Autores
Guimarães, V. (UFMS) ; Santana Santos, D. (UFMS/CPAQ) ; Costa Martins, F. (UFMS/CPAQ)
Resumo
Bordejando as escarpas do Planalto de Maracaju-Campo Grande há um numero representativo de redes de drenagem de bacias integrantes da sub-bacia do rio Aquidauana que segundo Alvarenga et al (1982), estão vinculadas ao sistema hidrodinâmico do rio Paraguai no Mato Grosso do Sul. São elas que na dinâmica hidrológica regional imprimem o recuo geral da borda oeste da bacia sedimentar do Paraná, promovendo ações de modificação na paisagem. Assim, objetivou-se analisar questões de altimetria, declividade, extensão de canais como elementos da hidrodinâmica fundamentais no processo de evolução do relevo local. A metodologia exigiu a construção de mapas de declividades e consultas a referenciais teóricos da pesquisa regional. Os resultados destacam questões da dinâmica hidrológica na evolução do relevo.
Palavras chaves
Geomorfologia; Dinâmica Hidrológica; Evolução do Relevo
Introdução
A pesquisa revela resultados das relações entre sistemas fluviais paralelos posicionados nas encostas da face norte do Planalto de Maracaju-Campo Grande (Alvarenga et al (1982), com a dinâmica hidrológica. Na região estudada o relevo é de composição de sedimentos da formação Aquidauana, nela inseridas as áreas das bacias de drenagem dos córregos Piraputangas, Antas e Morcego. Bordejando as escarpas do Planalto de Maracaju-Campo Grande há um numero representativo de redes de drenagem de bacias integrantes da sub-bacia do rio Aquidauana que segundo Alvarenga et al (1982), estão vinculadas ao sistema hidrodinâmico do rio Paraguai no Mato Grosso do Sul. São elas que na dinâmica hidrológica regional imprimem o recuo geral da borda oeste da bacia sedimentar do Paraná, promovendo ações de modificação na paisagem. Nas considerações de Beurlen (1956), apud Guimarães (1986), o canal do rio Aquidauana teria sido o ponto original de surgimento dos canais pesquisados, uma vez que o seu curso em direção Sul teria sido desviado para Oeste, justificado pelo nível de base mais baixo da Depressão do Pantanal, tendo então rompido o Planalto entre os atuais distritos de Palmeiras e Piraputanga. Atualmente, após recuo das escarpas, teria criado a face norte em amplo vale, onde o canal do rio Aquidauana, segundo Beurlen (1956), segue linha de falha em direção ao Pantanal Sulmatogrossense a oeste e de sua margem direita seguem regressivamente os canais dos córregos Morcego, Antas e Piraputangas em direção ao topo do Planalto de Maracaju-Campo Grande. Na questão da dinâmica hidrológica, alguns autores consultados contribuíram na formulação dos objetivos dessa pesquisa. Entre outros se considerou: CUNHA (1996) diz que uma bacia de drenagem, enquanto uma unidade hidrogeomorfológica, constitui um exemplo físico de sistema aberto na medida em que recebe impulsos energéticos das forças climáticas atuantes sobre sua área e das forças tectônicas subjacentes e perde energia por meio da água, dos sedimentos e dos solúveis exportados pela bacia no seu ponto de saída. A organização interna do sistema bacia de drenagem, isto é, os elementos de forma e os processos característicos, influenciam as relações de entrada e saída (Gregory e Walling 1973) apud Cunha, 1996. Assim, mudanças externas no suprimento de energia e massa conduzem a um auto-ajuste das formas e processos de modo a ajustar essas mudanças. CARVALHO (1994) mostrou a importância do conhecimento da dinâmica dos canais fluviais, tanto no que concerne aos recursos hídricos como do ponto de vista da hidráulica e do controle da