Autores
Oliveira dos Santos, T. (UFPE) ; Miller Vital da Silva, H. (UFPE) ; Querino Fidelis da Silveira, J. (UFPE) ; Costa de Souza Cavalcanti, L. (UFPE)
Resumo
A gestão de unidades de conservação (UC) pode ser melhor realizada com o conhecimento de suas unidades geoambientais. Este trabalho possui um caráter de revisão e teve por objetivo construir um quadro geoambiental do Monumento Natural do Rio São Francisco (MONARSF). A área da UC abrange os estados de Alagoas, Bahia e Sergipe. O quadro geoambiental foi construído a partir do cruzamento das bases de dados temáticos (geologia, geomorfologia, solos, vegetação, clima). Foram avaliados mapas disponíveis quanto ao ano de sua produção e escala. Em seguida foram comparadas as unidades temáticas para compreensão das unidades geoambientais. Três conjuntos geoambientais foram identificados. Acredita-se que o quadro constitui uma boa referência inicial para o estudo geoambiental do MONARSF. Contudo, o refinamento das informações e uma cartografia mais detalhada dos geoambientes ainda são necessários.
Palavras chaves
Análise Geoambiental; Quadro Geoambiental; Monumento Natural do Rio São Francisco
Introdução
O Monumento Natural do Rio São Francisco é uma unidade de conservação localizada entre os estados de Alagoas/Sergipe/Bahia apresentando uma alta diversidade florística e faunística (Fundaj, 2017) inserida no Bioma Caatinga (ICMBio, 2017). Dentro desta unidade de conservação ocorrem atividades turísticas fluviais, principalmente nos municípios do Canindé do São Francisco e Piranhas. Também de acordo com o (ICMBio, 2017), o Mona do São Francisco possui uma área de 267,36 km², sendo localizada entre as seguintes coordenadas geográficas, latitude: 9º 38’ 32’’ sul e longitude: 37º 47’ 19’’ oeste (Cidade-Brasil,2017). Este monumento natural foi criado no dia 05 de junho de 2009, a partir de um Decreto que sancionou seu diploma legal de criação. Atualmente a Unidade de Conservação ainda não possui plano de manejo, bem como a fiscalização das atividades que se desenvolvem nesta área. O Relatório da (FUNDAJ, 2015) fez um estudo sobre a mudança na cobertura da terra desta área, evidenciando a crescente degradação da paisagem deste local. Muitos levantamentos temáticos de recursos naturais já foram desenvolvidos para áreas que englobam o território da UC. Destacando-se os mapas geológicos da CPRM, os mapas do Zoneamento Agroecológico do Nordeste, do RADAM Brasil e do Zoneamento Agroecológico de Alagoas. Contudo, a integração geoambiental das informações ainda não foi apresentada numa escala adequada para a unidade de conservação em questão. Visando colaborar com a gestão da UC, o objetivo deste trabalho foi caracterizar os aspectos geoambientais na área do Monumento Natural do rio São Francisco. Esses aspectos geoambientais adotam uma visão geossistêmica da paisagem local do Monumento Natural do rio São Francisco, os elementos como, geologia, geomorfologia, clima, solos. Considerando-os como sistemas abertos, conforme Christofoletti, esses sistemas ambientais exercem uma certa influência no que Ab’saber (1969) denominará de compartimentação morfológica, estrutura superficial e fisionomia da paisagem. Desta maneira, consideramos a geomorfologia um fator primordial para a compreensão dos processos que ocorrem por cima do relevo, bem como em toda a história desta área, conforme Emanuel de Martone, pois na compartimentação morfológica, existem processos amparados na geologia que deram origem a toda a dinâmica ambiental deste lugar, no Mona os processos pedológicos são predominantemente cristalinos e sedimentares. O clima seco e úmido proporciona uma estrutura geológica única, influenciando no tipo de relevo e favorecendo a fisionomia da paisagem desta área, dando origem a vegetação caatinga. Esta vegetação se encontra em processos de degradação devido ao mal uso da terra.
