Autores

Tamataya, J.H. (UFSCAR) ; Ribeiro, F.G. (UFSCAR)

Resumo

Considerando a importância dos estudos na área de Geomorfologia Ambiental para a compreensão da relação entre a evolução do relevo e os processos de degradação, procurou-se analisar os impactos ambientais constatados no córrego do Matadouro, localizado na Zona Norte de Sorocaba, nas proximidades do bairro Vila Nova Sorocaba, em Sorocaba, São Paulo. Foi utilizada a Teoria dos Sistemas como método de análise, revisão bibliográfica, trabalhos de campo e confecção de mapas.

Palavras chaves

Geomorfologia; Bacia Hidrográfica; Uso do solo

Introdução

Os estudos desenvolvidos na área de Geomorfologia Ambiental procuram compreender a evolução do relevo no espaço e no tempo e tem papel integrador para explicar os processos de degradação uma vez que capta e relaciona tanto fatores físico-naturais, como a ação antrópica. Esta última advém de uma sociedade que é causadora da degradação, mas que também sofre seus efeitos e procura resolvê-los. E, com a construção teórica e sistemática é possível gerar diagnósticos e parâmetros de monitoramento. (GUERRA & CUNHA, 2010) Os recursos hídricos são um dos mais importantes elementos encontrados no espaço geográfico, principalmente nos estudos de Geomorfologia. Se caracterizando como o principal agente modelador do relevo, sua entrada no meio ambiente é feita através da precipitação e seu destino depende de uma série de importantes fatores, como clima, a litosfera e a própria biosfera, contendo aqui as impactantes ações antrópicas (BOTELHO, 2011). Como relevante elemento da paisagem, não apenas geomorfológico, mas também social, a manutenção dos recursos hídricos torna-se essencial, sendo uma das mais importantes correntes de análise o conceito de bacia hidrográfica, que vem a ser muito utilizado em diferentes análises de abordagens ambientais. Sob a perspectiva da Teoria Geral dos Sistemas de Bertalanffy, compreendeu-se que os diferentes aspectos do espaço, como relevo, clima, vegetação e ações antrópicas deveriam ser entendidos como um grande sistema aberto, em constantes inter-relações e trocas de energia uns com os outros (Carvalho, 2014), possibilitando o emprego de uma análise ligada à dinâmica da Geomorfologia Ambiental. De acordo com a resolução CONAMA nº 1 é considerado impacto ambiental qualquer alteração física, química e/ou biológica do meio resultante da ação humana que possa vir a alterar condições de saúde, segurança, bem-estar, atividades sociais e econômicas, da biota, da qualidade dos recursos naturais e do meio. (BRASIL, 1986) A partir dessas premissas, este trabalho tem por objetivo analisar os impactos ambientais relacionados a geomorfologia e hidrografia constatados no córrego do Matadouro, localizado na Zona Norte de Sorocaba, nas proximidades do bairro Vila Nova Sorocaba, em Sorocaba, São Paulo.

Material e métodos

Como método, utilizou-se a Teoria Geral dos Sistemas, que segundo Bertalanffy (1976 apud AMORIM, 2012), consiste em identificar propriedades, princípios e leis dos sistemas em geral, independentemente do tipo ou natureza dos elementos, relações ou forças envolvidas, sendo sistema definido como um complexo de interações. Tratando de uma análise ambiental, aqui procurou-se considerar as interações entre os processos de evolução do meio físico-natural e as ações antrópicas tendo a bacia hidrográfica como escala de análise, pois em tal escala é possível observar e fazer conexões sobre como cada um desses fatores influencia um ao outro de forma sistêmica. Para a elaboração deste trabalho foi realizada pesquisa bibliográfica em livros e no plano diretor da cidade a fim de obter respaldo teórico sobre o tema, caracterizar a bacia hidrográfica e levantar discussões acerca de possibilidades para a preservação do Córrego do Matadouro. Também foram realizados dois trabalhos de campo, na alta e média bacias para observar a atual situação do córrego em questão e identificar os problemas ambientais relacionados ao mesmo, tendo-se em consideração a importância do conhecimento empírico para tais observações. Além disso, foi utilizado o ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG) ArcGIS 10.2.1 para a confecção de mapas, a partir de da base de dados do IBGE (2015) para localizar a área estudada, bem como verificar as características do relevo observadas em campo por meio de tratamento de imagem obtida pelo satélite ALOS PALSAR em 2011.