erosão, assim como também do ponto de vista sedimentológico, geomorfológico e do planejamento regional. Um outro estudo interessante é o de Luiz (2009) destacando que os rios que descem a escarpa do planalto, ou seja, a Serra Geral, no Sul de Santa Catarina, podem apresentar fluxos de alta energia em função da grande amplitude altimétrica da escarpa e da ocorrência de chuvas orográficas. Ao longo dessa bacia hidrográfica sua fisiografia é bem diferenciada, havendo um desnível de até quase mil metros nos altos dos vales do rio principal e seus afluentes. Pode-se notar que a bacia do rio Amola Faca não é propensa às cheias, apenas as enxurradas rápidas e perigosas por causa dos grandes desníveis e declividade da Serra Geral (LUIZ, 2009). Vários fatores determinam a velocidade das águas de um rio fazendo com que tenha um caráter dinâmico ao longo do canal e na própria seção transversal. Segundo Cunha (2007 p.227), ”entre os elementos que alteram a velocidade citam-se; mudanças na declividade, na rugosidade do leito e na deficiência do fluxo.” Na deficiência do fluxo ocorre uma alteração por aparecimento de obstáculos; quando mais lisa for a calha será maior a eficiência do fluxo. Assim, objetivou-se analisar questões de altimetria, declividade, extensão de canais como elementos da hidrodinâmica fundamentais no processo de evolução.
Material e métodos
Os procedimentos metodológicos se pautaram pela busca de informações relacionadas ao entendimento da dinâmica hidrológica das águas de escoamentos pluvial e fluvial, bem como de reconhecimentos a campo objetivando constatar os usos e ocupação espaciais em cada uma das áreas das bacias pesquisadas, encontradas por exemplo nos estudos envolvendo a geometria hidráulica, que conforme Cunha (2007), são fundamentais para determinar o equilíbrio dinâmico do sistema fluvial, e estudam relações entre vazão, velocidade das águas, forma do canal, carga de sedimentos e declividade, considerando ainda que segundo Christofoletti (1981), o fluxo de água é uma das forças mais potentes que opera na superfície da Terra, tanto em termos de energia cinética como no total de fragmentos transportados. A metodologia de reconhecimentos a campo foi desenvolvida com apoio de materiais e outros, cedidos pelo campus da UFMS em Aquidauana, permitindo constatar in-loco os cenários de usos e ocupação nas encostas das vertentes, cujas observações foram valiosas na finalização da discussão dos resultados. Considerando o detalhe significativo da variação topográfica do relevo, buscou- se utilizar de mapas de declividades disponíveis no Laboratório de Geoprocessamento da UFMS/CPAq, produzidos a partir de metodologia da ferramenta Slope, disponível no ArcToolbox, Spatial Analyst Tools >Surface e geração final em Arc Gis, mostrando intervalo de classes mais específicas com detalhamentos de classes e cores na figura 02 quando comparada às dos demais mapas, dadas às finalidades a que foram produzidos (Guimarães e Maldonado, 2016) mas que permitiram atender os objetivos desse trabalho, sem prejuízos, como por exemplo, nos resultados relacionados a questão das faixas de inclinação nas encostas. A extensão dos canais principais foi obtida com uso de curvímetro analógico trabalhado sobre a Carta Planialtimétrica (Folha) Aquidauana, na escala de 1:100.000 editada pela Diretoria do Serviço Geográfico (DSG/ME, 1971), onde também foi possível relacionar aspectos topográficos considerando as curvas de nível. Os resultados permitiram estabelecer uma relação da dinâmica hidrológica com a evolução do relevo entre as bacias pesquisadas.
