Autores

Santos, L.F.L. (UFPE) ; Dias, M.S. (UFPE) ; Lima, G.R. (UFPE) ; Melo, R.F.T. (UFPE) ; Silva, D.G. (UFPE)

Resumo

O progresso alcançado pelas geotecnologias tem corroborado enormemente com o desenvolvimento dos estudos aplicados à análise da paisagem, sobretudo às geociências. As formas de relevo correspondem ao objeto de estudo da Geomorfologia e são dotadas de enorme importância, afinal, é sobre o relevo que as sociedades se desenvolvem. A produção de mapeamentos geomorfológicos contribui para o entendimento da paisagem a partir da espacialização de fenômenos naturais, tornando possível compreender a disposição atual do relevo. Sendo assim, o presente trabalho tem como finalidade principal confeccionar um mapeamento geomorfológico a partir das regras propostas pela Comissão de Mapeamento Geomorfológico de Detalhe da União Geomorfológica Internacional – UGI DEMEK (1972, apud CORRÊA, 1997) do Maciço Estrutural de Água Branca - AL, na escala 1:50.000, por meio do Google Earth Pro. Busca sugerir uma nova forma de produzir mapas temáticos por meio de um software gratuito que ainda é pouco utilizado.

Palavras chaves

Geotecnologias; Geociências; Mapeamento Geomorfológico

Introdução

A disposição do relevo tal qual conhecemos atualmente é resultado de uma sequência evolutiva de eventos que atuaram no passado geológico recente, modificando a paisagem. Neste sentido, compreender a dinâmica evolutiva do relevo, suas formas, principais características e processos que influenciaram nesta evolução é tarefa da Ciência Geomorfológica. A empregabilidade de ferramentas como o Sensoriamento Remoto se torna essencial e eficaz na construção e na geração de dados específicos, que corroboram com informações e interpretações dentro do contexto das análises geográficas. Tendo em vista as inúmeras possibilidades de mapeamentos, a observação das áreas de estudo adquire um fator agregador: a análise através de outro ponto de vista, por meio dos softwares que disponibilizam imagens de alta resolução. Esta análise possibilita um estudo pré-campo bem mais minucioso, carregado de detalhes que poderiam ser observados com maiores dificuldades no campo. Conforme afirma Guerra (2006), as geotecnologias podem ser interpretadas como um conjunto de tecnologias (SIG, Geoprocessamento, cartografia digital, sensoriamento remoto, Sistema de Posicionamento Global), que permitem a coleta, processamento, análise e configuração de informações a partir da referência geográfica adotada. O avanço destas geotecnologias tem contribuído de maneira significativa com a produção de estudos mais detalhados do relevo, facilitando a sua identificação e compartimentação a partir das formas e processos em escalas espaço-temporais distintas (DEMEK et al., 2011). Ross (1992) organiza o mapeamento geomorfológico conforme uma ordenação hierárquica dos fatos geomorfológicos, representando os sucessivos conjuntos de modelados de relevo agrupados em unidades geomorfológicas. O mapeamento geomorfológico se constitui em um dos principais métodos para o estudo e a pesquisa em geomorfologia. Também pode ser utilizado no planejamento ambiental (ROSS, 1990), fornecendo informações sobre as potencialidades, vulnerabilidades, restrições e riscos de ocupação e possíveis intervenções na paisagem. Quando a análise geomorfológica leva em consideração as influências do substrato geológico na formação e configuração do relevo, ele pode ser representado cartograficamente por unidades morfoestruturais. Quando se considera a natureza das rochas em relação à ação intempérica, resultam as unidades morfoesculturais (ROSS, 1990). Pode-se afirmar, portanto, que o surgimento de novos softwares com tecnologias avançadas e de fácil manipulação possibilitou uma maior acessibilidade a estes meios de produção de mapas. A gratuidade de alguns destes softwares contribui consideravelmente com o avanço da ciência, pois os valores para obtenção de imagens de alta resolução eram extremamente altos. Além disso, se utilizado ao longo das aulas de Geografia, configura um poderoso instrumento para o ensino dos mais diversos tópicos desta disciplina. O Google Earth é originado do programa Earth View, que foi elaborado pela empresa Keyhole, Inc, uma companhia que em 2004 foi comprada pela Google. No ano 2005 este programa foi renomeado e foi lançado como Google Earth, sendo disponibilizado para uso nos computadores pessoais. Este acontecimento representa um grande símbolo no que diz respeito à disponibilização de imagens derivadas de sensores remotos acoplados em satélites de forma gratuita. Por causa da popularização deste software e democratização do acesso à informação geográfica, muitos especialistas o consideram como uma das mais marcantes conquistas cartográficas do século XXI. A sua fácil manipulação, dá margem à uma vasta aplicabilidade tanto em ambiente corporativo, quanto para fins acadêmicos. A área de estudo está inserida em três municípios, sendo sua maior parte em Água Branca e o restante em Pariconha e em Tacaratu - Alagoas, estando disposto numa área de aproximadamente 400 km² e uma altitude de cerca de 800 metros.