Material e métodos
Os dados aqui apresentados são de diferentes fontes, onde podemos dividir em 2 etapas: a primeira inicialmente consiste em um levantamento bibliográfico e documental, visando avaliar o conteúdo dos mapas temáticos que existem para região, analisar o relatório geoambiental da área, bem como os mapas de diversos solos, climas, rochas e vegetação, que serão obtidos através do RADAM Brasil e do IBGE. Com o intuito de correlacionar os resultados obtidos através da observação dos dados do RADAM Brasil e do IBGE no período de 1986 a 2006, pôde-se criar um quadro de correlação com as respectivas características dos estados onde o Mona do São Franscico abrange, baseando-se também na teoria dos geossistemas de Bertrand e Sotchava sobre a paisagem.
Resultado e discussão
Tabela 1 Dados Temáticos Disponíveis
TEMA Agência/Projeto Ano Escala
(Geologia, Pedologia e Geomorfologia) RADAM Brasil 1983 1:1.000.000
(Geomorfologia, Vegetação e Clima) IBGE 2006 1:5.000.000
(Vegetação, Clima, Geomorfologia e Solo) ZANE 2000 1:2.000.000
(Geologia e Pedologia) CPRM 2012 1:25000.000
Através dos dados dos projetos citados acima foi possível a montagem do
quadro de correlação para uma análise geoambiental da paisagem, o uso destes
recursos contribuiu para a veracidade dos resultados que serão apresentados
na tabela 2.
Este trabalho apresenta como principal recorte a tabela de correlação, essa
tabela facilita a compreensão do leitor acerca das características
geoambientais de cada estado que o Monumento Natural do rio São Francisco
abrange.
Tabela 2 Características Geoambientais do Mona do São Franscisco
A análise geoambiental do Monumento Natural do rio São Francisco é de suma
importância para a gestão das áreas que fazem parte do corredor ecológico da
caatinga. Desta forma ao analisar os mapas de diversas partes desta área, é
possível verificar inicialmente a falta de um aparato de dados sobre a
Unidade de Conservação.
Esta falta de dados convincentes e confiáveis fazem com que não haja uma
integração de mapas, essa não integração torna essa área ainda mais
vulnerável, pois não há fiscalização da UC e esse fator põe em risco sua
manutenção, tornando-a mais propensa a sofrer processos de impactos
socioambientais.
O clima dessa região é caracterizado por ser seco e úmido devido à
proximidade com o rio São Francisco, que proporciona uma vegetação bem
típica denominada caatinga, com a presença de árvores e arbustos deciduais,
que estando sob o domínio da bacia sedimentar do Arenito Tucano-Jatobá e o
Complexo Granitóide do Embasamento Cristalino.
O local é caraterizado pela presença de rochas cristalinas e sedimentares,
dando origem a uma área que abriga predominantemente os solos: Neossolos
Quartzarênicos, Neossolos Litólicos, Luvissolos Crômico Órtico, Vertissolos
e Planossolos, localizados nos platôs e depressão, nesse local também é
notório a presença de afloramentos rochosos. “Os solos são, em geral, rasos,
de textura arenosa a cascalhenta (Luvissolos). Freqüentemente, nas áreas
mais baixas, chamadas de “rasos”, desenvolvem-se solos com argilas
expansivas
(Vertissolos) ou com alto teor de sais (Planossolos Solódicos), estes com
sérias limitações à agricultura irrigada” (EMBRAPA, 2001).
O mal uso da terra na região foi um fator que acelerou ainda mais o processo
de degradação ambiental na área, com a construção da Usina Hidrelétrica e a
expulsão de antigos moradores das cidades ao redor, o que proporcionou a
ocupação de áreas do Monumento Natural por parte dos
Movimentos Sociais, só deixando claro, o relatório do Monumento denominou de
“invasão do MST (Movimento Sem Terra)” as área das antigas construções dos
moradores. O que se torna um pouco contraditório, tendo em vista, que eles
foram expulsos.
Além disso, o uso da terra no local é caracterizado por uma área de
desmatamento que vem provocando o deslocamento e a fuga da fauna. A
agricultura intensiva também provoca o desgaste do solo, além das pastagens
para a pecuária extensiva, que se engloba no que chamamos de agronegócio.
