Autores
Rodrigues, R.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; de Oliveira, J.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Santos, L.J.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ)
Resumo
Partindo do pressuposto de que o relevo é um importante agente controlador da distribuição das classes de solo na paisagem, essa pesquisa teve como objetivo a produção de mapas preditivos de solos em duas bacias hidrográficas localizadas na região Noroeste do estado do Paraná, a partir da utilização de atributos topográficos. As áreas estudadas constituiem-se em duas sub-bacias localizadas na região noroeste do estado do Paraná, na porção norte e sul do rio Ivaí, uma área caracterizada pela predominância dos Latossolos com textura arenosa ou areno-argilosa, originados de rochas do Grupo Caiuá. Para a realização do trabalho, utilizaram-se técnicas de mapeamento digital de solos com base no Modelo Digital do Terreno (MDT). A partir do MDT foram extraídos atributos topográficos, e esses atributo foram integrados através da técnica de álgebra de mapas, buscando agrupar áreas com características de relevo similares, e a possibilidade de ocorrência de solos semelhantes. Como resultado, foi gerado um mapa preliminar de solos para cada uma das bacias.
Palavras chaves
Latossolos; Mapeamento digital de solos; Noroeste do Paraná
Introdução
Os solos possuem uma grande importância na vida e nas atividades humanas, por conta disso, torna-se indispensável o conhecimento da sua distribuição na paisagem. Segundo McBratney et al. (2000) para um manejo eficaz do solo é necessário compreender sua distribuição espacial, permitindo a tomada de decisões sábias a respeito de seu uso. Situada no terceiro planalto paranaense (MAACK, 1981) a região noroeste do estado do Paraná é caracterizada pela presença de rochas do grupo Caiuá, recobertas por solos de espessuras variadas, em geral de texturas arenosa e areno-argilosa (NAKASHIMA, 1999). Embora os Latossolos e os Argissolos sejam predominantes na região noroeste, a sua distribuição é heterogênea, na margem norte do rio Ivaí ocorrem com maior frequência os Latossolos, enquanto que na margem sul há uma maior expressão dos Argissolos. Essa distribuição diferenciada é observada mesmo com toda a área estando inserida em condições climáticas e geológicas semelhantes (COUTO, 2015). Ainda segundo Couto (2015), esta diferença na distribuição dos solos é acompanhada também por características distintas do relevo e das taxas denudacionais em ambas as porções do rio Ivaí. A bacia ribeirão Paranavaí com 523km², fica entre os municipios de Paraíso do Norte, Nova Aliança do Ivaí, Mirador e Paranavaí, onde há predominância de colinas amplas com topos levemente convexados, vertentes longas (mais de 1000m) de baixa declividade (1% a 2%). As classes do primeiro nível categórico de solos observadas na região são Argissolos e Latossolos, com inicio da transformação lateral para Argissolo somente na baixa vertente (NAKASHIMA, 1999). A bacia do rio Itaoca, com 257m², encontra-se na margem sul do rio Ivaí entre os municípios de Rondon, Cidade Gaúcha e Guaporema. A área em questão, segundo Nakashima (1999), possui vertentes convexas retilíneas medindo entre 500 e 1700 metros, a declividade no topo varia entre 0 e 5%; na média vertente é de 5 a 12% e no terço inferior encontra-se declividads de 12 a 30%, ou até superiores a 30%. O solo da alta vertentente até a média vertente é composto de Latossolos vermelhos com textura média, ocorrendo a transformação lateral para Argissolo da média vertente em direção a jusante. O objetivo do presente trabalho foi produzir mapas preditivos representando as classes do relevo com características semelhantes em ambas as bacias, a partir de técnicas de tabulação cruzada, com o uso de atributos topográficos.
