Autores
Alencar, D. (UNIIFESSPA) ; Vidal, M.R. (UNIFESSPA)
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo discutir as características pedogeomorfológicas do Parque Estadual Serra dos Martírios/Andorinhas, a fim de entender a relação da geomorfologia e pedologia, associando as dinâmicas da paisagem. Para tanto, faz se uso de referências bibliográficas e o cruzamento dos mapas geomorfológico e pedológico. Pode-se verificar então, cinco unidades geomorfológicas na qual dera origem a dois tipos de solos bastante distintos. O que se insere a importância dos estudos pedogeomorfológicos em unidade de conservação.
Palavras chaves
PEDOGEOMORFOLOGIA; PAISAGEM; RELAÇÕES LATERAIS
Introdução
A problemática ambiental discutida nos últimos anos, mostrou através de diversos estudos a intensificação da degradação dos meios naturais, esse fator gerou impactos de diversas ordens e uma grande preocupação para com o futuro das espécies que compõe os geossistemas. Como estratégia e medidas de gestão dos recursos naturais e amenização destes impactos, tem-se de forma geral a implantação e efetivação das Unidades de Conservação no Brasil. As Unidades de conservação (UCs) são áreas naturais criadas e protegidas pelo Poder Público, seja ele municipal, estadual ou federal. As UCs sistematizadas e organizadas a partir do SNUC, Lei nº 9.985, de 2000, que rege o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. O SNUC dividiu as unidades em dois grupos distintos: as Unidades de Proteção Integral (Grupo I) - que propõem a preservação da natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, e as unidades de Uso Sustentável (Grupo II) – tendo como objetivo básico compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. O parque Estadual Serra das Andorinhas/Martírios (Pesam) está localizado no Município de São Geraldo do Araguaia, no Sudeste do Pará, na divisa do Estado do Pará com o Estado do Tocantins, separados pelo Rio Araguaia. O acesso a área é realizado através da rodovia BR 153.Tem uma área de 26.000 hectares com uma população estimada na APA (área de entorno) de 700 habitantes (PARÁ, 2006). Na Área de Amortecimento do Parque é possível a habitação de moradores que tiram da terra seu sustento através da agricultura familiar, residindo em pequenas vilas, que na sua maioria são localizadas as margens do Rio Araguaia. O clima da cidade de São Geraldo do Araguaia, no Sudeste do Pará, é quente- úmido, classificação de Köppen (1936) correspondendo ao tipo climático “Aw5”, que são climas com temperatura média de 26°C, tendo um período seco e um chuvoso ao longo do ano, com níveis pluviométricos que podem chegar a 2000 mm no período de chuva. O parque é representado pela formação Morro Campo, onde, esta formação é composta por rochas quartizíticas contendo dezenas de metros, apresentando variações petrográficas, modificando seus aspectos naturais e mineralógicos (PARÁ, 2006). Pode-se observar extensas áreas abruptas com escarpas de falhas e amplitudes que variam de 250 a 300m. (SOUZA e SENNA, 2002), no topo dos platôs, podemos observar feições residuais reuniformes, que são resultantes da dissecação singular do relevo em virtude das diversas litologias presente, esse ambiente propicia o desenvolvimento de diversas cavernas. Os vales profundos seguem uma descontinuidade com estrutura do Parque, que de modo geral são bem encaixados. Sua rede de drenagem é caracterizada como padrão misto, que varia de dendrítico a treliça, tendo como principais agentes de drenagem o Rio Sucupira e seus afluentes (PARÁ, 2006). O relevo é caracterizado na área de estudo como extremamente acentuado, com grandes extensões de escapas, platô aplainado além de um alinhamento de drenagem que tem como principal agente o Rio Sucupira e seus afluentes. Esses aspectos têm influência direta nos condicionantes pedológicas na área. A hidrografia do parque tem a bacia do Sucupira como principal curso hidrográfico, a drenagem perene possui os padrões semi-dendríticos e lineares que vão desaguando no Rio Araguaia (PARÁ, 2006). A vegetação do Parque é distinta como ecótono cerrado/amazônico (COUTINHO, 1978). Pedologicamente, a área é constituída por solos de textura arenosas e argilosa, sendo em sua maior parte constituído por solos novos, na qual possuem dificuldade de formação devido a intensa erosão causada pelas áreas de relevo acentuado. Encontra-se solos com presença significante de argila em seu horizonte B, possuindo uma tonalidade avermelhada devido a presença do ferro que entra em oxidação durante a troca de cátions (LEPSCH, 2011).
