Autores
Santos, R. (UNICAMP) ; Perez Filho, A. (UNICAMP)
Resumo
O presente trabalho, teve como objetivo mapear as unidades geoambientais do Estado do Amapá utilizando a abordagem sistêmica como método de pesquisa, visando compreender a configuração da paisagem atual, ressaltando a caracterização e análise dessas unidades. O mapeamento das unidades geoambientais do Amapá, possibilita a descrição e analise das mesmas, tornando-se necessário, para destacar e melhorar a viabilidade do estudo da paisagem, bem como, a elaboração de planejamento ambiental para áreas que possuem diversidades de recursos naturais. O banco de dados do projeto Amazônia Legal (IBGE 2014), em escala cartográfica de 1:250.000 e a utilização do software ArcGis 10.3, fomentaram a elaboração do mapa com as unidades geoambientais, em que a subdivisão destas compreendem: Colinas do Amapá, Colinas Submontana, Tabuleiro Costeiro, Tabuleiro rebaixado, Planície Fluviolacustre e Planície Fluviomarinha.
Palavras chaves
Geomorfologia; Geossistema; Planejamento ambiental
Introdução
O estado do Amapá apresenta multiplicidade de paisagens complexas, resultante de variadas combinações dos elementos geossistêmicos ao longo do tempo geológico. Este cenário abriga um importante patrimônio biológico, ecológico e genético de ecossistemas de alta relevância ambiental. Na tentativa de melhor compreender a paisagem regional do estado do Amapá e identificar a natureza dos fatores que levaram à sua formação e atual configuração da paisagem foi considerando nesta pesquisa a abordagem sistêmica para a análise da paisagem. De acordo com Christofoletti (1999), a interação dos elementos do sistema antrópico e a configuração deste no uso e ocupação da terra, deve ser considerado em conjunto com a atuação do geossistema. O conceito de sistemas foi introduzido na geomorfologia por Chorley, 1962. Outros aspectos dessa abordagem foram considerados, por Christoffolleti (1979) e Strahler (1980). Para Penteado (1980), a geomorfologia é uma ciência com seus princípios básicos, leis gerais e objeto próprio, utilizando métodos e técnicas especificas. Desta maneira, a análise geomorfológica insere-se nos estudos ambientais, contribuindo, por seu turno, para orientar a instalação de atividades humanas (CHRISTOFOLETTI, 2001). Segundo Casseti (2005), o relevo assume importância fundamental no processo de ocupação do espaço, fator que inclui as propriedades de suporte ou recurso, cujas formas ou modalidades de apropriação correspondem pelo comportamento da paisagem e suas consequências. Guerra e Marçal (2012), consideram que a geomorfologia no estudo integrado da paisagem passa pela compreensão inicial de seu objetivo de estudo. Enfatiza em sua análise que a mesma deve estar inserida e compreendida por meio das relações processuais pretéritas e atuais, que são importantes na compreensão racional da forma de apropriação do relevo, considerando a conservação das propriedades geoecológicas (suporte e recurso) e socioeconômicas. Ab’saber (1969), ressalta a consideração dos níveis de abordagens nos estudos geomorfológicos como a Compartimentação Morfológica. Esta abordagem trata de observações relativas aos diferentes níveis topográficos e características do relevo, que apresentam importância direta no processo de ocupação. Nesse aspecto, a geomorfologia assume alto significado na definição dos diferentes graus de risco que uma área pode possuir, oferecendo subsídios ou recomendações quanto à forma de uso e ocupação. A cartográficas assume papel relevante para a representação espacial dos elementos e diagnósticos da paisagem, como ferramenta metodológica apropriada reprodução de feições ambientais. Deste modo o mapeamento geomorfológico pode se constituir em importante instrumento de análise ambiental, apresentando por meio de metodologias apropriadas, que irão subsidiar propostas de planejamento e áreas de preservação. Conhecer as unidades geoambientais do estado do Amapá torna-se necessário, ressaltando que não há informações disponíveis para a região, nem modelo de analise destas unidades, que inferem na fisionomia da paisagem, bem como no uso e ocupação da terra. Nesse sentido, esta pesquisa consiste no mapeamento das unidades geoambientais do Estado do Amapá utilizando a abordagem sistêmica como método de pesquisa, visando compreender a configuração da paisagem atual, ressaltando a caracterização e análise das unidades geoambientais.
