Autores

Sousa, R.S. (UFC) ; Meireles, A.J.A. (UFC)

Resumo

O artigo trata-se do estudo integrado do complexo fluviomarinho dos rios Cardoso/Camurupim e porção costeira adjacente, litoral leste piauiense. Teve por bases conceituais a visão holística, a partir da análise integrada dos elementos que compõe a paisagem, com ênfase na geomorfologia. Do ponto de vista metodológico a pesquisa foi desenvolvida em quatro etapas principais: análise do material bibliográfico, cartográfico e de imagens de satélites; trabalho de campo; correção de dados junto ao material cartográfico e redação final. Como resultados foram identificados cinco sistemas ambientais para a área de estudo: planície costeira; planície fluviomarinha, dunas, planície flúvio lacustre e tabuleiros litorâneos, estes dispostos através da atuação dos fluxos de matéria e energia (deriva litorânea, fluxo fluviomarinho, eólico, lacustre, subterrâneo, fluvial/pluvial e gravitacional), nos quais suas interações demonstram a complexidade nos processos de regulação desse sistema costeiro

Palavras chaves

Geomorfologia Costeira; Sensoriamento Remoto; SIG

Introdução

As regiões litorâneas é um dos sistemas mais complexos da superfície da Terra, esses ambientes correspondem à interface continente-atmosfera- hidrosfera, que formam feições morfológicas oriundas dos processos costeiros com intensas trocas de energia e matéria. Estando essas paisagens e ecossistemas susceptíveis a mudanças, principalmente quando há intervenção antrópica. O posicionamento geográfico das zonas costeiras propicia a atuação dos processos oceanográficos, fluviais, climáticos, geológicos e geomorfológicos, que somados a atuação antrópica, remodelam a paisagem. A ação antropogênica sobre o ambiente natural promove alterações que negligenciam a dinâmica ambiental como um dos fatores reguladores dos complexos processos responsáveis pelo equilíbrio dos sistemas físicos (GIRÃO e CORRÊA, 2004). Dessa forma, a delimitação dos sistemas ambientais é importante, pois permite uma visão integrada dos elementos naturais. Estes sistemas são definidos como um conjunto de elementos que se inter-relacionam onde a organização do conjunto é feita através das relações entre os subsistemas que confere a ele a função de um todo (CHRISTOFOLETTI, 1999). Segundo Almeida e Tertuliano (1999) o termo sistema vem a ser um conjunto de unidades que possui relações entre si, onde cada uma delas tem seu estado controlado, condicionado ou dependente umas com as outras. Ainda segundo os autores os sistemas encontram-se incorporados em conjuntos maiores, mantendo conexões de matéria e energia, que constituem o seu ambiente. Na pesquisa, entendem-se como sistema ambiental unidades organizadas espacialmente na superfície terrestre, onde seus elementos interagem um com os outros através de fluxos de matéria e energia (CHRISTOFOLETTI, 1999). Para Meireles e Silva (2002) os componentes dos sistemas ambientais relacionam- se entre si, a partir de um sistema aberto, com trocas complexas de matéria e energia, onde as quantificações desses fluxos definem a dinâmica Geoambiental da paisagem, ainda mais quando é alterado pelas ações humanas. Ainda segundo aos autores grande parte das unidades que compõem um sistema flúviomarinho, caracteriza-se por serem ecossistemas frágeis, o que os tornam muito vulneráveis e dinâmicos, principalmente durante os eventos de maiores fluxos de matéria e energia, isto é, durante os períodos de maior vazão fluvial, marés de sizígia e tempestades. A concepção sistêmica norteou o desenvolvimento do trabalho onde foi possível uma análise integrada das condições físicas do complexo fluviomarinho dos rios Cardoso/Camurupim e porção costeira adjacente. A partir da análise dos componentes naturais como a geologia, a geomorfologia, clima e hidrografia de superfície, solos e cobertura vegetal, das alterações na paisagem provocadas pelas atividades humanas, bem como a análise das morfologias nas imagens de satélites, além da aferição em campo, foi possível à delimitação dos sistemas ambientais. Para tanto, o trabalho teve como objetivo identificar e descrever os sistemas ambientais do complexo estuarino dos rios Cardoso/Camurupim e porção costeira adjacente, bem como a análise dos principais fluxos de matéria e energia responsáveis pela sua dinâmica, estes definidos através dos elementos geoambientais e ecodinâmicos.

