Autores
Caldeira, D.M.V.S. (UNB) ; Uagoda, R.E.S. (UNB)
Resumo
A área de estudo localiza-se na Sub bacia Capetinga, dependências da Fazenda Água Lima (FAL), pertencente a Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil.O objetivo da pesquisa consiste na caracterização de depósitos aluvionares na sub bacia, utilizando para tal finalidade os cálculos de taxa de sedimentação e rebaixamento, concomitantemente com datação de Carbono 14 e análise granulométrica. A partir das informações levantadas foram definidos dois depósitos, um a montante (depósito 2) e outro a jusante (depósito 1) da sub bacia, separados por um desnível cujo os sedimentos predominantemente arenosos foram estocados em um intervalo erosivo deposicional, compreendido entre as idades de 30700±650 e 15100±350.As taxas calculadas apresentaram comportamento esperado com maior aporte sedimentar no depósito 1, cujas taxas sedimentação e rebaixamento apresentam valores 73(m³/km/ano) e 411,08 (mm/km/ano) respectivamente, que são maiores que as do depósito 2, 21(m³/km/ano) e 111,94(mm/km/ano).
Palavras chaves
Depósito aluvionar; Taxa de Sedimentação e Rebaixamento; Carbono 14
Introdução
A evolução do relevo perpassa por diferentes ciclos alternados de agradação e degradação, sendo os depósitos fluviais e coluvionares amplamente abordado pela literatura (DANTAS, 1995). Dessa forma o entendimento destes ciclos é necessário para reconstruir paleogeograficamente o ambiente de forma a entender o cenário geográfico atual e modelar mudanças futuras sendo o estudo dos depósitos aluvionares importante ferramenta, principalmente durante o Quaternário (CREMON et al. 2014, SUGUIO 1999). Nesse viés, é de estrema importância o entendimento dos processos que regulam a produção e estocagem dos sedimentos no tempo e espaço, caracterizando tais depósitos através dos cálculos de volume dos mesmos, (DANTAS, 1995). Uma forma de compreender a evolução da paisagem consiste no estudo dos sedimentos aluvionares e seu comportamento ao longo dos anos. Para tal, a datação por isótopos de carbono 14 (12C, 13C, 14C) consiste em uma importante ferramenta pois permite determinar cronologicamente a idade do material, sendo amplamente utilizada para o estudo de reconstrução paleoambiental em diversas regiões brasileiras, (PESSENDA et al. 2005). A utilização deste método é possível devido a composição isotópica das substancias naturais que variam de forma previsível de acordo com os ciclos da natureza, (SAIA, 2006). Na área de estudo são escassos os trabalhos de datação utilizando o método de Carbano 14. No entanto ampliando a extensão para área o Planalto Central, são encontrados trabalhados utilizando técnicas diversas como análise de Carbono 14, luminescência e técnicas palinológicas, cabendo ressaltar Cromínia-GO (SALGADO LABOURIAU et.al.1997), Águas Emendadas – GO (BARBERI et.al 2000), Inhumas-GO (LIMA-RIBEIRO et. al 2003), Goiânia – GO (DO CARMO et.al 2003) e Planaltina-GO (CUNHA 2012). O objetivo deste trabalho é identificar e dimensionar os depósitos aluvionares frente aos diferentes eventos erosivos, utilizando o cálculo do volume dos depósitos, taxas de sedimentação e de rebaixamento do relevo em conjunto com a análise de Carbono-14 e análise granulométrica na sub bacia Capetinga. O estudo justifica-se pela importância da caracterização dos depósitos aluvionares frente ao desenvolvimento da paisagem e a reconstituição paleogeográfica até então pouca explorada no Distrito Federal. Á área de estudo compreende a Sub Bacia Capetinga situada na porção sul do Distrito Federal inserido na bacia hidrográfica do Ribeirão do Gama, localizada na Fazenda Água Limpa (FAL) pertencente à Universidade de Brasília. Á área constitui uma APA (Área de Proteção Ambiental) e possui aproximadamente 13,31 km2 . A Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Gama é composta por dois compartimentos geomorfológicos, a Depressão do Paranoá e chapadas. Possui predominantemente Latossolos (vermelho e vermelho-amarelo) e bioma cerrado, litoestratigraficamente é caracterizada por rochas do Grupo Paranoá (Idade Meso/Neoproterozoica) pelas unidades de Ardosia, Metarritmito Arenoso e Quartzo Médio. (MOURA et al. 2010).