Material e métodos
Inicialmente foi gerado um modelo digital do terreno (MDT) utilizando o algoritimo Anudem aplicado através da ferramenta topo to raster no software ArcGis 10.1. O MDT foi gerado com célula de 20 metros, a partir das curvas de nível com equidistância de 20 metros, pontos cotados e hidrografia, sendo que os pontos cotados e as curvas de nível tiveram como fonte o Instituto de Terras Cartografia e Geociências do Paraná (ITCG) e a hidrografia a agência Águas do Paraná. A partir do MDT foram extraídos os atributos topográficos primários (declividade) e secundários (índice de posição topográfica e distância vertical da rede de canais), ambos gerados no software SAGA GIS. Para a realização da tabulação cruzada, os atributos foram discretetizados, separando os valores em três classes. O Índice de posição topográfica (IPT), que segundo Weiss (2011), compara a célula de um MDT com a elevação média em um raio ao redor da célula; a declividade, que expressa em porcentagem a declividade baseando-se em um MDT e a distância vertical da rede de canais, que apresenta a profunidade dos canais em comparação vertical com o divisor de águas. A tabulação cruzada deu origem a um arquivo com 27 valores contínuos, que posteriormente foram separados nos 3 grupos. A etapa seguinte consistiu na aplicação do método de tabulação cruzada, que segundo Silveira (2010), consiste na sobreposição dos atributos, e executadas operações de cáculo em ambiente SIG. O arquivo gerado a partir da soma matricial foi dividido em três grupos, sendo que este número foi escolhido em função das características geomorfológicas da área. Os resultados obtidos foram comparados com pontos de coleta e descrição de solos (EMBRAPA, 1984), e usados como parâmetro de validação para os mapas preliminares confeccionados. Os pontos tiveram como fonte o levantamento de reconhecimento dos solos do estado do Paraná (Tomos I e II), elaborado pela EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (1984), uma vez que não houve possibilidade de ida a campo. Essa comparação com os pontos de amostragem teve como objetivo a validação do trabalho realizado, sendo necessário para isso, alguns pontos que mostrassem a distribuição dos solos em campo.
Resultado e discussão
Em ambas as bacias, o resultado da tabulação cruzada foi dividido em três
grupos com características geomorfológicas semelhantes. Os grupos foram os
seguintes:
• Grupo 1: áreas localizadas no terço inferior da vertente, com
ocorrência dos Argissolos.
• Grupo 2: área na média vertente com maiores declividades,
caracterizada como área de transição Latossolo-Argissolo, com ambas as classes
de solo podendo ser encontradas nas áreas representadas por esse grupo.
• Grupo 3: áreas com baixa declividade, localizadas nos terços superior
e médio das vertentes, com ocorrência dos Latossolos.
Como resultado obteve-se os seguintes mapas preditivos, representando a
espacialização de cada grupo para ambas as bacias (Figuras 1 e 2).
De acordo com a localização espacial dos pontos de amostragem de solos
utilizados para controle, os resultados apresentados nos dois mapas preditivos
finais, se mostraram muito coerentes com o encontrado em campo, uma vez que os
pontos de Argissolos localizaram-se sobre os grupo 1 e os pontos de Latossolos
localizaram-se sobre o grupo 2 e 3.
Embora ambas as bacias estejam inseridas em condições regionais semelhantes,
existe uma diferenciação na distribuição dos três grupos entres as duas
bacias, sendo que a bacia localizada na margem norte do rio Ivaí apresenta 7%
da área total da bacia no grupo 1, 10% no grupo 2 e 83% no grupo três, já a
bacia localizada na margem sul apresenta 5% no grupo 1, 14% no grupo 2 e 83%
no grupo 3.
Essa diferenciação na distribuição dos grupos, embora pequena, é explicada
principalmente pelo atributo declividade e pelas próprias características das
vertentes encontradas em cada bacia, segundo Couto (2015), essa diferença na
distribuição dos grupos entre a margem norte e sul ocorre, pois, as formas das
vertentes são diferentes em cada uma delas, contendo taxas denudacionais
distintas e consequentemente a transformação Latossolo-Argissolo vai ocorrer
de forma diferenciada em cada uma das margens do rio Ivaí.
Mapa preditivo representando a distribuição dos grupos dentro da bacia do ribeirão Paranavaí.
mapa preditivo representando a distribuição dos grupos dentro da bacia do rio Itaoca.
Considerações Finais
Os resultados finais dos mapas preditivos gerados foram compativeis com a informação que contém nos pontos do levantamento da EMBRAPA (1984), utilizado como controle para a pesquisa. O uso de técnicas de pedometria para o mapeamento preditivo de solos se mostrou eficaz quando empregado os atributos que melhor se encaixam com as características da área a ser mapeada, juntamente com o conhecimento técnico na área de pedologia pelo pesquisador, sendo este último indispensável.
Agradecimentos
Referências
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