Autores
Rabelo, T.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE) ; Santos, N.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE) ; Souza, U.D.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Lima, Z.M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE) ; Nascimento, M.A.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE)
Resumo
A geodiversidade, que corresponde à variedade de elementos como rochas, minerais, feições geomorfológicas e solos, se constitui como parte importante do sistema ambiental. A divisão de unidades geoambientais com base nas características da geodiversidade apresenta-se como ferramenta de pesquisa essencial para conhecer os processos e interações dos elementos abióticos de uma área, como é o caso setor sudeste da Ilha do Maranhão, que apresenta poucos estudos voltados para a sua geodiversidade. O objetivo da pesquisa foi delimitar as principais unidades geomabientais da área com base na geodiversidade local como forma de congregar informações semelhantes sobre os recursos abióticos e de aumentar o conhecimento sobre o mesmo. Utilizando a abordagem geossistêmica e a partir do levantamentoS bibliográficos e cartográficos, uso de SIG´s e atividades de campo, foi feita a delimitação de três unidades geoambientais deste setor: Tabuleiros costeiros, Planície flúvio-marinha e Planície Costeira.
Palavras chaves
Geodiversidade; Unidades Geoambientais; Ilha do Maranhão
Introdução
A compreensão dos elementos dentro de um sistema ambiental é fundamental para entender sua dinâmica e suporte a atividades socioeconômicas. A caracterização dos processos geoambientais e das formas de apropriação do homem sobre os elementos naturais é importante para pensarmos em medidas de gestão e conservação destes elementos, no que se refere não apenas a biodiversidade, mas também a geodiversidade. Autores como Gray (2004) e Brilha (2005) definem a geodiversidade como a diversidade natural de feições, elementos geológicos (rochas e minerais), geomorfológicos (formas de relevo) e de solos, incluindo suas associações, relações, propriedades, interpretações e sistemas. Para entender melhor os processos, as interações destes elementos da geodiversidade e seus usos feitos pelo homem, consideramos neste trabalho a divisão de unidades geoambientais com base nas características da geodiversidade como ferramenta de pesquisa essencial para conhecer melhor sobre os processos e interações dos elementos abióticos de uma determinada área, tendo como princípio básico a conectividade entre os elementos, defendida pela abordagem geossístêmica. A delimitação de unidades voltadas para a congregação de características abióticas de uma área, pode ser de essencial importância para áreas com poucos estudos voltados para a sua geodiversidade, como é o caso do setor sudeste da Ilha do Maranhão, localizado no Estado do Maranhão (Figura 01). Este setor corresponde a uma área de 74 km², segundo dados do Projeto GEOILHA (2015-2017) e abrange parte do município de São Luís e de São José de Ribamar. Atualmente, esta região é apontada por autores como Reis (2005) e Lago (2012) como um dos setores de expansão urbana da Ilha e não possuem muitos estudos relacionados à sua geodiversidade que venham a subsidiar futuras ações de planejamento e gestão desta área. A referida área conta com um ambiente costeiro de dinâmica peculiar, apresentando feições como planícies flúvio-marinhas, tabuleiros, falésias, praias arenosas, que possuem acentuado potencial paisagístico e são de suma importância para as populações localizadas nestas áreas, que vivem de atividades econômicas relacionadas à agricultura e extração mineral, que fazem uso direto do potencial da geodiversidade. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi delimitar as principais unidades geoambientais do setor sudeste da Ilha do Maranhão com base na geodiversidade local como forma de congregar informações semelhantes sobre os recursos abióticos da área, a partir da compreensão de suas interações e processos, que venham servir como base para futuros pesquisas sobre esta área e para o planejamento e gestão destes recursos neste setor.
