• 14° SINAGEO – Simpósio Nacional de Geomorfologia
  • Corumbá / MS
  • 24 a 30 de Agosto de 2023

Degradação ambiental por processos erosivos da bacia hidrográfica do riacho Seco – Município de Floresta (PE)

Autores

  • Simão Batista de FreitasUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPEEmail: simao.freitas@upe.br
  • ILAMAR ANTONIO DA SILVAUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPEEmail: ilamar.silva@upe.br
  • KLEBER CARVALHO LIMAUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPEEmail: kleber.carvalho@upe.br
  • DANIEL DANTAS MOREIRA GOMESUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, CAMPUS GARANHUNSEmail: daniel.gomes@upe.br

Resumo

A erosão é uma das principais causas da degradação das terras e sua ocorrência é influenciada por fatores naturais, tais como o clima, vegetação, relevo e tipos de solo, bem como por fatores antrópicos. Nesse sentido o presente estudo teve como objetivo analisar a influência dos fatores naturais e antrópicos no desenvolvimento dos processos erosivos na bacia hidrográfica do riacho Seco, Pernambuco, por meio do mapeamento das feições erosivas lineares. Foi verificado que a bacia hidrográfica apresenta potencial natural para o desenvolvimento dos processos erosivos, sendo acentuados pelas atividades antrópicas realizadas na área, como a pecuária, agricultura de sequeiro e agricultura irrigada. Ao todo foram mapeadas 5.997 feições erosivas lineares, distribuídas ao longo de toda a bacia, sendo que o setor sul é o mais afetado devido à presença de grandes faixas de solo exposto e áreas agrícolas. Nesse sentido ressalta-se a necessidade de serem realizados manejos adequados e desenvolvidas ações de recuperação das áreas já degradadas.

Palavras chaves

Degradação dos terrenos; Erosão linear; Semiárido; ;

Introdução

Considera-se que a erosão corresponde ao processo natural de desprendimento, arraste de partículas de solo e sua deposição, causada por água e/ou vento, podendo ser acelerada pela ação antrópica. Quando potencializada por atividades humanas, a erosão pode causar a degradação ambiental dos terrenos (POESEN, 2018). De acordo com Araújo; Almeida; Guerra (2008), a degradação dos solos pode ocorrer de diferentes formas, sendo que a erosão é a forma mais conhecida de degradação de um ambiente. Esta forma de degradação ocorre em praticamente toda a superfície terrestre e apesar de ser considerada como um processo natural, sofre interferência das ações humanas sem planejamento que provocam a sua aceleração (GIRÃO; CORRÊA, 2004; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017). A suscetibilidade à erosão, ou seja, a probabilidade natural do processo erosivo ocorrer, é definida pelos parâmetros que condicionam os processos erosivos, tais como: tipo de rocha/solo, precipitação, declividade, extensão da encosta e estrutura da vegetação. Enquanto, a vulnerabilidade à erosão, abrange a interação do homem com o meio e os riscos gerados à sociedade (SANTOS; NASCIMENTO; 2019; SMITH, 2004). Sidle et al. (2019) afirmaram que as terras secas são suscetíveis à erosão linear por causa da cobertura do solo por vegetação esparsa, bem como o regime de precipitação com chuvas pouco frequentes, mas com tempestades de curto-termo e de alta intensidade. A despeito das consequências econômicas e sociais, Sousa e Paula (2019) afirmaram que os processos erosivos no semiárido do Brasil são influenciados pelas características morfoestruturais, pedológicas, pela vegetação e pelo regime hidrológico, que torna as atividades econômicas, como a agropecuária, potencialmente impactantes. Nesses ambientes, a degradação das terras pode causar processos como a desertificação (DREGNE, 2002; AVNI, 2005), onde formas erosivas podem ocorrer de forma generalizada, constituindo-se em um problema para os gestores e a população que depende das atividades agropastoris. A desertificação por sua vez foi definida pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - UNICED (1992, p. 149) em seu capítulo 12 como sendo a “degradação do solo em áreas áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variações climáticas e de atividades humanas”. No semiárido brasileiro, foram identificados núcleos de desertificação em avançado grau de degradação, cujos processos erosivos são recorrentes na paisagem (RIOS, et al., 2020; SIMPLICIO et al., 2021). Como apresentado, diferentes fatores influenciam na ocorrência e intensidade dos processos erosivos, desse modo, o presente trabalho tem por objetivo analisar a influência das características ambientais em suas variáveis naturais e antrópicas, responsáveis pela degradação dos terrenos por processos erosivos na bacia hidrográfica do riacho Seco, localizada no município de Floresta, semiárido de Pernambuco. A escolha por esta bacia hidrográfica se deu em função da grande ocorrência de processos erosivos, além da suscetibilidade severa ao desenvolvimento da desertificação, evidenciado no Zoneamento de Áreas Suscetíveis à Desertificação do Estado de Pernambuco (SEMAS, 2020). Nesse sentido, sabendo-se que a erosão é influenciada por fatores naturais e por atividades desenvolvidas por ação antrópica, torna-se importante identificar e analisar esses condicionantes na bacia do riacho Seco, com vistas a fornecer informações relevantes para o desenvolvimento de ações conservacionistas.