Material e métodos

Para a produção deste mapeamento foram realizados três trabalhos de campo com finalidades diferentes, sendo cada um realizado em um momento do mapeamento, sendo que: O primeiro foi realizado em 11/03/2017, a fim de reconhecer a área de estudo, analisar todo o seu entorno e classificar as principais feições geomorfológicas observadas. Este primeiro campo ocorreu antes do início do mapeamento, contudo, contou com a contribuição da análise pré-campo da área de estudo através do Google Earth Pro. A delimitação da área de estudo se deu partir desta primeira análise no software. O segundo aconteceu ao longo da confecção do mapeamento, em 22/07/2017. Teve como finalidade conferir a veracidade das informações coletadas por meio da observação através do software e do primeiro trabalho de campo. Foram conferidas as classes atribuídas às áreas do primeiro mapeamento e do primeiro trabalho de campo. O terceiro e último trabalho de campo ocorreu em 30/08/2017 e seu objetivo principal foi realizar o ajuste de dados e as últimas alterações necessárias ao mapeamento, a fim de associar o trabalho feito no Google Earth Pro com a área de estudo propriamente dita. O mapeamento geomorfológico foi realizado por intermédio do software Google Earth Pro e finalizado no ArcGIS 10.2.2. Inicialmente foi escolhida a área de estudo, ocorrendo primeiramente a delimitação do Maciço Estrutural de Água Branca e suas adjacências, a fim de inserir na imagem as principais feições geomorfológicas localizadas no seu entorno. Em seguida realizou-se a análise pré-campo no software, mapeando as principais formas observadas, a fim de verificá-las ao longo do primeiro trabalho de campo. As contribuições dos modelos digitais de elevação foram bastante significativas para a interpretação das feições geomorfológicas. Após a primeira atividade de campo iniciou-se a confecção do mapeamento. É importante salientar que o progresso se deu a partir de etapas. Inicialmente foram mapeados os polígonos referentes às cimeiras da área de estudo, definidas pelas cotas de 680 e 640 metros de altitude, tendo em vista que o Maciço é basculhado. Posteriormente, foram mapeados os pedimentos, as porções mais baixas da área delimitada. Escolheu-se mapear três áreas de pedimento, que se diferenciam a partir da altitude, sendo o mais baixo até os 290 metros, outro até os 350 metros e o último até a cota dos 400 metros. Os inselbergs foram mapeados em conjunto com os pedimentos, sendo delimitados a partir da análise no mapeamento em conjunto com o reconhecimento da área ao longo do campo. Em seguida foram inseridos os polígonos referentes às áreas denominadas como encosta sem cobertura, localizadas nas cotas abaixo das cimeiras. O mapeamento destas áreas da encosta foi realizado por meio da observação a partir do Google Earth em conjunto com a interpretação feita no campo. Logo depois foram mapeadas as áreas de encostas com cobertura. Ao longo das observações mais detalhadas foram inseridos os lineamentos presentes na área de estudo, as planícies e os corpos d'água mais expressivos.Seguidamente foram mapeadas as rampas de colúvio, localizadas no sopé das encostas do Maciço Estrutural de Água Branca. Após todo o processo, foi constatado que a resolução da imagem salva no Google Earth Pro não estava satisfatória. Para alcançar a excelência do mapeamento foi necessária a transformação de .kmz para shapefile dos arquivos dos polígonos, linhas e pontos mapeados no software, a fim de inseri-los na imagem de satélite no ArcGIS na sua versão 10.2.2.