Resultado e discussão

O córrego do Matadouro, localizado em Sorocaba – SP (Mapa 1). Das primeiras observações em campo, verificou-se que se caracteriza como um rio de planalto, com fluxo de água contínuo, vazão rápida e baixo volume. Seu talude é bem esculpido e desenvolvido, com alto grau de declividade, havendo ausência de planícies fluviais nas alta e média bacias. O relevo foi analisado a partir da proposta de Ross (1992), que consiste na caracterização de seis táxons, situando a bacia estudada na unidade morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná, entre as unidades morfoesculturais da Depressão Periférica Paulista e Planalto Paulista. Os padrões de relevo se caracterizam a partir dos processos de formação de vales a partir da esculturação da paisagem pela ação fluvial, com topo dos interflúvios suavizados a convexizados. As vertentes são predominantemente convexas e retilíneas. Dos processos atuais de formação do relevo estão verificou-se erosão fluvial, assoreamento e movimentos de massa, potencializados pela ação antrópica. A partir do mapa hipsométrico (Mapa 2) procurou-se demonstrar as características descritas. Os processos atuais que transformam o relevo são potencializados pela ação antrópica, principalmente no que diz respeito à retirada da vegetação da mata galeria e intervenções nas margens relacionadas ao processo de urbanização. No caso da bacia do Córrego do Matadouro, as intervenções ocorreram em função do desenvolvimento de bairros residenciais. Em campo, por se tratar de uma área urbanizada em ambos os lados do curso fluvial, a realização de uma análise mais precisa pela visualização em campo foi dificultada. Contudo pode-se observar que as formas do vale e dos interflúvios são suavizados, com vertentes convexas a retilíneas e topos convexizados. No setor da bacia desenvolveram-se bairros residenciais de classes média baixa e baixa, que contam com infraestrutura de distribuição de energia elétrica e saneamento básico, porém em alguns trechos foram verificados despejo de esgoto doméstico. Foi possível observar alguns locais com construções próximas ao curso do córrego, criação de animais, como cavalos, galinhas, etc. A legislação das APPs, de 30 metros de distância das margens do córrego não foram respeitadas. Em relação à litologia, há presença de afloramentos de arenito do Grupo Itararé exumados pela ação erosiva da água na média bacia. Também foram encontrados matacões graníticos que provavelmente não sejam originários do local, mas sim, tenham sido utilizados para aterros e contenções, estando atualmente expostos pela ação erosiva das águas em praticamente toda a extensão do córrego. Segundo o Plano Diretor Ambiental de Sorocaba (2011), a Bacia do Matadouro, pode ser classificada como macrodrenagem, sendo responsável por coletar toda a água proveniente de seus principais afluentes e tributários menores, bem como captar o escoamento superficial resultante de eventos pluviométricos. Assim, deve-se destacar a importância de sua preservação, pois prejuízos a sua função de coletar e captar as águas tanto fluviais, quanto pluviométricas podem ocasionar problemas ambientais como pontos de cheias. É válido afirmar que por se caracterizar como uma bacia urbana, os processos de escoamento são intensificados nas vertentes e taludes de Córrego Matadouro, em vista da impermeabilização do solo, evoluindo em uma carga e vazão maior de água destinada a jusante e ao nível de base local, consequentemente causando uma série de problemas ambientais nas áreas urbanas da baixa bacia. Foi observada em campo a degradação das margens com tendência a erosão e o consequente assoreamento, ausência de mata galeria, despejo de esgoto e considerável quantidade de lixo e entulho nas margens do talvegue, que expressam as péssimas condições ambientais nas quais se encontra o Córrego do Matadouro (Foto 1). Esses fatores levam a elevação da declividade do talvegue e do volume de material no curso do rio, contribuindo para eventos de inundação em trechos mais a jusante, na confluência com o rio Sorocaba na baixa bacia. Além disso, somando-se a concentração de sedimentos em suspensão e matéria orgânica no curso fluvial aos problemas já citados, tem-se a situação de inadequação da água para consumo. Também observou-se canais de ordem zero, entre a média e baixa bacia, que possivelmente no passado tenham sido afluentes do córrego, porém a falta de ações de conservação culminou na extinção de suas nascentes. A partir da média bacia foi instituído em 2007, o Parque Santi Pegoretti. Porém, pela quantidade de lixo nas margens e baixa presença de vegetação apropriada à mata galeria, percebe-se que desde a fundação, o Parque passou por poucas manutenções, o que acaba por prejudicar o objetivo de conservar o curso do rio. De acordo com o estudo da Prefeitura de Sorocaba, em 2000, já haviam sido constatados problemas em relação ao sistema de drenagem da Bacia do Matadouro, principalmente nas baixas vertentes ao longo do curso principal. Em tal estudo foram constatados processos de degradação e erosão nos taludes, desmatamento da mata ciliar e assoreamento dos canais fluviais provenientes principalmente do processo de urbanização desenfreado e sem planejamento adequado. Nesta época era registrado apenas um ponto de inundação, atualmente são nove pontos de alagamento e nove pontos de inundação, considerando esta uma área de alta fragilidade ambiental (PREFEITURA DE SOROCABA, 2011).

