Autores

Oliveira Rocha, L. (PUC-RIO) ; Motta de Freitas, M. (PUC-RIO) ; Wagner Paixão Pinto, R. (PUC-RIO) ; Emiliane Lopes da Silva, S. (PUC-RIO) ; Almeida, R. (PUC-RIO)

Resumo

O transporte de materiais por avalanches detríticas ao longo das calhas de drenagem sofrem influências de diversos fatores como a declividade dos seus perfis longitudinais e a presença de degraus em forma de cachoeiras. O presente trabalho remete-se a distribuição espacial de blocos rochosos ao longo de um trecho do perfil longitudinal do rio Cachoeira, no maciço da Tijuca, Rio de Janeiro. O recorte escolhido para estudo foi o trecho entre dois degraus estruturais deste rio, onde foi analisada a distribuição espacial dos blocos depositados por avalanches detríticas, a partir de seus diâmetros médios. Os blocos foram medidos em três parcelas distribuídas ao longo do curso do rio e demonstram maiores tamanhos próximos aos degraus estruturais e menores tamanhos no interior da planície sedimentar retida a montante do primeiro degrau. Os resultados apontam uma forte influência da proximidade das encostas íngremes em função da morfologia do fundo de vale.

Palavras chaves

Maciço da tijuca; Nível de base; Depósito de blocos.

Introdução

Os blocos rochosos nos depósitos fluviais são importantes evidências da dinâmica erosiva proveniente dos movimentos de massa nas bacias de drenagem de áreas montanhosas. Associados ao transporte gravitacional nas corridas de massa, os blocos podem percorrer longas distâncias ao longo das redes de drenagem (Amaral e Fernandes, 1996). O presente trabalho, portanto, recai sobre a análise da deposição de blocos ao longo de uma das principais drenagens do Maciço da Tijuca, nos limites do Parque Nacional da Tijuca. Há, nesta área, inúmeras pesquisas relacionadas aos movimentos de massa e dinâmicas hidrológicas e erosivas das encostas do maciço. Segundo Coelho Netto (2011), o Maciço da Tijuca “funciona como um importante centro armazenador e distribuidor de águas pluviais, de onde convergem descargas fluviais (líquidas, sólidas e solúveis) para baixadas circundantes”. A declividade é um importante fator na ocorrência desses processos, para Cruz, E.s, Vilela, C.l, Azevedo, M e Coelho Netto, A.L (1998) ''os depósitos de encostas são ricos em blocos no ambiente montanhoso”. Porém os autores afirmam ainda que as características da rede de drenagem influenciam na distribuição espacial desses blocos, chamando atenção para o fato de que os mesmos se concentram “especialmente nos degraus estruturais associados com rupturas declives e nos fundos de vales.” Torres, 2013, complementa: “Em áreas de relevo acidentado, os escorregamentos são conspícuos e podem se dar mesmo na presença da cobertura vegetal. Partilham de forma significativa da dinâmica das paisagens de relevo acidentado submetidas ao imperativo climático tropical “ ( p.90). Destacando a influência do clima na esculturação do relevo e o papel da vegetação, entende-se que a ocorrência dos movimentos de massa no Maciço da Tijuca não foi historicamente impedida pela presença da vegetação. A presença de blocos ao longo das redes de drenagem evidencia a dinâmica desses movimentos que respondem a própria morfologia dos canais fluviais, sendo retidos de acordo com a presença de níveis de base locais na forma de cachoeiras. “A granoclassificação dos depósitos geralmente associados aos fluxos detríticos é um dos indicadores dessas dinâmicas.” (Riffel et al, 2016; Pinto, et al,2015). Neste sentido, o foco deste trabalho recai sobre a análise distribuição espacial dos blocos rochosos nos depósitos fluviais ao longo de um trecho da drenagem principal do alto curso do Rio Cachoeira, entre a Cascatinha do Taunay e a Cachoeira das Almas, no Maciço da Tijuca, Rio de Janeiro. O vale neste trecho varia de condições encaixadas, com íngremes encostas próximas ao leito fluviais intercaladas por condições de fundos de vale amplos, associados ao represamento e espraiamento de material sedimentar a montante das cachoeiras. Para se entender o contexto geomorfológico do local, é preciso compreender o contexto geológico no qual as rochas do maciço foram geradas. Há 600 milhões de anos a região na qual se localiza o Maciço da Tijuca sofreu transformações significativas em decorrência da colisão continental que formou o antigo continente Gondwana (Heilbron et al 2004 e 1995). O esforço colisional promoveu a mudança do estado físico dos materiais continentais, gerando intenso metamorfismo, compondo assim o substrato geológico predominantemente gnáissico do maciço da Tijuca. O evento tectônico posterior, relacionado à Abertura do Oceano Atlântico foi responsável pelo intenso faturamento dessas rochas e o basculamento de blocos que com o passar do tempo foi sendo esculpido até a forma que hoje se apresenta. O Rio Cachoeira é uma das principais drenagens dentro do Maciço da Tijuca. Desaguando no sistema lagunar da Tijuca, a bacia de drenagem do Rio Cachoeira drena em direção sudoeste seguindo importantes estruturas geológicas, tendo suas nascentes na porção central do Maciço. Porém em seu percurso o Rio Cachoeira apresenta importantes desnivelamentos em forma

