O Evento

Na soleira do século XXI a Geomorfologia brasileira assiste a uma série de emergências epistemológicas e metodológicas expressas pela incorporação do paradigma da complexidade, pelo rompimento progressivo com o paradigma climático, pelo protagonismo crescente de novas teorias, pelo avanço em campos metodológicos favorecido pela adesão às técnicas geocronológicas e em função da utilização cada vez mais disseminada das geotecnologias. Além disso, o Antropoceno/Tecnógeno despontam como mais do que meros recortes temporais, mas enquanto concepções de uma ciência engajada com as questões sociais e ambientais.

A cultura geomorfológica brasileira segue em franca expansão e internacionalização crescente, às expensas, por um lado, do enriquecimento de seu plantel teórico e metodológico, e, por outro, em função da descomunal diversidade de paisagens tropicais que ocorrem no território brasileiro. A região de Juiz de Fora, no contexto do quadro geomorfológico brasileiro e de suas complexas paisagens tropicais, localiza-se na Zona da Mata Mineira, região dos grandes escarpamentos sob a influência do rifte continental do sudeste brasileiro, contexto no qual se inscrevem regiões geomorfológicas de evolução complexa e elevada importância ambiental, como a Serra do Mar, a Serra da Mantiqueira e o Vale do rio Paraíba do Sul, macrounidades depositárias de sistemas geomorfológicos diversos. Os grandes escarpamentos típicos de margens rifte consubstanciam luxuriantes paisagens montanhosas tropicais de gênese tectônica e contundentemente reativadas ao longo do Cenozoico, engendrando volumetrias topográficas que permitem as mais interessantes sucessões de fitofisionomias florestais e campos altimontanos que medram sobre coberturas superficiais de transformação complexa.

Estas organizações congregam fatos de geodiversidade de vulto e patrimônio ambiental diferenciado, o que reflete sobremaneira no uso da terra e na ocupação histórica da região. Tal diversidade de elementos se consubstancia em contextos paisagísticos de grande relevância acadêmica, com uma diversidade ambiental notável. Por conseguinte, em distâncias inferiores a 300km da sede urbana de Juiz de Fora, apresentam-se relevantes atrativos para trabalhos de campo, como a Serra dos Órgãos, o Maciço do Itatiaia, a Serra de Ibitipoca, a Baía de Guanabara, o Carste do Bambuí, as Serras do Quadrilátero Ferrífero, a Serra do Brigadeiro, além, evidentemente, do Vale do Rio Doce (assolado pelo maior desastre tecnológico-ambiental da história brasileira). Nesse ínterim, das regiões montanhosas tropicais, com motivação sempre renovada pela grandeza de suas paisagens, o Grupo TERRA (Temáticas Especiais Relacionadas ao Relevo e à Água), o Departamento de Geociências e o Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora irão sediar o XIII Simpósio Nacional de Geomorfologia.

Espera-se que o XIII SINAGEO promova a geração de novos dados, evidências e discussões do fazer científico de uma Geomorfologia menos exclusivista e cada vez mais entrelaçada a outros saberes, que vem sendo subsidiada por outros campos interdisciplinares que muito tem contribuído para a superação dos postulados tradicionais. Notadamente, a inserção crescente do conhecimento geomorfológico nos estudos integrados da paisagem tem sido dos mais auspiciosos, tanto em enfoques de ordem genético-evolutiva como em vieses dinâmico-funcionais.