Autores
- LAÍS ROSA GUIMARÃESUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROEmail: laisguimaraes@ufrj.br
- LUCAS RODRIGUES DIASUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROEmail: lucasrd@ufrj.br
- PEDRO SUZANO DA FONSECA HONORATOUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROEmail: pedrosuzan@gmail.com
- JÚLIA RIBEIRO VIEIRAUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROEmail: julia1602.vieira@gmail.com
- ANDRÉ DE SOUZA AVELARUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROEmail: andreavelar@acd.ufrj.br
Resumo
A bacia hidrográfica do rio das Bengalas está localizada no município de
Teresópolis (RJ), inserida em um complexo de relevo montanhoso. Para analisar a
geodiversidade local, este trabalho tem como objetivo elaborar um mapa
geomorfológico da bacia, em escala de semi-detalhe 1:25.000, para aferir os
padrões de relevo existentes e compreender suas influências na dinâmica
ambiental. Para tanto, foram utilizadas incursões de campo e trabalho em SIG
através do Topographic Position Index (TPI) e mapa de Declividade para gerar um
mapa geomorfológico funcional. Como resultados preliminares foram subdivididas
sete classes: Fundo de vale; Planície de inundação; Sopé de encosta; Meia
encosta; Alta encosta; Divisor aplainado; e Divisor agudo e Escarpa. Por
conseguinte, as classes de maior expressão são setores de Média encosta, Alta
encosta, Divisor aplainado e Divisor agudo e escarpa representam (87,2%) sendo,
portanto, condizente com a literatura e com a área de estudo.
Palavras chaves
Mapeamento geomorfológico; Região serrana Fluminense; Análise geoambiental; Domínio montanhoso; Teresópolis
Introdução
A fim de cartografar e auxiliar o estudo das formas de relevo, diferentes
métodos digitalizados podem ser empregados em mapeamentos geomorfológicos. De
acordo com Silva (2007), podem ser consideradas variadas propostas, escalas,
metodologias, unidades taxonômicas e legendas em mapas geomorfológicos, tais
como apontados em: Ponçano et al. (1981), RADAMBRASIL (1983), Nunes et al.
(1995), Ross e Moroz (1997) e Dantas (2001). Dessa maneira, o presente trabalho
embasou-se em uma classificação geomorfológica funcional, proposta por Coelho
Netto et al. (2007), a partir de um Modelo Digital de Elevalação (MDE) e do uso
dos parâmetros de Declividade e Topographic Position Index (TPI).
Mapeamentos geomorfológicos são ferramentas fundamentais para estudos
geoambientais sendo, segundo Argento (1995), utilizados para elucidar problemas
erosivos e deposicionais. Desse modo, a análise da geomorfologia é essencial
para compreender as potencialidades e fragilidades locais, por meio de uma
análise integrada dos elementos da natureza em busca do planejamento ambiental
(BERGAMO; ALMEIDA, 2006).
O município de Teresópolis está inserido na região Serrana do Estado do Rio de
Janeiro (RJ) e representa uma paisagem de relevante interesse pela sua
geomorfologia montanhosa. Historicamente, a serra fluminense é atingida por
movimentos de massa devido a suas características geomorfológicas e seu uso e
ocupação do solo. Ademais, por conta das atividades de cultivo de verduras e
implementação de pastos, tende a ocorrer o aumento da erosão superficial e,
consequentemente, o assoreamento dos rios e degradação da qualidade de água dos
mananciais.
A bacia do rio das Bengalas encontra-se sob o relevo montanhoso de Teresópolis
(RJ), possuindo 136 km² e apresentando expressivo uso agrícola e turístico na
região (figura 1). É um rio que drena para o rio Preto e este, por sua vez, é
um dos principais afluentes do rio Piabanha que é um importante tributário
direto do rio Paraíba do Sul. A referida bacia tem significativa importância
para o ecossistema montanhoso florestal da região, assim como mostra elevada
presença de moradores e produção agrícola (olericultura).
O relevo regional é montanhoso e escarpado e, segundo o mapeamento
geomorfológico de Dantas (2000), é descrito como Escarpas das Serras do Couto e
dos Órgãos. A serra é uma grande barreira orográfica com orientação WSW-ENE, o
que no município de Teresópolis atinge altitudes de até 2.263m (Pedra do Sino).