Material e métodos

Caracterização da área de estudo A área de estudo abrange parte dos municípios de Luís Correia e Cajueiro da Praia, correspondendo ao complexo estuarino dos rios Cardoso/Camurupim, bem como sistemas lacustres e campos dunares adjacentes da planície costeira (Figura 1). A área de estudo possui relevância biológica (abrigar significativas populações de espécies em perigo de extinção, além de pontos de parada e alimentação de aves migratórias); ambiental (abrangem uma grande área de manguezal, campos de dunas ativas e lagoas costeiras) e social (desenvolvimento de atividades antrópicas como carcinicultura, pesca, extrativismo e Turismo). As unidades litoestratigráficas presentes na área de estudo caracteriza-se pela ocorrência de sedimentos Tércio-Quartenário da formação Barreiras e por sedimentos Quartenários, representados pelos sedimentos de praias, dunas, planícies de deflação eólica entre outros (CAVALCANTI, 1996). Do ponto de vista geomorfológico identifica-se a planície costeira (praias, dunas ativas, fixas e semifixas), planície flúviomarinha, planícies fluviais, planícies flúvio lacustres, planície de deflação eólica e os Tabuleiros litorâneos. Quanto ao tipo de solos encontra-se na área, segundo EMBRAPA (1983) quatro principais associações de solos Gleissolos, Argissolos, Neossolos e os Planossolo. O clima regional é submetido pela influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), sendo este o principal regulador do clima na planície costeira do Piauí (ANDRADE JÚNIOR, 2000). As chuvas apresentam-se de forma concentrada nos meses de janeiro a junho, sendo que as menores médias nos meses de julho a dezembro. A temperatura apresenta uma média anual de 27,2ºC, sem muita variação para os municípios do litoral piauiense, que apresentam baixa altimetria sendo bastante influenciados pelos processos climato- meteorológicos costeiros (ANDRADE et al, 2004). Os recursos hídricos superficiais estão representados pelas bacias hidrográficas dos rios Cardoso e Camurupim, pelas lagoas flúvio lacustre de Sobradinho e Santana. Além de pequenos canais que correm em direção ao oceano. A cobertura vegetal é espacializada na área conforme as variações na composição edáfica e profundidade do lençol freático. A citar, algumas espécies pioneiras de estrato herbáceo (gramíneas), vegetação litorânea de porte arbóreo arbustivo e herbáceo arbustivo, vegetação de mangue, esta suportando elevado nível de salinidade, vegetação ciliar, principalmente com presença de carnaúbas(CAVALCANTI,2000). Procedimentos metodológicos A metodologia se baseou na abordagem sistêmica esta que procura compreender a paisagem a partir da interação entre seus geoelementos, bem como as atividades antrópicas praticadas na área. Dessa forma a mesma foi desenvolvida em três etapas principais. I- Levantamento bibliográfico e documental e seleção e análise da cartografia básica e temática; II – Seleção e análise dos dados das imagens de sensoriamento remoto para elaboração dos estudos temáticos e composição do material geocartográfico básico e os derivados (mapas temáticos); interpretação visual de imagens orbitais (Landsat OLI 8, Sentinel -2 e RapidEye, de resolução média alta. Bem como a interpretação dos condicionantes geoambientais presentes na área (geologia, geomorfologia, vegetação, solos, hidrografia e clima)associados ao uso e cobertura das terras (atividades antrópicas). II-Trabalho de campo para a aferição em campo para reconhecimento da verdade terrestre.

