Autores
Maciel Lima, A. (UFPI) ; Amorim, J.V. (UFPI) ; Frota, J. (UFPI) ; Valladares, G. (UFPI)
Resumo
O presente estudo objetiva indicar um uso conservacionista da terra no litoral do Piauí, relacionando as Unidades Geomorfológicas com os solos que ocorrem na região. Para tanto foi feita a coleta de solos na maioria das Unidades Geomorfológicas. Contudo, como metodologia adotou-se o Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras (SAAAT) e foram estabelecidos graus de limitações para as Unidades Geomorfológicas do litoral do Piauí. Posteriormente, através de técnicas de Geoprocessamento, a aptidão agrícola da área foi mapeada, estabelecendo grupos de aptidão para cada unidade geomorfológica, conforme a ocorrência dos solos. Detectou-se que a maior parte da área de estudo apresenta um potencial regular para lavouras, pois a unidade geomorfológica Tabuleiro Costeiro apresenta-se como a área com maior extensão e foi enquadrada nos subgrupos 2(a)bc e 3(abc). Foi possível relacionar as feições geomorfológicas com a aptidão agrícola das terras, o que configura uma inovação.
Palavras chaves
Quartenário ; SIG; Paisagem costeira
Introdução
Por centenas de anos, o processo de conhecer o solo foi baseado quase que estritamente na experiência dos homens, pela sua observação mais aperfeiçoada, conseguiam distinguir terras das mais variadas qualidades. Dessa forma, na segunda metade do século XIX decorrente principalmente do aumento da população que surgiu a necessidade do emprego de tecnologias agrícola moderna. No Brasil, a cartografia dos solos teve início há pouco mais de 50 anos e quase a totalidade do Brasil já foi mapeada em mapas pedológicos de exploração e reconhecimento (LEPSCH, 2002). Lepsch (2002) argumenta que conhecer o solo se fez necessário, pois existe a preocupação com o empobrecimento dos mesmos. Então, a utilização agrícola dos solos deve ser feita com base em práticas conservacionistas, pois cada solo tem um limite máximo de possibilidade de uso. Para estabelecer a cultura certa para cada tipo de solo é necessário o estudo de determinada área, para assim fazer um uso consciente do solo. Diante disso para Penteado (1980) há uma estreita relação entre a geomorfologia e a pedologia, em que o estudo geomorfológico deve preceder o mapeamento pedológico, pois ele dá um quadro temporal e espacial da evolução dos solos. Fornece também a descrição e a localização das formas superficiais, a partir das quais os solos são elaborados. De acordo com Corseuil (2009) a avaliação das terras consiste no processo de estipular a sua aptidão, quando utilizada para fins específicos, envolvendo a execução e a interpretação de estudos sobre o solo, vegetação, clima, relevo entre outros aspectos, para identificar e comparar os tipos de uso da terra mais adequados para uma região. Portanto, o estudo objetiva indicar um uso conservacionista das terras do litoral do Piauí com o intuito de auxiliar no uso consciente do solo, a partir da análise das unidades geomorfológicas relacionadas com a aptidão agrícola das terras.
