metros e termina em 1.070 de altitude, a
trilha gira em torno de 2 horas de duração, a Petra do Talhado é um verdadeiro
mirante da própria comunidade aos redores do PEPJ. Do ponto de vista da
geodiversidade, o mirante possui vários blocos de rocha e algumas microformas:
karrens, split rocks e polygonal cracking.
Geossítio Pedra do Vento (G4)
O afloramento da Pedra do Vento é um geossítio com diversas microformas,
apresentando-se com geodiversidade de ambiente granítico, mas bem desenvolvidos,
pois, no local, possui, boulders, tafoni, karrens, gnammas, flared slops,
honycombs e polygonal cracking, o local é um verdadeiro laboratório
geomorfológico e geológico, apesar de ser um afloramento relativamente pequeno,
há expressivas feições didáticas e com grande valor geocientífico.
Geossítio Duas Irmãs (G5)
Trata-se de um afloramento rochoso com uma diversidade de microformas ao longo
do lajedo, a duas irmãs são dois boulders semelhantes na superfície do
afloramento, logo, a comunidade local chama de duas irmãs, além disso, pode-se
encontrar tafoni, karrens, split rocks e polygonal cracking, além da
geodiversidade, há uma fábula nesse geossítio como por exemplo: a história do
mago que protege a “Pedra das duas irmãs” e, passa a noite com uma tocha de fogo
toda noite, da pedra das duas irmãs até a Pedra do caboclo, pois, segundo os
moradores, a pedra é duas irmãs petrificadas. Esse conto, agrega valor de
memória e religioso.
G1 – Pico do Jabre; G2 – Pedra do Caboclo G3 – Pedra do Talhado; G4 – Pedra do Vento; G5 – Duas Irmãs. Elaborado pelos autores, 2023.
Considerações Finais
Foram identificados cinco geossítios, mas acredita-se que esse número possa ser
ainda maior, pois, durante os trabalhos de campo, algumas trilhas estavam
interditadas por conta da vegetação. Espera-se que as demais campanhas de campo,
obtenham êxito nessa questão, haja vista que, a área possui uma grande diversidade
de macro e microformas. Nesse sentido, no PEPJ, foi encontrado macro formas como:
Lajedo e Afloramentos, já as microformas, foram encontrados: Boulders, Tafones,
Honycombs, Caneluras, Gnammas, Flared Slops, Split Rock e Polygonal Rocking,
feições da geodiversidade que precisam ser preservados.
Apesar de ser uma Unidade de Conservação, a área possui diversas atividades que
podem colocar em risco a preservação dos fatores abióticos e bióticos, dessa
forma, entende-se a necessidade de maior atenção do poder público quanto a
efetivação do decreto estadual, bem como, a criação do Plano de Manejo, para além
disso, percebeu-se atividade de turismo, desse modo, é indispensável discutir
acerca de que tipo de turismo é praticado no PEPJ.
Para tanto, foi identificado, que a área possui um grande potencial para o
geoturismo, que é uma atividade sustentável e que não degrada o ambiente, somando
como um instrumento de conservação e conscientização do meio físico, desse modo,
espera-se que demais estudos levem em consideração esse tipo de atividade, pois,
além de assegurar a conservação do local, ainda pode gerar renda para a comunidade
local.
Agradecimentos
Agradecimentos a Universidade Federal da Paraíba, CNPq e a FAPESQ por apoiarem o
desenvolvimento desta pesquisa.
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