Autores
- IZABELE PONTESUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: correaizabele777@gmail.com
- LUZIANE LUZUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: luzianeluz36@gmail.com
- JOSÉ RODRIGUESUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: jecrodrigues@ufpa.br
- DOUGLAS CARDOSOUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: douglas.cardoso@ifch.ufpa.br
- KELVEN REGOUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁEmail: kelvenruan16@gmail.com
Resumo
É notório que as ações humanas na Terra foram e seguem sendo capazes de criar e
recriar ambientes com base nas suas necessidades, contribuindo para uma nova
dinâmica e dando origem ao conhecimento da Antropogeomorfologia. Uma mostra
nítida das novas formas de relevo antropogênico são as atividades oriundas da
mineração com a construção das estruturas de armazenamento de rejeito, atividade
em Barcarena, no estado do Pará. O vigente trabalho tem como objetivo
classificar as formas de relevo antropogênico e relacionar com as unidades
morfoesculturais do município. A metodologia se deu por revisão bibliográfica,
elaboração cartográfica e visita técnica na área de refinamento Hydro Alunorte,
em Barcarena. Portanto, as feições do relevo provenientes da atividade de
mineração foram classificadas como Lagoas antropogênicas, Terreno produzido de
agradação e Terreno complexo de degradação. Conclui-se que as estruturas de
rejeito propiciam mudanças extremas na geomorfologia da região.
Palavras chaves
Antropogeomorfologia; Relevo Antropogênico; Mineração; Barcarena; Estruturas de armazenamento de rejeito
Introdução
A significativa atuação do homem sobre a natureza apresenta características
negativas geológicas-geomorfológicas de três níveis, conforme Pellogia (1997),
em que destaca a modificação do relevo, alteração nas fisiologias das paisagens
e alterações na paisagem através das modificações da conduta dos processos da
dinâmica externa. Sendo assim, as intervenções antrópicas são exacerbadamente
significativas para a eclosão de novas formas de relevo antropogênicos (SILVA et
al. 2017).
A influência humana em cooperação com as relevâncias geológicas é um fato
explicito na nova era geológica (Crutzen, 2002). Essas influências ratificam um
selo humano no ambiente global, o tornando uma força geológica, interagindo com
as forças naturais, provocando impactos e mudanças do sistema da terra. O homem
tem passado de um agente em relação à evolução da vida para um responsável
direto na ruptura do equilíbrio da Terra (Stteffen, 2011).
Desta forma, de acordo com Guerra (2011), pode-se compreender a
Antropogeomorfologia como um estudo que retrata a presença significativa das
intervenções antrópicas no meio natural, ou seja, é o conhecimento das
metamorfoses do ambiente físico oriundas das ações do homem. As modificações
humanas sobre o relevo refletem a ocupação e as modificações a superfície do
terreno.
O trabalho exposto tem como análise identificar as modificações no sítio
geomorfológico no município de Barcarena, modificações essas provenientes do
refinamento da bauxita e caulim, concebendo novas feições de relevo e
ressignificando as paisagens, ações antropogênicas em área de mineração de
responsabilidade da Empresa Norueguesa Hydro-Alunorte e Imerys Rio Capim Caulim.
A classificação do relevo é crucial para entender os tipos de estruturas de
armazenamento de rejeitos de mineração em uma determinada área, tanto para a
extração quanto para o beneficiamento. Este trabalho apresenta o conhecimento
das unidades morfoesculturais municipais, que permitem compreender as
modificações antropogênicas no relevo, resultantes do armazenamento de rejeitos
em bacias e depósitos de resíduos sólidos.
Sendo assim, os principais objetivos desta pesquisa são: entender o homem como
modificar da paisagem através da análise dos conceitos sobre a geomorfologia e o
antropoceno; classificar o relevo do município de Barcarena e relacionar com as
estruturas de armazenamento de rejeito encontradas no município e classificar o
relevo antropogênico na área submetida a atividade de mineração.
O município de Barcarena está localizado na mesorregião Metropolitana de Belém,
microrregião de Belém e Região de Integração do Tocantins. Sua densidade
demográfica é de 121,87 hab/km² e sua área é de 818,89 km². Ao Norte, encontra-
se a Baía do Guajará e o Município de Belém, ao sul os municípios de Moju e
Abaeteuba, ao Leste o município de Ácara e a Oeste a Baía do Marajó. Barcarena é
o 6° lugar no ranking Estadual e o 1° lugar no PIB da região que se integra,
sendo responsável por quase 45,9% do produto da região tocantina, devido à
exploração e refinamento minerário de bauxita e caulim (FAPESPA, 2022).
