Autores
Barbosa, A.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA) ; dos Santos, G.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA)
Resumo
A quantificação de geossítios pode ser utilizada para a tomada de decisões pelo poder público, no intuito de proteger o patrimônio geológico. Este trabalho tem como objetivo quantificar o patrimônio geocientífico da bacia do Rio de Ondas. Esta bacia traz à baila particularidades do ponto de vista da evolução geológica e geomorfológica, do noroeste do Cráton do São Francisco. O cálculo do Índice de Geodiversidade do Patrimônio Geocientífico, de cinco geossítios da bacia, baseou-se em um posicionamento por ranking seguindo a fórmula P=M/D, onde P é a Geodiversidade múltipla ponderada obtida pela soma das classes encontradas em cada geossítio para cada classe, M é o número de classes e D a distância dos geossítios de um mesmo ponto de partida. Os geossítios apresentaram elementos relevantes que podem ser utilizados para atividades científicas e educacionais. Atestada a relevância geocientífica da bacia torna-se necessária a aplicação de estratégias geoconservação.
Palavras chaves
Valoração; Índice de Geodiversidade; Rio de Ondas
Introdução
A Geodiversidade é um termo recente usado nas Geociências, o qual trata de aspectos abióticos do meio ambiente como rochas, minerais, rios, lagoas e paisagens, o que o distingue da biodiversidade, que trata dos seres bióticos. A Geodiversidade não se popularizou no meio científico como a biodiversidade, autores como Brilha (2005), Manosso e Ondicol (2012), sugerem que isto ocorre devido à falta de metodologias para a identificação, inventário, classificação, reconhecimento, valorização, divulgação e proteção. A Geoconservação é a necessidade de conservar o Patrimônio Geológico, o qual é quantificado por valores que são atribuídos ao geossítio, conforme suas características geológicas, geomorfológicas e hidrológicas. Para Brilha (2005), o Geossítio é definido como a ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade, demarcado geograficamente e que apresentem valor singular do ponto de vista científico, pedagógico,cultural, turístico ou outros.Enquanto, Patrimônio Geológico é definido como conjunto de geossítios inventariados numa determinada àrea ou região. Para Pereira (2010), a quantificação de geossítios é de suma importância para a gestão territorial, pois, só a partir desta quantificação pode-se avaliar os potenciais que cada local possui, para que iniciativas de conservação possam ser feitas. A partir destas valorações dos elementos naturais surgiram metodologias para classificar o Patrimônio Geomorfológico para além de suas geoformas. No entanto, na atribuição de valores a estes elementos encontra-se uma dificuldade, posto que, os ambientes são singulares e terão suas características individuais conforme o uso ou interesse vinculado ao local. Assim, estratégias de geoconservação começaram a ser propostas por diferentes autores, cada um com suas especificidades, mas com o objetivo de inventariar e quantificar os patrimônios geomorfológicos. Geologicamente, a bacia do Rio de Ondas está inserida na porção noroeste do Cráton São Francisco, na Bacia Sedimentar do São Francisco. Sua composição litológica abrange unidades: Proterozoicas (Formações São Desidério, Serra da Mamona e Riachão das Neves) pertencentes ao Grupo Bambuí, representado por rochas carbonáticas e metapelíticas. E Fanerozoicas (Formações Posse e Serra das Araras) do Grupo Urucuia, representado por conglomerados, arenitos e siltitos (EGYDIO-SILVA, 1987). O relevo da bacia pode ser divido em três unidades geomorfológicas distintas. Na maior parte da bacia, incluindo suas nascentes na porção centro oeste, encontra-se o Chapadão do Urucuia da Bahia, com variação de altitude de 700 e 926 metros aproximadamente e declividade de no máximo 3%. No extremo leste, nas escarpas erosivas do Chapadão, encontram-se os Planaltos em Patamares que possuem maiores declividades, apresentam relevo forte ondulado e montanhoso (20 a 75% de declividade) com altitudes que variam de 450 e 700 metros. E já na confluência do rio de Ondas com o Rio Grande, este último o principal afluente da margem esquerda do Rio São Francisco, apresenta-se uma pequena porção da Depressão do São Francisco, com altitudes de aproximadamente 450 metros e declividade de 3 a 8% (SANTOS e CASTRO, 2016). Este trabalho propõe quantificar o valor geocientífico de geossítios de interesse geomorfológico da bacia do Rio de Ondas, situada na região oeste da Bahia abrangendo os municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães (Figura 1). A sua escolha se deu devido à carência em pesquisas de Geoconservação e a singularidade do arcabouço geológico local, suas aplicações diretas e indiretas no processo de ocupação territorial, na atividade do agronegócio, agricultura familiar e recreação, sendo uma região de grande importância econômica para o estado.