Material e métodos
Esta pesquisa está fundamentada na concepção da abordagem geossistêmica (Sotchava,1977; Bertrand, 1997; Ross, 2006;) que tem como base a Teoria Geral dos Sistemas criada por Bertalanffy em 1973. Para alcance do objetivo do trabalho a pesquisa foi desenvolvida seguindo as principais etapas metodológicas a seguir: levantamentos de informações bibliográficas e documentais que abordem de forma direta ou indireta a Geodiversidade da área de estudo como as pesquisas de Silva (1973), Feitosa (2006), Klein e Souza (2012), Silva (2012); Bandeira (2013). Levantamento de materiais cartográficos da área e compatibilização de cartas DSG, imagens do Google Earth e imagens de satélite LANDSAT 8 OLI do ano de 2016 disponibilizadas pelo INPE, e dados vetoriais referentes a geodiversidade do Estado do Maranhão, disponibilizados pela CPRM (2013), para maior detalhamento e compreensão da geodiversidade local. Uso de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento que vieram a auxiliar na identificação de tipologias geológicas e feições geomorfológicas diferenciadas, assim como para apontamentos de uso destes recursos a partir das ações humanas, assim como para associação destas informações com informações adquiridas a partir de atividades de campo e posteriormente a delimitação espacial das unidades geomabientais. Atividades de campo para validação dos dados secundários utilizados na pesquisa e análise das características da geodiversidade da área in loco, onde o principal objetivo foi a observação da paisagem a fim de perceber as implicações mais visíveis na área de estudo decorrente das formas de uso dos elementos abióticos na área. A partir destas etapas foi a análise e interpretação das informações levantadas e a delimitação e descrição das unidades geoambientais do setor sudeste da Ilha do Maranhão com base nas características da geodiversidade da área.
Resultado e discussão
No que se refere a geodiversidade da área, podemos destacar que a geologia
deste setor é compreendida em maior parte pelos sedimentos da Formação
Barreiras que é litogicamente formada por “arenitos mal selecionados, finos
a grossos, variegados, em geral argilosos e com numerosas intercalações de
folhelhos” (AGUIAR, 1971.). Também ocorre a presença de depósitos de
pântanos e mangue que, segundo Rodrigues et al (1994) são constituídos por
sedimentos lamosos (argila e silte), de coloração cinza , não adensados,
maciços e biopertubados. Embora não estejam presentes nos grandes
mapeamentos feitos para o Estado do Maranhão, Rabelo et al (2016) destacam
que os depósitos litorâneos também estão presentes nesta área na forma de
areias quartzosas de granulometria média a muito fina. Em relação a
Geomorfologia, a CPRM (2013) destaca para este setor a presença de:
Tabuleiros Dissecados, Planícies Flúvio-Marinhas e Planícies Fluviais. Os
tabuleiros dissecados correspondem a maior parte da área em questão e
segundo a CPRM (2013), estão esculpidos em baixos platôs dissecados e
colinas tabulares, entalhados por uma rede de canais de densidade de
drenagem moderada. Rabelo et al (2016) destacam que estes tabuleiros se
encerram sob a forma de falésias presentes na área de estudo, como é o caso
das praias de Guarapiranguinha e Praia de Catatiua. A Planície Flúvio-
Marinha é formada por zonas estuarinas das redes de drenagem desta área,
sendo mais representativas nas proximidades do rio Tibiri e Tijupá, e é
caracterizada pelo predomínio de mangues, superfícies planas e zona de
contato entre os sistemas deposicionais continentais e marinhos estão
associadas aos canais de maré . Rabelo et al (2016) destacam que a planície
costeira desta área não é tão expressivas quanto às planícies costeiras do
litoral ocidental da Ilha do Maranhão, mas possuem imenso potencial
paisagístico e são de suma relevância para a dinâmica ambiental da área de
estudo (Figura 2). Quanto a Pedologia, de acordo com os dados do mapeamento
feito pela CPRM (2013) neste setor estão presentes os argissolos vermelhos
amarelos, os latossolos amarelos e os solos indiscriminados de mangue. Os
argissolos vermelho-amarelos, segundo Silva (2012), não são hidromórficos e
são pouco profundos, bem drenados e em geral apresentam forte limitações ao
manejo e mecanização agrícola devido à quantidade de laterita na superfície
e no interior dos seus perfis. Já os latossolos amarelos apresentam boas
condições físicas de retenção de umidade e boa permeabilidade e notamos sua
presença nas partes de relevo plano, com suaves ondulações, como é o caso
das áreas tabulares do setor sudeste da Ilha. Os gleissolos estão presentes
em todos as áreas mais planas relacionadas as planícies fluviomarinhas e de
acordo com Silva (2012), contem altos teores de compostos de enxofre, em
virtude das mudanças do nível da água pelas marés e com o processo de
