Autores

Moreira, H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Cherem, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)

Resumo

Na borda oriental do Vão do Paranã, existe uma sequência de depósitos inconsolidados que seguem por 400km com sentido norte/sul, localizados no sopé da Serra Geral; uma escarpa erosiva que delimita o limite político- administrativo dos Estados de Goiás, Tocantins, Minas Gerais e Bahia. A pesquisa busca mapear esses depósitos em escala detalhada (1:25.000). Os depósitos mais extensos estão localizados nos limites norte e sul, enquanto os da parte média são extremamente menos extensos. Os resultados contribuem para o entendimento da dinâmica da paisagem da região e também pode ser usado para orientar o planejamento ambiental.

Palavras chaves

Escarpa erosiva; Colúvios; Chapadão do Oeste da Bahia

Introdução

Os sistemas geomorfológicos são estudados por meio da observação da paisagem e caracterizados pelo conjunto de formações geológicas que estão inseridos. O Vão do Paranã se encontra a oeste da Serra Geral de Goiás, uma escarpa erosiva em forma de cuesta que representa a borda ocidental da bacia sedimentar Sanfranciscana (DARDENE, 1997), no limite entre os estados da Bahia e Goiás. A Serra Geral sofre uma dinâmica erosiva atual acelerada, a mesma se encontra em estado de desequilíbrio que dentro de um sistema geomorfológico evolutivo, sofre morfogênese natural sob o processo de denudação. Segundo Ritter (1998), a história geomórfica tem sido considerada como um conjunto ajuste de episódios de desequilíbrio (apud MOURA, 1998). Em trabalhos realizados recentemente foram mapeadas ao longo de toda sua extensão centenas de focos erosivos ativos e estáveis. Os sedimentos arenosos retirados pelos ciclos de erosão ao longo do tempo geológico são depositados na base das encostas, em forma de rampas e são denominados de depósitos correlativos. Os mesmos também chamados colúvios, segundo Moura (1998), constituindo um registro sedimentar que preserva informações da história erosiva deposicional. O objetivo deste trabalho foi realizar um mapeamento geomorfológico de detalhe dos depósitos inconsolidados que foram gerados ao longo da evolução das feições geomorfológicas que compõem a paisagem da Serra Geral. Segundo Casseti (1994) os depósitos correlativos associados a atividades erosivas, são de grande relevância para a compreensão da evolução das vertentes.

Material e métodos

A área de estudo localiza-se no limite leste do Vão do Paranã que se encontra à frente da Serra Geral, e conta com 400 km de extensão. A serra representa o limite político administrativo dos estados de Goiás, Tocantins e Bahia, correspondendo um limite de contato de duas diferentes unidades socioambientais, sendo a oeste muito alterada pela agricultura extensiva (oeste baiano) e a leste pouco alterada sendo seu uso do solo um conjunto de Unidades de Conservação (Tocantins e Goiás) conforme a Figura 1. A região faz parte das paisagens tropicais contida no bioma cerrado, caracterizado pelo clima tropical chuvoso (quente e úmido), alternando em estação seca e chuvosa. O topo da serra é denominado “Chapadão do Oeste da Bahia” composto por arenitos do Grupo Urucuia (GASPAR; CAMPOS, 2007) pouco resistentes ao intemperismo e erosões geoquímicas, a mesma é constantemente erodida e seus sedimentos são deposicionados logo após o sopé da serra. Segundo Casseti (2005), Colúvio é o material transportado pelo escoamento superficial ou pela ação da gravidade, ao longo da vertente. O mapeamento foi realizado para delimitar a feição geomorfológica denominada colúvio, que foi caracterizada na paisagem como rampas que mergulham em direção aos canais de primeira ordem compostas por sedimentos oriundos da denudação do grupo Urucuia. Tais colúvios são encontrados entre o solo hidromórfico das veredas locais e o sopé da Serra Geral. O método utilizado para o mapeamento geomorfológico de detalhe foi dividido em 4 etapas: 1) Formação de um banco de dados geográficos (i) modelo digital de elevação (MDE) da base de dados do instituto nacional de pesquisas espaciais (INPE) com resolução espacial de 30m, (ii) imagens de satélite de alta resolução Geoglobe. 2) Mapeamento das feições geomorfológicas com alto detalhamento de [1:10.000], feito com base na proposta de Moura e Silva (1998). 3) Classificação dos depósitos por tamanhos (área), em ambiente SIG. 4) Avaliação da distribuição dos diferentes tamanhos dos depósitos ao longo da serra.

