Autores
- Simão Batista de FreitasUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPEEmail: simao.freitas@upe.br
- ILAMAR ANTONIO DA SILVAUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPEEmail: ilamar.silva@upe.br
- KLEBER CARVALHO LIMAUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPEEmail: kleber.carvalho@upe.br
- DANIEL DANTAS MOREIRA GOMESUNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, CAMPUS GARANHUNSEmail: daniel.gomes@upe.br
Resumo
A erosão é uma das principais causas da degradação das terras e sua ocorrência é
influenciada por fatores naturais, tais como o clima, vegetação, relevo e tipos
de solo, bem como por fatores antrópicos. Nesse sentido o presente estudo teve
como objetivo analisar a influência dos fatores naturais e antrópicos no
desenvolvimento dos processos erosivos na bacia hidrográfica do riacho Seco,
Pernambuco, por meio do mapeamento das feições erosivas lineares. Foi verificado
que a bacia hidrográfica apresenta potencial natural para o desenvolvimento dos
processos erosivos, sendo acentuados pelas atividades antrópicas realizadas na
área, como a pecuária, agricultura de sequeiro e agricultura irrigada. Ao todo
foram mapeadas 5.997 feições erosivas lineares, distribuídas ao longo de toda a
bacia, sendo que o setor sul é o mais afetado devido à presença de grandes
faixas de solo exposto e áreas agrícolas. Nesse sentido ressalta-se a
necessidade de serem realizados manejos adequados e desenvolvidas ações de
recuperação das áreas já degradadas.
Palavras chaves
Degradação dos terrenos; Erosão linear; Semiárido; ;
Introdução
Considera-se que a erosão corresponde ao processo natural de desprendimento,
arraste de partículas de solo e sua deposição, causada por água e/ou vento,
podendo ser acelerada pela ação antrópica. Quando potencializada por atividades
humanas, a erosão pode causar a degradação ambiental dos terrenos (POESEN,
2018). De acordo com Araújo; Almeida; Guerra (2008), a degradação dos solos pode
ocorrer de diferentes formas, sendo que a erosão é a forma mais conhecida de
degradação de um ambiente. Esta forma de degradação ocorre em praticamente toda
a superfície terrestre e apesar de ser considerada como um processo natural,
sofre interferência das ações humanas sem planejamento que provocam a sua
aceleração (GIRÃO; CORRÊA, 2004; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017).
A suscetibilidade à erosão, ou seja, a probabilidade natural do processo erosivo
ocorrer, é definida pelos parâmetros que condicionam os processos erosivos, tais
como: tipo de rocha/solo, precipitação, declividade, extensão da encosta e
estrutura da vegetação. Enquanto, a vulnerabilidade à erosão, abrange a
interação do homem com o meio e os riscos gerados à sociedade (SANTOS;
NASCIMENTO; 2019; SMITH, 2004).
Sidle et al. (2019) afirmaram que as terras secas são suscetíveis à erosão
linear por causa da cobertura do solo por vegetação esparsa, bem como o regime
de precipitação com chuvas pouco frequentes, mas com tempestades de curto-termo
e de alta intensidade. A despeito das consequências econômicas e sociais, Sousa
e Paula (2019) afirmaram que os processos erosivos no semiárido do Brasil são
influenciados pelas características morfoestruturais, pedológicas, pela
vegetação e pelo regime hidrológico, que torna as atividades econômicas, como a
agropecuária, potencialmente impactantes. Nesses ambientes, a degradação das
terras pode causar processos como a desertificação (DREGNE, 2002; AVNI, 2005),
onde formas erosivas podem ocorrer de forma generalizada, constituindo-se em um
problema para os gestores e a população que depende das atividades agropastoris.
A desertificação por sua vez foi definida pela Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - UNICED (1992, p. 149) em seu capítulo
12 como sendo a “degradação do solo em áreas áridas, semiáridas e subúmidas
secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variações climáticas e de
atividades humanas”. No semiárido brasileiro, foram identificados núcleos de
desertificação em avançado grau de degradação, cujos processos erosivos são
recorrentes na paisagem (RIOS, et al., 2020; SIMPLICIO et al., 2021).