Material e métodos
A planície costeira do estado do Piauí está localizada na porção norte do litoral piauiense e no nordeste setentrional do Brasil. Composta por uma linha de costa de 66 km no sentido Leste-Oeste, que vai desde a baía das Canárias (no Delta do Parnaíba), até o limite com o Ceará, na baía formada na foz dos rios Ubatuba e Timonha. No sentido sul-norte ela se localiza entre o Grupo Barreiras e o Oceano Atlântico (BAPTISTA, 1975; CEPRO, 1996). Com base nos objetivos pretendidos o método utilizado no estudo para a classificação da aptidão agrícola das terras do litoral do Piauí foi o método descrito por Ramalho e Beek (1995), intitulado Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras (SAAAT). Foram avaliados e definidos os grupos de aptidão relacionando as Unidades Geomorfológicas que ocorrem o litoral do Piauí com base no Mapa de Unidades Geomorfológicas de Sousa (2015), tais são: Praia; Cordão arenoso; Planície eólica; Dunas móveis; Dunas estabilizadas; Planície Flúvio-marinha; Planície e Terraço fluvial; Paleodunas; Planície Lacustre; Terraço Marinho; Tabuleiro costeiro. Dessa forma atribuiu-se para cada unidade uma classe de aptidão agrícola. Esse sistema considera cinco fatores que determinam as condições agrícolas das terras: deficiência de fertilidade, deficiência de água, excesso de água ou deficiência de oxigênio, suscetibilidade à erosão e impedimentos à mecanização. Para cada fator determinante é definido no sistema os graus de limitações sendo eles: nulo (N), ligeiro (L), moderado (M), forte (F) e muito forte (F). De acordo com esses fatores é determinada as quatro classes de aptidão agrícola das terras (boa, regular, restrita e inapta) segundo três níveis de manejo (baixo nível técnico-cultural, nível tecnológico médio e alto nível tecnológico) e quatro tipos de utilização (lavoura, pastagem plantada, silvicultura e pastagem plantada). Os algarismos de 1 a 5 representam os grupos de aptidão que classificam os tipos indicados de utilização das terras: lavouras, pastagem plantada, silvicultura e pastagem natural. Os grupos 1, 2 e 3 são aptos para lavouras; o grupo 4 é indicado para pastagem plantada; o grupo 5 para silvicultura e pastagem natural e o grupo 6 é quando está indicando que a terra não se enquadra em nenhum dos usos acima descritos, a não ser preservação natural. Os subgrupos indicam as variações que existem em cada grupo. Configurando em um resultado de um conjunto de avaliações da classe relacionada ao nível de manejo e indicando os tipos de utilização das terras apontados.
Resultado e discussão
Na Tabela 1 apresenta-se os graus atribuídos a cada fator a ser considerado
nas análises de fertilidade, o grau fertilidade recebeu uma tabela
especifica, pois são considerados diversos fatores. E na Tabela 2 estão
representados os graus dos outros fatores limitantes segundo a metodologia
proposta por Ramalho e Beek (1995) e a ocorrência dos solos coletados em
cada unidade geomorfológica. Dessa forma gerou-se o mapa de Aptidão Agrícola
das terras do Litoral do Piauí através do software Arc Gis 10.1, com base
nas unidades geomorfológicas relacionando os grupos de aptidão estabelecidos
na pesquisa (Figura 1). Na unidade geomorfológica Praia os solos foram
enquadrados no subgrupo de aptidão 6, sendo solos inaptos para a
agricultura. A unidade geomorfológica Cordão Arenoso refere-se a uma área
plana resultado da acumulação marinha, podendo admitir canais de maré,
cristas de praia, restingas e ilhas barreira. Podem ser encontradas nas
baixadas litorâneas sob a influência dos processos de agradação marinhos é
composta por material quartzoso, semelhante ao encontrado nos depósitos
sedimentares de praias recentes (SOUZA, 2015). Vale ressaltar que na unidade
geomorfológica Cordão arenoso foram coletados os solos do tipo Espodossolo.
Os Espodossolos são solos geralmente muito pobres em fertilidade
e podem ser moderados a fortemente ácidos, valores de saturação por bases
baixo, podendo ocorrer altos teores de alumínio extraível (SiBCS, 2013). O
Espodossolo coletado na área de estudo é um solo profundo com textura
arenosa e a drenagem é impedida. Diante das análises o grupo de aptidão para
a unidade geomorfológica Cordão Arenoso é o subgrupo 6, como sendo inapta
para agricultura. A unidade geomorfológica Dunas Móveis de acordo com o IBGE
(2009) são áreas de depósito eólico cuja forma varia em função do estoque de
sedimentos fornecidos por um sistema fluvial ou costeiro e do regime de
ventos. Ocorre nas regiões litorâneas ou mesmos interiores, onde o regime de
ventos é favorável e o suprimento sedimentar é relativamente constante. Essa
unidade apresentou os mesmos resultados estabelecidos para a unidade Praia,
portanto é indicada como sendo inapta para agricultura, o subgrupo 6. Já a
unidade Planície e Terraço fluvial são áreas planas resultantes de
acumulação fluvial, periodicamente alagadas, com meandros abandonados.