Resultado e discussão

No Período Terciário, o soerguimento epirogênico, formou o novo nível de base regional que engatilhou ciclos erosivos na Serra Geral. Segundo Meis e Monteiro (1979), a recorrência de processos erosivos, durante o Quaternário, produziu vários períodos de formação de rampas, e os padrões de complexos de rampa atribuem as variações paleo-hidrológicas e de nível de base à dinâmica de evolução. Os episódios erosivos deposicionais ao longo do tempo geológico produziram registros sedimentares, que compõe a paisagem da Serra Geral; através do fenômeno denominado erosão regressiva, que similarmente aos estudos de Moura (1998) promoveu o recuo da encosta, gerando grandes quantidades de sedimentos arenosos que excedem a capacidade de transporte dos rios. Esses sedimentos são depositados em formato de rampa; segundo Casseti (2005) as rampas são formadas por colúvios produzidos pelo retrabalhamento de escarpas, soto-pondo paleopavimentos detríticos associados a última fase climática seca do Pleistoceno. O mapeamento destes colúvios ao longo da serra nos permite perceber a dinâmica de distribuição dos mesmos, como pode-se ver na Figura 2. Para analisar a distribuição, após o mapeamento foi feito o cálculo automático das áreas dos polígonos (colúvios), depois as áreas foram classificadas segundo a intensidade da cor. Inicialmente foi possível perceber que existem depósitos de colúvios em toda a extensão do sopé da escarpa da Serra Geral. Posteriormente pode-se observar ainda uma distribuição desses colúvios ao longo de toda a extensão. Porém, os depósitos de maior área [51 km² - 136km²] estão agrupados apenas no extremo sul e no extremo norte da área mapeada. Nessas regiões onde a crista da Serra Geral se encontra mais sinuosa; enquanto os depósitos com menor área são encontrados por toda a extensão da área mapeada.

Figura 1.

Localização da Área de Estudo.

Figura 2.

Depósitos Inconsolidados no Limite Leste do Vão do Paranã.

Considerações Finais

Com o mapeamento é possível observar melhor a distribuição dos depósitos de colúvio, e perceber a evolução da escarpa da Serra Geral. Utilizando-se da análise espacial, é de grande relevância o refinamento dos dados geomorfológicos relativos aos sedimentos que foram depositados ao longo do tempo geológico; dessa forma essa pesquisa visa contribuir aos estudos e banco de dados geomorfológicos do Vão do Paranã, para buscar um melhor entendimento da formação da paisagem.

Agradecimentos

Referências

CASSETI, Valter. Geomorfologia. In:
< http://www.funape.org.br/geomorfologia/pdf/> Acesso em:7 dez. 2017.
DARDENE, Marcel. Origem e Evolução Tectônica da Bacia Sanfranciscana. In: Revista Brasileira de Geociências. Volume 27, São Paulo,1997. p. 283 - 294.
GASPAR, M.T.P; CAMPOS J.E.G. O sistema aquífero Urucuia. In: Revista Brasileira de Geociências. n. 37, v.4 (suplemento), p. 216 -226. São Paulo: 2007.
MOURA, Josilda R.S; SILVA, Telma M. Complexo de Rampas de Colúvio. In: GUERRA, Antônio J. T. Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil. 1998 p.143 - 180.