Material e métodos

Para a avaliação dos depósitos de blocos rochosos ao longo do leito fluvial, a investigação focalizou na medição do tamanho dos blocos ao longo de um trecho de 4,6 Km, divididos em três parcelas de medição de 50m cada. Em cada parcela, observou-se a deposição das rochas dos dois lados do leito e feitas às medições do tamanho dos blocos. As medições forma feitas como emprego de uma fita métrica para a especificação dos dois diâmetros ortogonais de cada bloco. Foram analisadas seis amostras em cada parcela, ao longo do perfil longitudinal do trecho do Rio Cachoeira, tendo sido escolhidos os três blocos de maior tamanho em cada lado do leito fluvial. O mapeamento das parcelas iniciou-se abaixo da cascatinha do Taunay, se estendendo ao sopé da cachoeira das Almas, sendo localizadas por meio das coordenadas UTM, com o uso do aparelho de GPS. A partir da coleta de dados em campo, as medições foram tratadas em programa EXCEL com o intuito de mostrar a média das amostras em cada ponto e traçar um perfil de deposição. Paralelo a construção de um gráfico representante da tendência de deposição, houve a necessidade de traçar o perfil longitudinal. A partir do programa ArcGis10 foi confeccionado um mapa contento declividade e curso d’água do recorte da bacia do rio cachoeira, criando-se um TIN. Demarcando-se o curso do rio manualmente foi escolhida a opção “Profile Graph” que resultou no perfil longitudinal. Por fim, para espacialização da pesquisa e melhor visualização da dinâmica estudada elaborou-se um mapa agregando curso d’água, declividade, pontos realizados. Utilizou-se para realização desse material o programa ArcGis 10 e imagens retiradas da base de dados referente a bacia do Rio Cachoeira.

