Autores

Nascimento Neto, J.N. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA) ; Sobrinho, J.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA) ; Costa Falcao, C.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE)

Resumo

O trabalho, objetiva discutir as características ambientais do maciço de Uruburetama e as alterações da paisagem natural. Na organização espacial da paisagem, estabeleceu-se duas áreas de 23,50 km² dentro de uma área maior de 977,43 km² do maciço de Uruburetama. Material e Método: Revisão de Literatura, observação da paisagem e mapeamento da área, além de consulta documental a plataforma do IBGE (2004 e 2014) e IPECE (2015). Os resultados e discussões, aplicou-se o Geossistema de Bertrand (1968) ao planejamento da paisagem das Unidades Inferiores, o Geossistema (maciço, 977,43 km²) e as unidades de Geofácies (Topo, Vertente e Vale de 23,50 km² cada área), este que teve sua base no Decreto N°4.297/2002, estabelecendo o zoneamento da área de estudo, onde ficou determinado uma zona de preservação permanente, zona de conservação ambiental e uma zona de uso intensivo. Considerações Finais: Constatou-se a alteração da paisagem e o potencial agrícola.

Palavras chaves

Maciço de Uruburetama; Geossistema; Zoneamento da Paisagem

Introdução

No Semiárido Nordestino Brasileiro os ambientes de maciços residuais úmidos, se destacam por proporcionar condicionantes ambientais que favorecem o cultivo agrícola do solo, deste modo, os processos de ocupação dessas áreas remetem ao posicionamento de lima (2012) ao relatar que são áreas que oferecem condições a sobrevivência. Aponta Costa Falcão (2002, p.1) a área dos maciços residuais úmidos do Nordeste tem se colocado tradicionalmente como setores de agricultura das mais significativas. O presente trabalho é fruto do curso de mestrado acadêmico em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú - MAG/UVA, e busca analisar as características ambientais que constituem a paisagem do maciço residual de Uruburetama. O Estado do Ceará apresenta uma área territorial de 148.887,632 km², conforme o (IBGE, 2016). Dentro da extensão territorial do Estado, existe a correlação dos diversos ambientes geomorfológicos que dão destaque as diversas paisagens naturais do Ceará. O maciço de Uruburetama é situado no norte do Estado do Ceará. Essa estrutura geomorfológica de maciço residual que é constituída pela atuação dos processos geomorfológicos endógenos e exógenos, no aspecto referente a fisionomia à ação dos processos exógenos são preponderantes no contexto de uso e ocupação do solo. Sobre a nossa área de estudo, os autores Oliveira e Carrasco (2003) definem como feição geomorfológica residual no contexto do sertão que possui uma altitude com máxima de 1080 metros e extensão considerável em relação aos inselbergs. Em relação a extensão territorial da nossa área da pesquisa aferiu-se 973.43 km² de extensão que compreende todo o maciço, e estabeleceu-se duas áreas de 23,50 km² de extensão na porção setentrional do maciço, onde estão localizados os municípios de Itapajé e de Uruburetama. Elencamos a paisagem como categoria de análise associando aos princípios dos sistemas da Teoria Geral dos Sistemas – T.G.S, Bertalanffy em (1940) abordando as unidades de paisagem do Geossistema de Bertrand (1968), relacionando com Ribeiro (1989) as atividades econômicas que marca processualmente a fisionomia das vertentes e estão associadas a dinâmica da natureza. Em razão da necessidade de execução e da coleta de dados oficiais aferiu-se a proporção percentual de cada município em relação a área da pesquisa conforme a (ver tabela 01) abaixo. Destaca-se os municípios de Itapajé, Itapipoca, Irauçuba e Uruburetama que estão situados na pediplanação do maciço, portanto constituem a dinâmica do processo exógeno ressalta-se que a dinâmica natural é preponderante em relação aos elementos ambientais. Buscando compreender a organização espacial da paisagem natural em Bertrand (1968) das unidades de paisagens superiores e inferiores, constata- se a possibilidade de aplicabilidade metodológica dentro de duas vertentes a ser considerada dentro do maciço. Conforme o mapa de localização, destaca-se, respectivamente os municípios de Itapajé e Uruburetama situado na porção úmida do maciço, tais ambientes foram delimitados em 23,50 km² para as duas áreas estabelecidas para a análise da paisagem que no contexto agrícola associa-se as lavouras temporárias e permanentes IBGE (2004 a 2014) tal contexto é considerado no planejamento da paisagem. Em relação a questão territorial os municípios de Irauçuba, Itapajé, Itapipoca e Uruburetama estão localizados nas áreas de pediplanação entre as vertentes do maciço, o município de Irauçuba e parte significativa de Itapajé estão situados no setor a sotavento do maciço, configurando, portanto, um aspecto de paisagem mais seca em relação ao setor a barlavento do maciço com aspecto mais úmido tem-se os municípios de Uruburetama e parte significativa de Itapipoca, e Itapajé.