Material e métodos

Para a realização dessa pesquisa, seguiu-se a abordagem dos fatores que influenciam no processo erosivo a partir de Santoro (2015). O autor apontou que esses fatores incluem variantes naturais e antrópicas, a saber: Clima: influência o processo erosivo principalmente pela precipitação, sendo que o volume e a velocidade da enxurrada variam de acordo com a intensidade, duração e a frequência das chuvas, onde o principal fator é a intensidade, quanto mais intensa a chuva maior a sua capacidade erosiva (SALOMÃO, 2007; SANTORO, 2015; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017). Cobertura vegetal: entendida como a proteção natural dos solos contra o processo erosivo (SALOMÃO, 2007; SANTORO, 2015; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017), pois: (i) protege o mesmo contra o efeito splash; (ii) atua na dispersão da água, interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo; (iii) contribui na decomposição das raízes das plantas que, formando canalículos no solo, aumentam a infiltração da água; (iv) favorece o melhoramento da estrutura do solo pela adição de matéria orgânica, aumentando assim sua capacidade de retenção de água; (v) contribui na diminuição da velocidade de escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito na superfície. Relevo: sua influência ocorre principalmente em função da declividade e pela forma e extensão das vertentes (SALOMÃO, 2007; SANTORO, 2015; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017), onde o tamanho e a quantidade de material arrastado pelas enxurradas depende da velocidade de seu escoamento que tem relação direta com o declive das vertentes. Quanto à forma das vertentes, Weill e Pires Neto (2007) apontaram que as vertentes convexas são distribuidoras de água, já as côncavas são coletoras de água. Tipos de solo: sua influência é dada pelas suas características físicas, como, textura, estrutura, permeabilidade, profundidade, densidade e pelas características químicas, biológicas e mineralógicas (SANTORO, 2015; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017). A estrutura é o modo como estão arranjadas as partículas do solo, a propriedade biológica, dada pela quantidade de matéria orgânica em estado ativo de decomposição, a matéria orgânica, que aumenta a capacidade de retenção de água, a profundidade e as características do subsolo, que contribuem para a capacidade de armazenamento de água. Condicionantes antrópicos: a erosão é fortemente influenciada pelas atividades antrópicas (GIRÃO; CORRÊA, 2004; SANTORO, 2015; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017). Os principais fatores da ação antrópica sobre os processos erosivos, correspondem a formação de feições erosivas lineares a partir da concentração das águas pluviais nas áreas urbanas; as águas drenadas pelas estradas pavimentadas e não pavimentadas; caminhos e/ou trilhas das águas drenadas das culturas; pastagem; terraços em área agrícola; terraços em gradientes; áreas agrícolas sem manejo de solos; água captada pelo leito das estradas. No intuito de enfatizar o desenvolvimento da erosão, foi realizado o mapeamento das feições lineares e das atividades antrópicas em escala 1:5000, utilizando-se como base, ortofotos do ano de 2016 (resolução de 0,5m) e modelos digitais do terreno - MDT (resolução de 1m) do Projeto Pernambuco Tridimensional – PE3D. Para a identificação e mapeamento das feições erosivas, foi utilizado o método da interpretação visual por composição de informações, onde utilizou-se o MDT, ortoimagens, curvas de nível com equivalência de 5 metros e relevo sombreado, derivados do MDT. O processamento dos dados e o mapeamento foram realizados com o auxílio do software QGIS Desktop na versão 3.16.15. De forma a ratificar as informações obtidas na etapa de mapeamento, foram realizados trabalhos de campo em março e outubro de 2022 e fevereiro de 2023. Nas idas a campo, foram identificados sistemas erosivos lineares nos setores da bacia com maior densidade de feições, cujo uso da terra apresentou-se inadequado para esse tipo de ambiente.

