Autores

Spanghero, P.E.S.F.S. (UNICAMP) ; Charles, R. (UNICAMP) ; Souza, D.F. (UNICAMP) ; Souza, S.O. (UNIVASF) ; Oliveira, R.C. (UNICAMP)

Resumo

O SIG apresenta grandes possibilidades para a compreensão e análise da dinâmica da paisagem e como uma importante ferramenta para o planejamento, principalmente devido à capacidade de interação de diferentes informações físicas e antrópicas e a possibilidade de elaboração de modelos e esboços. Para tornar possível a realização de um planejamento eficiente, torna-se necessário a utilização de dados pedológicos, no entanto muitos destes dados são disponibilizados em escala pequena, sendo uteis apenas em caráter regional, enquanto que planos e projetos em escalas municipais tornam-se inapropriados a utilização desses dados. Neste sentido, o objetivo deste artigo é apresentar um procedimento alternativo para a adaptação dos limites pedológicos, através de sua relação com o relevo e campanhas de campo, combinando informações de fontes diversas para gerar uma base de melhor qualidade.

Palavras chaves

Planejamento Ambiental; Geoprocessamento; Alcobaça

Introdução

O geoprocessamento utiliza de técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento, identificação e extração de informações geográficas ou fenômenos observados por um sistema de sensor (MOREIRA, 2005). Para Rosa (2005), o geoprocessamento, também conhecido como geotecnologias, é um conjunto de tecnologias para a coleta, processamento, análise e oferta de informação com referência geográfica, na qual é composto por hardware, software e peopleware, que constituem poderosas ferramentas que auxiliam na tomada de decisão. A utilização de técnicas de geoprocessamento auxilia no melhor planejamento, compreensão e análise da dinâmica ambiental, uma vez que possibilita o gerenciar, planejar, controlar e localizar os elementos fundamentais para a gestão municipal e, por isso, é indispensável à utilização das informações disponibilizadas gratuitamente pelas instituições publicas, como por exemplo, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e universidades. O levantamento pedológico combinado com o Sistema de Informação Geográfica permite o planejamento do uso e ocupação da terra de forma mais eficiente. As informações de solo, bem como a descrição dos perfis e locais das coletas permitem elencar os usos e fragilidades dessas áreas, permitindo, portanto, utilização dessas informações como ferramentas essenciais para o planejamento racional do uso e ocupação da terra. Diversos autores utilizam da relação entre a classificação do solo e suas características pedológicas com o seu uso potencial, como por exemplo, Klamt et al (1995), Castro-Filho, Muzilli (1996), Fujihara (2002), Francelino et al (2005), Pedron et al (2006), Sá (2007), Bonfatti (2012) e outros mais. No entanto, a dificuldade em obter informações detalhadas de solos faz com que poucos utilizem essas informações como base na tomada de decisões municipais ou de maior detalhe. A execução de mapeamento detalhado de solos em todo o território nacional é uma demanda constante, mas o custo elevado para este levantamento é elevado, decorrente das extensas áreas do território nacional. As utilizações de técnicas de geoprocessamento aliada com pesquisas em campo surgem como alternativa para aumentar o detalhamento destes mapas através de adaptações utilizando informações de relevo, imagem de satélite e campanhas de campo. A relação entre o relevo e classes de solos é válida para condições fisiográficas específicas. O aspecto do relevo local tem marcante influências nas condições hídricas e térmicas dos solos, e, por conseguinte, no clima do solo, vindo a diferenciar tipos de solos em diferentes posições do relevo. Dessa forma, o relevo torna-se útil para dividir a superfície em unidades homogêneas e vir a facilitar a distinção dos ambientes pedogenéticos e facilitar o processo de identificação dos solos (LAMMERS, JOHNSON, 1991), (PALMIERI, LARACH, 2009). A Bahia possui o mapeamento oficial do seu território realizado pela SEI/SUDENE (Superintendência de Estudos Econômicos/Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) na escala 1:250.000, no entanto, para o planejamento ambiental torna-se necessário a existência de dados mais detalhados que venham, de fato, contribuir para uso racional do território. Procurando mitigar esse problema, este artigo apresenta um procedimento alternativo, proposto no município de Alcobaça/BA, adaptando os limites pedológicos, através de sua relação com o relevo e pesquisas em campo, apresentando assim, resultados mais confiáveis no âmbito da escala, propiciando uma melhor interpolação de informações.