Material e métodos
A primeira etapa da metodologia consistiu em uma revisão bibliográfica das diversas metodologias usadas para a quantificação de geossítios, para fazer a adaptação daquela que mais se enquadrasse no presente estudo. O Índice de Geodiversidade do Patrimônio Geocientífico foi calculado a partir de uma adaptação da metodologia de Xavier-Da-Silva (2001), baseada em um posicionamento por ranking seguindo a fórmula P=M/D, onde P é a Geodiversidade múltipla ponderada obtida pela soma das classes encontradas em cada geossítio para cada classe, M é o número de classe e D a distância do ponto de partida (UFOB), na qual foi abordada a Geodiversidade Específica do Patrimônio Geocientífico à partir dos parâmetros relacionados à geomorfologia: Litologia: Sedimentar, Metamórfica, Coberturas Inconsolidadas. Solos: Latossolo Vermelho-Amarelo; Neossolo Flúvico; Neossolo Litólico; Neossolo Quartzarênico; Gleissolo. Componentes Curriculares: Sedimentologia; Geologia Geral; Hidrologia; Estratigrafia; Geoturismo; Geologia de Engenharia; Geologia Ambiental; Geotecnia; Neotectônica; Recursos Hídricos; Geomorfologia Fluvial; Biogeografia; Pedologia; Gestão Ambiental; Mecânica dos solos. Unidades Geomorfológicas: Chapadão do Urucuia; Planalto em Patamares; Depressão do São Francisco; Processos Geomorfológicos: Rastejo; Escorregamento; Queda; Voçoroca; Sulcos; Ravinas. Geoformas: Rampa de Colúvio; Planície de Inundação; Canal Fluvial; Canal Efêmero; Turbilhonamento do Fluxo Fluvial; Morro Testemunho; Feições Ruiniformes; Vereda. Idade: Fanerozoico; Cretáceo; Neoproterozoico Formação: Fm. Serra das Araras; Fm. Posse; Fm. Serra da Mamona; Fm. Riachão das Neves. Os parâmetros classificados estão relacionados a geologia e geomorfologia da àrea de estudo, as Idades das rochas, as Geoformas encontradas nos cinco geossítios; as Formações geológicas presentes na Bacia do Rio de Ondas, suas unidades geomorfológicas, assim como Solos, Litologia e Processos Geomorfológicos. Os Componentes Curriculares estão relacionados aos cursos que a UFOB possui e que estão vinculadas aos temas que podem ser abordados nos geossítios. A distância dos geossítios ao ponto de partida pode facilitar o deslocamento, quanto mais próximo o geossítio mais fácil o deslocamento para estudos de campo. Assim foram quantificados cinco geossítios: Geossítio Panorâmico, Geossítio Canal Efêmero, Geossítio Pedologia, Geossítio Movimento de Massa e Geossítio Morfotectônico. Para a quantificação do Patrimônio Geocientífico da bacia do rio de Ondas, foram utilizados os geossítios inventariados e descritos, em um roteiro de campo projeto resultante de um projeto de iniciação cientifica intitulado como “Patrimônio Pedogeomorfológico da Bacia do Rio de Ondas: Geossítios de Relevância Científica”, já parcialmente divulgado em Nepomoceno Jr. et al. (2016). A escolha dos pontos de geossítios foram determinados a partir de mapas confeccionados por Nepomoceno Jr. (2016) através de um mapeamento em que se identificou áreas com potencial material didático.