Resultado e discussão
De um modo geral os espaços areais que englobam as bacias dos córregos
Piraputangas, Antas e Morcego (figura 01) quando examinados na Folha Aquidauana
(DSG/ME, 1971), permitem constatar que todos os canais fluviais das principais
cabeceiras de drenagem avançam regressivamente sobre o topo do Planalto de
Maracaju-Campo Grande, e no sentido oposto, confluenciam com o canal do Rio
Aquidauana pela sua margem direita, em extensões curtas e certa similaridade
nos valores de amplitude altimétrica (GUIMARÃES, e MALDONADO, 2016). A unidade
geomorfológica do Planalto de Maracaju-Campo Grande, conforme Alvarenga et al
(1982), revelam esta unidade morfologicamente constituída de uma superfície
suavemente dissecada, tendo a forma predominante de relevo tabular e localmente
indicam trechos conservados, esculpidos em rochas do Paleozóico representadas
por sedimentos carboníferos da formação Aquidauana.
Fig. 01 – Município de Aquidauana – Região da Pesquisa
Fonte: Acervo dos Autores
3.1 Bacia de Drenagem do Córrego das Antas
Baseando-se em Luiz (2009) constatou-se in-loco que a drenagem é influenciada
pelas características geológicas dos terrenos, e pelo relevo com
grandes contrastes altimétricos e fortes gradientes revelando relações com os
depósitos de canais presentes principalmente ao longo do leito do canal
principal.
A acentuada variação na declividade das encostas da bacia de drenagem do
córrego das Antas chama a atenção, pois são áreas com certo grau de fragilidade
e estão sujeitas a desmoronamentos/deslizamentos quando intensificadas as
ações antrópicas, o que parece ser definitivo na área (figura 01). Outra
questão é a amplitude altimétrica da bacia de aproximadamente 400 metros numa
extensão longitudinal do canal principal de pouco mais de 16 km.
No topo do planalto, além da pecuária de corte, existem espaços ocupados com o
plantio do eucalipto, ambos os usos circundando as principais cabeceiras de
nascentes. Em direção à confluência com o canal do rio Aquidauana foi possível
observar os usos da terra com criação de gado bovino e pequenas lavouras, ambas
ocupando faixas de declividades mais inferiores. No entanto, em relação ao
canal principal os resultados de amplitude altimétrica revelaram situações de
risco, dadas as pequenas extensões das encostas. Outro fato a destacar é que o
canal principal desta bacia tem sido alvo do uso de atividades turísticas não
regulamentadas, cada vez mais intensas, uma situação que se soma à
intensificação de processos erosivos.
Figura 02 – Bacia de Drenagem do Córrego das Antas – MAPA DE DECLIVIDADE
Fonte: Acervo dos Autores
3.2 Bacia de Drenagem do Córrego Piraputangas
Conforme Quadros (2004), quando se analisa geomorfologicamente a dinâmica da
incisão de canais, considerado o tempo geológico, há uma expansão da rede de
canais em uma bacia hidrográfica definindo seu desequilíbrio com as condições
ambientais (erosão, transporte e deposição de sedimentos).
Na figura 02 a declividade revelada para a bacia de drenagem do córrego
Piraputangas, canal principal com extensão de aproximadamente 15 km, e
amplitude altimétrica próxima dos 400 metros, as faixas acima de trinta por
cento chamam a atenção no quesito distribuição, pois parecem “cinturar” os
espaços ocupados com drenagens dos tributários onde estes têm seus canais de
ordens inferiores atuando de forma incisiva sobre o relevo escarpado em típica
área planáltica. Por outro lado, no uso da terra, a atividade de criatório de
gado é dominante em pequenas propriedades concentradas no topo do Planalto, bem
como no chamado baixo curso onde as classes de declividades são relativamente
coincidentes.
3.3 Bacia de Drenagem do Córrego Morcego
A declividade da bacia de drenagem do córrego Morcego, figura 03, no tocante às
faixas acima de trinta por cento primeiramente revelam representativo recuo de
suas escarpas no trecho de médio curso onde a abertura do vale mais se acentua.