Segundo Pinto (1997); Barcarena (1999); Gazeta Mercantil Norte (2002), Barcarena
transformou-se em um município estratégico para a economia paraense, já que no
mesmo está localizado o complexo alumínico (Albrás - Alunorte) e do caulim (Pará
Pigmentos e Imerys Rio Capim Caulim) empresas responsáveis pelo beneficiamento
mineral. No contexto da mineração no Estado do Pará, Barcarena é de suma
relevância, já que o mesmo tornou-se primordial beneficiário mineral do Pará.
Material e métodos
Em primeiro plano, foram apurados materiais bibliográficos em relação ao
município de Barcarena para compreender a exatidão da presente escala de estudo
em relação aos aspectos ambientais que propiciam a submissão dessas áreas a
mineração, como a geomorfologia. Alem disso, foram também buscadas, em artigos e
livros, referências sobre o relevo antropogênico e as transformações na paisagem
provenientes da atividade de mineração; por fim, foi feito levantamento de
literário sobre em à geomorfologia do estado do Pará e da área onde se encontram
as estruturas de armazenamento de rejeito, em Barcarena.
Em relação a estruturação cartográfica se utilizou o QGIS, Sistema de Informação
Geográfica (SIG) livre e aberto, na qual se operou e organizou alguns dados de
fontes nacionais como: Agência Nacional de Mineração (ANM), Agência Nacional de
Águas (ANA) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além
disso, foi utilizado para a classificação do relevo antropogênico imagem de
Satelite da ESRI (Environmental Systemens Research Institute) com resolução de 2
metros, para a realização da vetorização das estruturas de armazenamento de
rejeito para a categorização dos terrenos antropogênicos.
Outrossim, foi realizado em 11 de agosto de 2022, uma visita técnica na planta
industrial de refinamento do minério da bauxita da empresa Hydro-Alunorte, em
Barcarena, onde se analisou as etapas do processo de refinamento do minério da
bauxita em alumina, como também o tratamento de águas e efluentes. Outrossim, se
visitou um dos Depósito de Resíduo Sólido, DRS1, onde se notou nitidamente a
diferença altimétrica e as modificações da mesma no relevo e conhecer os
planejamentos de reabilitação vegetal onde se divide o DRS1 em faixas, para
melhor andamento das estratégias de regeneração proposta pela empresa.
Resultado e discussão
A Geomorfologia define-se como a ciência da descrição do relevo, o que aparenta
ser estático, no entanto é dinâmico e multiforme nas várias escalas de espaço e
de tempo. Desta forma e segundo os estudos de Penck (1953), Tricart (1982),
Suguio (1998), a Geomorfologia busca explicar dinamicamente as transformações do
relevo, sendo assim, reconhece como formas e processos as alterações decorrentes
de forças endógenas e exógenas terrestres que estruturam e esculturam os relevos
de modo sistematizado, criando e recriando paisagens através da atuação dos
processos e da geração de novos produtos (materiais), característicos do local e
da região.
Aproximadamente todas as atividades humanas, na dimensão terrestre, ocasionam
algum tipo de metamorfose, visto que a mineração possivelmente seja uma das que
mais modifica o relevo (GUERRA; MARÇAL, 2018). Quanto à influência antrópica
nesses estudos, entender o ser humano como elemento modelador dessas
transformações é reconhecer a sua capacidade de criar e recriar ambientes
baseados nos seus próprios interesses ao longo do tempo e do espaço.
Segundo Crutzen (2002), o Antropoceno é um novo tempo geológico que se refere às
modificações provocadas pelas atividades humanas no meio ambiente, levando em
conta sua grandeza e frequência ao longo do tempo, em grande parte otimizadas
pela mecanização dessas atividades. Esse período se caracteriza pelo
protagonismo humano em acontecimentos globais. A mineração é uma atividade
indispensável e evidente de interferência humana na superfície terrestre.