Material e métodos

Para a revisão de literatura específica, tem-se o seguinte eixo metodológico: O processo de ocupação em maciços residuais: Lima (2012); Agricultura em maciços residuais úmidos: Costa Falcão (2002); Delimitação do Estado do Ceará: IBGE (2016); Geossistema: Bertrand (1968); Definição do maciço de Uruburetama: Oliveira e Carrasco (2003); Estrutura geológica: Magalhães e Silva (2010); Planejamento ambiental: Ross (1994); Rodrigues e Silva (2013) e Zoneamento Decreto N°4.297/2002. Mapeamento realizado por meio de softwares ArcGIS, seguindo processamento de dados e informações de shaps e raster, foi utilizado uma imagem de satélite LANDSAT 8, com cena: LC82170632016239LGN00, de (2016-08- 26), com composição RGB das Bandas, 6, 5 e 4), dados posicionados no SIRGAS 2000, Zona 24S. Foi delimitado a área do maciço e subsequentemente as duas áreas estabelecidas na pesquisa. Consulta a dados quantitativos e qualitativos no IBGE (2004 a 2016) junto a plataforma no item, produção agrícola municipais lavouras temporais e permanentes, para os municípios de Itapajé e de Uruburetama, ambos respectivamente situados nas duas áreas delimitadas na pesquisa. No IPECE (2016) informações de cunho qualitativas, sobre as caracterizas físicas dos municípios do maciço de Uruburetama, dos tipos de solos, do aspecto climático do semiárido, da bacia hidrográfica e de cobertura vegetal da área da pesquisa. Aplicação da proposta metodológica do Geossistema de Bertrand (1968), tem-se a caracterização do potencial ecológico juntamente com a exploração biológica alterando a paisagem, na aplicação da proposta de Bertrand (1968) estabeleceu-se o Geossistema (Maciço, 977,43 km²), as unidades de Geofáceis (Topo, Vertente e Vale, 23,50 km² para as duas áreas estabelecidas). Planejamento da paisagem, com base no zoneamento por meio do Decreto N°4.297/2002, estabelecendo paras as duas vertentes em análise, a Zona de Preservação Permanente, Zona de Conservação Ambiental e Zona de Uso Intensivo. Atividades de observação da paisagem, corresponde as atividades de campo, para as duas áreas estabelecidas além de diálogo informal com moradores e agricultores para compreende a questão agrícola, buscando adequar o zoneamento com base na realidade local encontrada.