Material e métodos
Área de Estudo: O estado do Amapá engloba um dos sete estados da região norte do Brasil, estando inserido entre os hemisférios norte e sul, em que sua capital Macapá é cortada pela linha imaginaria do Equador. Apresenta população estima de 766,679 hab, dividida em 16 municípios, embora 60% da população reside na capital (IBGE, 2014). O estado não tem acesso terrestre entre os demais estados do país, fato que ambientalmente permitiu ao Estado resguarda grande porcentagem de biodiversidade e recursos naturais. Metodologia: Os processos metodológicos instituídos para fundamentar a pesquisa apresentaram-se eficazes para alcançar o objetivo proposto na pesquisa. A aplicação da abordagem geossistema como aporte metodológico, tem sido muito utilizado nos estudos relacionados a Geografia Física, possibilitando a delimitação, caracterização e análise das unidades geoambientais, subsidiando o alcance espacial das potencialidades dos recursos naturais e do uso e ocupação da terra. Os subsídios que compreendem as unidades geoambientais, tronam-se fundamentais para prospecção e identificação de impactos ambientais, fata que possibilita diagnosticar mais precisamente ações a serem tomadas, pelos órgãos de gestão pública enfatizando o planejamento ambiental. O levantamento de material cartográfico serviu de apoio para a construção dos mapas das unidades. O projeto Amazônia Legal (IBGE, 2014), em que apresenta base cartográficos na escala de 1:250.000, permitindo analisar o Estado em caráter regional, considerando para isto os mapas de relevo, vegetação, climatológico, pedológico e hidrográfico do Amapá. Para a delimitação e elaboração dos mapas o software ArcGis 10.3 e suas ferramentas foram utilizadas. Integrando o Sistema de Informação Geográfica (SIG), que de acordo com Borges (2008), constitui uma das principais ferramentas para a descrição e análise geomorfológica, pois auxiliam a compreensão das relações geográficas na visualização, pesquisa e modelagem dos dados espaciais. Assim foram considerados VI Unidades Geoambientais saber; I Colinas do Amapá, II Colinas Submontanas, II Tabuleiro Costeiro, IV Tabuleiro Rebaixado, V Planície Fluviolacustre e VI Planície Fluviomarinha.
Resultado e discussão
A delimitação das unidades geoambientais do estado do Amapá, considerou os
limites do relevo e as feições geomorfológicas e a espacialização e
homogeneidade dos aspectos físico da paisagem, gerando o mapeamento das
mesmas. Assim cada unidade apresenta características singulares próprias,
possibilitando a identificação e caracterização das potencialidades naturais
de cada unidade bem como, a capacidade de suporte e fragilidade para uso e
ocupação de terras. Fato que implica diretamente a elaboração de um
planejamento ambiental, em que áreas, com grande fragilidade possam
apresentarem conformidade com o uso e ocupação, gerando menor impacto
ambiental. De tal modo as unidades geoambientais do estado do Amapá foram
compendiadas em seis (Figura 01):
I Colinas do Amapá: Esta unidade é composta por terrenos do embasamento
cristalino, apresenta complexos do Proterozóico com rochas ígneas. O relevo
do compartimento integra três domínios geomorfológicos. O Domínio Colinas do
Amapá com totalidade espacial no compartimento expõe morros baixos amplos e
suaves e alguns registros de inselbergs, Domínio de Morros e de Baixos
Morros ondulados, estes recobertos pela classe de solo predominante na
unidade de Latossolos Vermelho-Amarelo, distrófico, sob o ecossistema de
Floresta de Terra Firme Densa. Esta unidade apresenta cinco Unidades de
Conservação a saber: Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, Floresta
Estadual do Amapá, Floresta Federal do Amapá, Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Rio Iratapuru e Reserva Extrativista Beija-Flor Brilho de
fogo. Entretanto encontra-se em forte pressão antrópica devido ao garimpo
ilegal
II Colinas Submontanas: Apresenta complexos do Arqueano, com rochas que
sofreram metamorfismo regional, com predominância de Gnaisse, Granitóide,
Granulito, Migmatito, Ortoanfibolito e Ortognaisse. Com domínio Montanhoso
fortemente ondulado e montanhoso, apresenta a classe de solo com Latossolos
vermelho- Amarelo e pequenas porções espaciais com argissolos e neossolo
litólicos sob Floresta de Terra Firme Submontana, apresenta maior altitude
registrada no estado com o pico da Serra do Tumucumaque com 701m altitude o
mais elevado do estado, inserido na Unidade de Conservação Parque nacional
Montanhas do Tumucumaque,
III Tabuleiro Costeiro: Apresenta rochas sedimentares do Grupo Barreiras
formadas por Arenito conglomerático, Argilito arenoso e Siltito. O relevo
apresenta-se plano, suavemente ondulado e ondulado dissecado pela rede de
drenagem dentrítica e pelos processos climáticos com alto índice
pluviométrico. A unidade é recoberta por Latossolos Vermelho-Amarelo
distrófico, Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico petroplintico, Gleissolo
Háplico e inclusões de Plintossolo Pétrico Concrecionário, sobre vegetação
de Cerrado Arbóreo/Arbustivo. Sofre pressão agrícola devido ao plantio de
soja, bem como, plantio de eucalipto que ocupa uma boa parte das áreas com
relevo suave. Em termos de conservação é o mais desprotegido considerando
que não há nenhuma unidade de conservação nesta unidade.