Por conta da geomorfologia local, a ocupação se deu inicialmente nos alvéolos
intramontanos e, após o adensamento populacional, nas encostas (DANTAS op. cit.,
2000). A criação de leis de proteção e de unidades de conservação, como o Parque
Nacional da Serra dos Órgãos, atrelada às limitações de ocupação antrópica, fez
com que uma área significativa de Mata Atlântica Ombrófila Densa Montana (VELOSO
et al., 1991) fosse preservada.
O avanço da ocupação na bacia pode agravar processos erosivos naturais e
induzidos por ações humanas, passando a ser considerados desastres quando geram
perdas sociais, econômicas e ecológicas (MASKREY et al., 1993). A supressão da
Mata Atlântica nativa para a prática agropecuária combinada com o uso de
técnicas agrícolas rudimentares acarreta em modificações permanentes na paisagem
local. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo elaborar um mapa
geomorfológico da bacia mencionada, em escala de semi-detalhe 1:25.000, para
analisar os padrões de relevo existente e compreender suas influências na
dinâmica geoambiental da bacia do rio das Bengalas.
Material e métodos
A realização do mapa geomorfológico em escala 1:25.000 ocorreu através das
seguintes etapas: confecção do Topographic Position Index (TPI), elaboração do
mapa de Declividade, sobreposição de ambos os mapas para gerar o mapeamento
Geomorfológico e, por fim, a aferição e correção através do mapa de relevo
sombreado e da imagem RapidEye, ano 2014.
Os parâmetros utilizados no TPI foram a opção Annulus, onde o raio menor (inner
radius) é de 30 metros e o raio maior (outer radius) de 80 metros. Os valores
foram obtidos após diferentes testagens de raios, considerando o relevo
montanhoso da área de estudo, a área equivalente a 136 Km² e a escala de
1:25.000. A classificação do TPI considerou a divisão feita pelo Natural Breaks,
onde foram levantados cinco domínios: Fundo de vale, Sopé de encosta, Meia
encosta, Alta encosta e Topo.
A Declividade (Slope) foi gerada com valores de saída em graus. Os parâmetros
foram embasados em trabalho de Coelho Netto et al. (2007), sendo as classes de
0-10° (somente deposição), 10-20° (erosão superficial, deslizamento
translacional e rastejo), 20-35° (aumento da erosão superficial, deslizamento
translacional e rotacional) e >35° (afloramentos de rocha, queda de blocos e
deslizamento translacional).
A sobreposição dos mapas de TPI e Declividade possibilitou a geração de uma
análise integrada com as diferentes variáveis morfológicas e angulares (Quadro
1). (QUADRO INSERIDO COMO FIGURA NA SEÇÃO RESULTADOS) Isso resultou em uma
classificação final, com os seguintes parâmetros
geomorfológicos: Planície de inundação; Fundo de vale; Sopé de encosta; Meia
encosta; Alta encosta; Divisor aplainado; e Divisor agudo e Escarpa.
Resultado e discussão
A partir do uso das técnicas digitais em SIG, foram cartografadas sete classes
de identificação do relevo, situadas em planície, encostas e divisores, para
compor o mapa geomorfológico funcional da bacia hidrográfica do rio das Bengalas
(Figura 1). Foram considerados os aspectos morfológicos da área estudada,
conforme metodologia proposta por Coelho Netto et al. (2007). As classes
geomorfológicas são: (i) Fundo de vale, (ii) Planície de inundação, (iii) Sopé
de encosta, (iv) Meia encosta, (v) Alta encosta, (vi) Divisor aplainado e (vii)
Divisor agudo e escarpa.
As classes de Meia encosta (52,3%) e Alta encosta (29,8%) apresentam ampla
configuração espacial no mapeamento. As ocorrências de extensas encostas com
alto grau de inclinação podem ser observadas durante as idas a campo, em
especial no alto curso, próximo à escarpa da Serra do Mar, e na porção leste da
bacia. A ampla configuração de vertentes com alto grau de inclinação dificulta a
ocupação humana e seu respectivo uso agrícola, tendo em vista a dificuldade de
controlar a erosão sem que haja intenso manejo (Dantas et al., 2017), o que
acaba por favorecer a preservação da floresta nativa.