Material e métodos
Para a análise pedogeomorfológico da área de estudo, foram elaborados os seguintes mapas: mapa Hipsométrico, fazendo uso do Shapfile de limite municipal do Estado do Pará e da UC do Pesam (IBGE, 2010), imagem SRTM cenas sb-22-x-d e sb-22-z-b da EMBRAPA (2012) para retirar as cotas altimetrias aplicando a função “Contorno” no software Qgis; Mapa Geomorfológico, usando imagens SRTM (cenas sb-22-x-d e sb-22-z-b) retiradas no site da EMBRAPA (2012), dados Shapfile de delimitação municipal do Pará e da UC do Pesam com base no IBGE (2010), além de manipulação, sobreposição e classificação das unidades geomorfológicas e cotas altimétricas com o software Qgis, identificando as unidades geomorfológicas por meio do Manual Técnico Geomorfológico do IBGE (2009). Mapa Pedológico para a delimitação da área do Parque estadual Serra dos martírios/andorinhas e de solos em arquivos do tipo Shapfile (IBGE, 2010) para ser manuseado e categorizado no software Qgis. Ambos os mapas acima, deram condição para a elaboração do mapa Pedogeomorfológico, construído a partir da sobreposição dos dados utilizados na elaboração dos mapas pedológico e geomorfológico, com informações das ordens dos solos do Pesam e sua altimetria, aplicadas no software Qgis. Para fundamentar tais processos, foram coletadas informações técnicas da área de estudo no plano de manejo do Parque Estadual Serra dos Martírios/Andorinhas (PARÁ, 2006) e cruzados com os dados do RADAM-Brasil (1980).
Resultado e discussão
Aportes de Nobrega et al (1992) e Gasparetto et al (1995), e Ruellan & Dosso
(1993), afirmam que o entendimento do mosaico de solos possibilita gerar
subsídios para o diagnóstico e prognóstico tanto do controle como da
prevenção dos processos em uma dada paisagem.
Um aspecto de suma importância para a compreensão das relações
pedomorfológicas se dar através da altimetria que é a representação gráfica
do relevo. Para a área em estudo, a altimetria possui cotas que variam de
200m e podem chegar a 500m, possuindo formas de cristas e com topo
aplainado, facilitando o processo de erosão do relevo (Figura 1).
Já na APA, que é a área de entorno do Parque, podemos observar uma extensão
mais aplainada, com poucas elevações, áreas de vale e possivelmente áreas
depressivas passiveis de inundação, com altimetria que variam abaixo de
200m.
Para a caracterização geomorfológica, foi produzido o mapa Geomorfológico
(Figura 2), composto por cinco unidades geomorfológicas na qual estão sendo
representadas com cores espectrais. Determinou-se então, a planície fluvial
que corresponde as partes mais baixas da área de estudo, são também áreas de
depressão passíveis de inundação, além de representar também áreas que
compõe e margeiam os rios. Essa unidade corresponde as cotas de 125 metros,
e confere aproximadamente 30% do total da área de estudo. Outra unidade é
pontuada pelas escapas, que estão representadas pelas cotas topográficas com
médias de 231metros, com desníveis abruptos formados por processos erosivos
que faz divisão entre a planície fluvial e o planalto dissecado.
Os planaltos foram descritos e estão distribuídos em conjuntos de relevos
planos e ora dissecados, em alguns momentos o processo de erosão supera o de
sedimentação. Os planaltos do tipo dissecados na área em estudo, estão
representados no mapa pelas cotas topográficas que vão de 337metros à
443metros com relação ao nível do mar.
No platô encontram-se estruturas reuniformes tidas como formas individuais
da dissecação do relevo. O conjunto rochoso apresenta inúmeros abrigos e
cavernas que, associados às estruturas reuniformes que dão aspecto
labiríntico à área (PARÁ, 2006).
Compreender o funcionamento e a estrutura pedológica requer sobretudo
entender as relações entre o relevo e solo, ou seja, como estes se
distribuem na paisagem bem como suas interações.
