Autores
Costa, L.M. (UFS) ; Silva, D.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)
Resumo
O trabalho em tela teve como área de estudo o povoado Ribeira, localizado no município de Itabaiana-SE que tem como características física predominante o relevo acidentado, solos litólicos e vegetação caracterizada pela caatinga. O propósito deste estudo teve como objetivo analisar o uso da água como recurso natural do povoado e sua correlação com os condicionantes biofísicos. Para metodologia utilizamos procedimentos como: levantamentos bibliográficos, trabalhos de campo, mapeamentos e entrevistas. Dos resultados finais pôde-se considerar mapeamentos fisiográficos e gráficos de pluviosidade da área. A Ribeira é banhada pelo Riachinho da Ribeira, onde alguns donos de propriedades fazem usos inadequados deste recursos, utilizando-se de barramentos no corpo hídrico da micro-bacia sem outorga do Estado. Portanto, a área pesquisada carece de mais fiscalizações na rede hidrográfica para assegurar que o Riachinho da Ribeira se mantenha vivo e não perca a capacidade e competência da mesma.
Palavras chaves
Ribeira; Microbacia; Mapeamento
Introdução
O projeto de pesquisa teve como objetivo analisar o uso da água como recurso natural do povoado. A Barragem da Ribeira, que leva o nome do povoado Ribeira, está situado no povoado Várzea da Cancela a qual se insere num projeto de irrigação que busca abranger as atividades agrícolas de pequenos e médias propriedades no município de Itabaiana. A Ribeira por ter relevo acidentado, solos litólicos e vegetação predominante de caatinga, não está dentro do projeto de irrigação. Assim, a água da barragem que leva o nome do povoado não a beneficia diretamente neste aspecto. Observa-se que o povoado Ribeira é banhado pelo Riacho da Ribeirinha, que nasce na Serra do Cajueiro e que corta boa parte do povoado, mas que os moradores da área faz uso das águas apenas para recreação. A pesquisa também teve como objetivo analisar os rebatimentos dos diferentes usos das águas e dos recursos hídricos na área analisada, através da compreensão dos diferentes impactos dos componentes biofísicos como geologia, pedologia, geomorfologia e climatologia. Intenta-se ainda, produzir material científico e didático que retrate a espacialização desses indicadores e como a análise de totalidade reflete os arranjos espaciais que dinamizam o lócus de pesquisa.
Material e métodos
A pesquisa teve o objetivo de buscar e compreender a produção e reprodução do espaço com um olhar geográfico, a partir de uma leitura socioeconômica e de caracterização ambiental modificada pela ação antrópica no tempo histórico e isso caracteriza o fisiologia da paisagem que segundo Ab’Saber, que trabalha com o método de paisagem numa perspectiva de herança, toda paisagem tem uma história particular, cabe a geografia compreender como se deu aquela paisagem no processo histórico. Para construção e execução desta pesquisa foram adotados procedimentos metodológicos que coadunam com os objetivos propostos no projeto. Assim, dentre eles foram feitos: levantamentos bibliográficos, fichamentos, trabalhos de campo, mapeamentos, entrevistas, coleta de dados, construção e análise de gráficos, entrevistas. Para o levantamento bibliográfico foram utilizados estudos de autores que versam sobre a legislação e a distribuição da água potável mundial e na área de geoprocessamento. Além de estudos aprofundados na área física como: geologia, climatologia, geomorfologia e cartografia. Foram realizados trabalhos de campos, que ocorreram tanto para a produção do relatório parcial como para o final, sempre com o objetivo de reconhecimento geral das condições morfológicas e geológica, da área pesquisada. Além disso, buscávamos sempre agendar entrevistas com os sujeitos da comunidade e dos órgãos públicos, além de escolha dos principais pontos para coleta de dados brutos concernentes aos aspectos fisiográficos da área. O primeiro trabalho de campo foi dia 31/10/2016, que pode-se observar áreas como o Riachinho da Ribeira, Porções da Ribeira, Serra do Cajueiro e a sede do povoado. No segundo campo, teve-se entrevistas com responsáveis da COHIDRO do perímetro da ribeira, além de obter dados pluviométricos para construção de gráficos para a pesquisa. A terceira visita a campo foi dia 21/05/2017 e pode-se observar como a área do povoado Ribeira fica em segundo plano para ajudas do município de Itabaiana no quesito de produção e reprodução do espaço, estava