Mapa 1 - Sorocaba

Banco de dados: IBGE (2015). Org: Jocasta Harue Tamataya

Mapa 2 - Mapa Hipsométrico

Banco de Dados: ALOS PALSAR. Org.: Jocasta Harue Tamataya.

Foto 1 - Degradação das margens do Córrego do Matadouro

Autor: Felipe Gabriel Ribeiro, 2017.

Considerações Finais

Pode-se concluir que é de grande importância a realização de pesquisas na área de Geomorfologia Ambiental para a compreensão da realidade, pois a sistematização das informações levantadas possibilita estruturar uma base teórica para a compreensão dos problemas relacionados à degradação da rede de drenagem, consequentemente levando à elaboração de projetos que possam atuar nesses espaços, buscando melhorias nas condições técnicas e dinâmicas dos elementos da paisagem, estabelecendo novos meios que possam diminuir ou evitar problemas ambientais específicos. A presença de um parque indica preocupação com a conservação local, contudo ações efetivas de manutenção devem ser realizadas para que de fato possa se manter as condições ideais de conservação do córrego, pois o mesmo representa um recurso hídrico e elemento físico-natural essencial ao equilíbrio das condições ambientais vigentes. Também, deve-se salientar que são importantes ações de preservação da cabeceira, que se encontra canalizada e com trechos da alta bacia completamente degradados. A conservação destes pontos é primordial para a manutenção da dinâmica fluvial à jusante, evitando o agravamento de problemas atuais e possivelmente solucionando-os, como erosão das margens e talude, assoreamento do curso e enchentes na baixa bacia. Enfim, questiona-se sobre a possibilidade de exercer políticas de restauração e conservação para evitar aprofundamento dos danos ao córrego e a transformação do córrego num parque corredor.

Agradecimentos

Referências

AMORIM, Raul Reis. Um novo olhar na Geografia para os conceitos e aplicações de Geossistemas, Sistemas Antrópicos e Sistemas Ambientais. Caminhos de Geografia. V. 13. Nº 41. Uberlândia: 2012. P. 80-101. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/viewFile/16613/92>. Acesso em: 26 de nov. de 2017.
BOTELHO, Rosangela Garrido Machado. Bacias hidrográficas urbanas. Geomorfologia urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 71-115, 2011.
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CARVALHO, Rodrigo Guimarães. As bacias hidrográficas enquanto unidades de planejamento e zoneamento ambiental no Brasil. Caderno Prudentino de Geografia, n. 36, p. 26-43, 2014.
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