Autores
Cristina da Rocha Costa, I. (IGDEMA/UFAL) ; Gabrielle de Lima Santos, J. (IGDEMA/UFAL) ; Alves Melo Falcão, N. (IGDEMA/UFAL)
Resumo
Os movimentos de massa, importantes na modelagem do relevo, são muito comuns nas áreas urbanas, principalmente em áreas de maiores declives, onde há também ações antrópicas. O presente trabalho tem por objetivo caracterizar a Rua dos Coqueiros no Bairro Chã da Jaqueira, em Maceió (AL), quanto a sua suscetibilidade a movimentos de massa, analisando as principais contribuições antrópicas e naturais, considerando a distribuição populacional e o uso do solo. Assim, para a realização deste, além do levantamento bibliográfico foi feito o reconhecimento da área com registros fotográficos e entrevistas. Foi constatada ausência de vegetação além de circulação hídrica na base da encosta, apresentando ainda, maior suscetibilidade em época de chuvas intensas com ocorrência de escorregamentos translacionais. Logo, se faz necessário melhorarias na realidade socioeconômica das famílias do local, planejando a ocupação da área e conscientizando quanto ao uso do solo.
Palavras chaves
Deslisamentos; Encostas; Desastres
Introdução
A ocorrência de movimentos de massas em encostas se constitui como um dos maiores problemas ambientais em várias regiões de relevo acidentado de todo o mundo. A ONU (1993), citada por GUIMARÃES et al (2008), declarou ser este um dos fenômenos naturais que mais causam prejuízos financeiros e mortes no mundo. As características principais para determinar uma área de risco são: relevo inclinado, constituição geológica, tipo de solo e ocupação desordenada. Considerando-se que é nas vertentes onde mais ocorrem movimentos de massas, é importante entender que esse processo se dá de forma natural e lento quando climáticas, alterando a pluviosidade, o intemperismo e a cobertura vegetal, e brusca quando se trata de atividades sísmicas. Com isso, o ambiente tende a buscar um novo equilíbrio, que hoje é realizado também para suprir as interferências e modificações implantadas pelo homem tais quais a ocupação desordenada em áreas de vertentes e o corte de taludes para construção de estradas. A remoção da vegetação, por exemplo, está atrelada a exposição do solo, que o deixa mais susceptível aos fatores erosivos. “Os deslizamentos são, assim como os processos de intemperismo e erosão, fenômenos naturais contínuos de dinâmica externa, que modelam a paisagem da superfície terrestre” (FERNANDES e AMARAL, 2011). Mas é um processo, também, acelerado pelo homem, onde em 1993 a Defesa Civil da ONU declara 2517 mortes por motivos de deslizamento. No caso do Brasil, em função do seu clima e sua formação geológica, ele está muito associado aos desastres relacionados a movimentos de massa, somado a ação antrópica. O Ministério das Cidades (2006) relata que os deslizamentos são fenômenos naturais que podem ocorrer em locais íngremes com altos índices de pluviosidade, podendo levar milhares de anos para isso, no entanto, pautado em suas múltiplas necessidades o homem vem a desempenhar ações que modificam em diferentes escalas o ambiente em que habita, e isso acelera drasticamente esse processo. Nos centros urbanos, onde a segregação social é clara, as áreas mais susceptíveis a riscos erosivos são ocupadas de forma desordenada por pessoas de baixo poder aquisitivo, que construindo ao longo das encostas suas moradias precárias, ainda, introduzem cortes e aterros nas mesmas. Junto a isso, a vegetação responsável por recobrir e proteger as encostas, são removidas, facilitando o contato da água com o solo, o que acelera a saturação e o cisalhamento do mesmo. Nesse sentido, foi detectado que a cidade de Maceió (AL) possui uma estruturação urbana em meio às áreas de declive mais acentuado, originadas pela dissecação da drenagem superficial e também movimentos de massa. Em sua maioria trata-se de uma população de baixa renda, não tendo em muitos casos, informações nem mesmo condições financeiras de saírem da localidade. A área observada para a presente discussão está no bairro Chã da Jaqueira – Maceió/AL, onde as encostas que margeiam a Rua dos Coqueiros encontram-se todas urbanizadas e apresentam movimentos de massa, que será o foco da análise e caracterização da vulnerabilidade de suas vertentes, motivando, assim, a identificação e análise de uma possível área de risco.
Material e métodos
Procedimentos Metodológicos O presente trabalho teve por motivação inicial a identificação e análise de uma área de risco na Rua dos Coqueiros, localizada no Bairro de Chã da Jaqueira, cidade de Maceió (AL). A pesquisa tem como fundamentação teórico- metodológica as obras de GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (2006 e 2009), FLORENZANO, T. G. (2008) e BIGARELLA. J. J. (2003). Após o levantamento teórico foram realizadas visitas in loco para fazer o reconhecimento da possível área de risco. Devidamente identificada o primeiro contato dentro da área foi feito por meio de entrevistas com moradores, na qual foi indagado sobre a qualidade de vida no ambiente e se os mesmos têm consciência da situação processual das encostas e dos riscos indicados. Com a permissão dos moradores locais foi feito registros fotográficos da área estudada a fim de utilizá-los para posterior avaliação e reconhecimento visual. Identificadas situações pertinentes a áreas de risco foram usadas imagens da ferramenta Maps do Google para detalhar a localização da área. Caracterização da Área de Estudo O bairro Chã da Jaqueira tem uma área de 1.290 Km² (Figura 1) e um perímetro de 5.439 metros, localizando-se na Região Administrativa 4 da Cidade de Maceió, e sua população, segundo o censo do ano de 2010 realizado pelo IBGE, era de 16.617 habitantes. Segundo o portal Bairros de Maceió, sua fundação ocorreu em 17 de março de 1958 a partir de uma propriedade rural particular que foi loteada para ligar o Bairro do Bebedouro à parte alta da cidade de Maceió. O relevo do Bairro é constituído pelas encostas do Tabuleiro Costeiro, apresentando declives que oscilam entre 20% e 30%, com altitude que variam de 40 a 60 metros. Segundo Köppen, o clima de Maceió é do tipo Tropical Chuvoso com Verão Seco As’, sendo a quadra chuvosa concentrada entre os meses de abril a julho. Geologicamente, está assentado sobre a Formação Barreiras, com Terrenos sedimentares neocenozóicos, onde desenvolveram os Argissolos vermelho-amarelos distróficos.
