Autores
- KELVEN RUAN PEREIRA REGOUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: kelvenruan16@gmail.com
- IZABELE CRISTINE CORREA PONTESUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: correaizabele777@gmail.com
- LUZIANE MESQUITA DA LUZUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: luzianeluz36@gmail.com
Resumo
A geografia possibilita a abordagem holística entre geomorfologia urbana,
antropoceno e bacia hidrográfica. As intervenções antrópicas a partir da
urbanização imprime marcas no meio ambiente, a bacia hidrográfica é uma unidade
física que sofre com o processo de urbanização. A pesquisa teve por objetivo
analisar a expansão urbana e intervenções antrópicas na bacia hidrográfica do
igarapé ilha do coco, em Parauapebas-PA. Foi utilizado imagens SRTM para
delimitar a bacia, além da inda in loco, foi trabalhado base de dados do
MapBiomas e IBGE na análise. O tamanho da bacia de 134,09 km², 29,48 km²
representa área urbana em 2021, enquanto em 1985, representava 1,06km², portanto
a mudança na geomorfologia foi alterada. O avanço da urbanização se deu conta da
mineração em Parauapebas, que atraiu a chegada de migrantes para a região, com
isso, se teve uma ocupação desordenada em áreas próximas do rios, fundo de vale
e encostas, além de causar impactos ambientais e alterações nos processos geom
Palavras chaves
Geomorfologia urbana ; Antropogênico; Bacia hidrográfica ; Parauapebas ;
Introdução
O município de Parauapebas foi emancipado em 1988, a ocupação nesse território
ocorre a partir do final da década de 60, quando se descobre as jazidas de ferro
na região. Na década de 70, estudos sobre a área foram feitos e criaram o
Projeto Grande Carajás, um empreendimento econômico e político que foi
inaugurado na década de 80 (Ribeiro, 2019). Prévia do Censo Demográfico de 2022,
até 25 de dezembro de 2022, a população de Parauapebas foi calculada em 271.577
habitantes, enquanto no Censo de 2010, a população era 153.809 habitantes (IBGE,
2022).
O igarapé ilha do coco é um importante afluente fluvial urbano do Rio
Parauapebas. A bacia hidrográfica do igarapé ilha do coco passa por processo de
degradação por conta da urbanização na cidade de Parauapebas no sudeste
paraense. Esse fato ocorre desde a criação do município em 1988 até os dias
atuais, essa urbanização ocorreu principalmente por conta dos empreendimentos
ligados à mineração no município de Parauapebas. Entretanto, os recursos
hídricos da bacia hidrográfica desempenham papel importante para o uso das
atividades humanas, seja desde o pequeno produtor, agricultura e indústria. Para
Lanna (2000), a bacia hidrográfica deve ser gerida a fim de garantir o uso
múltiplos de exploração dos recursos naturais pela sociedade de forma
sustentável, nas a urbanização acelerada e desordenada contribui cada vez mais
para a degradação ambiental da bacia da ilha do coco.
O presente trabalho tem o estudo integrado sobre geomorfologia antropogênica e
geomorfologia urbana, tem a Bacia hidrográfica como categoria de análise.
Segundo Luz et al (2016), as bacias hidrográficas representam um conjunto
ambiente complexo entre os aspectos naturais e humanos que se relaciona no tempo
e espaço. A geomorfologia antropogênica auxilia no estudo e análise das
atividades humanas e como essas atividades podem resultar na remoção da
cobertura vegetal, criação de novas formas de relevo e alterações nos processos
fluviais.
Diante do cenário de uso e cobertura do solo na bacia, as técnicas de
geoprocessamento e sensoriamento remoto são ferramentas que ajudam na elaboração
cartográfica na hora de comprar o crescimento da mancha urbana, perda da
floresta e avanço da pastagem entre 1985 até 2021. Essa bacia é uma das 3 bacias
urbanas que são afluentes do rio Parauapebas, todos os impactos e degradação que
acontecem na bacia vai chegar no rio principal.
Portanto, acrescenta-se a necessidade de buscar mecanismos institucionais e
políticos para a conservação das áreas que ainda estão preservadas, a
restauração acontece por meio do Programa de Saneamento Ambiental, Macrodrenagem
e Recuperação de Igarapé e Margens do Rio Parauapebas (PROSAP), além do uso e
manejo adequados dos recursos hídricos. A pesquisa teve como objetivo a análise
da expansão urbana na bacia hidrográfica do igarapé ilha do coco, através do uso
de dados do MapBiomas e transformação na morfologia do relevo.