Porém, acompanhando o canal principal, a faixa permite identificar
estreitamento de vale em direção às cabeceiras de drenagem de posição
altimétrica mais elevada, onde é possível considerar as ações incisivas dos
canais de ordens inferiores sobre essa faixa de declividade. É importante
ressaltar que o alargamento do vale, pode ser notado na extensão das encostas
da margem direita, onde o uso e ocupação com atividades econômicas da pecuária
são representativos, porém distribuída em espaços ocupados por pequenas
propriedades rurais, dominando faixas de declividade entre as classes mais
baixas, tanto no setor de baixo curso como nas regiões de cabeceiras de
drenagem, principalmente no topo do planalto.
Figura 03 – Bacia de Drenagem do Córrego Piraputangas -MAPA DE DECLIVIDADE
Fonte: Acervo dos Autores
Figura 04 – Bacia de Drenagem do Córrego Morcego – MAPA DA DECLIVIDADE
Fonte: Acervo dos Autores
A legenda simboliza a região estudada, integrante do Planalto de Maracajú-Campo Grande em área de transição para a Depressão do Pantanal Matogrossense
É uma das sub-bacias onde a faixa cimeira tabular das cabeceiras de drenagem tem sido mais intensamente ativa nos usos e ocupação.
Os avanços do uso e ocupação nas faixas entre doze e vinte por cento colocam em risco a sustentação do relevo escarpado, aumentando a ação erosiva.
É a sub-bacia onde os usos e ocupação estão mais intensamente distribuidos, principalmente na faixa dos doze aos vinte por cento de declividade.
Considerações Finais
A análise dos Resultados permitiu considerar que: -as ações das redes de drenagens paralelas em conformidade com a dinâmica dos fluxos tem sido responsável pela movimentação de águas e de fragmentos das encostas e fundos de vales. -os mapas de declividade apontam pela constância de áreas escarpadas em cenário de exposição erosiva, haja vista estarem posicionadas de forma a receber os impactos dos usos da terra, tanto nas áreas de cabeceiras de drenagem no topo do planalto, como nas faixas de baixos cursos das bacias estudadas. -As curtas extensões dos canais principais, aliadas aos valores respectivos das amplitudes altimétricas, podem representar, nas quedas de grandes quantidades de chuvas, um aumento significativo no volume de detritos movimentados em direção à calha do rio Aquidauana.
Agradecimentos
Referências
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BEURLEN, K. Geologia Pós-Algonquiana do sul de Mato Grosso. Bol. 163 do Ministério da Agricultura/DNPM. 140 pags. Rio de Janeiro, 1956.
BRASIL, DSG/ME. Folha Aquidauana. Escala 1:100.000. Diretoria do Serviço Geográfico do Ministério do Exército. Rio de Janeiro, 1971.
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CUNHA, S.B.; Geomorfologia Fluvial, in: Geomorfologia: Uma Atualização de Bases e Conceitos. Cunha S. B. e Guerra. A. J. T. (orgs). Editora Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 2007.
GUIMARÃES, V. Geomorfologia da Bacia do Rio Dois Irmãos (MS). Programa de Pós-Graduação em Geografia – Dissertação de Mestrado. 181 págs. UNESP/IGCE. Rio Claro, 1986.
GUIMARÃES, V; MALDONADO, J.L. Bacia Hidrográfica do Córrego das Antas-MS: Subsídios ao Estudo do Comportamento e Características das Cargas dos Leitos Fluviais. In Anais do Congresso Brasileiro de Educação Ambiental Aplicada e Gestão Territorial. Fortaleza, 2016 (a ser editado como livro digital pela Editora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, Mossoró, Coletânea VII – Planejamento Urbano de Bacias Hidrográficas, tomo 4 - Leia mais em: http://www.vcbeaagt.com/news/atencao/).
LUIZ, E. D. Dinâmica Hidrológica do médio vale do rio Amola Faca sul de Santa Catarina, Brasil: processos de erosão e deposição do canal. Sul de Santa Catarina, Revista Terr@ Plural, v.3,n.2,UEPG, Ponta Grossa, 2009.
QUADROS, R.M.B. ET all. Modelagem de canais incisivos – revisão. Revista RA’EGA n. 8, pag. 69-81. Editora UFPR. Curitiba, 2004.