Como apresentado, diferentes fatores influenciam na ocorrência e intensidade dos
processos erosivos, desse modo, o presente trabalho tem por objetivo analisar a
influência das características ambientais em suas variáveis naturais e
antrópicas, responsáveis pela degradação dos terrenos por processos erosivos na
bacia hidrográfica do riacho Seco, localizada no município de Floresta,
semiárido de Pernambuco. A escolha por esta bacia hidrográfica se deu em função
da grande ocorrência de processos erosivos, além da suscetibilidade severa ao
desenvolvimento da desertificação, evidenciado no Zoneamento de Áreas
Suscetíveis à Desertificação do Estado de Pernambuco (SEMAS, 2020).
Nesse sentido, sabendo-se que a erosão é influenciada por fatores naturais e por
atividades desenvolvidas por ação antrópica, torna-se importante identificar e
analisar esses condicionantes na bacia do riacho Seco, com vistas a fornecer
informações relevantes para o desenvolvimento de ações conservacionistas.
Material e métodos
Para a realização dessa pesquisa, seguiu-se a abordagem dos fatores que
influenciam no processo erosivo a partir de Santoro (2015). O autor apontou que
esses fatores incluem variantes naturais e antrópicas, a saber:
Clima: influência o processo erosivo principalmente pela precipitação, sendo que
o volume e a velocidade da enxurrada variam de acordo com a intensidade, duração
e a frequência das chuvas, onde o principal fator é a intensidade, quanto mais
intensa a chuva maior a sua capacidade erosiva (SALOMÃO, 2007; SANTORO, 2015;
BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017).
Cobertura vegetal: entendida como a proteção natural dos solos contra o
processo erosivo (SALOMÃO, 2007; SANTORO, 2015; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017),
pois: (i) protege o mesmo contra o efeito splash; (ii) atua na dispersão da
água, interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo; (iii) contribui na
decomposição das raízes das plantas que, formando canalículos no solo, aumentam
a infiltração da água; (iv) favorece o melhoramento da estrutura do solo pela
adição de matéria orgânica, aumentando assim sua capacidade de retenção de água;
(v) contribui na diminuição da velocidade de escoamento da enxurrada pelo
aumento do atrito na superfície.
Relevo: sua influência ocorre principalmente em função da declividade e pela
forma e extensão das vertentes (SALOMÃO, 2007; SANTORO, 2015; BERTONI; LOMBARDI
NETO, 2017), onde o tamanho e a quantidade de material arrastado pelas
enxurradas depende da velocidade de seu escoamento que tem relação direta com o
declive das vertentes. Quanto à forma das vertentes, Weill e Pires Neto (2007)
apontaram que as vertentes convexas são distribuidoras de água, já as côncavas
são coletoras de água.
Tipos de solo: sua influência é dada pelas suas características físicas, como,
textura, estrutura, permeabilidade, profundidade, densidade e pelas
características químicas, biológicas e mineralógicas (SANTORO, 2015; BERTONI;
LOMBARDI NETO, 2017). A estrutura é o modo como estão arranjadas as partículas
do solo, a propriedade biológica, dada pela quantidade de matéria orgânica em
estado ativo de decomposição, a matéria orgânica, que aumenta a capacidade de
retenção de água, a profundidade e as características do subsolo, que contribuem
para a capacidade de armazenamento de água.
Condicionantes antrópicos: a erosão é fortemente influenciada pelas atividades
antrópicas (GIRÃO; CORRÊA, 2004; SANTORO, 2015; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2017).
Os principais fatores da ação antrópica sobre os processos erosivos,
correspondem a formação de feições erosivas lineares a partir da concentração
das águas pluviais nas áreas urbanas; as águas drenadas pelas estradas
pavimentadas e não pavimentadas; caminhos e/ou trilhas das águas drenadas das
culturas; pastagem; terraços em área agrícola; terraços em gradientes; áreas
agrícolas sem manejo de solos; água captada pelo leito das estradas.
No intuito de enfatizar o desenvolvimento da erosão, foi realizado o
mapeamento das feições lineares e das atividades antrópicas em escala 1:5000,
utilizando-se como base, ortofotos do ano de 2016 (resolução de 0,5m) e modelos
digitais do terreno - MDT (resolução de 1m) do Projeto Pernambuco Tridimensional
– PE3D.
