Autores
Quoos, J.H.Q. (INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA) ; Figueiró, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA)
Resumo
A preocupação central do trabalho foi dar destaque ao patrimônio geomorfológico por meio da interpretação e do reconhecimento das potencialidades da impressionante geodiversidade do município de Garopaba ao sul de Santa Catarina. O estudo serviu também para ilustrar a necessidade de diversificar e modernizar as práticas de ensino e divulgação da paisagem como um atrativo turístico, enfatizando os efeitos da educação e as ferramentas utilizadas para o aprendizado e apresentação da geodiversidade do município. Na primeira parte do trabalho há uma apresentação da geodiversidade local seguida de contextualização com as atividades econômicas e ocupação. Posteriormente é apresentado algumas ferramentas e materiais utilizados para o ensino e na terceira parte são propostas de ferramentas para a interpretação do patrimônio geomorfológico que potencializam Garopaba com um atrativo turístico de geodiversidade.
Palavras chaves
geodiversidade; educação; garopaba
Introdução
Com câmpus no município em Garopaba, SC o Instituto Federal de Santa Catarina busca gerir, divulgar e aplicar conhecimento e inovação que contribuam para o desenvolvimento socioeconômico e cultural no município e região. Para isso, reconhecer as potencialidades no município de Garopaba, SC para a interpretação do patrimônio geomorfológico é valorizar a rica geodiversidade local, que pode ter valor atribuído a questões culturais, sentimentais, econômicos e até históricas. Um dos caminhos é por meio de unidades curriculares em cursos profissionalizantes que envolvem o Turismo e Meio Ambiente no câmpus. Essa ação exige estudar algumas particularidades da geodiversidade do município, encontrar meios de difundir o conhecimento sobre a mesma e destacar as potencialidades da mesma nas aulas e em ações locais. A própria geomorfologia de Garopaba, município do litoral sul catarinense, é algo de grande importância desde as ocupações pré-coloniais. Tanto que conforme Besen (1980) a primeira citação registrada de Garopaba é dada ao termo grafado como Yeupaba na Carta de Turim (Geocarta Nautica Universale de Giovani Vespucci), publicada em 1523. Este nome foi dado pelos tupis-guaranis a região e significa: enseada, arco, local de fácil acesso para os barcos. Suas peculiaridades na geomorfologia costeira também tem outros registros históricos que permeiam hoje na valorização do patrimônio histórico-cultural mas retratam junto o natural. Um exemplo é a aquarela Villa Nova do francês Jean Baptiste Debret de 1828, onde podemos destacar a armação baleeira (configuração da costa catarinense em tempos coloniais) na enseada e o destaque a presença de ilhas, dunas, morros e promontórios. Já na década de 1970 a pequena comunidade pesqueira passa a receber atenção para o turismo e principalmente para a prática do surf devido à qualidade das ondas e a beleza da paisagem local. Desde então a economia local tem sido voltado ao turismo de sol e mar (COSTA, 2016). Mas além das praias o município tem como atrativos naturais elementos da geodiversidade que podem receber grande destaque no turismo e na educação como lagoas, cachoeiras, o matacão granítico da Pedra Branca, a pareidolia da Esfinge na Ponta do Galeão, oficinas líticas nos diques de diabásio costeiros, inscrições rupestres no promontório da Ponta da Velha e trilhas locais como a Trilha dos Cavaleiros sobre a Serra de Paulo Lopes junto a comunidade quilombola do Fortunato e a trilha do Siriú entre dunas e restinga. Uma breve contribuição para explicar melhor esse patrimônio geomorfológico local é de Ab’Saber (2006): De Garopaba, Imbituba à borda sul da lagoa (Laguna). Região de praias sincopadas, entre esporões de maciços costeiros que foram paleoilhas. Pequenas lagoas no reverso dos maciços costeiros, entre fixes de restingas de antigas enseadas marinhas. Grandes possibilidades para um ecoturismo interno, se bem gerenciado e conduzido. Presença de campos de dunas subatuais, fixadas por vegetação rupestre semiarbórea, de grande biodiversidade, a serem melhor protegidas. Sobre a localização do município é importante salientar que o mesmo tem divisão municipal com Imbituba ao sul e sudoeste, Paulo Lopes a norte e noroeste e com o Oceano Atlântico a Leste. Abrangendo sua presença dentro de duas grandes Unidades de Conservação como a Parque Estadual Serra do Tabuleiro (ilhote do Siriú) e a Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (atingido todo o litoral e parte continental). Conforme este limite o município possui uma área de aproximadamente 115,75km² em um perímetro de 67,324 km. Do ponto mais ao Norte ao mais ao Sul são 19,156km de comprimento e do mais ao Leste ao mais a Oeste 12,492km de largura (IBGE, 2015). Do ponto de vista geológico e geomorfológico, Garopaba podem ser divididas em dois domínios principais: Rochas ígneas plutônicas, de idade Pré-cambriana (Neoproterozoica) que dá forma aos morros e os depósitos cenozoicos costeiros que constituem as planícies costeiras (GERCO,2010).