sendo construída uma estrado que dava acesso a Barragem da Ribeira, o que nos deixa pensar que o município está mais preocupado com os turistas do que com a população do município. Para a construção dos gráficos, os dados brutos foram tabulados e tratados no programa Excel for Windows 2013, já para a feitura dos mapas o software utilizado foram o ArcGis 10.1 e QuantumGis 1.6.0. Além de alimentação de banco de dados com o CD de recursos hídricos de Sergipe. As entrevistas foram agendadas com os responsáveis pelo posto local da COHIDRO (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação em Sergipe) para coleta de dados pluviométricos e para levantar informações sobre o projeto sobre o projeto de irrigação. Uma observação importante, segundo o técnico responsável pelo órgão, é que o posto da Barragem da Ribeira não está mais coletando dados pluviométricos por falta de condições materiais, como fitas para a gravação dos dados e que este ainda problema continua. Com isso foram usados somente os dados de 2004 a 2012. Na coleta de dados pluviométricos, alguns meses apresentaram hiato devido à falta de registros realizados pela equipe responsável, portanto, utilizou-se como metodologia para definir a taxa mensal de chuva a média aritmética simples entre mês anterior e posterior ao do dado inexistente. Salienta-se que essa metodologia é proposta por AYOADE, 1998 e não invalida as análises das condições climáticas pesquisadas.
Resultado e discussão
O povoado Ribeira que pertence ao município de Itabaiana, e fica situada no
agreste central do estado de Sergipe, encontra-se relevos acidentados, solos
litólicos e uma vegetação caracterizada pela caatinga hipoxerófila, também
observa-se que a área é banhada pelo Riachinho da Ribeira que nasce na Serra
do Cajueiro, fazendo parte do domo batólito atualmente denominado por domo
de Itabaiana. Os moradores e até mesmo turistas utilizam as águas do
Riachinho da Ribeira somente para recreação.
Observa-se a hidrografia do povoado (Figura 01), um fluxo canalizado
dominada pelo Riachinho da Ribeira e seus afluentes caracterizado como um
rio perene, além disso pode-se observar que não existe uma fiscalização por
parte das políticas púbicas para assegurar que exista mata ciliar ou área de
preservação permanente na nascente deste riacho que desagua no bacia do Vaza
Barris.
Na micro-bacia denominada como Riachinho da Ribeira, pode-se observar um rio
perene a jusante do Poções da Ribeira e sua foz se encontra justamente na
bacia hidrográfica denominada com Vaza Barris. Além disso, observa-se que a
DESO faz uso da hidrografia desta área. E que alguns donos de propriedades
faz barramentos ilegais para uso próprio, prejudicando assim o débito
fluvial do canal deste corpo hídrico, fazendo com que despois desse
barramento haja uma maior deposição de sedimentos que pode chegar a um
assoreamento. Assoreamento esse que pode vir com o problema citado
anteriormente, e também com o desmatamento da vegetação que fica entre o
leito menor e maior do canal fluvial.
Uma das características marcantes da hidrogeografia do Ribeira é a
intermitência dos corpos hídricos, É comum a presença de rios temporários,
como por exemplo o Rio das Pedras, e pode-se observar o Riacho Ribeirinho,
que se constitui no principal canal de drenagem da micro-bacia identificada
e mapeada em trabalho de campo e análises de imagens de satélite. Ressalte-
se que essa micro-bacia pertence a bacia do Rio Vaza-Barris, que banha a
porção centro-sul de Sergipe.
Figura 01: Rede Hidrográfica, 2016.
Os impactos ambientais são ocasionados quando há o rompimento do equilíbrio
ecológico devido à pressão que o ser humano exerce sobre os recursos
naturais não respeitando áreas de preservação permanente, mata ciliar ou até
mesmo fazendo construção sem consultar os EIAs/RIMAs (Estudo de Impacto
Ambientais / Relatório de Impacto Ambientais).
O trecho pesquisado do Riachinho da Ribeira apresentou diversos pontos de
impactos negativos, o que leva à fragilidade ambiental da área. Este rio
apresenta um débito fluvial que não é intenso, entretanto, alguns sujeitos,
como proprietários de terras se utilizam dessas águas de forma inadequada,
sem respeitar a legislação ambiental que versa sobre a outorga dos recursos
hídricos. Foi observado a formação de uma pequena barragem para uso
particular sem que nenhum estudo tivesse sido feito sobre os impactos e
consequências para o sistema hidrográfico tanto a jusante como a montante da
mesma.