Material e métodos
A bacia hidrográfica do igarapé ilha do coco está localizada em sua maior parte
no município de Parauapebas e uma pequena parte no município de Curionópolis,
ambos municípios do sudeste paraense. A localização geográfica da bacia é entre
as coordenadas: 6°0'14.400"s a 6°10'19.200"s, e de 49°53'45.600"w a
49°45'50.400"w.
A pesquisa teórico foi baseada em clássicos autores da geomorfologia
antropogênica como, Nir (1983) a utilização de instrumentos e técnicas da
geomorfologia antropogênica está relacionada às ações antrópicas, onde as
transformações do relevo está associada às questões econômicas, Douglas (1983) é
uma referência as estudos geomorfológicos nas cidades, Hooker (1994) onde o
homem pode mover grandes quantidades de solos e rochas sendo um agente
geomórfico, Botelho (2011) nos mostra a importância dos estudos em bacias
hidrográficas.
O presente estudo foi desenvolvido nas propostas de Aziz Ab’Saber (2003) e
Passos (2012), onde ambas propostas se relacionam no estudo integrado da
paisagem sendo por elementos naturais, humanos, políticos, econômicos e
antropogênicos quando se tem transformações humanas na natureza.
O levantamento cartográfico foi baseado na análise morfométricas utilizando
imagens SRTM da agência United States Geological Survey (USGS), para
delimitação da bacia hidrográfica e a partir dessa delimitação, foi utilizado
dados matriciais do MapBiomas para a comparação e análise do avanço da
urbanização na área de estudo e outros usos. O processo de caracterização do uso
e cobertura do solo e a morfométrica (rede de drenagem e relevo) foram
elaborados no SIG Qgis por ser de uso livre.
Resultado e discussão
A área de estudo está na área do perímetro urbano da cidade de Parauapebas e uma
parte de Curionópolis, o seu fluxo corre de Leste para Oeste, indo desaguar na
margem direita do Rio Parauapebas. A bacia hidrográfica do igarapé ilha do coco
possui uma extensão de aproximadamente de 134,09 km², com as classes de uso do
solo como área urbana, formações florestais, pastagens e outras (CUNHA et al,
2018). O mapa de uso e cobertura do solo (Figura 1) representa a comparação
entre os anos de 1985 e 2021.
O uso e ocupação do solo pode ser interpretado através das atividades humanas
que são geradas no espaço geográfico. O uso do meio ambiente primário de forma
intensiva e predatória por ações antrópicas gera grandes impactos devido às
atividades de fins econômicos e indústrias (FERREIRA, 2005). As mudanças
ocorridas na bacia hidrográfica se deu por conta dos incentivos aos grandes
projetos na amanhã, no caso de Parauapebas a mineração. As classes presentes no
mapa são Formação Florestal, Pastagem, Formação Campestre, Lavouras Temporárias,
Mancha Urbana, Mineração, Campo Alagado e Corpo D’água, na tabela 1, está a
comparação das classes que aumentaram e perda de área.
Tabela 1. Áreas em Km² das classes de uso e cobertura do solo
CLASSES
ÁREA EM KM² - 1985
ÁREA EM KM² EM -2021
Pastagem
58,98 km
74,21 km
Formação Florestal
71,88 km
29,83 km
Mancha Urbana
1,06 km
29,48 km
Corpo D’água
0,10 km
0,38 km
Lavouras Temporárias
0,27 km
0,080 km
Formação Campestre
0,004 km
0,048 km
Campo Alagado
1,78 km
0,047 km
O PROSAP vem desenvolvendo atividades e obras em diversas áreas que abrangem a
bacia, seja na micro e macrodrenagem, alargamento de parte do igarapé ilha do
coco, melhorias no sistema de abastecimento de água e reduzindo a perda de água,
implantação do sistema viário com construção de vias, moradia de qualidade ao
deslocado, além da paisagem e urbanização. O bairro União fica no baixo curso do
igarapé do ilha do coco, próximo ao Rio Parauapebas, no cruzamento entre as ruas
Vinícius de Moraes, Santa Catarina e Rua 10, as duas ruas cortam o rio onde
aconteceu alargamento (Figura 2).