Material e métodos
A pesquisa sobre o patrimônio geomorfológico de Garopaba, SC vem sendo realizado desde 2013 e tem servido para inclusão em ementas de Geociências dos seguintes cursos: FIC (Formação Inicial e Continuada) de Condutor Ambiental Local, FIC de Educação Patrimonial, Curso Técnico em Controle Ambiental na modalidade Concomitante, Curso Técnico em Guia de Turismo Subsequente e no Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, respeitando o projeto pedagógico de cada um. Em 2013 a pesquisa consistiu inicialmente no mapeamento, coleta e reconhecimento em campo de elementos abióticos de destaque para educação em Turismo. Com o uso de um GPS Garmin Etrex 20 e câmera digital SONY Cyber-Shot DSC-HX5V (câmera com GPS) foram mapeadas 7 trilhas locais para uso no curso de Condutor Ambiental Local onde foram levantados os principais atrativos da geodiversidade local. Com o registro das trilhas, em 2014 foram produzidos mapas para uso na sinalização turística do município com destaque a geormorfologia da trilha no mapa. Os mapas foram produzidos utilizando o trajeto coletado pelo receptor GPS no formato gpx e finalizados no Software QGIS v2. Para o mesmo produto foram adicionadas curvas de nível extraídas do Modelo Digital de Terreno (MDT) fornecido pelo Sistema de Informações Geográficas de Santa Catarina (SIGSC), plataforma online de distribuição de dados SIG do Estado de Santa Catarina. Para contextualização sobre a geologia e geomorfologia local foram utilizados as cartas topográfica do IBGE que abrangem o munícipio na escala 1:50.000 (Folha SH-22-X-B-II-2 e Folha SG-22-Z-D-V-4) E o mapeamento Geológico na escala 1:50.000 denominado Projeto Garopaba (BITTENCOURT, 2006) georreferenciadas em formato Raster Geotiff no software Global Mapper v15 e depois distribuídas em no formato KMZ para visualização simultânea as imagens do Google Earth. Em 2015 é montado no câmpus o laboratório de Meio Ambiente e Geomática (MAGe) e novas coletas de campo foram realizadas com o intuito de capturar fotografias em novas perspectivas da geodiversidade local. Para o mesmo foram utilizados a câmera Fujifilm FinePix Real 3D W3 (duplo obturador para fotos em 3D) e a câmera Ricoh Theta (para fotos em 360°). As fotografias capturadas pela Fujifilm foram editadas no software StereoPhoto Maker v5 para o formato de exibição anáglifo e sua exibição exige a utilização de óculos 3D vermelho/ciano de baixo custo. As fotografias da câmera Theta foram disponibilizadas na aplicação web Google Photos para serem visualizadas em 360° pois exigem recursos de HTML5. Complementando os mapas e as fotografias foram criados atividades de interpretação por meio visualizações em preto e branco de panoramas gerados automaticamente na ferramenta online Udeuschle (http://bit.do/panoramas) e impressos para uso nas saídas de campo e interpretação da paisagem nos cursos. No mesmo ano foi produzido uma maquete 3D do relevo de Garopaba utilizando um MDT da cidade e região, por meio de usinagem CNC. O modelo é desenvolvido em formato digital STL por meio do plugin DEMto3D e depois modelado em um torno Comando Numérico Computadorizado (CNC) do câmpus Florianópolis em polímero de usinagem. Em 2016 e 2017 é montado uma amostra de exibição das geodiversidades por meio de mapas, maquetes, fotografias e amostras de rochas e minerais de Garopaba no laboratório MAGe do câmpus Garopaba incluindo o Mapa de Turim e a obra Villa Nova de Debret.
Resultado e discussão
O levantados dos principais atrativos da geodiversidade local e do patrimônio
geomorfológico estão disponíveis nas ilustrações do trabalho e no endereço
http://bit.do/geomatica. A maquete 3D produzida em CNC
(https://youtu.be/zVZcB7TXVcE) assim como as fotografias em 3D encontra-se em
exibição no Laboratório MAGe do câmpus Garopaba. A placas produzidas para a
sinalização turísticas já foram aplicadas em 4 trilhas locais da região. Todo
o material passou a ser utilizado nas aulas e na divulgação das
potencialidades para o patrimônio geomorfológico de Garopaba em eventos do
município e em exibição no câmpus. Tanto o levantamento em campo como a
aplicação da sinalização e a produção de materiais didáticos colabora para a
apresentação das geodiversidades do município e tem gerado uma maior discussão
sobre a paisagem e a necessidade da conservação deste patrimônio natural.
