Autores
- VANESSA STELA SOUZA DE FERNANDESUNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSOEmail: vanessastela06@gmail.com
- MICAEL DE OLIVEIRA DOS SANTOSUNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSOEmail: micael.santos@unemat.br
- LEILA NALIS PAIVA DA SILVA ANDRADEUNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSOEmail: leilaandrade@unemat.br
Resumo
Resumo: O presente trabalho objetivou identificar os tipos de uso e ocupação da
terra no perímetro urbano de Rio Branco, Mato Grosso. Como procedimentos
metodológicos adotados foram executadas a etapa de gabinete, com a realização de
pesquisa bibliográfica, através da leitura de livros, teses e artigos
científicos e o levantamento da caracterização geoambiental da área no projeto
Radambrasil e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Na segunda
etapa, foi observado em campo a área de estudo. Pode-se verificar que as
alterações ocorridas no relevo devido a urbanização impactaram o meio ambiente e
a vida da população local, principalmente com as inundações recorrentes no
perímetro urbano. Com isso, conclui-se que o uso e ocupação irregular na área
foram responsáveis pelo desequilíbrio ambiental e desastres ecológicos ocorridos
na região.
Palavras chaves
Relevo; Ocupação; Urbanização; Planejamento urbano; Inundação
Introdução
INTRODUÇÃO
A forma de ocupação e os tipos de uso desenvolvidos em área de vertentes
contribuem em mudanças significativas no meio ambiente. As ações como
desmatamento para construção de casas, estradas, agricultura, pecuária e outros
perturbam diretamente o sistema natural (CASSETI, 1991).
Desde o início da ocupação da bacia hidrográfica do rio Branco em 1960, o relevo
que a margeia tem passado por diversas alterações, como a supressão das matas
ciliares, processos erosivos e o assoreamento dos canais fluviais (OLIVEIRA;
SOUSA; SOUZA, 2021)
O relevo da superfície terrestre é o resultado da interação da litosfera,
atmosfera, hidrosfera e biosfera, ou seja, dos processos de troca de energia e
matéria que se desenvolveram nessa interface, no tempo e no espaço (FLORENZANO,
2008).
Ross (2006) vai definir o relevo como um dos vários componentes da natureza, o
qual possui grande interferência na ocupação humana da superfície terrestre.
Dessa forma, o ser humano tem buscado estudar o relevo para entender de que
forma ele pode formar barreiras ou facilitar sua ocupação.
A superfície terrestre é bastante dinâmica e está sempre passando por
alterações. Casseti (1991) afirma que o relevo é resultado dos processos
endógenos e exógenos ocorridos ao longo do tempo geológico. Como exemplo de
agentes modeladores do relevo, podemos citar os rios, estes que são um dos
principais responsáveis pela esculturação do relevo, através da erosão,
transporte e deposição. Outro importante agente modelador do relevo é a ação
humana, a qual vai modificando o relevo de acordo com sua necessidade, a partir
do seu uso, seja com o estabelecimento de moradias, agricultura ou criação de
animais.
No Brasil diferentes estudos têm sido desenvolvidos considerando as mudanças
ocorridas no relevo a partir de sua ocupação. Casseti (1991), trabalhou a
apropriação do relevo, dando destaque a relação homem natureza e as implicações
advindas dessa relação. Em Juiz de Fora, Moura (2011) realizou um estudo sobre o
processo de uso e ocupação irregular do solo no bairro Vila Esperança II, e os
impactos gerados por esse processo.
Na bacia hidrográfica do rio Branco, Oliveira et al. (2021) desenvolveram
importantes estudos para a compreensão de como o uso e ocupação do solo
contribuiu para alterações ocorridas no relevo.
Com isso, observando as alterações ocorridas no relevo nas margens da bacia
hidrográfica do rio Branco, se faz importante o estudo do uso e ocupação do solo
no local, abordar a relação homem-natureza e as implicações resultantes dessa
relação.
Assim, o presente trabalho objetivou identificar os tipos de uso e ocupação da
terra no perímetro urbano de Rio Branco, Mato Grosso.
Material e métodos
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
A área de estudo corresponde à planície de inundação da bacia hidrográfica do
rio Branco, no perímetro urbano de Rio Branco - Mato Grosso (Figura 1).
A geologia da área de estudo é formada pelo Grupo Rio Branco e Grupo Aguapeí,
que é composto pelas formações Morro Cristalino, Vale da Promissão e Fortuna. No
município registra duas unidades geomorfológicas: o planalto dos Parecis e a
depressão do alto Paraguai.
O planalto dos Parecis é a maior unidade geomorfológica no estado de Mato
Grosso, se estende desde o norte do estado até a extremidade Sul, com uma
extensa faixa que corta o Estado de um lado a outro. Ademais, o planalto dos
Parecis comporta um extenso conjunto de relevos, porém, se destaca por duas
feições distintas formuladas majoritariamente por rochas do grupo Parecis, para
melhor compreensão foi dividida em duas subunidades, a Chapada dos Parecis e o
Planalto Dissecado dos Parecis (BRASIL, 1982).