Resultado e discussão
A tabela 1 apresenta o Índice de Geodiversidade do Patrimônio Geocientífico,
com os parâmetros que cada geossítio apresentou e sua respectiva distância
ao ponto de partida e figura 2 ilustra os geossítios e suas localizações.
O maior Índice de Geodiversidade do Patrimônio Geocientífico foi
apresentado pelo Geossítio Canal Efêmero, o qual se caracteriza por
comportar água em apenas um período do ano proveniente do aumento do índice
pluviométrico, o nome desse geossítio provém da principal geoforma presente
no local. Esta dinâmica pode ser abordada em disciplinas como
Geomorfologia Fluvial, Sedimentologia, Geologia Geral, Gestão de Recursos
Hídricos e Construção de Estradas. Este Geossítio apresentou a menor
distância ao ponto de partida, o que foi preponderante para a sua
classificação, apresentando uma variedade em Geoformas (4) e Componentes
Curriculares (4).
O Geossítio Panorâmico é definido como o local onde é possível ter uma vista
privilegiada de aspectos geológico-geomorfológicos (MEIRA e SANTOS, 2016),
com uma ampla visão da paisagem diversos temas podem ser abordados, como
formas de relevo, processos erosivos, compartimentação da paisagem,
taxonomia do relevo. Esta característica proporcionou o segundo lugar deste
geossítio no ranking, por possuir maior número de Componentes Curriculares à
serem abordados.
O Geossítio Panorâmico apresenta as feições de relevo residuais de
topo plano decorrentes da erosão diferencial regressiva e recuo das escarpas
dos morros, morrotes e serras na área da bacia, proporcionando a observação
das formas de relevo presentes na área. Com uma ampla observação da paisagem
diversos temas podem ser abordados, como formas de relevo, processos
erosivos, compartimentação da paisagem, taxonomia do relevo. Além de
apresentar uma vista privilegiada de toda a área urbana da cidade de
Barreiras, o que possibilita discussões a respeito da análise geomorfológica
em áreas de expansão urbana, bem como suas implicações para o planejamento.
O Geossítio Morfotectônico, que se caracteriza por um trecho retilíneo do
rio de Ondas, que apresenta mudanças abruptas de direção com ângulo reto,
decorrente de falhas e fraturas que facilitam o percurso da água.
A morfotectônica é o estudo que relaciona a tectônica recente e as feições
morfológicas, assim componentes curriculares como a Neotectônica,
Hidrogeologia e Geomorfologia Fluvial podem ser abordadas, as quais abrangem
áreas a serem estudadas tanto na Geomorfologia quanto na Geologia, o que
tornou o Geossítio Morfotectônico o terceiro lugar no ranking.
Segundo Janoni et al. (2016), o rio de ondas apresenta importantes
alinhamentos controlados pelas direções E-W e N-S truncando canais
orientados segundo NW-SE, corroborando a atividade neotectônica, que é
condicionante na estruturação do relevo, da rede de drenagem e na ocorrência
dos depósitos sedimentares cenozoicos. O Geossítio apresentou o mesmo número
de Componentes Curriculares (4) e Geoformas (4), os elementos Litologias e
Unidades de Relevo apresentaram 2 registros, as outras classes tiveram
apenas 1, enquanto que os Processos Geomorfológicos não apresentou registro.
O Geossítio Movimento de Massa situa-se a 9,5 km de distância do ponto de
partida, mas apesar da proximidade não apresentou variedade em outros
parâmetros o que o colocou em quarto lugar no ranking. O movimento de massa
são processos de deslizamento e escorregamentos de materiais que ocorrem na
vertente pela ação da gravidade, são processos naturais, mas ações
antrópicas podem intensificar estes processos.