Desta forma, Goudie (1990) elenca uma sequência de ocupações que transformam e,
consequentemente, remodelam o relevo terrestre, sendo a que mais se destaca são
ações encadeadas a mineração. Assim sendo, uma das vertentes da geomorfologia
antropogênica, área que estuda as modificações no relevo pela ação humana, é a
atividade mineradora.
Segundo Peloggia e Oliveira (2005) o ser humano é considerado por muitos como um
agente geológico e geomorfológico, pois é capaz de alterar e de produzir
processos da dinâmica superficial e, a partir disso, alterar as formas do relevo
e gerar depósitos correlativos. Entende-se depósitos tecnogênicos como
estruturas elaboradas pelo aglomeramento de material de inúmeras formas e
arranjos, decorrente das atividades humanas, além de serem altamente aptos em
modificar o sistema geomorfológico e ambiental (MENDES; FELIPPE, 2016).4.1.
4.1. Geomorfologia do município de Barcarena
Em síntese, é crucial listar as unidades de relevo do município de Barcarena, em
que de acordo com Manual técnico de geomorfologia do IBGE, são classificadas em
Litoral de Mangues e Rias, Planícies e Terraços Fluviais e Tabuleiros Paraenses
(Figura 1)
O Litoral de Mangues e Rias, conforme Junior e El-Robrini (2002), são uma
configuração evolutiva entrelaçadas aos episódios de transgressão Holocênica,
que foram unidades modeladas aos traços da faixa costeira, onde as áreas
abatidas deram origem as reentrâncias (rias) e as áreas altas (falésias)
originando as saliências no litoral.
Outra unidade de destaque são as Planícies e Terraços Fluviais, em que de acordo
com (FURTADO, PONTE, 2013) dominam os vales dos rios amazônicos no qual as
planícies abarcam em zonas deposicionais e apresentam características inundáveis
de sedimentação recente, já os terraços são similares ao período pleistoceno
superior.
Já os Tabuleiros Paraenses podem ser encontrados ocupando o sul de Barcarena e
são classificados por Dantas e Teixeira (2013), como Tabuleiro Regional da Zona
Bragantina, em que se formam em uma continua extensão da faixa de deposição dos
sedimentos do Grupo Barreiras.
A unidade de relevo predominante na região são os Tabuleiros Paraenses, que
possuem uma altimetria não muito elevada e um topo tabular homogêneo, o que
dificulta a disposição de grandes camadas de rejeito em barragens de mineração.
Como alternativa, são construídas bacias e depósitos de resíduos sólidos (DRS)
para o armazenamento desses rejeitos.
Em Barcarena foram elencadas duas estruturas, bacias de rejeito de minério de
caulim e depósitos de resíduos sólidos de Bauxita (DRS1 e 2), pertencentes a
Imerys Rio Capim Caulim e HydroAlunorte, respectivamente.
4.2. Classificação do relevo antropogênico
As interferências da sociedade no desenvolvimento da natureza podem resultar em
algumas complicações para o ambiente (PELOGGIA, 1998). Essas complicações são
associadas em três níveis de abordagem, onde o primeiro nível retrata da
ocorrência de modificações no relevo, exclusivamente em sua forma; o segundo diz
respeito às alterações na dinâmica geomorfológica e o último nível correlaciona
a formação de depósitos correlativos que possivelmente resultam na dinâmica
antrópica determinada ao meio, depósitos esses caracterizados como tecnogênicos.
Sendo assim, o relevo antropogênico evidencia, principalmente, a totalidade de
indícios de interferências e perturbações na fisiologia e fisiografia da
paisagem diretamente relacionada às atividades humanas (ANDRADE, 2012).
No que tange ao relevo antropogênico provenientes do armazenamento do minério da
bauxita e do minério do Caulim, em Barcarena, são categorizadas e discernidas de
acordo com Peloggia (2017) em cooperação com o Serviço Geológico britânico,
como: Terreno produzido de agradação, Terreno complexo de degradação e Lagos
antropogênicas.
Tanto os depósitos de resíduos sólidos de bauxita como as bacias de rejeito de
Caulim, terão as mesmas classificações de Peloggia (2017), onde a área em que se
armazena o rejeito descartado, tanto de bauxita (Figura 2 ) como de caulim
(Figura 3), é entendido como “Terreno Produzido de Agradação” em que conforme o
Serviço Geológico Britânico de 1990 cataloga o terreno produzido como “made
ground” onde são áreas em que houve acumulação de material por ação humana sobre
a superfície do terreno natural. Além disso, há o acréscimo da classificação de
Peloggia (2017) em Terreno tecnogênico por agradação, compreendido como
depósitos tecnogênicos formadores dos terrenos de agradação, já que são áreas
deposicionais e apresentam relevo construído.