Ocorrem nos vales com preenchimento aluvial, contendo material fino a
grosseiro (IBGE, 2009). Nessa unidade foram coletados quatro tipos de solos
os Neossolos Flúvicos, Vertissolos, Cambissolos e Planossolos. Os Neossolos
Flúvicos coletados na área de estudo são solos profundos com textura
arenosas, moderadamente drenados. Os Vertissolos são solos poucos profundos
com textura argilosa e muito mal drenado. Os Cambissolos e os Planossolos
são solos profundos com textura argilosa e a drenagem imperfeita. Essa
unidade geomorfológica foi enquadrada com dois grupos de aptidão, conforme a
ocorrência de solos nessa área. O subgrupo de aptidão 2 abc foi atribuído
para os Neossolos Flúvicos, ou seja, em áreas que ocorrem esse solo a
aptidão será regular para o tipo de manejo A, B e C. E o subgrupo de aptidão
5(n) para os Vertissolos, Cambissolos e Planossolos com a indicação à classe
de aptidão regular para silvicultura e restrita para pastagem natural. A
unidade geomorfológica Planície Flúvio Marinha é uma área plana resultante
da combinação de processos de acumulação fluvial e marinha, podendo ocorrer
inundações periódicas. Encontra-se em baixadas litorâneas, próximo às
embocaduras fluviais (IBGE, 2009). O tipo de solo que ocorre nessa unidade
são os Gleissolos, esses tipos de solos são solos hidromórficos
caracterizando o impedimento a drenagem. A textura dos solos coletados é
argilosa e apresentam alta salinidade e sodicidade. Para tanto, essa unidade
geomorfológica quanto a aptidão agrícola foi enquadrada no subgrupo 6, como
sendo inapta para o uso agrícola. As unidades geomorfológicas Paleodunas e
Dunas estabilizadas foram analisadas juntas, devido à semelhança na paisagem
dessas unidades. Nessa unidade de conservação foram coletados solos do tipo
Neossolos Quartzarênicos e Espodossolos. Os Neossolos Quartzarênicos, como
ilustrado na Figura 2 são solos arenosos, essencialmente quartzosos,
excessivamente drenados profundos e de baixa fertilidade natural,
apresentando uma vegetação marcada por cajueiros. Os Epodossolos também são
de textura arenosas, mas com a drenagem impedida. Determinando para essa
unidade o subgrupo de aptidão 5 (n) com aptidão restrita para pastagem
natural. A Planície Eólica corresponde a uma área aplainada entre as dunas
constituídas de sedimentos eólicos em laminações lisas, bem como
estratificações cruzadas
truncadas entre as dunas ativas. A extensão das interdunas varia em função
do suprimento sedimentar e da presença de água no lençol freático. Encontra-
se em regiões litorâneas ou mesmo interiores entre os campos de dunas (IBGE,
2009). Nessa unidade geomorfológica também foram coletados solos do tipo
Neossolos Quartzarênicos e Espodossolos. Conforme o que foi apresentado para
a unidade geomorfológica Planície eólica o tipo de utilização da terra
indicado é o subgrupo 5(n), indicando um uso restrito para pastagem natural
dessas terras. A Planície Lacustre representa uma área plana resultante de
processos de acumulação lacustre, comportando lagos, cordões arenosos e
diques marginais. Ocorre associada aos grandes sistemas fluviais e aos vales
de origem neotectônica (IBGE, 2009). Nessa unidade foram coletados solos do
tipo Gleissolos de textura argilosa e hidromórficos. Com base nos graus
limitantes e grupos estabelecidos nos fatores para essa unidade
geomorfológica o subgrupo de aptidão indicado é para o uso regular de
pastagem natural, ou seja, subgrupo 5n. O Tabuleiro Costeiro é uma unidade
geomorfológica de maior ocorrência na área de estudo, áreas com relevo
relativamente plano e suave ondulado. Forma de relevo suavemente dissecado
com extensas superfícies de gradientes extremamente suaves ou colinas
tabulares, com topos planos e alongados e vertentes retilíneas, resultantes
da dissecação fluvial recente. Densidade de drenagem muito baixa com padrão
de drenagem paralelo (SOUSA, 2015). No tabuleiro costeiro foram coletados os
solos tipo Argissolos, Neossolos Quartzarênicos e Latossolos. De acordo com
ocorrência de solos o tipo de aptidão para as áreas que ocorrem os
Argissolos e Latossolos é do subgrupo 2(a)bc como sendo do tipo restrita
para lavoura do nível A e regular para as dos níveis B e C. E as áreas que
ocorrem os solos do tipo Neossolo Quartzarênico é do subgrupo 3abc a aptidão
agrícola é restrita para lavouras de ciclo curto e manejo A, B e C. E no
Terraço Marinho esta unidade é marcada por superfícies aplainadas com áreas
de restinga, áreas constantemente inundadas. Está localizada próximo a linha
de praia, com uma topografia levemente ondulada, constituída por areias
finas a médias, bem selecionadas e com alta permeabilidade (SOUSA, 2015).