Ademais, os setores de Divisor aplainado (3,9%) e Divisor agudo e escarpa (1,2%)
apresentam menor expressão espacial na área de estudo. A ocorrência dessas
classes está relacionada com os limites de divisores da área de estudo e com
divisores das sub bacias. O divisor agudo e escarpa é mais representado na
porção leste da bacia, onde predominam os pontões graníticos de elevado
gradiente topográfico, segundo levantamento de Girão et al. (2022).
Juntos, os setores de Média encosta, Alta encosta, Divisor aplainado e Divisor
agudo e escarpa representam 87,2% da área do mapeamento, o que também se faz
presente na literatura. Conforme Girão et al. (2022), a unidade morfoescultural
relacionada a bacia do rio das Bengalas é a do Planalto de Reverso Estruturo-
Denudativo e, mais especificamente, a unidade de relevo Domínio Montanhoso, onde
“consiste em um relevo montanhoso, muito acidentado, com predominância de
vertentes côncavas a retilíneas, densidade de drenagem alta, topos de cristas
alinhadas aguçadas a suavemente arredondadas e amplitudes altimétricas
superiores a 400 metros”.
Conforme já observado em campo, o mapeamento apontou diminutas áreas de Fundo de
Vale (4,6%), Planície de inundação (5,6%) e Sopé de encosta (2,7%) (Figura 2),
concentradas no meio e baixo curso da bacia. As informações são condizentes com
as análises realizadas durante as idas a campo, uma vez que a área de estudo
compreende vales estreitos e amplos segmentos de encosta. Essas características
acabam limitando a ocupação humana em concisos e esparsos núcleos que, em geral,
são utilizados para agricultura de hortaliças em pequenas propriedades.
A baixa concentração de setores de planície e parte inferior de encosta no
levantamento são corroborados pela literatura. Segundo Dantas (2001), a unidade
morfoescultural de planaltos residuais, onde se localiza a bacia do rio das
Bengalas, compreende terrenos montanhosos e amorreados, com elevada amplitude de
relevo, localizada no reverso das escarpas serranas. O mesmo autor expõe que os
núcleos agrícolas de Teresópolis ocupam os trechos de fundo de vale e baixas
encostas de alvéolos com relevo menos acidentado.
Quadro da metodologia que não foi possível encaminhar através da plataforma.
Figura 1: Mapa geomorfológico da bacia hidrográfica do rio Bengalas - Teresópolis (RJ) (2023).
Figura 2: Distribuição espacial das feições do mapa geomorfológico.
Considerações Finais
A metodologia aplicada no desenvolvimento do mapeamento geomorfológico da bacia
hidrográfica do rio das Bengalas apresentou resultados satisfatórios,
principalmente ao comparar os resultados com o que foi observado em campo e com
bibliografias de outros mapeamentos, em que é possível encontrar a caracterização
relativa às classificações de unidades morfoesculturais, nas quais a área de
estudo está inserida.
Ao classificar a bacia hidrográfica segundo as morfologias dos setores
de planície e encosta, foi possível identificar, de acordo com a declividade, que
a maior parte dessa região apresenta áreas que não favorecem a expansão
habitacional e isso pode ser um fator que ajuda na preservação da vegetação
nativa. Por outro lado, outros tipos de setores favorecem o desenvolvimento de
atividades econômicas e da urbanização. Dessa forma, a geomorfologia se apresenta
como um dos fatores que possibilitam a ocupação de áreas e o desenvolvimento de
determinadas atividades socioeconômicas.
Com tudo isso, mapeamentos geomorfológicos, tal qual este trabalho, são
importantes instrumentos para análises geoambientais. Dessa forma, o presente
mapeamento traz informações relevantes que podem servir como subsídio para o
planejamento ambiental do território, podendo ser utilizado pelos instrumentos de
ordenamento territorial.
Agradecimentos
Agradecemos aos participantes do Laboratório Interdisciplinar de Estudos
Geoambientais (LIEG) pelas valiosas discussões. Agradecemos também à Geografia da
UFRJ, ao CNPq, CAPES, PIBIC e FAPERJ pelas bolsas concedidas.
Referências
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