Resultado e discussão

Em relação aos resultados da pesquisa, aponta-se a caracterização ambiental, em seguida tem-se as informações qualitativas do tipo de cultura agrícola existente no local e o planejamento da paisagem. Para alcançar o objetivo proposto buscou-se compreender as características ambientais do maciço de Uruburetama, para em seguida aplicar a classificação das unidades de paisagens inferiores do Geossistema de Bertrand (1968). O maciço residual de Uruburetama compreende em sua estrutura geomorfológica as feições de cristas e vertentes e vales, a fim de melhor adequar a organização espacial da paisagem em relação ao aspecto ambiental por meio das unidades de paisagens inferiores do Geossistema de Bertrand (1968) para posteriormente discutir a produção agrícola e a relação de uso e a ocupação do solo. No aspecto natural, tem se a temperatura variando de 26°C a 28°C, clima tropical quente semiárido, precipitação de 1274,5 mm/ano em Uruburetama pertencente a bacia hidrográfica do Curu, em Irauçuba precipitação de 539,5 mm/ano pertencente a bacia hidrográfica do Curu, Itapajé com 800,3 mm/ano pertencente a bacia hidrográfica do Curu e Itapipoca com 1130,4 mm/ano pertencente a bacia hidrográfica do litoral, a vegetação é característica de Caatinga arbustiva aberta e densa, sendo que alguns pontos mais altos tem-se resquícios de floresta atlântica. O solo predominante é Argissolos, seguido de Litólicos e o Planossolos dados do IPECE (2015). Com base nas informações anteriores, elenca duas vertentes (no mapa) classifica-se as unidades de paisagens inferiores do Geossistema, ficam assim, classificados o Geossistema como sendo o (maciço em 973,42 km²) e as unidades inferiores da paisagem as Geofáceis como (Topo, Vertente e Vale de uma unidade de vertente dentro de um área de 23,50 km²) estabelecidas nas duas áreas, respectivamente pertencente ao município de Itapajé e o de Uruburetama (ver figura 01). Esses dois quadrantes estão delimitados e apresentados no mapa, o seu aspecto natural é para o município de Uruburetama e de Itapajé, ambos pertencentes a Bacia do Curu com temperatura de 26°C a 28°C com clima semiárido e com aspecto de vegetação da caatinga aberta e densa, com solos do tipo Argissolos Vermelho-Amarelo Eutróficos, que propicia o contexto agrícola local. Dentre os aspectos naturais da área de estudo o maciço residual de Uruburetama se classifica nos domínios dos Escudos e Maciços Antigos pertencentes à era do Pré-Cambriano, fazendo ainda parte dessa classificação o domínio da depressão sertaneja e dos inselbergs conforme Magalhães e Silva (2010 apud MEIRELES, 2005). Para os apontamentos das unidades de paisagens do Geossistema, se evidencia a exploração biológica a partir dos elementos (Vegetação+Solo+Fauna) no maciço residual de Uruburetama que passam a alterar a paisagem e o contexto agrícola é possível pelo potencial ecológico (Geomorfologia+Clima+Hidrologia) que influência o contexto da produção agrícola municipal desenvolvida. Desta forma, temos nos municípios de Itapajé e de Uruburetama a produção de lavoura temporária (arroz, cana-de-açúcar, feijão, mandioca, mamona e milho) e a lavoura permanente (abacate, banana, café, castanha de caju, coco-da-baía, laranja, mamão e manga). Na (figura 02) abaixo, temos uma vertente localizada na porção úmida do maciço com diversas culturas para a I área estabelecida. Conforme, as descrições apresentadas na (figura 02), para o quadrante I, percebe-se que a paisagem é associada ao elementos, solo, vegetação e clima, de modo particular, identifica-se o cultivo agrícola de subsistência do milho, feijão, da banana e do caju. Em relação as formas de cultivo do solo, observou em Uruburetama o descumprimento das normas de manejo do solo. Em relação ao quadrante II, percebe-se que ao longo de sua extensão territorial a dinâmica de suas vertentes é associada as características de fisionomia da paisagem por meio das formas de uso e ocupação existente ao longo de suas vertentes, de tal modo percebe-se que a relação da sociedade sobre a natureza é semelhante as formas observadas no quadrante I, conforme (figura 03) abaixo. Desta forma pensar a unidade territorial maciço residual de Uruburetama em sua dimensão espacial de 973,43 km² tem como base a leitura e interpretação da paisagem uma vez que o potencial ecológico do Geossistema (maciço) possibilita uma adequação a produção agrícola subsequentemente a esse processo ocorre a alteração da paisagem em suas diversas Geofáceis. Assim, apresentamos Rodriguez e Silva (2013, p. 133) ao definirem: O planejamento ambiental é um processo intelectual no qual são projetados os instrumentos de controle baseados em uma base técnico-científica, instrumental e participativa, o que deve facilitar a implementação de um conjunto de ações e processos de gestão e de desempenho. Conforme Ross (1994, p. 64) o planejamento ambiental tem suas características e princípios básicos quando: Dentro desta perspectiva de planejamento econômico e ambiental do território, quer seja ele, municipal, estadual, federal, bacia hidrográfica, ou qualquer outra unidade, é absolutamente necessário, que as intervenções humanas sejam planejadas com objetivos claros de ordenamento territorial, tomando-se como premissas as potencialidades dos ambientes. Perante as fundamentações teóricas, compreendemos que o planejamento da paisagem, visa ancorar o processamento das informações que perpassa a paisagem sobre o entendimento da Zona de Preservação Permanente, Zona de Conservação Ambiental e Zona de Uso Intensivo, tais proposições estão associadas ao Decreto N° 4.297, de 10 de julho de 2002, que estabelece o Zoneamento Econômico-Ecológico, como instrumento de Política Nacional do Meio Ambiente apresenta, no Capitulo 01, os seus princípios, no Capitulo 02 a Elaboração do ZEE, no Capitulo 03, o Conteúdo do ZEE, no Capitulo 04, o Uso, Armazenamento, Custódia e Publicidade dos Dados e Informações e no Capitulo 05, as Disposições Finais e Transitórias inerentes a política de planejamento ambiental. As percepções da paisagem in loco, nos permitem identificar que em Uruburetama o contexto da produção agrícola desconsidera qualquer modelo de manejo do solo, o cultivo se encaixa em meio os vales e vertentes descaracterizando a paisagem natural e gerando implicações de ordem ambiental com a erosão nas vertentes desmatadas. Deste modo, é fundamental pensar um planejamento da paisagem que se baseie em critérios técnicos como a proposta de Zoneamento, de tal forma que possam contribuir com o processo de conscientização e proteção da paisagem, ficam assim, estabelecidos. Zona de Preservação Permanente – compreende as áreas de topos e de cristas do maciço, correspondem a variação de declividade de 45 – 75 %, são áreas de topos e de cursos de água. Zona de Conservação Ambiental – compreende as áreas de vertentes com declividade variando entre 20 – 45%, são ambientes dissecados e com processo de erosão alta e com instabilidade moderada. Zona de Uso Intensivo – compreende as áreas de fundo de vales, com declividades variando de 0 – 20%, constitui-se por um ambiente de estabilidade, porém, necessitando de manejo adequado em função da pressão sobre o ambiente. O processo de planejamento da paisagem requer da sociedade e do governo uma interação e a permanente troca de informação, de modo que para as diretrizes legais possam ser estabelecidas necessitam de um processo de conscientização e de informação a população.