A Chapada dos Parecis no município de Rio Branco é marcada por formas
estruturais tabulares, de superfícies planas ou aplainadas, com topos parcial ou
completamente coincidente com a estrutura geológica e delimitada por escarpas e
retrabalhada por pediplanação. E relevos escalonados com degraus topográficos,
gerados por processos de erosão diferencial (BRASIL, 1982).
O Planalto Dissecado dos Parecis no município de Rio Branco é marcado por formas
tabulares de topos aplainados com baixo grau de dissecação. Porém, se destacam
formas convexas com relevos de topos convexos, esses também com baixo grau de
dissecação, ambas formas não ultrapassam os 800 m. Enquanto a depressão do Alto
Paraguai no município de Rio Branco apresenta formas tabulares, relevo de topos
aplainados, com diferentes ordens de grandeza e de aprofundamento de drenagem
separados por vales com baixo grau de dissecação (BRASIL, 1982).
De acordo com a classificação realizada pelo projeto RadamBrasil (1982) é
possível encontrar na área de estudo quatro tipos de solos, sendo eles o
Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico, Podzólico Vermelho-Amarelo Álico,
Podzólico Vermelho-Amarelo Distrófico e Solos Litólicos Distróficos.
A vegetação do município de Rio Branco possui sete classes de cobertura
vegetal, sendo elas: Floresta Estacional Semidecidual Aluvial, Vegetação
Secundária, Savana Arborizada, Floresta Estacional Decidual Submontana, Floresta
Estacional Sempre Verde Aluvial, Agricultura e Pecuária (pastagens).
Procedimentos metodológicos
Para Marconi e Lakatos (2010) a pesquisa bibliográfica consiste num apanhado
geral sobre os principais trabalhos já realizados, sendo estes muito importantes
por fornecerem dados atuais e relevantes sobre o tema. Dessa forma, as pesquisas
bibliográficas realizadas consistiram em consultas às bibliografias acerca do
uso e ocupação irregular do solo e acerca da bacia hidrográfica do rio Branco.
Foram realizadas leituras de livros, artigos científicos.
Para a caracterização geoambiental (litologia, relevo, solo, clima e
hidrografia) foi consultado o projeto Radambrasil e Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) para a classificação da vegetação do município de
Rio Branco.
Para o mapa de uso do ano de 2000, as informações foram coletadas a partir de
imagens Landsat 5 com resolução de 30 m. Enquanto para o ano de 2020, foram
utilizadas imagens do satélite Sentinel 2 com resolução de 10 m, o que pode
diferenciar sutilmente a aparência dos resultados.
Foi realizada uma visita à área de estudo no intuito de observar o estado em que
se encontra atualmente. De acordo com Marconi e Lakatos (2010), a pesquisa de
campo se dá pela observação dos fatos e fenômenos tal como ocorrem
espontaneamente, bem como na coleta de dados a eles referentes e no registro de
variáveis, as quais se acredita serem relevantes para analisá-los.
Resultado e discussão
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ocupação na planície de inundação da bacia hidrográfica do Rio Branco
O município de Rio Branco situa-se em parte da área formada pela então Colônia
Rio Branco. O nome Rio Branco deu-se em decorrência ao rio de mesmo nome que
corta o município e o centro urbano. O nome do rio foi escolhido pelos primeiros
exploradores, em virtude de suas águas límpidas (OLIVEIRA et al., 2021).
De acordo com Ferreira (2001), a primeira atividade exercida no entorno da bacia
hidrográfica do rio Branco foi a retirada da poaia, planta utilizada para fins
medicinais. Além disso houve a implementação da agricultura, que impulsionou o
desenvolvimento da população que até então em sua maioria era formada por
mineiros e capixabas.
Com o desenvolvimento da população, novas atividades passaram a ser exercidas
nas margens da bacia hidrográfica do rio Branco, como a pecuária e o
estabelecimento de moradias. No município de Rio Branco, parte da planície de
inundação foi ocupada de forma irregular, tendo as matas ciliares substituídas
por pastagens e moradias, dando origem ao município.
Desde o início da colonização da área hoje correspondente ao município de Rio
Branco até meados da década de 90, a maior parte da população residia no campo.
Entretanto, a partir do ano 2000 é possível notar uma queda significativa no
número de habitantes da área rural. Em 1980 a população urbana correspondia a
4.313 e rural 13.270 pessoas, totalizando nesse período 17.583 habitantes (IBGE,
2010).
Em 1991 o número de habitantes apresentou 11.845, reduzindo em 5.738 de pessoas
residindo em Rio Branco, diminuindo a população rural. Em 2000 registrou 3.477 e
1.615 residentes na zona urbana e rural, respectivamente. Analisando o último
censo, teve uma redução de 6.753 habitantes. Em 2010, aumentou as pessoas
morando na área urbana 4.145 e 925 em área rural. Nos últimos 30 anos referentes
a pesquisa o número total de habitantes reduziu em 12.513 (IBGE, 2010).