oxidação, tornam-se mais ácidos. Silva (2012) também destaca nesta área a
presença de neossolos quartzarênicos órticos alúminicos, que ocorrem em
pequenas manchas na área em toda a planície costeira. A partir destas
informações foi feita a divisão das principais unidades geoambientais da
área, tendo a geomorfologia como critério principal de delimitação,
sendo divididas em: Tabuleiro costeiro, planície Fluvio-marinha e
Plánicie Costeira (Figura 3). A) Tabuleiros Costeiros: esta unidade está
associada principalmente a Formação Barreiras e corresponde a uma área
composta principalmente por depósitos areno-argilosos muito intemperizados e
em alguns pontos muito ferriginizados e laterizados. O relevo desta unidade
está associado a áreas tabulares que correspondem aos tabuleiros e
tabuleiros dissecados, recobertos por latossolos amarelos. Porém, também é
possível observar nesta unidade a presenças dos argissolos que também são
solos desenvolvidos a partir do da Formação Barreiras e que possuem boa
capacidade para reter nutrientes e armazenar água. Nos locais de ocorrência
destes solos, foi observado algumas áreas de escavações de açude que
associados ao relevo tabular, torna-se facilmente escavável, por não
precisar de cortes profundos para minimizar seus declives. Estes Tabuleiros
se configuram com formas de relevo suavemente dissecadas que se encerram,
por vezes, de forma abrupta por meio de falésias e paleofalésias que podem
ser encontradas em vários pontos do setor sudeste, já em contato com a
planície costeira como na Ponta de Guarapiranga, Satuba, Praia da Moça. De
acordo com as características levantadas sobre a área, esta unidade possui
alta capacidade de suporte e apresenta potencial para construção de obras de
engenharia, extração de areia, argila e concreções lateríticas para a
construção civil, boa capacidade de armazenamento de água, e embora
apresente solos com baixa fertilidade natural, como os argissolos, se
apresenta passível de a mecanização e correção a partir de fertilizantes. B)
Plánicies Fluvio-marinhas: esta unidade encontra-se associada aos domínios
de sedimentos de Mangues com depósitos argilo-arenosos, que são constituídos
por areias e lamas com restos orgânicos vegetais, apresentando áreas com
cascalhos e areias médias e finas, devido a sedimentação fluvial. Encontra-
se localizada nas superfícies mais aplainadas próximas aos cursos de água
deste setor e compreende zonas estuarinas. São recobertas por solos
indiscriminados de mangue, que quando estão alagados, possuem algumas
restrições a agricultura. Mas em épocas de estiagem apresentam aptidão para
produção de produtos irrigados, conforme mencionado por alguns agricultores
da área. Nesta unidade estão localizados os principais rios desta parte da
Ilha, que dão suporte para sobrevivência de muitas comunidades ribeirinhas
locais, não só através da extração animal, mas também muitos utilizam
daquelas águas para suas necessidades diárias e utilizam os rios para
momentos de lazer. A partir dos levantamentos feitos a partir deste trabalho
para área, foi possível identificar que esta unidade possui um ambiente
geológico favorável para a ocorrência de argilas para a fabricação de
cerâmicas; em alguns pontos apresenta camadas arenosas com potencial
aquífero; e áreas de rios com potencial paisagístico proeminente para o
desenvolvimento do geoturismo. C- Plánicie Costeira: esta unidade está
diretamente associada aos depósitos litorâneos que ocorrem na Ilha do
Maranhão e sobretudo trata-se de uma costa transgressiva dominada por
macromaré. A unidade está localizada próximo a foz da Baía de São José e
segundo Muehe (2006), nesta área ocorrem “ extremidades de esporões ou de
bancos de areia assimétricos com direção ENW-WSW, oblíqua a costa, separados
por canais estreitos. Alguns bancos de areia, situados pouco mais a leste
orientam-se paralelamente a linha de costa”. A Planície Costeira, encontra-
se associada as áreas mais planas próximas ao mar e ocorrem onde podemos
observar ambientes de praias e terraços de abrasão, que possuem contato
direto com as falésias, e que estão associadas aos tabuleiros e áreas com
resquícios de mangue dominantes na planície flúviomarinha. Os sedimentos
deste ambiente são pouco consolidados, com baixa capacidade de suporte,
tornando-se limitado para ocupações urbanas. Porém, algumas potencialidades
apresentadas por esta unidade são a presença de aquíferos superficiais com
alto potencial para acúmulo de aguas subterrâneas; potencial para explotação
de baixo custo, por meio de poços escavados e cacimbas para atendimentos de
demandas familiares e apresenta elevado potencial paisagístico com a
ocorrências de feições geomorfológicas e acrescentam a exuberância da área e
elevam as possibilidades de desenvolvimento do geoturismo neste setor.