Material e métodos

A primeira etapa metodológica compreendeu no levantamento de informações, tais como análise bibliográfica e cartográfica da área de estudo, a fim de subsidiar a adaptação do mapa pedológico. Foram realizados trabalhos de levantamento bibliográfico, composto por revisão e análise de artigos nacionais e internacionais, teses, dissertações que trata dos temas mapeamento de solos, mapeamento digital de solos, e similares. Foram também analisados os trabalhos, artigos e teses realizadas na área de estudo que fizessem referência à caracterização pedológica do município de Alcobaça. Durante o ano de 2016, foram realizados dois trabalhos de campo que tiveram como objetivo a identificação dos tipos de uso, aspectos fitogeográficos, hidrográficos e geomorfológicos, e realizado coleta de solo em 12 pontos de diferentes áreas. Todos os elementos foram registrados por levantamento fotográfico, marcados com ponto de GPS e anotado em caderneta de campo. Finalizada etapa anterior, iniciou-se a fase de inventário dos dados cartográficos visando à constituição detalhada das características naturais do município de Alcobaça. Os dados pedológicos estão orginalmente publicados em escala pequena, 1:250.000, produzido pela SEI/SUDENE, sendo, portanto, necessária a adaptação das informações a uma escala de maior detalhe. A escala escolhida foi a de 1:50.000, devido à base de dados disponibilizada para a melhoria da escala, como por exemplo as imagens RapidEye,SRTM TOPODATA e o Mapeamento Geomorfológico de Alcobaça, elaborado por Spanghero (2017, em prelo). Devido à escala original dos dados pedológicos da área de estudo, foram necessárias adaptações dos limites. Para essa etapa foi utilizando o software ArcGis 10.4, aonde foram organizados e elaborados os novos limites das unidades dos mapeamentos temáticos. As etapas para a adaptação inicializaram pela organização da base de dados através do download das imagens RapidEye do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Modelo Digital do Terreno (MDT) disponibilizados pelo INPE/TOPODATA. Imagens de satélite são utilizadas para identificar a litologia, estrutura, padrões de drenagem que se distribuem pela superfície terrestre. Para o ajustamento dos limites foi realizado a interpretação do MDT, imagens RapidEye e o mapa geomorfológico na escala 1:50.000 do município de Alcobaça. Na interpretação das imagens de satélite e fotografias aéreas foi possível diferenciar a morfologia do terreno, que serviram, junto com o MDT, como chaves para interpretação e proposição dos ajustes dos limites, bem como os limites geomorfológicos que contribuíram para auxílio na identificação das grandes formas do relevo, como por exemplo as áreas de tabuleiros costeiros, planícies e terraços fluviais. A interpretação das imagens de satélite RapidEye possibilitou a diferenciação, devido ao aumento do contraste, das áreas com maior ou menor quantidade de água no solo e matéria orgânica, que juntamente com o MDT e a declividade, contribuíram para dividir a superfície em unidades homogêneas e vir a facilitar a distinção dos ambienteis pedogenéticos e também o processo de identificação dos solos. Para averiguar a adaptação dos novos limites pedológicos, foram realizados 11 pontos de perfis pedológicos. Foram coletadas 27 amostras, ou seja, uma amostra para cada horizonte e observadas as características morfoestruturais do solo. O objetivo era verificar se a característica morfológica do solo representa a mesma de mapeamento.

