Autores
Susana de Souza Gois, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Sâmara da Silva, D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Araujo Monteiro, K. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Plech, J. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS)
Resumo
Este artigo tem como objetivo a realização de um mapeamento geomorfológico da Área de Preservação Ambiental (APA) Santa Rita e seu entorno, localizada no estado de Alagoas, utilizando a geotecnologia como ferramenta para o mapeamento. A APA tem como objetivo a proteção e conservação da área que sofre com a ocupação urbana de forma desordenada. O mapeamento geomorfologico está sendo proposto como ferramenta para ajudar na conservação da APA, já que a partir dele foi possível delimitar diferentes tipos de unidades de relevo, em parte com características distintas, mas que juntas integram um sistema de enorme importância tanto física quanto econômica para o estado de Alagoas.
Palavras chaves
APA Santa Rita; Mapeamento Geomorfológico; Sistema
Introdução
O presente trabalho tem como principal objetivo contribuir para o planejamento ambiental na área de proteção ambiental localizada nos municípios de Marechal Deodoro, Maceió e Coqueiro Seco, na Zona da Mata alagoana. Serão abordados aqui, tópicos relevantes à APA, como caracterização da área, levantamento teórico, a própria APA, o mapeamento geomorfológico, o método para a realização desse mapeamento e os resultados esperados. As áreas de conservação devem ter seu uso de maneira sustentável. O objetivo de sua criação é a proteção por lei, dos seus recursos como fauna, flora, a tradição dos povos, a cultura da região e os recursos hídricos, fazendo com que desta forma tenha limite a destruição e seja possível um maior controle na urbanização de áreas antes inabitadas. Mas para que haja um planejamento e consequentemente um plano de conservação de qualidade é necessário que haja um conhecimento detalhado de cada feição do local. Nesta perspectiva este trabalho busca servir como ferramenta para a conservação da APA Santa Rita oferecendo um mapeamento geomorfológico da área da APA e do seu entorno. A APA Santa Rita configura-se como uma área bastante urbanizada e de forma desorganizada, resultando na perda de várias espécies principalmente de flora, então a área foi transformada em área de proteção ambiental, para que usando a lei seja possível preservá-la. Neste sentido, diante da necessidade de preservação cada vez maior, foi escolhida a aplicação degeotecnologias como ferramenta para um mapeamento geomorfológico que poderá contribui para o estudo da dinâmica ambiental da área. E a partir do momento que a dinâmica do ambiente onde está localizada a APA seja conhecida, será possível a elaboração de propostas cada vez mais eficazes para proteção do local. Esta pesquisa justifica-se como proposta de ferramenta para um planejamento ambiental de qualidade na APA de Santa e Rita e seu entorno que embora não seja protegido por lei, mas se tratando de um sistema ambiental, deve ser visto de forma integrada a APA.
Material e métodos
APA Santa Rita O IMA (2015) define uma área de proteção ambiental como uma área em geral extensa e com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem estar das populações humanas. Conforme o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), a Área de Proteção Ambiental de Santa Rita foi criada pela Lei n° 4.607, de 19 de dezembro de 1984, denominada APA de Santa Rita, compreendendo partes dos Municípios de Maceió, Marechal Deodoro e Coqueiro Seco, abrangendo todas as ilhas e, no continente, as encostas dos tabuleiros e restingas que as circundam. Abrangendo o Complexo Estuarino-Lagunar Mundaú-Manguaba e seu entorno, a APA-SR, compõe parte dos Municípios de Maceió, Marechal Deodoro e Coqueiro Seco, além das ilhas, canais, Mata Atlântica de encostas, manguezais, restingas, várzeas, brejos, coqueirais e sítios urbanos em plena expansão como Barra Nova, Santa Rita, Massagueira e Rua Nova. Segundo a SEMARH (2015), os limites se dão ao Norte, com a laguna Mundaú e as encostas e vales de tabuleiros; ao Sul, com o Oceano Atlântico e os terraços marinhos pleistocênicos; a Leste, com o oceano Atlântico e a cidade de Maceió e a Oeste, com a laguna Manguaba. Na APA Santa Rita o clima caracteriza-se especificamente, segundo a CPRM (2017), como do tipo Tropical Chuvoso com verão seco, onde o período chuvoso começa no outono tendo início em fevereiro e término em outubro. De acordo com IMA (2015) a precipitação média anual é de 1.634.2mm. Segundo IMA op.cit., o Sistema fisionômico-ecológico compreende os remanescentes de Floresta Ombrófila e Floresta Estacional, enquanto o Sistema Edáfico, as Formações Pioneiras sob influência Marinha, Flúvio- marinha, Fluvial e Flúvio-lacustre. Calheiros (1993), diz que a hidrografia apresenta um curso ligeiramente reto com afluentes quase perpendiculares, com padrão de drenagem dendrítica e deságua no canal de Dentro que interliga as lagoas Mundaú e Manguaba. A análise dos dados pluviométricos e climáticos determina, de modo geral, uma precipitação média entre 1400 e 1800 mm anuais. O mapeamento geomorfológico Cavalcanti (2013), afirma que o conhecimento das morfoestruturas, é necessário para a compreensão dos processos modeladores do relevo e suas formas resultantes na paisagem. Nessa perspectiva, Cavalcanti op cit., informa que em complemento ao conhecimento das morfoestruturas, faz-se necessária a compreensão dos processos modeladores do relevo e suas formas resultantes na paisagem. Deste modo, foi realizado o mapeamento geomorfológico na área da APA Santa Rita, localizada no município de Marechal Deodoro – AL, tendo base de sua metodologia as recomendações da UGI (União Geográfica Internacional), e sua Comissão de Mapeamento Geomorfológico baseada na propostas de Demek (1972), onde é preferível inicialmente o mapeamento das morfoestruturas e posteriormente das morfoesculturas, sempre levando em consideração a gênese e cronologia das formas. Em seguida, foram utilizadas ferramentas de geoprocessamento em ambiente GIS, utilizou-se a folha SC-25-V-C do projeto SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission) na escala 1:250.000 e arquivos de shapefile disponíveis na plataforma digital do IMA. Delimitou-se um recorte onde a APA está inserida e foi criado um mapa hipsométrico para a extração de perfis topográficos, diferenciando assim as porções geomorfológicas pela hipsometria, em seguida a partir dos limites exposto nos perfis topográficos foram criadas curvas de nível, que serviram para a demarcação das áreas das diferentes estruturas morfológicas do recorte. Embora esta pesquisa tenha como área de estudo a área da APA Santa Rita, foi decido optar por um recorte maior do que a APA, pois ele traz uma caracterização mais detalhada de onde a área de estudo está inserida, já que a Santa Rita conta com pouca variação de unidades morfológicas.
Resultado e discussão
A partir do recorte foi elaborado um mapa hipsométrico de onde foram
extraídos 6 perfis topográficos (Fig. 1).
Os dois primeiros perfis, chamados de A-B e C-D foram feitos de oeste para
leste de uma laguna a outra passando por um dos tabuleiro no qual o seu
limite hipsométrico foi estabelecido em 110 até 100m para o tabuleiro no
perfil A-B e 100m até 90m no perfil C-D, encosta entre 100m e 10m no perfil
A-B e entre 100 e 20m no perfil C-D, planície abaixo de 15m no perfil A-B e
abaixo de 20m no perfil C-D lado oeste e 10m no lado leste. O terceiro
perfil foi denominado E-F (Fig. 4), ainda no mesmo tabuleiro, também de
leste para oeste, mas abrangendo as lagunas, que segundo o perfil,
estabelecidas a baixo de 10m (Fig. 2).
O perfil G-H, quarto perfil topográfico criado, foi feito de norte para sul,
ainda na mesma área, o topo foi estabelecido em 100m e a feição
característica com tabuleiro está entre 100m e 95m, a encosta entre 95m e
15m, planície entre 10m e 0m, neste perfil aparecem ainda os canais que
ficam em 5m e as ilhas em 10m. A partir da analise desses quatro perfis foi
possível perceber que este unidade morfológica tabuleiro tem uma leve
inclinação do continente para o litoral. O quinto perfil, denominado perfil
I-J, foi traçado em uma outra porção mais a oeste do mapa hipsometrico. Este
apresentou limites em 80m para topo ou tabuleiro, 80m a 10m para encosta,
10m a 5m para planície e 0 m para canal. O último perfil, K-L, traçado mais
para o lado leste do mapa hipsométrico, mostrou a maior variação morfológica
sendo o topo ou tabuleiro acima de 55m, a encosta entre 55m e 20m, a
planície entre 20m e 10m, os canais abaixo de 5m e dentro dos canais as
ilhas que tem hipsometria entre 10m e 5m (Fig. 3).