Resultado e discussão

A caracterização dos fatores condicionantes da erosão na área de estudo, buscou compreender a influência de cada um na gênese e desenvolvimento dos processos no contexto local. O município de Floresta fica inserido na Depressão Sertaneja, que apresenta relevo de predominância suave-ondulado e plano (EMBRAPA, 2001; BELTRAO et al., 2005). A área da bacia do riacho Seco (Figura 1), fica inserida nos Pediplanos do baixo Pajeú, degradados por processos diversos (PD), com poucos domínios de superfícies avermelhadas, e altitudes variando de 300 a 500m, relevo plano e suave ondulado (EMBRAPA, 2001). De acordo com a classificação de Koppen, o município de Floresta apresenta clima do tipo BSs´h´, muito quente, semiárido tipo estepe (BRASIL, 1997 apud EMBRAPA, 2001). Apresenta precipitação irregular (mensal e anual) com estação chuvosa ocorrendo entre os meses de janeiro e maio (EMBRAPA, 2001). O município apresenta ainda temperatura média anual de 26,5°C (SILVA et al., 2013) e precipitação média anual de 431,8mm (BELTRAO et al., 2005). A interação do clima sobre os terrenos contribuiu para o desenvolvimento de solos do tipo luvissolos, planossolos e neossolos litólicos, que apresentam como características comuns, a pouca profundidade e elevada pedregosidade, fortemente susceptíveis a erosão, com baixa capacidade de armazenar água. Quanto à fertilidade, os luvissolos são altamente férteis e os demais possuem baixa fertilidade (EMBRAPA, 2001). Recobrindo os solos, ocorre vegetação do tipo caatinga hiperxerófila, com áreas de floresta caducifólia e áreas abertas com solo exposto (EMBRAPA ,2001). As principais atividades socioeconômicas são a pecuária, agricultura de sequeiro e agricultura irrigada. A agricultura de sequeiro é, em sua maior parte, de subsistência e a pecuária é extensiva, sendo que ambas não dispõem de tecnologias modernas e são altamente vulneráveis a variações climáticas, o que ocasiona o extrativismo da caatinga através da venda de lenha ou carvão (EMBRAPA, 2001). No que se refere à agricultura irrigada, o município de floresta se destaca pela produção de melão e tomate (SEMAS, 2020). A bacia hidrográfica do riacho Seco apresenta área de 23,44 km², onde as classes de uso e cobertura da terra (Figura 2) que apresentaram relação direta com a erosão, corresponderam a vegetação degradada, com 14,74 km², [ii] vegetação densa, com 3,67 km², e [iii] solo exposto, com 5,03 km². Açudes e barragens corresponderam ao total de 22 e imóveis foram contabilizados em 13. Como resultado da interação entre os condicionantes naturais e antrópicos, as formas erosivas foram recorrentes na bacia do riacho Seco. Com base no mapeamento da erosão linear (Figura 2), foram identificadas 5.997 feições, cuja densidade para a bacia de drenagem foi de 255,8 feições/km2. Os terrenos erodidos dissecados por incisões lineares, apresentam área de 0,13 km². São terrenos com solo exposto, onde o escoamento superficial removeu horizontes superficiais do solo, deixando marcas superficiais, como pequenas incisões com cerca de 1 cm de profundidade. A distribuição espacial das feições erosivas de acordo com as classes de uso e cobertura demonstrou os seguintes resultados: 2.621 feições lineares ocorrem em áreas de solo exposto; [ii] 2.327 feições 2.327 feições estão nas áreas com vegetação degradada e; [iii] 1.049 feições ocorrem associadas a vegetação densa. Esses números evidenciam a ação protetora da vegetação contra os processos erosivos na área de estudo. Em áreas secas, a erosão tende a ser considerada como um fenômeno natural, em vista da cobertura vegetal rarefeita, que pouco protege os terrenos contra os efeitos do runoff (GOUDIE, 2013). Contudo, a interferência antrópica ao retirar a cobertura vegetal existente, pode potencializar os processos, causando a degradação do ambiente por erosão. Nessa perspectiva, considera-se que o setor mais crítico referente a degradação, com a maior concentração de erosões, foi o setor sul da bacia. Este setor apresentou extensas faixas de solo exposto e áreas agrícolas, que tendem a deixar o solo totalmente exposto durante boa parte do ano. Correspondeu ao setor mais ocupado da bacia (vide Figura 1 - concentração de imóveis rurais), propiciada pela proximidade com o riacho do Navio, cujo riacho seco é afluente, e com a principal rodovia de acesso à Floresta, a PE-360. Em campo, foi observada a influência das águas drenadas pelas estradas pavimentadas e não pavimentadas no desencadeamento dos processos erosivos (Figura 3), fator este indicado por Almeida Filho e Ridente Júnior (2001, apud GIRÃO; CORRÊIA, 2004) como uma das formas de interferência humana na formação da erosão linear. O setor central da bacia apresentou menor ocorrência de processos erosivos em relação ao setor sul, em função da baixa ocupação antrópica. Destaca-se ainda que neste setor, se concentra a maior parte dos açudes da bacia e as feições erosivas lineares por vezes encontram-se conectadas a esses açudes. A prática da açudagem é comum no semiárido como um todo, assim como em Floresta, e pode desencadear processos erosivos nas margens dos reservatórios, já que a oscilação da lâmina de água é frequente em razão das variações sazonais no nível de base (SILVA et al., 2022). O setor norte, situado a montante da bacia, foi o menos afetado pela erosão e o que apresentou menor interferência antrópica e maior presença de vegetação, protegendo assim o solo contra os processos erosivos acelerados.