Material e métodos
Os cálculos pertinentes aos depósitos aluvionares, foram coletados a partir de visitas a campo com auxílio de GPS e através da caracterização do tipo de solo/substrato rochoso. Com auxilio do software Arcgis os 15 pontos identificados foram posicionados ao longo da sub Bacia Capetinga. As informações pontuais foram extrapoladas para o restante da Sub Bacia do Capetinga, refinando assim a localização dos depósitos. Os cálculos de Taxa de Sedimentação (Ts) e Taxa de Rebaixamento tiveram como parâmetro o trabalho de Dantas (2015). Deste modo a Taxa de Sedimentação (Tr) utilizou- se a fórmula Ts = D x E x C (km)-1x t-1 (m3/km/ano), em que: D = Área do alvéolo; E = Espessura do depósito; t = Duração do evento erosivo- deposicional; C (km) = Comprimento do canal. A Taxa de Sedimentação (Ts) foi calculada com base na fórmula: Tr = Ts (m3/ano) x A (m)-2 (x 1.000) (em mm/ano), onde: Tr = Taxa estimada de rebaixamento do relevo; e A = Área da bacia de drenagem. Os dados de espessura deram-se pela diferença das curvas de nível pertencentes a cada depósito, o volume e área através do software Arcgis e o intervalo de tempo pelo resultado da datação de Carbono 14. As amostras para datação radiométrica por Carbono 14 foram coletadas em duas seções diferentes na mesma topossequência. Na seção 1, definiu-se o nível T1DC3 (73 cm de profundidade) que analogamente corresponde ao nível T1G3 de coleta da análise granulométrica, em que foram coletados fragmentos de carvão. Na seção 2 escolheu-se o nível T2DC2 (100 cm de profundidade) correspondente ao nível T2G2 de análise granulométrica, no qual foram analisadas amostras de solos devido à ausência de fragmentos de carvão. Ambas as amostras foram identificadas, pesadas e enviadas para Kiev, Ucrânia, no Conventional Carbon Dating Laboratory que realizou datações simples de Carbono 14. De forma complementar foram realizadas análises granulométricas seguindo a lei de Stokes, com divisão dos finos (argila e silte) por decantação, pipetagem e peneiramento dos grossos no Laboratório de Geologia Química (LAGEQ), nas dependências da Universidade de Brasília. No total 6 (seis) amostras na seção 1 e 4 (quatro) amostras na seção 2 foram coletadas, depois quarteadas e pesadas, em seguida realizada a queima da matéria orgânica. Posteriormente foram acondicionadas na mesa aquecedora, e depois completadas com agua destilada e adicionado o defluoculante (Hexametafosfato). A próxima etapa foi a pipetagem, a temperatura foi calculada para obter viscosidade e densidade correspondente, dados estes que serviram de base para cálculo da profundidade e tempo entre cada pipetagem. Com o auxílio de uma pipeta (10 mL) foram coletados, silte e argila de cada amostra. Em seguida essas amostras foram colocadas na estufa e posteriormente pesadas. Após esta etapa realizou-se o peneiramento via úmido utilizando a peneira de 0,053 mm. A areia retida passou por um processo de peneiramento seco que utilizou uma malha de peneiras A - 2 mm, B - 1 mm, C - 0,50 mm, D - 0,106 mm, E - 0,063 mm e o fundo. Novamente as amostras foram secas e pesadas.