No tocante aos solos que permeiam o Parque Serra dos Martírios/Andorinhas
(Figura 3), verifica-se o predomínio dos Neossolos (cobrindo mais de 90% da
área mapeada) e Argissolos (com quase 9% do total da área). Importa saber
que em níveis gerais os solos do Pará sofrem diretamente erosão pluvial,
pelas derrubadas e queimadas atrelados aos altos índices de chuvas que
caracterizam a região norte.
Os neossolos são caracterizados como solos novos e pouco desenvolvidos
mineralmente, possuir uma fina camada de material orgânico, não apresentando
horizonte diagnóstico do tipo B (EMBRAPA, 2006). A subordem deste solo
encontrado no parque se classifica como os neossolos litólicos, que são
categorizados como solos que surgem a partir de fragmentos rochosos como
cascalho, calhaus e matacões, apresentando um formato lítico ou possuindo
fragmentos rochosos à 50cm da superfície. Estes possuem um início de
formação ou fina camada de horizonte B, não chegando a uma espessura
satisfatória. A presença dos neossolos litólicos justificam-se pelo relevo
acidentado existente no Parque.
No tocante aos argissolos, apresentam horizonte B textural, podendo-se
localizar abaixo dos horizontes A ou E, onde pode conter baixas ou altas
atividades com argila. EMBRAPA (2006). Sua subordem é denominada como
argissolo vermelho-amarelo devido à presença dos óxidos de ferro hematita e
goethita encontrados na maior parte dos 100cm do horizonte B. São conhecidos
pelos solos profundos, bem drenados e textura que varia de media/argilosa a
media/muito argilosa. O mapa de solos do Parque Serra das
Andorinhas/Martírios foi sistematizado na (Figura 3).
A partir da elaboração e determinação das unidades geomorfológicas e
pedológicas, foi possível a elaboração do mapa pedogeomorfológico (Figura
04). Este tem como foco associar os tipos de solos com as formas do relevo
na paisagem. Para tanto, observa-se que os neossolos se apresentam nas áreas
onde o relevo é mais acentuado, evidenciando o nível de erosão maior que o
nível de sedimentação. Esse aspecto impede a formação de solos profundos,
bem desenvolvidos com horizonte B. Nas áreas escarpas, localizam-se os
neossolos, solos novos devido sua localização em relação ao relevo, estes
solos também sofrem intensos processos de erosão.
Nas áreas mais rebaixadas pontua-se os argissolos, solos profundos com um
extenso horizonte B textural (EMBRAPA, 2006), que se distribui por todas as
áreas mais rebaixadas do Pesam. Há intensa sedimentação devido sua
localização, as margens de escarpas e planaltos dissecados, formando camadas
de solos com um possível significante percentual de argila em seu horizonte
B. A subclasse deste solo é o Argissolo Vermelho-Amarelo, coloração advinda
da oxidação do ferro em regiões tropicais úmidas, onde o intemperismo é mais
intenso, fazendo com que seja removida a maior parte de sílica, minerais
mais facilmente intemperizáveis no perfil (LEPSCH, p. 98, 2011).
Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Alencar, 2017.
Fonte: IBGE, 2010; EMBRAPA, 2012. Elaborado por Alencar, 2017.
Fonte: IBGE, 2010, EMBRAPA, 2012. Elaborado por Alencar, 2017.
Fonte: IBGE (2010); EMBRAPA (2012). Elaborado por Alencar, 2017.
Considerações Finais
Entender a estrutura e o funcionamento da cobertura pedogeomorfológica requer o uso de métodos e técnicas que auxiliem o entendimento das relações entre o solo e o relevo, ou seja, da sua distribuição na paisagem. A relação solo/geomorfologia nos permitiu entender algumas das diversas dinâmicas no Parque, como a formação de expressiva de neossolos que se localizam às margens das áreas escarpadas e planaltos dissecados em constante erosão, os Argissolos por sua vez, se dispõem em áreas rebaixadas como a planície fluvial que recebe bastante sedimentos possuindo maior sedimentação. O estudo agregado de solo e relevo possibilita uma melhor organização do espaço, onde através dos dados podemos prevenir impactos nas áreas habitadas, explorar setores de potencial como as áreas espeleológicas e ou arqueológicas existentes no Parque.
Agradecimentos
Aos professores do laboratórios de Geografia Física (Maria Rita e Abraão Levi) pelo apoio, dedicação e cooperação.
Referências
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