FIGURA 01: Mapa de Localização do Maciço e dos Quadrantes I e II

Fonte: NASCIMENTO NETO, José Nelson, 2017. LEGENDA: Importância dos municípios e das feição geomorfológica residual de Uruburetama estabelecidas.

FIGURA 02: Quadrante I, área de Topo de Vertente.

FONTE: NASCIMENTO NETO, José Nelson, 2017. LEGENDA: Área de Topo com cultivo agrícola temporária e permanente.

FIGURA 03: Quadrante II, área de Topo de Vertentes Íngremes.

FONTE: NASCIMENTO NETO, José Nelson, 2017. LEGENDA: Área de cultivo agrícola, com vegetação secundária e de estrada carroçável propícia a erosão.

Considerações Finais

Os apontamentos finais da pesquisa, são evidenciados na caracterização ambiental do maciço de Uruburetama, seguida pelo estabelecimento das duas áreas para estudos detalhados da paisagem. Buscou-se averiguar a organização da paisagem por meio do estabelecimento do zoneamento da paisagem como instrumento de gestão, uma vez que o contexto agrícola sobre a superfície terrestre passa a modificar a paisagem. Buscou-se a aplicação do Geossistema como eixo nas unidades inferiores de Geofáceis (Topo, Verte e Vales) para os dois quadrantes, considerando uma vertente com uso agrícola. Na organização da paisagem estabeleceu o zoneamento da paisagem como instrumento de gestão perante o aspecto agrícola nas vertentes.

Agradecimentos

Ao Mestrado Acadêmico em Geografia – MAG-UVA A Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico - FUNCAP Ao Laboratório de Pedologia e Processos Erosivos de Estudos Geográficos – LAPPEGEO – UVA

Referências

BERTRAND, Georges. Paisagem e Geografia Física Global: Esboço Metodológico. R. RA´EGA. n 08, p, 141-154. Ed. UFPR. Curitiba-PR, 2004.

COSTA FALCÃO, Cleire Lima da. Avaliação Preliminar dos Efeitos da Erosão e de Sistemas de Manejo na Produtividade de um Argissolo na Serra da Meruoca. Dissertação de Mestrado – UFC, Fortaleza, 2002.

IBGE. Cidades: Panoramas, Rio de Janeiro, 2016,

IPECE. Perfil Básico Municipal, Fortaleza, 2015.

LIMA, Ernane Corte. Análise e Manejo Geoambiental das Nascentes do Alto Rio Acaraú: Serra das Nascentes – CE. Dissertação de Mestrado, UECE, Fortaleza, 2004.

OLIVEIRA, Vládia. Pinto Vidal de; CARRASCO, Carlos. Gil. Sectorializacíon Jierarquizada de Paisajens: Elejemplo de La Sierra de Uruburetama Em El Semiarido Brasileiro (Ceará-Brasil). Mercator, Revista de Geografia da UFC, Ano 02, n° 03, 2003.

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo e SILVA, Edson Vicente. Planejamento e Gestão Ambiental: Subsidio da Geoecologia das Paisagens e da Teoria Geossistêmica. 1° ed. Ed. UFC, Fortaleza, 2013.

ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados. Revista USP, v 8, 1994.