Resultado e discussão

Alcobaça situa-se no estado da Bahia entre os paralelos 17º20’ e 17º40’ de latitude sul, e os meridianos 39º10’ e 39º40’ de longitude oeste, limitando-se a norte pelo município de Prado, a oeste pelo município de Teixeira de Freitas, a sul pelo município de Caravelas e a leste pelo Oceano Atlântico. Apresenta atualmente uma população de 21.271 habitantes (IBGE, 2010), e uma área de 1.480km² (Figura 1). O município de Alcobaça é caracterizado por apresentar dois grandes domínios geológico-geomorfológicos: o Tabuleiro Costeiro composto por sedimentos areno- argilosos de idade Terciária da Formação Barreiras, que se caracterizam pela existência de vales profundos e bordas escarpadas, e uma superfície geral inclinada em direção ao litoral. O outro domínio é a Planície Costeira, que apresenta sedimentos datados do Quaternário de origem marinha, incluindo-se nesse domínio os terraços marinhos, terras úmidas e praias, apresentando a formação de cordões litorâneos ao longo da planície costeira, em geral de composição arenosa formada pelas variações do nível do mar durante o Quaternário. (ANDRADE, DOMINGUEZ, 2002). A formação dos solos está diretamente relacionada aos domínios geológico- geomorfológicos da área de estudo. Para as áreas de tabuleiro costeiro há predominância de solos tipo Latossolo Amarelo Distrófico. Já nas Planícies Fluviais e fluviomarinhas instalaram processos que originaram solos do tipo Gleissolo, Háplico, Eutrófico e Gleissolo Háplico, e para a Planície Marinha onde há predominância de sedimentos arenosos, implantaram-se o Neossolso Quartzarênico (SEI, 2010). (Figura 2) Com base na metodologia descrita, houve o melhoramento de ajustes dos limites dos solos e, dessa forma, podemos apresentar um Esboço Pedológico de Alcobaça na escala 1:50.000 (Figura 3). Pela imagem acima é notada a nítida variação dos limiares entre o mapeamento pedológico elaborado pela SEI/SUDENE na escala 1:500.000 e a proposta do autor na escala 1:50.000. Essa variação é decorrente do melhoramento dos limites entre as classes pedológicas que possibilitam um melhor detalhamento do solo da área de estudo. Na Tabela 1 é apresentada a variação das classes de solo da área de estudo. A partir da elaboração do esboço pedológico, e em conjunto com atividades de campo, coletas de amostras e análises morfoestruturais, foi possível a identificação de 2 novas classes de solo: Espodossolo e Neossolo Quartzarênico. Os Espodossolos são caracterizados como áreas deposicionais de sedimentos arenosos residuais, relacionados à Formação Barreiras, que passaram por um processo de podzolização. Esses depósitos são conhecidos regionalmente como “Mussunungas”, geralmente coberto por uma vegetação similar à mata seca de restinga. Já a segunda classe de solo está diretamente associada a terraços fluviais, identificados a partir da sobreposição dos dados SRTM, com imagem de satélite. A classes de solo que apresentaram maior diminuição são Latossolo Amarelo Distrófico, Gleissolo Háplico, Gleissolo Háplico Eutrófico e Gleissolo. Enquanto que as classes Argissolo Amarelo Distrófico, Espodossolo Hidromórfico e Neossolo Quartzarênico apresnetaram aumento em suas áreas. As variações das áreas das classes de solos são decorrentes das alterações dos limites pedológicos, através da utilização das informações de sensoriamento remoto disponibilizadas, das imagens RapidEye e Modelos Digitais de Elevação e coletas de amostras de perfis de solos, permitindo, dessa maneira, a identificação das áreas de planície fluvial (predomínio de Gleissolos) e áreas de Tabuleiros Costeiros (predomínio de Latosolos e Argissolo), e assim propor uma melhor distribuição das classes de solo em território alcobacense.

Figura 1

Localização do município de Alcobaça, Bahia

Figura 3

Comparação entre o mapeamento das classes pedológicas na escala 1:500.000 com o esboço pedológico proposto pelos autores na escala 1:50.000

Tabela 1

Comparação das classes mapeadas de solo

Figura 2

Exemplo de delimitação do mapeamento das classes pedológicas pela imagem MDT e imagem de satélite. Sem escala. Organização: Spanghero (2017)

Considerações Finais

Este artigo propõe uma metodologia que torna possível melhorar os limites pedológicos, utilizando como base informações do relevo e imagens de satélite, sendo possível realizá-la com outras bases de dados. Apesar da importância dos dados pedológicos, muitas vezes a comunicação dessas informações ainda é um desafio devido às dificuldades em obter informações detalhadas. Assim sendo, a utilização de técnicas de geoprocessamento surge como alternativa barata e, ao mesmo, tempo eficiente para aumentar o detalhamento dessas informações. Através das técnicas de geoprocessamento foi possível aplicar essa metodologia ao mapa de solos do município de Alcobaça, e, por atividade de campo e correlação com dados de relevo, foi constatado que os resultados mostram-se como alternativa para o melhoramento dos limites pedológicos.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pela disponibilidade da bolsa de estudos e a Universidade Estadual de Campinas – Unicamp pela estrutura.

Referências

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