Fonte: Rabelo,2017.
Fonte: Acervo da pesquisa, 2017
Fonte:Rabelo, 2017
Fonte: Acervo da pesquisa, 2017.
Considerações Finais
Os levantamentos feitos sobre a geodiversidade do setor sudeste da Ilha do Maranhão são incipientes de comparados às demais áreas da Ilha do Maranhão. O esforço de pesquisas voltadas para o conhecimento das características da geodiversidade deste setor é de suma importância para a gestão destes recursos na área. A divisão das unidades de geoambientais deste setor com base nas características da geodiversidade foi importante para entender as relações que envolvem os elementos abióticos da área e para identificar as potencialidades de cada unidade para o desenvolvimento das atividades humanas e identificação de sua importância para as comunidades da área. O que contribui diretamente para o planejamento, gestão e conservação da geodiversidade local.
Agradecimentos
Agradecemos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior pela concessão da bolsa de mestrado através do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pela contribuição para realização desta pesquisa.
Referências
BERTALANFFY, L.V. Teoria Geral dos Sistemas. Trad. Francisco Guimarães, Petrópolis, Vozes, 1973.
BRILHA, J. Patrimônio Geológico e Geoconservação: a conservação da natureza na conservação da natureza na sua vertente geológico. Braga. Palimagem. 2005.
CPRM. Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais/ Serviço geológico do Brasil. Geodiversidade do Estado do Maranhão. Piauí. 2013.
FEITOSA, A.C. Relevo do Estado do Maranhão: uma nova proposta de classificação topomorfológica. VI Simpósio Nacional de Geomorfologia. Goiânia. 2006.
GRAY, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. Wiley. Chichester. 1° edição. 2004.
INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Catálogo de Imagens. 2013.
Disponível em: http://www.dgi.inpe.br/CDSR/. Acesso: 18/02/2017. ]
MUEHE, D. (Org.) GERCO – Gerenciamento Costeiro do Estado do Maranhão. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Coordenadoria de Programas Especiais. Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro. Macrozoneamento do Golfão Maranhense. 2006.
PROJETO GEOILHA. GEOILHA: mapeamento do setor sudeste da Ilha do Maranhão. Universidade Federal do Maranhão. 2015-2017.
ROSS, J.S.L. Ecogeografia do Brasil: subsídios para o planejamento ambiental. Oficinas de texto. 2006.
REIS, R. de J. dos. Costa Sudeste do município de São Luís – MA: análise e proposta para Gestão ambiental. Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Gestão de Políticas Ambientais. Universidade Federal do Pernambuco. Recife. UFPE. 2005.
LAGO, F.B. Metropolização e Gestão urbana na Ilha do Maranhão: efeitos socioambientais da produção imobiliária de baixa renda. Revista de Políticas públicas. UFMA. 2012.
RABELO, T. O. Análise da Geodiversidade do setor sudeste da Ilha do Maranhão, Ma- Brasil. 4º Simpósio Brasileiro de Patrimônio Geológico. Ponta Grossa. 2016.
REIS, N. dos. R. Geodiversidade e Potencial Geoturistico da Planície costeira do setor sudeste da Ilha do Maranhão. 4º Simpósio Brasileiro de Patrimônio Geológico. Ponta Grossa. 2016.
SILVA, M. da R. Geologia da Folha AS-23, São Luís e parte da Folha AS-24. Fortaleza. MME – Ministério das Minas e Energia; DNPM – departamento Nacional de Produção Mineral. Projeto RADAM. Levantamento de Recursos Naturais. Vol 3. Rio de Janeiro, 1973.
SILVA, Q. D. da. Mapeamento Geomorfológico da Ilha do Maranhão. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista – Unesp. 2012.