As lagoas antropogênicas são caracterizadas como lagoas com condição de fluxo e
são orientadas pelo fluxo superficial das águas (GAMMONS et al, 2009). Pode-se
verificar essa classificação nas Bacias de controle da empresa Hydro, em que
descreve as mesmas como “bacias que promovem o amortecimento das vazões
conduzidas pelos canais de contorno dos DRS 1 e 2, possibilitando ainda o
armazenamento temporário de água em situações operacionais para posterior
direcionamento a estação de tratamento de efluentes industriais” (HYDRO, 2022).
Esta classificação de lagoas é vista ainda nas bacias de rejeito da empresa
Imerys, que são estruturas destinadas aos efluentes gerados na área de filtragem
do processo industrial de beneficiamento do caulim, onde são subordinadas ao
processo de clarificação e monitoramento do pH. (Figura 3)
Outra classificação, que encontramos nas duas estruturas de armazenamento, é a
de “Terrenos Complexos de Degradação”. Detalhada pelo Serviço Geológico
Britânico como Terrenos Complexos (landscaped ground) são “Áreas onde a
superfície preexistente foi extensivamente remodelada sendo impraticável mapear
as classes anteriores separadamente”; para o arcabouço da identificação se traz
o terreno tecnogênico de degradação, em que se entende como solos tecnogênicos
como constituintes dos terrenos modificados (PELOGGIA, 2017).
Essa classificação se visualiza, principalmente, nas áreas de reabilitação
vegetal estabelecidas pela empresa Hydro Alunorte em um dos seus depósitos de
resíduos sólidos (DRS 1), na qual se realiza a reabilitação vegetal com divisão
da mesma em faixas, para melhor andamento das estratégias de regeneração
proposta pela empresa. Esta área apresenta 270 hectares e tem como objetivo
formar uma nova camada de solo para, posteriormente, construir, de forma
antrópica, os horizontes (HYDRO, 2022).
figura 1: Localização das estruturas de armazenamento de rejeito de mineração juntamente com as unidades morfoesculturais do município de Barcarena
Figura 2:Carta-Imagem da vetorização do relevo antropogênico em área de armazenamento de rejeito de bauxita nos DRS1 e 2, em Barcarena-Pa.
Figura 3: Vetorização do relevo antropogênico em área de armazenamento de rejeito de caulim, em Barcarena-pa
Considerações Finais
O rompimento das barragens em Mariana (2015) e Brumadinho (2018) apresentam uma
das maiores amostras da capacidade do ser humano de modificar os aspectos
físicos do planeta. A importância do homem como agente geológico-geomorfológico
sobre os processos, formas e gênese de depósitos correlativos caracteriza o que
pode ser considerado como um evento tecnogênico.
A atividade minerária causa impactos ambientais significativos, atingindo áreas
em escalas regionais e afetando municípios não minerados, localizados em seu
entorno. Estes empreendimentos com longo histórico de exploração, caracterizam-
se pela ocorrência de expressivos danos ambientais no meio físico, biótico e
antrópico.
A transformação de Barcarena em um município industrial se sucedeu de maneira
frenética, e a velocidade de exploração dos recursos minerais espelha na
quantidade de resíduos que são empreendidos no decorrer do método de
beneficiamento. A colossal aglomeração de material com características
geológicas diferentes do relevo natural do município, desfruta de um ambiente
que já foi anteriormente modificado por ações antropogênicas, se acelera a longo
prazo como elemento de risco pela formação de terrenos tecnogênicos, no qual
seus resultados na geomorfologia local só serão julgados com a ação do tempo.
O estudo reforma a importância da geomorfologia antropogênica para encarar o
homem como o principal agente geomorfológico responsável pelas transformações no
relevo em um curto intervalo de tempo, consoante ao progresso e classificação do
relevo antropogênico, constata-se que os depósitos de resíduos sólidos de
bauxita e as bacias de rejeito de caulim, propiciam mudanças extremas na
geomorfologia da região.
Agradecimentos
Referências
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