A partir das analises feita nos dois últimos perfis, notou-se também uma
inclinação nos tabuleiros, porém de Nordeste para sudoeste. Inclinação essa
assim como do outro tabuleiro, área dos primeiros perfis, que pode tectônica
ou eustática. A partir dos perfis topográficos juntos de imagens de satélite
foram estabelecidos em ambiente GIS, as porções tabuleiro, encosta,
planície, restinga, canal e ilhas. Cada porção foi marcada com o auxilio de
curvas de nível e resultaram em um mapa geomorfológico (Fig. 4) do recorte
área desta pesquisa, que corresponde a APA Santa Rita e o seu entorno.
De acordo com o mapeamento geomorfológico foram classificas 8 unidades, a
primeira, a das ilhas que foi dividida em duas subunidades devido a sua
dinâmica, as ilhas flúvio-lagunares tendo sua dinâmica totalmente
influenciada pelas lagunas e canais, sendo a maioria das ilhas da região, e
apenas uma ilha flúvio-marinha localizada já na foz dos rios, tendo o
controle da sua dinâmica dividido entre o oceano e os canais. Todas as ilhas
tem hipsometria entre 10m e 3m.
A unidade das lagunas também foi dividida em duas subunidades, a da
Laguna Mundaú, alimentada pelo Rio Mundaú e da Laguna Manguaba alimentada
pelo Rio Paraíba do Meio, os dois nascem no estado de Pernambuco e tem foz
em Alagoas no Oceano Atlântico. As duas são interligadas por canais e fazem
parte do complexo-estuarino lagunar mundaú-manguaba. A próxima unidade foi a
dos corpos d'água composta pelos canais. As duas últimas unidades tem
hipsometria abaixo de 10m.
A unidade dos tabuleiros que apresentam forma alongada e são
estruturados por sedimentos da Formação Barreiras, apresentam um topo
bastante devastado pela ação antrópica. Possuindo altitude entre 110m nos
pontos mais altos e 90m nos mais baixos da unidade. As planícies flúvio-
lagunares correspondem às áreas baixas e planas, entre 10m e 3m de altitude,
estão ao longo dos canais, das lagunas e dos oceanos, possuindo algumas
áreas de manguezal. As duas unidades citadas anteriormente são separadas
pela unidade das encostas e cabeceiras de drenagem, caracterizada pela forte
declividade onde ocorre o escoamento superficial componente da drenagem da
região. A restinga compõe um unidade caracterizada como uma barreira natural
de sedimento que atravessa parte da foz do Rio Mundaú e do Rio Paraíba do
Meio, possuindo cerca de 3m de altitude.
Considerações Finais
A partir desse trabalho foi possível perceber que atualmente um planejamento ambiental de qualidade pode ser feito de forma rápida e precisa, utilizando-se a geotecnologias podem-se obter dados e resultados sobre as mais diversas áreas, principalmente as que precisam de planos de conservação, como no caso da APA Santa Rita onde qualquer empreendimento precisa, antes de tudo, estar de acordo com os planos de conservação dos espaços naturais e de toda biodiversidade da região. A APA Santa Rita possui plano de manejo, o que é bom, pois a maioria das APAs alagoanas não possui, porém ao analisar a área delimitada da APA, notou-se que está inicia-se em uma pequena parte do tabuleiro, passando pela encosta, planícies, ilhas, alguns canais, a restinga até o mar. Entretanto a área faz parte do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba, com total influência da dinâmica das lagunas Mundaú e Manguaba, possui apenas uma pequena parte delas inserida na área da APA Santa Rita. O que pré-supõe a falta da utilização de uma visão sistêmica no estabelecimento da área de preservação.
Agradecimentos
Referências
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CPRM. PROJETO CADASTRO DE FONTES DE ABASTECIMENTO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA. Disponível em: http://rigeo.cprm.gov.br/xmlui/bitstream/handle/doc/15287/rel_cadastros_marechal_deodoro.pdf?sequence=1. Acesso em: 13 de novembro de 2017.
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