Para a identificação e mapeamento das feições erosivas, foi utilizado o
método da interpretação visual por composição de informações, onde utilizou-se o
MDT, ortoimagens, curvas de nível com equivalência de 5 metros e relevo
sombreado, derivados do MDT. O processamento dos dados e o mapeamento foram
realizados com o auxílio do software QGIS Desktop na versão 3.16.15.
De forma a ratificar as informações obtidas na etapa de mapeamento, foram
realizados trabalhos de campo em março e outubro de 2022 e fevereiro de 2023.
Nas idas a campo, foram identificados sistemas erosivos lineares nos setores da
bacia com maior densidade de feições, cujo uso da terra apresentou-se inadequado
para esse tipo de ambiente.
Resultado e discussão
A caracterização dos fatores condicionantes da erosão na área de estudo, buscou
compreender a influência de cada um na gênese e desenvolvimento dos processos no
contexto local.
O município de Floresta fica inserido na Depressão Sertaneja, que apresenta
relevo de predominância suave-ondulado e plano (EMBRAPA, 2001; BELTRAO et al.,
2005). A área da bacia do riacho Seco (Figura 1), fica inserida nos Pediplanos
do baixo Pajeú, degradados por processos diversos (PD), com poucos domínios de
superfícies avermelhadas, e altitudes variando de 300 a 500m, relevo plano e
suave ondulado (EMBRAPA, 2001).
De acordo com a classificação de Koppen, o município de Floresta apresenta clima
do tipo BSs´h´, muito quente, semiárido tipo estepe (BRASIL, 1997 apud EMBRAPA,
2001). Apresenta precipitação irregular (mensal e anual) com estação chuvosa
ocorrendo entre os meses de janeiro e maio (EMBRAPA, 2001). O município
apresenta ainda temperatura média anual de 26,5°C (SILVA et al., 2013) e
precipitação média anual de 431,8mm (BELTRAO et al., 2005).
A interação do clima sobre os terrenos contribuiu para o desenvolvimento de
solos do tipo luvissolos, planossolos e neossolos litólicos, que apresentam como
características comuns, a pouca profundidade e elevada pedregosidade, fortemente
susceptíveis a erosão, com baixa capacidade de armazenar água. Quanto à
fertilidade, os luvissolos são altamente férteis e os demais possuem baixa
fertilidade (EMBRAPA, 2001). Recobrindo os solos, ocorre vegetação do tipo
caatinga hiperxerófila, com áreas de floresta caducifólia e áreas abertas com
solo exposto (EMBRAPA ,2001).
As principais atividades socioeconômicas são a pecuária, agricultura de sequeiro
e agricultura irrigada. A agricultura de sequeiro é, em sua maior parte, de
subsistência e a pecuária é extensiva, sendo que ambas não dispõem de
tecnologias modernas e são altamente vulneráveis a variações climáticas, o que
ocasiona o extrativismo da caatinga através da venda de lenha ou carvão
(EMBRAPA, 2001). No que se refere à agricultura irrigada, o município de
floresta se destaca pela produção de melão e tomate (SEMAS, 2020).
A bacia hidrográfica do riacho Seco apresenta área de 23,44 km², onde as
classes de uso e cobertura da terra (Figura 2) que apresentaram relação direta
com a erosão, corresponderam a vegetação degradada, com 14,74 km², [ii]
vegetação densa, com 3,67 km², e [iii] solo exposto, com 5,03 km². Açudes e
barragens corresponderam ao total de 22 e imóveis foram contabilizados em 13.
Como resultado da interação entre os condicionantes naturais e antrópicos, as
formas erosivas foram recorrentes na bacia do riacho Seco. Com base no
mapeamento da erosão linear (Figura 2), foram identificadas 5.997 feições, cuja
densidade para a bacia de drenagem foi de 255,8 feições/km2. Os terrenos
erodidos dissecados por incisões lineares, apresentam área de 0,13 km². São
terrenos com solo exposto, onde o escoamento superficial removeu horizontes
superficiais do solo, deixando marcas superficiais, como pequenas incisões com
cerca de 1 cm de profundidade.