No povoado Ribeira é comum a construção de poços artificiais para o
barramento de água com fins de manter a oferta hídrica mesmo em períodos de
déficit hídrico e consequentemente obter água no periodo mais seco do ano
para assegurar que pecuária no caso da área pesquisada, não passe
necessidades. Por sua vez, alguns poços desses acabam não acumulando água
suficente para atravessar o periodo mais seco, e alguns moradores acabam
recorrendo aos serviços da DESO, onde terão que pagar e consequentemente
terão prejuízos para manter seu gado.
A barragem da Ribeira que leva o nome do povoado pesquisado fica situada no
território do povoado Várzea da Cancela. A barragem é abastecida pelas águas
dos rios: Rio Traíras, Rio das Pedras e Rio das Moças. Essa barragem é de
grande importância para boa parte dos agricultores de Itabaiana, ela
abastece vários povoados com o projeto de irrigação que faz uso dela. Mas
que o povoado Ribeira não faz parte dos povoados insiridos no projeto de
irrigação, que por sua vez sujeitos como moradores e técnicos relataram que
a área tem solos pedregosos e relevo acidentado o que não é propicio para a
agricultura, assim a atividade mais comum na região é a pecuária.
Nas entrevistas, em trabalhos de campo sujeitos relataram que a Barragem da
Ribeira era para ser contruida onde se localiza o Poção da Ribeira (ver
figura 1) mas que por motivoas técnicos e economico foi construida na atual
localização.
Observa-se que a geologia do Estado de Sergipe são reconhecidas rochas do
embasamento Gnáissico. Assim como no povoado Ribeira no município de
Itabaiana que se apresenta com um tipo de característica geológico, o
Filitro, Metaconglomerado, Metarenito. Área de rochas magmáticas do tipo
extrusiva, maciços cristalinos herdado do antigo Domo Batólito, atualmente
denominado por Domo de Itabaiana e vegetação caracterizada pela caatinga
hipoxerofila (Figura 02). Na área pesquisada o que se observa das
características geológicas são as rochas magmáticas e metamórficas do pré-
cambriano, representadas por gnaisses, quartzitos, e etc.
O principal tipo de vegetação encontrado é a caatinga hipoxerófila,
semiaridez moderada, clima é semiárido; e o solo, raso e pedregoso, é
composto por vários tipos diferentes de rochas. As condições da vegetação
que encontra-se degradada pela ação humana, substituindo a vegetação para
implantação de pastos, atendendo as necessidades da pecuária.
Figura 02: Mapeamento de geologia, 2016.
Observa-se que a área pesquisada está situada em duas feições
geomorfologicas distintas, uma sendo a superficie Pediplanada que apresenta
uma topografia plana e suavemente inclinada e dissecada, truncando o
substrato rochoso. A outra sendo superficie Tabular Erosiva que deve-se
considerar um clima seco, onde o efeito da variação da temperatura (alta
temperatura durante o dia e baixa à noite) é responsável pela desagregação
mecânica das rochas, cujo alvo principal são as saliências topográficas das
vertentes, que vão gradativamente “encolhendo” ou recuando por desagregação,
à medida que os detritos de encostas caem pelo efeito gravitacional formando
assim áreas com solos sedimentos rochosos (Figura 03).
Sobre geomorfologia da área, alguns pontos evidenciam o intenso controle
estrutural da rocha na paisagem. Por exemplo, no ponto turístico denominado
de Poções, é notório a presença da formação de um poço e do processo de
epigenia em rochas que sofreram um intenso processo metamórfico regional, o
que se evidencia pela inclinação das camadas, resultado da conjugação de
tectonismo plástico e quebrantável.
Figura 03: Mapeamento de geomorfologia, 2016
O gráfico da variabilidade pluviométrica de acordo com dados do posto de
perímetro fornecido pela COHIDRO. A variabilidade é um método de análise
climatológica que possibilita analisar o comportamento inter-anual da altura
das chuvas ao longo de um período, o déficit ou superávit pluviométrico em
relação à média e a tendência positiva ou negativa das chuvas. É mister
salientar que esta metodologia é uma das que melhor permite a compreensão
climatológica de áreas que não tem registros suficientes para o estudo da
variação climatológica, uma vez que a mesma necessita analisar a normal
climatológica, que é de 30 anos.