Resultado e discussão

4.1 Sistemas Ambientais do complexo estuarino dos rios Cardoso e Camurupim e porção costeira adjacente Para a área de estudo propôs-se a classificação em cinco sistemas ambientais: 1- Planície Costeira; 2- Planície fluviomarinha; 3- Dunas; 4- Planície flúviolacustre e 5- Tabuleiro litorâneo. A seguir, tem-se a caracterização dos mesmos. 4.1.1 Planície litorânea Este sistema é composto essencialmente por depósitos litorâneos Quartenários de praias e dunas. É composto pelos subsistemas da faixa de praia, planície de deflação eólica e recife de arenitos. O relevo é plano, com declividade de 0% a 3%. Paisagem típica litorânea, com predominância dos agentes modeladores eólicos e marinhos. A cobertura vegetal é composta por vegetação pioneira e espécies em transição de cerrado e caatinga, que variam de porte arbóreo a arbustivo. Os solos predominantes são as areias quartzosas marinhas e areias quartzosas. O uso atual refere-se à pesca tradicional, turismo e ao lazer. As principais praias da área correspondem a do Coqueiro, Arrombado, Carnaubinha, Itaqui, Macapá, Maramar, Barra Grande e Barrinha. Na área chama a atenção para o processo de erosão costeira acentuada na praia de Macapá, além dessas áreas serem locais de desova das tartarugas marinhas, que são ameaçadas por transporte de 4x4 nas praias com fins Turístico. 4.1.2 Planície Fluviomarinha Este sistema resulta da combinação de processos de acumulação fluvial e marinha, com intercalações irregulares de sedimentos arenosos, argilosos, em geral ricos em matéria orgânica (mangue). Ocorrem na desembocadura dos rios Cardoso/Camurupim, estes que sofrem com forte influência das oscilações de maré. Essa unidade apresenta uma extensa planície de maré desenvolvida em terrenos planos e baixos, protegidos da ação das ondas e sob influência de inundações regulares de água salgada, sendo boa parte dessa unidade colonizada por mangue. Os depósitos manguezais são constituídos por sedimentos argilosos, plásticos e inconsistentes, ricos de matéria orgânica, resto de madeira e conchas. Os solos predominantes são os solos indiscriminados de mangues. Quanto ao uso, nesse sistema encontram-se os tanques de carcinicultura como criatório de camarão, situados em áreas de apicum e salgados, principal responsável pela interferência na dinâmica desse ambiente. 4.1.3 Dunas Na área de estudo esse sistema ambiental é composto pela presença de três gerações de dunas, as móveis, as semifixas e as fixas, estas são diferenciadas segundo Meireles (2005) quanto ao grau de Pedogênese. Próximo à costa nota-se a presença de eolianitos na praia de Itaqui e Maramar, sendo rochas formadas a partir da consolidação/litificação de depósito eólico a partir da cimentação de seus grãos, principalmente por carbonato e sulfato de cálcio. Na área, também, é possível distingui duas formas de dunas, alongadas e do tipo barcanas, formadas a partir da ação eólica atuante na região costeira. Alguns problemas podem ser identificados a partir da dinâmica dunar como por exemplo o soterramento de avenidas e de lagoas próximo às costas. Sendo o principal uso o turístico. 4.1.4 Planície fluviolacustre Este sistema ambiental na área de estudo é representado pelas lagoas de sobradinho e Santana, que possui formas planas levemente inclinadas. Suas desembocaduras são barradas pelos campos de dunas e flechas de areia (spits). Essa unidade está ligada a atividade ao Turismo, a agricultura de subsistência e criação de peixes em suas margens, bem como a pesca tradicional. Quanto a lagoa de Santana, a mesma possui uma dinâmica quanto ao barramento de sua desembocadura que durante os períodos de maior vazão a mesma é rompida, tornando-se um sistema estuarino, a influência da deriva litorânea atua no fechamento da desembocadura através da formação do spits, apresentando episódios de laguna. 4.1.5 Tabuleiro litorâneo Este sistema é o de maior representatividade na área apresenta sedimentos da formação barreiras, com presença de argilito arenoso e arenitos conglomeráticos. Compreende áreas com relevos planos a suave ondulada, com predomínio de amplitudes topográficas inferiores a 50m, são tabuleiros dissecados e superfícies aplainadas conservadas e degradadas. Os solos predominantes são os Latossolos amarelo e os Podzólico vermelho amarelo. Ocorre predomínio da vegetação de transição de Cerrado e Caatinga, o uso está ligado à ocupação humana, pecuária extensiva entre outros. 