A distribuição espacial das feições erosivas de acordo com as classes de uso e
cobertura demonstrou os seguintes resultados: 2.621 feições lineares ocorrem
em áreas de solo exposto; [ii] 2.327 feições 2.327 feições estão nas áreas com
vegetação degradada e; [iii] 1.049 feições ocorrem associadas a vegetação densa.
Esses números evidenciam a ação protetora da vegetação contra os processos
erosivos na área de estudo. Em áreas secas, a erosão tende a ser considerada
como um fenômeno natural, em vista da cobertura vegetal rarefeita, que pouco
protege os terrenos contra os efeitos do runoff (GOUDIE, 2013). Contudo, a
interferência antrópica ao retirar a cobertura vegetal existente, pode
potencializar os processos, causando a degradação do ambiente por erosão.
Nessa perspectiva, considera-se que o setor mais crítico referente a degradação,
com a maior concentração de erosões, foi o setor sul da bacia. Este setor
apresentou extensas faixas de solo exposto e áreas agrícolas, que tendem a
deixar o solo totalmente exposto durante boa parte do ano. Correspondeu ao setor
mais ocupado da bacia (vide Figura 1 - concentração de imóveis rurais),
propiciada pela proximidade com o riacho do Navio, cujo riacho seco é afluente,
e com a principal rodovia de acesso à Floresta, a PE-360. Em campo, foi
observada a influência das águas drenadas pelas estradas pavimentadas e não
pavimentadas no desencadeamento dos processos erosivos (Figura 3), fator este
indicado por Almeida Filho e Ridente Júnior (2001, apud GIRÃO; CORRÊIA, 2004)
como uma das formas de interferência humana na formação da erosão linear.
O setor central da bacia apresentou menor ocorrência de processos erosivos em
relação ao setor sul, em função da baixa ocupação antrópica. Destaca-se ainda
que neste setor, se concentra a maior parte dos açudes da bacia e as feições
erosivas lineares por vezes encontram-se conectadas a esses açudes. A prática da
açudagem é comum no semiárido como um todo, assim como em Floresta, e pode
desencadear processos erosivos nas margens dos reservatórios, já que a oscilação
da lâmina de água é frequente em razão das variações sazonais no nível de base
(SILVA et al., 2022).
O setor norte, situado a montante da bacia, foi o menos afetado pela erosão e o
que apresentou menor interferência antrópica e maior presença de vegetação,
protegendo assim o solo contra os processos erosivos acelerados.
Feições erosivas lineares associadas a classes de
uso e cobertura terra da bacia hidrográfica do
riacho Seco (PE).
Erosão associada ao escoamento de água pluvial da
rodovia (a); terreno erodido por erosão linear (b);
solo exposto com erosões lineares (c); erosão linear
em área agrícola (d).
Considerações Finais
A área de estudo apresenta no conjunto de suas características naturais, uma
fragilidade acentuada para o desenvolvimento dos processos erosivos e atividades
econômicas a pecuária, agricultura de sequeiro e agricultura irrigada, todas
altamente impactantes devido à falta de uso de tecnologia adequada para o manejo
das terras que necessitam de cuidados constantes. O impacto das formas de
agricultura fica evidenciado no fato de que onde se assentam as residências em seu
entorno se encontram as atividades agrícolas e maior parte dos processos erosivos.
A partir do mapeamento das feições e da correlação com os fatores analisados pode-
se compreender a distribuição espacial dos processos erosivos que ocorrem na bacia
evidenciando o elevado estágio de degradação da área. Nesse sentido aponta-se para
a necessidade do desenvolvimento de atividades conservacionistas com vista a
preservação da vegetação nativa que protege o solo contra os processos erosivos
acelerados e a adoção de técnicas de produção agrícola que levem em consideração
as características dos solos regionais e evite o avanço da desertificação.
Assim, destaca-se a necessidade da criação de planos de recuperação ambiental para
os setores mais degradados, uma vez que correspondem aos que mais são utilizados
para atividades econômicas como agricultura e pecuária.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco – FACEPE, pela
concessão de bolsa de iniciação científica (processo no BIC-0221-1.07/21) ao
segundo autor.
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