Resultado e discussão

Para além dos dados e pesquisas já existentes, foi construído através da coleta de medições dos blocos o gráfico da distribuição do tamanho dos blocos ao longo das parcelas analisadas. O gráfico da figura 2, representa as médias dos diâmetros dos blocos amostrados por parcela. Estas médias apresentam uma variabilidade, de acordo com a posição da parcela amostral no perfil longitudinal, ao longo do trecho fluvial analisado. A parcela 1 a jusante da Cascatinha do Taunay registra blocos com diâmetros superiores a 80 cm em média, valor este que rebaixa na parcela 2 à montante da Cascatinha. Na parcela 3, a montante do ponto anterior e logo a jusante da Cachoeira das Almas, os valores da média dos diâmetros dos blocos volta a crescer para valores superiores a 90 cm. A caracterização de um knickpoint no gráfico é dada a partir das parcelas maiores que 90 cm, já no perfil longitudinal fica nítida a presença das Cachoeiras nas porções mais declivosas existentes no curso do rio. Havendo assim, a possibilidade clara de perceber e relacionar os dados com a transformação do relevo vista em campo. Para Christofoletti (1977): “como os rios são considerados como os agentes mais importantes no transporte dos materiais intemperizados das áreas elevadas para as mais baixas e dos continentes para o mar, a análise dos perfis longitudinais constitui-se em aspecto chave para os estudos geomorfológicos em virtude da importância pressuposta da atividade fluvial na estruturação do modelado terrestre.” A declividade das encostas no entrono uma ação significativa na atuação da gravidade, propiciando o transporte de blocos de porte significativo durante os movimentos de massa e entulhando as calhas fluviais. Os blocos encontrados na calha fluvial são provenientes de corridas ao longo do eixo do canal e das encostas laterais. A declividade do perfil longitudinal influencia diretamente na deposição dos blocos, em função da energia de transporte dos fluxos detríticos em eventos de avalanches. O perfil longitudinal do Rio Cachoeira no trecho estudado (figura 3) apresenta nitidamente as rupturas de declive associadas à presença das duas cachoeiras em destaque na área de estudo: a Cascatinha de Taunay, a jusante e a Cachoeira das Almas à montante. Estas cachoeiras tem importante função no represamento de fluxos e quebra de energia de transporte dos materiais ao longo do eixo de drenagem, estabelecendo a deposição dos materiais a montante delas. No entanto, a análise da distribuição dos blocos rochosos ao longo do trecho fluvial analisado proporcionou um entendimento mais claro da relação de interdependência existente entre fluxo de detritos, o papel das encostas laterais e a deposição sedimentar, cabendo destacar peculiaridades vistas em campo dignam de reflexão, tais como a divergência de resultados entre o tamanho dos blocos próximos a Cachoeira das Almas e a Cascatinha do Taunay. A Cascatinha do Taunay localizada nas coordenas UTM 676587/7460041, é o primeiro degrau estrutural no trecho estudado. Pode-se perceber o importante papel desempenhado por este degrau estrutural que como afirma Mendes (2010) diminui a energia de transporte antes de sua queda garantindo a deposição de materiais mais finos. As observações de campo e o tamanho dos blocos medidos neste trecho respondem claramente a esta dinâmica, não existindo blocos rochosos, apenas sedimentos de granulometria reduzida, imediatamente à montante da cachoeira. Logo acima, na parcela 2, os blocos encontrados apresentam uma média menor, quando comparada aos valores das duas outras parcelas, demonstrando a menor energia de transporte no trecho da planície entre as cachoeiras. Em contrapartida na parcela 3, logo a jusante da Cachoeira das Almas, coordenadas UTM (675640/7461083), a concentração de blocos maiores garante a subida do valor médio dos seus diâmetros, figura 4. Esta condição está associada ao fato de que as cachoeiras consistem em estrangulamentos na rede de drenagem onde as encostas laterais se aproximam do canal, garantindo a proximidade da área fonte de blocos. O mesmo ocorre na parcela 1 a jusante da Cascatinha de Taunay, onde a proximidade das encostas e o próprio declive da cachoeira, garantem a presença de blocos de maior diâmetro em média. No entendimento específico das dinâmicas de avalanches detríticas no Maciço da Tijuca, os resultados demonstram a forte influencia das encostas de elevada declividade, que descarregaram blocos no leito principal do canal do Rio Cachoeira, de acordo com sua proximidade.

Figura 1

Mapa de localização da Bacia do Rio Cachoeira.

Figura 2

Gráfico da média dos diâmetros dos blocos rochosos ao longo de um trecho do perfil longitudinal do rio Cachoeira.

Figura 3

Perfil longitudinal do Rio Cachoeira, contendo a montante a Cachoeira das Almas e a jusante a Cachoeira do Taunay.

Figura 4

Cachoeira das Almas.

Considerações Finais

Os estudos geomorfológicos são de grande interesse em função da dinâmica existente na paisagem, de forma a contemplar o entendimento da formação e modificação do meio que nos envolve. Por isso, não há conclusões irrefutáveis neste trabalho, mas sim a certeza da indispensabilidade de aprofundar as pesquisas, visando o entendimento cada vez maior da dinâmica de deposição de blocos rochosos ao longo dos rios dos maciços montanhosos e suas dinâmicas de erosão. Até o momento foi entendido que há diversos fatores condicionantes para a distribuição dos blocos rochosos ao longo da calha fluvial do rio Cachoeira no trecho estudado. Tais fatores tendem a serem fortemente influenciados pela condição estrutural dos maciços rochosos que compõem as vertentes dos vales. Neste sentido, para continuação dessa pesquisa, a retomada dos trabalhos de campo visando coletar dados que possibilitem a construção de um mapeamento de geologia estrutural da área, com foco na área fonte dos blocos rochosos, se faz primordial.

Agradecimentos

Agradecemos aos nossos queridos professores Marcelo Motta, Rodrigo Paixão e Rafael Nunes por toda atenção e dedicação neste artigo. As nossas famílias e amigos que nos ajudaram em todo o processo e sempre estiveram nos apoiando.

Referências

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