14º Sinageo - Das várzeas aos interflúvios: a distribuição espacial das terras pretas arqueológicas na paisagem amazônica e uma hipótese sobre sua formação

Autores

LEANDRO SILVAIEF-MGEmail: leandrovds1980@yahoo.com.br

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa realizada na pós-graduação em Solos sobre a formação das terras pretas. Trata-se de estruturas de cor escura e que apresentam texturas que variam de arenosa a muito argilosa. As profundidades e as extensões são variáveis, alguns com mais de 2 metros de espessura e sítios que apresentam mais de 500 hectares. Surgiram de forma mais disseminada na paisagem a partir de 2.500 anos atrás e a maioria delas são datadas a partir de 1.500 anos atrás. A partir do georreferenciamento de 35 ocorrências de terras pretas, a partir das coordenadas disponíveis, a sua disposição demonstrou que elas estão presentes em diversos compartimentos geomorfológicos ao longo da bacia amazônica. Esse aspecto espacial é de grande relevância, pois a bibliografia pouco descreve sobre as ocorrências em áreas não inundáveis. Dessa forma, sua distribuição geográfica sinaliza que tais formações não estão diretamente associadas às várzeas, o que permite levantar outras possibilidades para além da hipótese de origem lagunar. Levando-se em conta os registros das escavações arqueológicas, com aberturas de quadras e de trincheiras com a exposição de perfis, as análises laboratoriais de geoquímica, de física, de microbiologia, de palinologia e, principalmente, os vestígios arqueológicos, defende-se a hipótese de que esses solos são de origem antrópica. Os principais pontos que sustentam essa hipótese são: a ocorrência indiferente das terras pretas sobre diversas classes de solos; a queima incompleta do material orgânico; a presença de fragmentos de cerâmicas e de outros artefatos; a decomposição de restos orgânicos; a existência das terras mulatas e antigos sítios de terra preta atribuídos aos caçadores-coletores. O conjunto das evidências aponta que tais formações seriam resultantes do acúmulo de lixo e do uso do fogo pelas populações nativas, como forma de limpezas periódicas e de organização dos seus locais de assentamento.