A Geomorfologia urbana é um ramo da geomorfologia que se concentra nas
alterações morfológicas do relevo em detrimento de uma cidade, desde as suas
características naturais, como paisagem e os elementos construídos pela
sociedade, seja casas, edifícios, avenidas, lojas de departamentos e afins.
Logo, a geomorfologia urbana analisa como a urbanização altera a paisagem
natural por intervenções antrópicas, como isso infere negativamente o meio
ambiente e as pessoas que vivem na cidade.
O processo de urbanização na bacia do igarapé ilha do coco é uma realidade clara
do impacto da expansão urbana do município de Parauapebas em 34 anos, sobre a
natureza. Devido a indústria da mineração, a cidade cresce rápido e passa a
ocupar áreas próximas dos corpos hídricos e planícies de inundação da região. O
resultado disso é a perda da cobertura vegetal, desmatamento, o aumento do lixo,
esgoto, poluição das águas e a contaminação dos solos. Dentre os impactos
negativos está a impermeabilidade do solo, aumento do risco de inundações,
deslizamento de terras nas áreas de morros, problemas hidrológicos e na dinâmica
sedimentar (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Para Nir (1983), as atividades humanas exercem de forma predatória impactos nos
processos geomorfológicos como superfícies impermeabilizadas, áreas de
adensamento habitacional, uso desordenado e intensivo dos recursos hídricos que
podem o desequilíbrio da hidrografia. A cidade de Parauapebas é uma cidade que
vem crescendo por conta da mineração, com isso, se tem o aumento dos impactos
antrópicos na bacia citados por Nir, seja com bairros planejamento, surgimento
de aglomerados subnormais, descarte inadequado dos resíduos sólidos e esgoto.
Segundo Douglas (1983), a construção das cidades deve levar em consideração a
topografia, análise futura dos processos geomorfológicos ajudando nas políticas
urbanas e a geografia física e suas ramificações podem contribuir. Os bairros
planejados estão em áreas de topografia elevada e plana, diferentes dos bairros
que foram surgindo desordenados, o relevo é um fator condicionante na segregação
espacial. Portanto, nas áreas urbanas os novos fixos são adicionados por
diversos setores econômicos e políticos: construção de lojas, hotéis,
canalização dos rios e outras ações que aumentam o escoamento e a redução da
infiltração da água. Botelho (2011), relata que as bacias urbanas são vistas
principalmente a partir do escoamento e infiltração, com as mudanças nesses
processos hidrológicos o aumento de risco de enchentes e alagamentos urbanos são
maiores.
Portanto, a pesquisa perpassa pelas abordagens geográficas sobre geomorfologia
urbana, bacia hidrográfica e intervenções antropogênicas. Os recursos hídricos
são de suma importância para sobrevivência e desenvolvimento de atividades
econômicas, mas no entanto, o processo de urbanização desordenada contribui na
degradação ambiental da bacia e na transformação do relevo.
Obra de alargamento no igarapé ilha do coco.
Mapa comparativo entre os anos de 1985 e 2021 sobre o uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica do igarapé ilha do coco em Parauapebas.
Considerações Finais
Tendo em vista os aspectos mencionados, é imprescindível a importância da
pesquisa
realizada sendo caracterizada pelo levantamento bibliográfico,
laboratório e visita de campo. O município de
Parauapebas é polarizador na
região de integração de Carajás, devido a importância
da mineração na região,
atividade que movimenta economicamente a cidade. Na bacia hidrográfica do
igarapé ilha do coco notou-se o avanço da urbanização e pastagem, ambos
fenômenos acarretado pela mineração no município de Parauapebas, transformando o
relevo natural, causando erosão, assoreamento desmatamento, ocupação de áreas
suscetíveis a inundação e deslizamento de terras. Essas alterações constituem na
prática a sociedade como a gente geológico e geomorfológico na transformação
morfoescultural e morfoestrutural. Notou-se que as atividades que mais avançaram
na bacia foi o desmatamento com a perda de florestas, avanço da urbanização,
avanço da pastagem e pecuária, ambas atividades que causam impactos diretos e
indiretos no meio ambiente, contudo a urbanização seguiu avançando sobre rios e
afluentes do baixo curso em direção ao médio curso, alterando dinâmicas e
processos naturais, criando paisagens antrópicas.
Agradecimentos
Referências
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