4.2 Fluxos de matéria e energia A atuação dos fluxos de matéria e energia que compõem e modelam a planície costeira piauiense geram morfologias diversas que associadas às flutuações do nível do mar, as mudanças eustáticas e as mudanças climáticas, bem como as atividades humanas tornam o ambiente costeiro dotado de grande complexidade nos quais suas unidades mantem conexões uma com as outras. Segundo Carvalho e Meireles (2008) os principais fluxos de matéria e energia estão relacionados com a ação das correntes marinhas, marés e ondas, dos ventos, da hidrodinâmica fluviomarinha, lacustre e da água subterrânea, aliadas as interferências antrópicas. Dessa forma, a definição dos principais fluxos partiu da análise morfológica e a espacialidades das unidades que forma a planície costeira conforme CARVALHO e MEIRELES, 2008. 4.2.1 Deriva litorânea É responsável pelo transporte e distribuição dos sedimentos, dos nutrientes ao longo da plataforma e a dispersão de sementes oriundos dos sistemas flúviomarinhos e lacustres, origina-se devido o ataque obliquo das ondas á linha de costa e a ação das marés e correntes marinhas. Sua atuação ajuda na formação de bancos e fechas de areia (spits) e argila ao longo da linha de costa e nas desembocaduras do estuário dos rios Cardoso e Camurupim. É através desta dinâmica que se processam eventos erosivos e de realimentação da linha de praia, disponibilidade de areia para a deriva litorânea, com a formação dos campos de dunas. 4.2.2 Fluxo eólico Possui relação com a sazonalidade climática regional e, localmente através da dinâmica do deslocamento de areia da praia para o continente. O período em que a atuação dos ventos é mais intensa condiz com os meses de estiagem, nos quais é a maior parte do ano. 4.2.3 Fluxo subterrâneo Este fluxo é determinado pelo campo de dunas, a drenagem superficial e a linha de costa nos quais definem o fluxo subterrâneo. É proveniente de aquíferos associado às bacias hidrográficas dos rios Cardoso, Camurupim. 4.2.4 Fluxo fluviomarinho Dinâmica imposta pelas oscilações de maré, originado a partir da integração da água proveniente das zonas de exutório, do escoamento superficial e as oscilações de maré. Na área os rios Cardoso e Camurupim forma uma única foz em encontro ao oceano, em suas margens formam-se mangues. 4.2.5 Fluxo fluvial Aporte de água doce dos rios Cardoso e Camurupim, de sedimentos e nutrientes, bem como eventos de maior vazão. Durante as cheias contribuem para aumentar a disponibilidade de água doce nas lagoas costeiras. 4.2.6 Fluxo lacustre Na área correspondem as lagoas de Sobradinho e Santana, nos quais então localizadas na retaguarda dos campos de dunas e no contato entre a zona de berma e os terraços marinhos. Durante o primeiro trimestre do ano há o aumento da disponibilidade hídrica. Elas formam um corpo lacustre barradas pelas dunas localizadas paralelo a faixa de praia. 4.2.7 Fluxo de gravitacional Está associado com o deslizamento de grandes volumes de areia das faces de avalanche pertencentes a dunas móveis e escorregamento de areia e argila as margens dos estuários.




Considerações Finais

A setorização em sistemas ambientais na paisagem costeira permitiu o entendimento do comportamento dessas unidades, bem como a identificação das principais atividades desenvolvidas. A área possui uma diversidade paisagística dotado de ecossistemas com fragilidade natural determinada pelas interferências marinhas e continentais. As formas de uso de ocupação nesses espaços vêm causando desequilíbrio visto que a área é berçário de muitas espécies marinhas, principalmente as tartarugas, o peixe-boi, além das variadas espécies de aves. Vale ressaltar a importância da utilização dos dados de sensores remotos e geoprocessamento para o mapeamento e análise dos sistemas ambientais.

Agradecimentos

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ceará – FUNCAP pelo apoio e financiamento desta pesquisa.

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