Figura 1 – Mapa de Localização da Bacia Hidrográfica do riacho Seco.



Figura 2 – Mapa de feições erosivas lineares.

Feições erosivas lineares associadas a classes de uso e cobertura terra da bacia hidrográfica do riacho Seco (PE).

Figura 3 – Aspectos dos terrenos com ocorrência de erosão linear.

Erosão associada ao escoamento de água pluvial da rodovia (a); terreno erodido por erosão linear (b); solo exposto com erosões lineares (c); erosão linear em área agrícola (d).

Considerações Finais

A área de estudo apresenta no conjunto de suas características naturais, uma fragilidade acentuada para o desenvolvimento dos processos erosivos e atividades econômicas a pecuária, agricultura de sequeiro e agricultura irrigada, todas altamente impactantes devido à falta de uso de tecnologia adequada para o manejo das terras que necessitam de cuidados constantes. O impacto das formas de agricultura fica evidenciado no fato de que onde se assentam as residências em seu entorno se encontram as atividades agrícolas e maior parte dos processos erosivos. A partir do mapeamento das feições e da correlação com os fatores analisados pode- se compreender a distribuição espacial dos processos erosivos que ocorrem na bacia evidenciando o elevado estágio de degradação da área. Nesse sentido aponta-se para a necessidade do desenvolvimento de atividades conservacionistas com vista a preservação da vegetação nativa que protege o solo contra os processos erosivos acelerados e a adoção de técnicas de produção agrícola que levem em consideração as características dos solos regionais e evite o avanço da desertificação. Assim, destaca-se a necessidade da criação de planos de recuperação ambiental para os setores mais degradados, uma vez que correspondem aos que mais são utilizados para atividades econômicas como agricultura e pecuária.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco – FACEPE, pela concessão de bolsa de iniciação científica (processo no BIC-0221-1.07/21) ao segundo autor.

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