Resultado e discussão

Tendo em vista o caráter regional atribuído à Macrounidade Morfoestrutural do Planalto da Borborema, é imprescindível sua caracterização neste estudo, tendo em vista que a área escolhida está totalmente inserida no Planalto da Borborema. Esta Macrounidade compreende, conforme afirma Corrêa et al (2010), todo o setor de terras altas, situados a partir da isolinha de 200 metros de altitude, localizado a norte do Rio São Francisco, composto por rochas do embasamento cristalino. Ainda segundo estes autores, os limites do Planalto são marcados por vários desnivelamentos topográficos, cuja gênese epirogênica está associada ao desmantelamento de Gondwana e ao magmatismo intraplaca atuante ao longo do Cenozóico. A área de estudo está situada na Unidade Morfoestrutural da Depressão Sertaneja, que se associa à uma superfície de relevo predominantemente aplainado ou suavemente ondulado. Corresponde às cotas mais baixas do Planalto da Borborema, possuindo poucos relevos residuais com altitudes elevadas, isolados na paisagem. Apesar de predominar o clima semiárido, algumas porções mais elevadas, como é o caso do Maciço de Água Branca, possuem condições climáticas diferenciadas do seu entorno, proporcionadas pela altitude diferenciada, sendo classificados como brejos de altitude. A partir da revisão da literatura, dos trabalhos de campo e da análise das imagens de satélite, foi possível concluir que em uma microescala, a área de estudo possui as seguintes Unidades Morfológicas, divididas entre modelados de denudação e modelados de acumulação. Os modelados de denudação se subdividem entre unidade pedimentar, que compreende à área de inclinação suave, cercada pelo Maciço residual e composta por sedimentos oriundos dele, sem apresentar dissecação marcada ou deposição excessiva. Apresentam contato com as rampas de colúvio e inselbergs e são delimitados no mapeamento a partir das isolinhas de 290 metros, 350 metros e 400 metros; unidade de cimeira, que corresponde às porções mais elevadas do mapeamento, estando nas isolinhas de 640 e 680 metros, sendo divididas em Cimeira Rochosa (680 metros) e Cimeira Eluvial (640 metros). A área de estudo possui duas áreas consideradas cimeiras devido ao processo de soerguimento sofrido pelo Maciço, que o tornou basculhado; unidade residual, que abrange corpos intrusivos isolados na paisagem, mais resistentes. Na área de estudo, aparecem cercados por encostas íngremes, que sofrem influência do intemperismo físico. Tendo em vista o gradiente de suas encostas, esta unidade encontra-se sujeita a processos denudacionais. No mapeamento, são definidos como Inselbergs, que estão dispostos por toda a área de estudo; encosta de degradação, composta pelas áreas circundantes das superfícies de cimeira. São fortemente onduladas, sem sedimentos de encostas, estando, portanto, sujeita a intensos processos denudacionais, podendo haver formação de ravinas em suas coberturas inconsolidadas. Corresponde à área definida no mapeamento de encosta sem cobertura coluvial. Os modelados de acumulação são divididos em encosta de agradação, que compreende as áreas de relevo ondulado, localizadas na transição entre a encosta íngreme da serra e os pedimentos que o circundam. Possui feições deposicionais inclinadas, concatenada à coalescência de depósitos coluviais. Está classificada no mapeamento como "Rampa com cobertura colúvio", e atua na paisagem contribuindo com a suavização da declividade entre o fundo plano da rampa e as encostas, demonstrando a variação hidrológica dos níveis de base locais; e plaino aluvial, que são as áreas baixas e planas encaixadas no fundo dos vales, englobando formas resultantes da deposição. São formas alongadas, com predomínio do escoamento superficial e entrincheiramento da drenagem, estando delimitado pelas encostas, pedimentos com cobertura detrítica e, em alguns pontos, transita lateralmente para rampas de colúvio-alúvio.

Considerações Finais

O mapeamento geomorfológico de detalhe elaborado através do Google Earth necessida de um nível de minúcia maior, tendo em vista do processo de confecção dos mapas, pois é necessário preencher todos os pontos, polígonos e as linhas de modo manual, o que possibilita uma diminuição considerável dos erros produzidos pelas generalizações. Sendo assim, é primordial uma análise acurada da área de estudo, bem como das principais formas observadas in situ. O caráter manual empregado nesta ferramenta permite que a interpretação da forma de relevo delimitada pelo polígono passe pelo crivo do pesquisador. Quando associado ao trabalho de campo, agrega muito mais valor ao mapeamento, pois abrange não só a interpretação através do software, mas também a partir da observação da área de estudo feita pessoalmente. Além disso, a imagem de satélite disponibilizada pelo software detém um nível de detalhes bastante elevado, possuindo uma resolução espacial muito satisfatória, o que facilita a interpretação do relevo da área de estudo. Contudo, o produto final não é satisfatório. Foi possível concluir que quanto maior a resolução da imagem a ser salva, os elementos do mapa: título, legenda, norte geográfico, escala e a fonte diminuem de tamanho, tornando-se ilegível. Este fator tornou necessária a utilização do ArcGIS na sua versão 10.2.2, com a licença disponibilizada pelo Laboratório de Geomorfologia do Quaternário (LabGEQUA), para fins de tratamento da imagem para finalização do mapeamento.

Agradecimentos

Referências

CORRÊA, A . C. B. Mapeamento geomorfológico de detalhe do maciço da Serra da Baixa Verde, Pernambuco: estudo da relação entre a compartimentação geomorfológica e a distribuição dos sistemas geoambientais. Recife. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Pernambuco. 1997. 183p.
CORRÊA, A . C. B. et al. MEGAGEOMORFOLOGIA E MORFOESTRUTURA DO PLANALTO DA BORBOREMA. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 31 (1/2), 2010. p. 35-52.
DEMEK, J.; KIRCHNER, K.; MACKOVCIN, P.; SLAVÍK Petr. Geomorphodiversity derived by a GIS-based geomorphological map: case study the Czech Republic. Zeitschrift für Geomorphologie, v. 55, n 4, p. 415–435, 2011.
GUERRA, Antonio José Teixeira; MARÇAL, Mônica dos Santos (Org.). Geomorfologia ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
ROSS, Jurandir Luciano Sanches. Geomorfologia: Ambiente e Planejamento. Sao Paulo: Contexto, 1990. 85p
ROSS, Jurandir Luciano Sanches. Registro cartográfi co dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografi a. 17-29 pp. São Paulo, IG-USP, 1992.