Resultado e discussão
O evento erosivo-deposicional durante o Pleistoceno-Holoceno durou cerca de
15600 anos e teve como base o resultado do Carbono 14 que forneceu duas idades
30700±650 BP (carvão vegetal, T1 DC3) e 15100±350 BP (matéria orgânica,
T2DC2), para as seções analisadas. As análises de campo conjuntamente com os
dados trabalhados em laboratório permitiram o mapeamento de dois depósitos
aluvionares separados por um desnível, depósitos 1 (jusante) e 2 (montante)
separados por um estrangulamento do relevo (Figura 1). Os pontos do limite
superior dos depósitos foram definidos com base na identificação de campo
principalmente pela existência de Plintossolo Pétrico, já os limites
inferiores foram delimitados pela ocorrência do embasamento constituído de
Ardósia.
Tendo em vista os cálculos, conforme Dantas, 1995 os seguintes dados foram
compilados na Tabela 1. Dessa forma o deposito 1 localizado a jusante da bacia
possui área maior com cerca de 0,452 km², Volume do Depósito 4908204,90 m³,
Taxa de Sedimentação de 73(m³/km/ano) e Taxa de Rebaixamento do Relevo de
aproximadamente 411,087 (mm/km/ano). O depósito 2, com uma área de 0,145 km²
localiza-se a montante da bacia e apresenta dados de Volume do Depósito
17662112,61 m³, Taxa de Sedimentação de 21 (m³/km/ano) e Taxa de Rebaixamento
do Relevo de aproximadamente 117,943 (mm/km/ano).
Com relação as taxas de sedimentação calculadas, observa-se um comportamento
esperado com um incremento na descarga em direção a jusante da sub bacia. No
entanto os dados obtidos para ambos os depósitos são relativamente baixos
comparados por exemplo com as taxas calculadas por Dantas, 1995 salvaguarda as
devidas proporções. Tal característica pode ser explicada pela presença de
encostas mais suaves, presença de vegetação nativa e pouca ou inexistente
intervenção antrópica, devido a área ser uma APA (Área de Proteção Ambiental).
Análises granulométricas realizadas em duas seções de uma topossequência
localizada no Depósito 2 caracterizam o sedimento presente na sub bacia do
Capetinga (Tabela 2). Em vista disso observa-se um incremento no teor de
areia, comparado com a relação de silte e argila. Analisando da base para o
topo do perfil, é identificado na seção 1, do nível T1G1 até T1G3 (nível de
coleta do Carbono 14) uma diminuição no teor de argila concomitantemente com
aumento nos teores de silte e argila. Entre os níveis T1G4 até o T1G6 ocorre o
mesmo comportamento do intervalo anterior. Na seção 2, nota-se desempenho
semelhante, entre os níveis T2G1 até o T2G3. Tal configuração permite inferir
a existência de vários ciclos deposicionais, marcados por um fluxo mais
turbulento capaz de carregar sedimentos mais pesados intercalados com fluxos
de menor velocidade.
Mensuração dos depósitos aluvionares
Análise Granulométrica
Mapa de depósitos aluvionares na Sub Bacia Capetinga
Considerações Finais
Através das análises identificou-se um ciclo erosivo-deposicional durante o Pleistoceno-Holoceno com duração de aproximadamente 15600 anos que gerou na sub bacia Capetinga dois depósitos aluvionares marcados por sedimentos predominantemente arenosos. As taxas de sedimentação obtidas corroboram com o esperado, mas apresentam-se em teores menores do que observado em trabalhos referências. No entanto a ausência de trabalhos correlatos na área dificulta a comparação dos resultados. Dessa forma, através dos dados obtidos não é possível estabelecer uma cronologia dos eventos devido a falta de subsídios para construir uma teoria aceitável no que tange a condição atípica das disposições das camadas. Constatou-se, porém, que para a realização da reconstrução paleoambiental da área serão necessárias mais análises de Carbono 14, concomitantemente com outras técnicas como análises palinológicas e luminescência, a fim de obter maior quantitativo de dados.
Agradecimentos
Referências
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