A urbanização ocorrida no município de Rio Branco se iniciou sem um
planejamento urbano e ambiental adequado, o que levou a população a se
estabelecer em áreas irregulares, sem se preocupar com a preservação ambiental.
O crescimento populacional das cidades deveria ser acompanhado por maior oferta
de infra estrutura e serviços básicos, principalmente os relacionados ao
saneamento básico, demonstrando dessa forma a preocupação com o ambiente natural
e com as condições mínimas de salubridade para a população (CASSILHA; CASSILHA,
2009, p. 9).
O planejamento urbano deve considerar os aspectos ambientais, sociais,
econômicos e culturais. Na ocupação de uma área é essencial que esses fatores
sejam considerados, pois do contrário o resultado pode ser desastroso.
De acordo com Menezes Filho e Amaral (2014, p. 160) “a partir da segunda metade
do século XX, a intensa concentração populacional em áreas urbanas se tornou um
fenômeno mundial”. Sendo que a grande maioria das cidades brasileiras iniciou a
expansão a partir das margens dos rios. No plano diretor de Cuiabá aponta que a
capital do estado de Mato Grosso evoluiu a partir do rio Cuiabá e cresceu até o
córrego da Prainha e expandido posteriormente para todos os setores e córregos,
atualmente a maioria canalizado, contribuindo com enchentes urbanas (CUIABÁ,
2007).
No município de Rio Branco – Mato Grosso, durante o processo de urbanização
ocorrido devido ao crescimento populacional, áreas no entorno do rio Branco
foram ocupadas. A ocupação aconteceu sem preocupação com o fator ambiental,
visto que desde o início houve alterações que resultaram em mudanças
significativas no relevo da área ocupada. Conforme a ocupação no entorno do
canal fluvial foi crescendo, a vegetação a qual deveria corresponder a uma área
de preservação permanente foi sendo retirada para dar lugar as pastagens e
moradias.
Em 2000 registrou no perímetro urbano 1,33% de água, área antropizada
91,52%, formação florestal 4%, formação natural não florestal 1,25% e o uso
urbano 1,89%. Em 2020 apresentou 1,23% de água, área antropizada 79,09%, área
edificada 2,41%, formação florestal 15,96% e silvicultura 1,31%. Pode-se
observar uma diminuição 12,43% da área antropizada nos anos estudados, esse
fator se justifica principalmente com a redução de residentes no município.
Essas áreas são utilizadas para criação de bovinos (Figura 2).
As alterações ocorridas no relevo no entorno do rio Branco resultantes da
relação homem natureza, resultou em diversas implicações tanto para o meio
ambiente quanto para o ser humano. A construção de moradias e criação de gado
resultou na diminuição da vegetação natural e no aumento da quantidade de solo
exposto, o que desencadeou o aumento do processo de erosão, transporte e
deposição, levando assim ao assoreamento do rio Branco e o aumento da quantidade
de sedimentos presente no canal.
Outro grande problema advindo da ocupação da área são as inundações. A
parcela da população que tem suas moradias construídas no entorno do rio Branco,
muitas vezes sofre com inundações ocorridas na época das cheias, como mostra a
figura 3, onde pode-se observar uma inundação ocorrida na área central da cidade
em razão do transbordamento do rio após fortes chuvas em março do decorrente
ano.
A retirada da vegetação e a construção de moradias resultou na impermeabilização
do solo, ou seja, a perca da sua capacidade de absorção, o que intensifica o
escoamento superficial. Com isso a quantidade de água transportada pela
superfície aumenta e se torna rápida demais, o que faz com que o curso d’agua
não consiga absorver a quantidade de água recebida, resultando em inundações.
Vendramini (2017, p. 12) nos seus estudos pontou que a população Cacerense sofre
com as enchentes e inundações urbanas. Segundo o autor “Cáceres apresenta um
histórico de ocorrência de enchentes e inundações sazonais”. Nos anos de “2007 e
2010 foram os que se destacaram em virtude da área inundada e da quantidade de
pessoas atingidas, pois bairros permaneceram por dias inundados”.
Considerações Finais
CONCLUSÃO
Tendo em vista os aspectos observados, conclui-se que o processo de uso e
ocupação do solo no entorno do rio Branco, aliado a ausência de planejamento
urbano, gerou significativas mudanças no relevo da região com o passar dos anos,
alterações essas que foram responsáveis por gerarem impactos negativos no meio
ambiente e em consequências desastrosas para a população residente na região.
Em observância ao exposto, se faz importante salientar a importância do
planejamento urbano e de se manter as áreas de preservação permanente no processo
de uso e ocupação do relevo, com o intuito de se evitar um desequilíbrio ambiental
e catástrofes que prejudiquem a população.
Agradecimentos
Referências
REFERÊNCIAS
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