O gráfico foi construído com dados referentes aos anos de 2004 a 2012. A
partir dele, infere-se que de um odo geral, a variabilidade não foi
significativa para a área, com sete anos de resultados positivos e apenas
dois negativos. Entretanto, mesmo com uma variabilidade baixa, a linha de
tendência denota um comportamento de déficits hídricos significantes, como
pode-se observar para o ano de 2012, que teve uma variabilidade de 482mm
abaixo da média (Figura 04).
Figura 04: Elaboração: Lucas Melo costa. Fonte: COHIDRO.
A marcante variabilidade interanual da pluviometria, associada aos baixos
valores totais anuais pluviométricos sobre a área pesquisada, é um dos
principais fatores para a ocorrência de longos meses de seca. As médias
anuais variam entre 1200 mm a 1400 mm, exceto no ano de 2012 onde a média
atinge apenas 800 mm.
Considerações Finais
O presente relatório teve como intuito apresentar os resultados finais da pesquisa sobre os desafios e perspectivas dos recursos hídricos no povoado Ribeira em Itabaiana/SE, em específico sobre as condições biofísicas da paisagem estudada. Como produtos, foram elaborados os mapas de Geologia, Geomorfologia, Solos, Hidrografia, Hipsômetria e de Declividade o que subsidiará a análise acurada e detalhada ao final da pesquisa. Ademais, foram construídos gráficos de variabilidade, médias anuais e trimestrais de pluviometria com dados do posto de perímetro irrigado da Barragem da Ribeira, dados estes que foram obtidos com o pessoal da COHIDRO, responsáveis pelo posto. As nascentes e o Riacho Ribeirinha sofrem impactos ambientais e precisa ser preservados, pois o perímetro irrigado do município não beneficia o povoado levando em conta os fatores físicos mas também políticos que podem interferir neste aspecto, apesar da população do povoado não ter uma agricultura muito desenvolvida e sim a pecuária. Além disso, a área pesquisada precisa-se de mais fiscalizações na nascente da micro-bacia e em todo a rede hidrográfica para assegurar que o Riachinho da Ribeira se mantenha vivo, preservando as matas ciliares e as áreas de preservação permanente. Com isso, também deve se fiscalizar os barramentos ilegais no corpo da micro-bacia para que não haja uma perda de capacidade da mesma, influenciando assim nos impactos ambientais.
Agradecimentos
Referências
AYOADE, J. O. Introdução a climatologia para os trópicos. 5ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
CHRISTOFOLETTI, Antônio. Geomorfologia. 2ª ed. São Paulo, Edgard Blucher, 1980.
COX, C. & MOORE, P.D. Biogeografia: uma abordagem ecológica e evolucionária. Rio de Janeiro: LTC, 2009.
FRANÇA, Vera Lúcia; CRUZ, Terza Souza. Atlas Escolar Sergipe: Espaço Geo-histórico e Cultural. João Pessoa, PB: Grasfest, 2007.
LEIZ, Viktor; AMARAL, Sérgio Estanislau do. Geologia Geral. 14ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacioanl, 2003.
MACHADO, Carlos José Saldanha. Meandros do Meio Ambiente: Os recursos hídricos na economia e no cenário internacional. 2º ed. Rio de Janeiro: E-Papers Serviços Editoriais, 2005.
MACHADO, Pedro José de Oliveira; TORRES, Fillipe Tamiozzo Pereira. Introdução a hidrogeografia: Textos básicos de geografia. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
MENDONÇA, Francisco. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficinas de Textos, 2007.
MOURA NETO, Alcides de. Mapeamento Geomorfológico-Geológico na área do Domo de Itabaiana/SE. 2013/2014. 34F. Trabalho de Iniciação Científica (PIBIC/COPES) Universidade Federal de Sergipe, Itabaiana, 2013/2014. [Orientador: Prof. Dr. Cristiano Aprígio dos Santos].
RIBEIRO, Wagner Costa. Geografia Política da Água: Coleção Cidadania e Meio Ambiente. 1º ed. São Paulo: Annablume, 2008.
ROOS, Jurandyr L. Sanches. Geografia do Brasil. 6ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014.
SILVA, Jorge Xavier da; ZAIDAN, Ricardo Tavares. Geoprocessamento & análise ambiental. 7ª ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2003.
SUGUIO, Kenitiro. Geologia Sedimentar. São Paulo: Edgard Blucher, 2003.