Assim a aplicação de tecnologias de interpretação utilizadas para cada
segmento que a geodiversidade alcança, mostra que a divulgação do patrimônio
geomorfologico é cabível de inovação a ponto de contribuir na educação e
também no desenvolvimento socioeconômico e cultural na região de abrangência
do câmpus atingindo uma percepção ambiental mais ampla e valorizando o
patrimônio natural abiótico.
Ilustrações de panoramas geradas pela ferramenta online Udeuschle (http://bit.do/panoramas) de dois pontos de vista da geomorfologia de Garopaba, SC.
Maquete da Geomorfologia de Garopaba, SC produzida por meio de MDT e usinagem em CNC no IFSC.
Placa com destaque ao patrimônio geomorfológico e atrativos locais, Pedra Branca e oficinas líticas.
Mapas no Google Earth de Geologia e imagem de satélite e fotos em 360° no Google Photos.
Considerações Finais
Se buscarmos identificar elementos da Geografia que remetem ao conhecimento do meio ambiente e que contribuem para um desenvolvimento socioeconômico chegamos ao termo de Geodiversidade, pois a compreensão da mesma permite a valorização do espaço natural abiótico como base para vida na Terra Brilha (2005) e assim chegar a um ensino para desenvolvimento sustentável. Foi a partir do uso de recursos tecnológicos de interpretação como a estereoscópia (anáglifo), maquetes reais em 3D, ilustrações, fotografias e produções cartográficas específicas produzidas no MAGe que foi percebido uma evolução no processo de ensino e aprendizagem para a geodiversidade de Garopaba. Além disso a prática do turismo na região após a aplicação das placas de sinalização turística com destaque a geomorfologia ampliou a atuação de profissionais no turismo para divulgar o patrimônio geomorfológico local e com isso destacar as potencialidades do mesmo no município de Garopaba. Cabe agora ao IFSC câmpus Garopaba fomentar a conservação desse patrimônio natural por meio de inovações e aplicações tecnológicas que melhoram a divulgação da geodiversidade local e assim ser capaz de promover a inclusão e formar cidadãos, por meio da educação profissional, científica e tecnológica.
Agradecimentos
Ao câmpus Garopaba do Instituto Federal de Santa Catarina, a Prefeitura Municipal de Garopaba, A Geografia da Universidade Federal de Santa Maria e ao Prof. Felício José Gesser do câmpus Florianópolis.
Referências
AB'SABER, Aziz Nacib. Brasil: paisagens de exceção : o litoral e o Pantanal Mato-Grossense : patrimônios básicos. Cotia, SP: Ateliê, 2006. 182 p., il., algumas color. Bibliografia: p. 107-119. ISBN 8574802182.
BESEN, José Artulino. 1830-1980 São Joaquim de Garopaba (Recordações da Freguesia). Passo Fundo (RS): Gráfica e Editora BERTHIER, 1980.
BITTENCOURT, Maria de Fátima Bittencourt. Projeto Garopaba. Pesquisas em Geociências. Porto Alegre. v. 33, n. 1, supl. 1. 2006
BRILHA, José Bernardo Rodrigues. Patrimônio geológico e geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente geológica. São Paulo: Palimage editora, 2005.
COSTA, Viegas Fernandes da. Turismo arqueológico e desenvolvimento sustentável: a possibilidade de aproveitamento do patrimônio arqueológico pré-colonial dos municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba (SC) para a promoção do desenvolvimento sustentável na região. 2016. 211 f., il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional) - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Centro de Ciências Humanas e da Comunicação, Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2016. Disponível em: <http://www.bc.furb.br/docs/DS/2016/360648_1_1.pdf>. Acesso em: 09 out. 2017.
GERCO. 2010. Implantação do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro - Fase I: Diagnóstico Socioambiental - Setor Litoral Sul. Florianópolis: Secretaria de Estado do Planejamento - Diretoria de Desenvolvimento das Cidades/Ambiens Consultoria Ambiental, 393p.
IBGE. Carta Topográfica, Imbituba, Folha SH-22-X-B-II-2. Rio de Janeiro, 1976. Esc. 1:50.000, mapa policr.