O Geossítio Movimento de Massa fica próximo ao aeroporto de Barreiras, cujo
tráfego de veículos é constante, para Martini (2006) a avaliação das
possibilidades ou riscos para ocorrência desses fenômenos é decisiva nas
obras de construção civil, no planejamento urbano e em empreendimentos que
acarretam alterações no meio. Os Processos Geomorfológicos (3) se apresentam
em maior quantidade, pois nele atua escorregamento, rastejo e quedas, em um
só lugar podem ser abordadas assuntos como Mecânica dos Solos, Estabilização
de Taludes, Processos Erosivos e Movimentos de Massa.
A última posição do índice de Geodiversidade o Patrimônio Geocientífico é o
Geossítio Pedologia, cuja posição se deve, principalmente, a distância do
Geossítio ao ponto de partida. A quantidade de solos próximas uma da outra
otimiza o estudo, pois não precisa haver deslocamento à grandes distâncias
para estudar diferentes solos, portanto, esse geossítio foi classificado
como ponto, por abranger uma área muito pequena.
Os fatores de formação do solo são: material de origem, relevo, clima,
organismos vivos e tempo. O geossítio em questão apresenta solos muito
próximos entre si, e distintos. A geomorfologia e a litologia está
intimamente ligada à gênese do solo, afinal a topografia e o tipo de rocha
interferem no escoamento e percolação da água da chuva. Assim, em alguns
lugares do geossítio houve uma percolação maior de água ou não, fazendo com
que houvesse um desenvolvimento diferente de solos. Apesar da variedade,
este Geossítio é o mais distante do ponto de origem, o que foi determinante
para sua uma colocação no ranking.
Trajetória dos geossítios ao ponto de partida.
Considerações Finais
Todos os geossítios apresentaram significativos valores relacionados aos parâmetros para componentes curriculares, o que proporciona uma variedade de assuntos que podem ser trabalhados, os parâmetros de litologia e formação não variaram muito, assim como idade, unidades geomorfológicas e processos geomorfológicos. O que foi preponderante para o Índice do Patrimônio Geocientífico foi à distância da área de estudo até o geossítio. Devido à este parâmetro o Geossítio Canal Efêmero apresentou o melhor índice. A distância dos Geossítios do ponto de partida, que é a Universidade Federal do Oeste da Bahia, facilita a locomoção e a abordagem de diversos temas da geociências. Afinal,as características distintas dos geossítios contribuem na variedade de componentes curriculares que podem ser englobados, uma vez que a universidade possui cursos com afinidade na Geociências mas com enfoques diferentes, são eles: Geologia, Geografia, Engenharia Civil, Engenharia Sanitária e Ambiental e Biologia. O Geossítio Canal Efêmero contém temas que podem ser abordados pelos cinco cursos citados, assim como os demais geossítios que apresentam potencial educacional. Os geossítios possuem uma função além da sua conservação, mas, principalmente, os de conhecimento afinal só através de lugares onde há a preservação pode-se entender a dinâmica terrestre, e com pesquisas científicas a sociedade aprenderá a lidar com todas as mudanças que o planeta sofre e se adequar a estas mudanças.
Agradecimentos
Agradeço a PROPGPI/UFOB pela concessão de bolsa assim como todo o apoio para realização da pesquisa.
Referências
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MEIRA, S. A.; SANTOS, G. B. Inventário e Quantificação da Potencialidade Educativa do Patrimônio Geológico da Serra dos Tapuias, Riachão das Neves (BA). Caminhos de Geografia (UFU), v. 17, p. 34-52, 2016.
NEPOMOCENO JUNIOR, J. C.; LIMA, L. C.; SANTOS, G. B. Mapeamento Pedogeomorfológico como subsídio para a patrimonialização de geossítios de interesse científico na bacia do rio de Ondas. In: XI Simpósio Nacional de Geomorfologia - Geomorfologia: compartimentação da Paisagem, processo e dinâmica, 2016, Maringá. Anais... XI SINAGEO, 2016.
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