Segundo dados da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), no seu
livro: Geodiversidade do Brasil: Conhecer o Passado, para entender o
Presente e prever o Futuro é afirmado que “Problemas erosivos também ocorrem
na planície costeira do rio São Francisco, sendo suas causas atribuídas à
retenção de sedimentos fluviais pelas várias usinas hidrelétricas e
reservatórios construídos no curso desse rio. Em 1998, o povoado de Cabeço,
no município de Brejo Grande (SE), foi praticamente todo destruído pelo
avanço do mar.”
Assim, vale ressaltar nessa análise geoambiental que é visivelmente
detectável no relevo a ação dos processos erosivos e quando são acelerados
culminam com a morte de algumas espécies da vegetação local. Além do fator
climático, isso também ocorre devido ao impacto socioambiental gerado pela
lógica do desenvolvimento, onde o relatório do Monumento supõe que aqueles
que foram expulsos da área da usina como pretensos “invasores”.
A Unidade de conservação do Monumento Natural do Rio São Francisco revela o
descaso da falta de fiscalização da área, bem como também a falta de
catalogação das espécies, o que só reafirma a fragilidade desta área. Se não
houver de fato a atuação da fiscalização, todas as atividades que ocorrem no
Monumento Natural do rio São Franscisco estarão com os dias contados.
Considerações Finais
Três principais conjuntos geoambientais foram identificados para o MONARSF: geoambientes bixéricos de terrenos aplainados cristalinos e solos de textura argilosa a média com caatinga hiperxerófila arborizada a oeste; geoambientes xeroquimênicos de terrenos aplainados sedimentares e arenosos com caatinga hiperxerófila arborizada na porção central e; geoambientes bixéricos de terrenos aplainados cristalinos e solos de textura argilosa a média com caatinga hiperxerófila arborizada a leste. Este trabalho apresentou as correlações geoambientais do Monumento Natural do Rio São Francisco, onde foram consideradas para a elaboração do quadro de correlação os seguintes aspectos: geomorfologia, vegetação, pedologia e clima. Só foi possível ser feita a construção deste quadro de correlação através dos projetos: Radam Brasil, IBGE, CPRM e Zane, estes projetos foram de suma importância para o trabalho e consequentemente para a melhor compreensão das características descritas. A partir destes dados fizemos uma análise que permitiu observar que o Mona do rio São Francisco se divide em quatro diferentes geologias, onde apresentam algumas características em comum. Ressaltando que os quatro tipos de geologias apresentados pertencem ao clima semiárido, as demais características são diferentes, apresentando predominâncias geoambientais que variam conforme as mudanças de padrões ao longo do Alto, Médio, Submédio e Baixo São Franscisco.
Agradecimentos
Agradecemos primeiramente a Deus por nos dar a oportunidade de viver. Segundamente, agradecemos ao Laboratório de Ciências da Paisagem coordenado pelo Professor Lucas Cavalcanti, que dedicou seu tempo e nos guiou com muita paciência na construção deste trabalho. E também as nossas famílias por nos ter apoiado nos momentos bons e ruins, vocês são o principal motivo por estarmos aqui hoje.
Referências
https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=31027&view=detalhes. Acessado em 02/12/2017 https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-
%20RJ/Projeto%20RADAMBRASIL/Projeto%20RADAMBRASIL%20v24%20(S uplemento).pdf. Acessado em 03/12/2017 https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv95889.pdf. Acessado em
03/12/2017 http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomasbrasileiros/caatinga/unidades-de-conservacao-caatinga/2128-mn-do-rio-saofrancisco. Acessado em 03/12/2017
http://www.cidade-brasil.com.br/municipio-caninde-de-sao-francisco.html. Acessado em 03/12/2017 http://www.cprm.gov.br/publique/media/geodiversidade_brasil.pdf. Acessado em 03/12/2017
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv24018.pdf. Acessado em
08/12/2017 http://www.fundaj.gov.br/images/stories/cieg/cap7_monasaofrancisco_caatinga. Acessado em 29/11/2017 fundaj.compressed-ilovepdf-compressed_compress.pdf. Acessado em 29/11/2017