Nessa área foram coletados solos do tipo Gleissolos e Neossolos
Quartzarênicos. Por conseguinte, a aptidão estabelecida para a unidade é
regular para pastagem natural e inapta para silvicultura, subgrupo 5n, para
áreas que ocorrem os Gleissolos e sem aptidão agrícola, subgrupo 6, para
áreas que ocorrem os Neossolos Quartzarênicos.
Fonte: elaborado por Lima (2017)
Fonte: elaborado por Lima (2017)
Fonte: Elaborado por Lima (2017)
Fonte: Autores (2017)
Considerações Finais
Com base nos resultados apresentados para os solos do litoral do Piauí pode-se constatar que os solos das unidades geomorfológicas Praia, Cordão Arenoso, Dunas Móveis, Planície Flúvio Marinha foram enquadrados no subgrupo de aptidão 6. Os das unidades Planície e Terraço Fluvial, Planície Lacustre e Terraço Marinho foram enquadrados no subgrupo 5n. Nas unidades Paleodunas, Dunas Estabilizadas e Planície Eólica no subgrupo 5(n). Já a Planície e o Terraço fluvial também foram enquadrados no subgrupo 2abc. E o Tabuleiro Costeiro recebeu a classificação para aptidão 2(a)bc e 3abc, sendo as terras predominantes na área de estudo. Diante do exposto concluiu-se que a maior parte da área de estudo apresenta um potencial regular para lavouras, devido a unidade geomorfológica Tabuleiro Costeiro ser a área com maior extensão e ter sido enquadrada nos subgrupos 2 (a)bc e 3(abc). Foi possível relacionar as feições geomorfológicas com a aptidão agrícola das terras, o que configura uma inovação na metodologia.
Agradecimentos
Ao CNPq pelo financiamento do projeto “Paisagem Costeira do Piauí” e ao PIBIC/UFPI pela concessão de bolsa e vínculo à pesquisa científica.
Referências
BAPTISTA, João Gabriel. Geografia Física do Piauí. 2. ed. COMDEPI, 1975.
CORSEUIL, Cláudia Webber et al. Geoprocessamento e sensoriamento remoto aplicado na determinação da aptidão agrícola de uma microbacia. Irriga, v. 14, n. 1, p. 12-22, 2009. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/71045>
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306p.
FUNDAÇÃO CEPRO. Macrozoneamento Costeiro do Estado do Piaui: Relatório Geoambiental e Socioeconômico. Teresina: [S.e], 1996.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual Técnico de Pedologia. Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 323p.
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA. Plano de Gestão e Diagnóstico Geoambiental e Sócioeconômico da APA Delta do Parnaíba. Fortaleza: IEPS/UECE, 1998.101p.
LEMOS, R. C.; SANTOS, R. D.; SANTOS, H. G.; KER. J.; ANJOS. L. H. C. Manual de descrição e coleta de solo no campo. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/SNLCS, 2005. 91p.
LEPSCH, Igo F. Formação e Conservação dos Solos. São Paulo: Oficina de Textos, 2002.
PENTEADO, M.M. Fundamentos de Geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE, 1980.
RAMALHO FILHO, A.; BEEK, K. J. Sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras. 3. ed. rev. Rio de Janeiro: EMBRAPA/CNPS, 1995. 65 p.
SOUSA, Roneide dos Santos. Planície Costeira do Estado do Piauí: mapeamento das unidades de paisagem, uso e cobertura da terra e vulnerabilidade ambiental. 138f. (Mestrado em Geografia – Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Federal do Piauí), Teresina, 2015.