IV Tabuleiro rebaixado: Composta por rochas sedimentares da formação Alter
do Chão, formadas por Quartzo arenito e Arenito. Na porção sul do
compartimento o relevo plano e suavemente ondulado está associado a Floresta
de Terra Firme Densa sobre Latossolos Amarelo Distrófico, Argissolo
Vermelho-Amarelo Distrófico Plintossolo Pétrico, Plintossolo Háplico
Distrófico. Na porção norte da unidade com relevo ondulado e fortemente
ondulado com Floresta de Terra Firme Densa Submontana, sobre Latossolos
Vermelho-Amarelo Distrófico, Plintossolo Argilúvico Distrófico e Latossolos
Vermelho-Amarelo Distrófico. A Reserva Extrativista do Rio Cajari integra a
unidade, onde as comunidades realizam a extração de Castanha do Brasil que é
beneficiada por cooperativas comunitárias.
V Planície Fluviomarinha: Corresponde as áreas baixas e planas situadas ao
longo da costa do estado, no extremo leste do Estado corresponde a unidade
mais geologicamente recente, como componentes do Paleoceno e Holoceno,
desenvolvida a partir de processos geológicos e geomorfológico e climáticos
o que resultou na acumulação de sedimentos distintos ao longo da costa. Na
porção central há presença de unidade com depósitos Flúviolacustre e
Fluviomarinho, A classe de solo predominante são os Gleissolos, com presença
também de Plintossolos e Neossolos, sobre estas classes encontra-se Campos
de Várzea, Floresta de Várzea e manguezal. Embora a unidade seja de difícil
acesso, devido aos longos períodos de inundação natural do sistema, com
presença apenas de comunidades ribeirinhas, esta vem sofrendo impactos da
pecuária bubalina, abertura de canais na rede hídrica, ações que
intensificam os processos erosivos dos solos. Incêndios são constantes no
Verão, destruindo imensas áreas e matando a fauna e flora na unidade.
Apresenta unidades de conservação; Reserva Biológica do Lago Piratuba,
Parque Nacional do Cabo Orange, e duas unidades em ilhas, Estação Ecológica
Maracá-Jipioca e Reserva Biológica do Parazinho.
VI Planície Fluviolacustre: Apresenta sedimentos inconsolidados de origem
Fluviolacustre, com depósitos aluvionares. A classe de solo predominante é o
Gleissolo, sob a fitofisionomia de floresta de várzea. A porção leste da
unidade apresenta grande influência do rio Amazonas, não há acessos por meio
terrestre, apenas por embarcações, fato que possibilita a conservação da
área. A unidade na orientação sudoeste esta sobre a influência do rio Jari,
um limite natural entre o estado do Amapá (margem esquerda) e o estado do
Pará (margem direita), em que apresenta histórico de projetos econômicos
voltados à exploração mineral.
Mapa com as unidades geoambientais do estado do Amapá, compreendo seis unidade em escala cartográfica regional.
Considerações Finais
As paisagens amazônicas apresentam acentuada relevância de biodiversidade e recursos naturais, que englobam o cenário o estado do Amapá, que em consonância com os aspectos da paisagem regional, transcorre de substancial heterogeneidade paisagística, decorrente da interação geossistêmica. Fato que, corrobora com a singularidades exercidas por ações do sistema antrópico. Mapear, para conhecer e analisar as unidades geoambientais fornece subsidio para a elaboração e gestão de planejamento ambiental. O planejamento ambiental é uma das ferramentas mais precisas no que condiz ao ordenamento territorial sendo imprescindível para as práticas e atividades de uso e ocupação da terra, favorecendo ações que promovam o manejo adequado da área, a conservação ambiental e o seu uso sustentável. O estudo dos recursos naturais tem como principal foco estabelecer diretrizes frente às tipologias de uso exercidas sobre os ambientes, de acordo com as potencialidade e limitações de cada ambiente. O mapeamento das unidades geoambientais, através da abordagem geossistêmica apresenta intenso potencial de estudos em diferentes escalas espaciais para a análise ambiental e a compreensão deste diante das potencialidades ambientais.
Agradecimentos
Referências
AB’SABER, A. N. Geografia e Planejamento. Revista de História. São Paulo, V. 39, n. 80, p. 257-272, 1969.
BORGES, M.E.S. Mapeamento geomorfológico da bacia do rio Preto e suas relações com a agricultura. (Dissertação de mestrado). Universidade de Brasília. Brasília, 2008.
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CHORLEY, R. J. – Geomorphology and general systems theory. U.S Geological survey, professional paper 500-B, 1962 (Tradução em Noticia Geomorfológica, 11 (21): 3-22, 1971).
CHRISTOFOLETTI, Antônio. Modelagem de sistemas ambientais, 1ª ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1999.
CHRISTOFOLETTI, Antônio. Aplicabilidade do conhecimento geomorfológico nos projetos de planejamento. In: GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista (org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 11ª ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p. 415-440.
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PENTEADO, Margarida Maria Orellana. Metodologia integrada no estudo do meio ambiente. Geomorfologia, Rio Claro – SP , v. 10, n. 20, p. 125-148, 1985.