Resultado e discussão
Ao longo da Rua dos Coqueiros, no Bairro Chã da Jaqueira, foi possível
identificar tal urbanização, na qual foram encontradas construções em
situação de risco, usando como base, por exemplo, apenas vigas de cimento
(Figura 2).
Além disso, foram constatadas áreas com sinais de perda da cobertura
vegetal, influenciando diretamente a erosão laminar provocada pelo
escoamento de fluxo difuso superficial. Guerra (2009) relata que esse
processo se inicia ao “cair sobre um determinado tipo de solo mais água do
que possa se infiltrar começando a ocorrer escoamento superficial, podendo
provocar a erosão em lençol”. Após a saturação do solo a água que escorre
pode ser interrompida pela presença de blocos rochosos ou mesmo pela
cobertura vegetal, sendo estes pertinentes na conservação do mesmo. Desta
forma, Bigarella (2003) ressalta diante a importância da vegetação que “a
interceptação influencia a ação de processos limitando o fluxo superficial e
a umidade do solo, bem como diminui a velocidade do escoamento e a
capacidade de transporte de sedimentos, reduzindo de forma considerável a
ação erosiva quando a água circula ao redor dos troncos e das raízes”.
Acompanhando as encostas é nítida a ação antrópica, onde a população realiza
cortes e aterros, a fim de aumentar suas propriedades e/ou fazer uso do
material em construções. Com a extração da vegetação e remoção de material
da encosta o solo fica mais exposto as intempéries, principalmente as
precipitações pluviométricas acentuadas na localidade entre os meses de
abril e julho, o que acelera os eventos de deslocamento de massa, visto que,
o ambiente prevê uma área estável, com ocorrências principalmente nos
períodos chuvosos. Ainda quanto à atuação da água no solo, a população não
dispõe de saneamento básico e a galeria pluvial encontrada no local está
rente a encosta, levando muitos moradores – tanto da parte superior quanto
inferior da encosta – destinarem esgotos domésticos clandestinos para a
mesma, aumentando o volume de água na base da encosta, contribuindo para a
sua instabilidade.
Segundo dados do IBGE de 1985 a cota altimétrica para o bairro em estudo é
de 20 a 60 metros de altitude. Nas áreas onde a topografia é bastante
íngreme o poder de descarga dos materiais sólidos é acentuado pela força
gravitacional, ou seja, as partículas do solo desprendem-se com facilidade,
seguindo um processo natural, sendo levadas pelo escoamento dirigido pela
ação da gravidade.
As condicionantes ambientais associadas ao tipo de material presente na área
e os processos definem o tipo de movimento de massa. Neste caso foi
detectado processo de queda de solo, causado pela saturação com água e
presença de fruteiras como bananeiras e mamoeiros, que aumentou o peso do
material, como pode ser vista na Figura 3. O ano de 2017 teve o maior índice
de pluviosidade dos últimos cincos anos, com chuvas concentradas em maio,
junho e julho, que acarretou diversos deslizamentos e quedas nas encostas.
Guerra (2006), aponta que “os escorregamentos são geralmente divididos com
base na forma do plano de ruptura e no tipo de material em movimento”, logo,
“quanto a forma do plano de ruptura os escorregamentos subdividem-se em
translacionais e rotacionais”, sendo que, no bairro de Chã da Jaqueira
apresenta-se sinais de uma superfície de ruptura com forma planar,
acompanhando uma disposição do processo em longa distância e pouca
profundidade, mobilizando apenas a cobertura de solo residual e coluvial, o
que caracteriza e enfatiza a existência e presença de escorregamentos
translacionais no local (Figura 4).
Mediante a isso, Guerra (2006), afirma que “a dinâmica hidrológica nestes
movimentos possui um caráter mais superficial e as rupturas tendem a ocorrer
rapidamente, devido ao aumento da poro-pressão positiva durante eventos
pluviométricos de alta intensidade ou duração”. Reafirmando assim, a
susceptibilidade na ocorrência de movimentos de massa na área em períodos de
chuvas intensas, quando o solo atinge a saturação, tendendo a aumentar seu
peso, e com isso vem a seguir a dinâmica gravitacional, levando o material
que estava sobre a encosta para a parte baixa, área esta que está varias
casas. Durante a visita de campo foi possível visualizar moradias
abandonadas após escorregamentos que soterraram ou comprometeram sua
estrutura, sendo tal informação confirmada pelos moradores entrevistados.
Localização do Bairro Chã da Jaqueira, Maceió - AL. Fonte: Google, 2016
Moradias da Rua dos Coqueiros no Bairro Chã da Jaqueira, Maceió (AL). Fonte: Autoral.
Área com sinais de queda de solo, associado à saturação de água e fruteiras. Fonte: Autoral.
Escorregamento translacional encontrado na Rua dos Coqueiros, no Bairro da Chã da Jaqueira, Maceió (AL). Fonte: Autoral.
Considerações Finais
O diagnóstico da área permitiu a visualização do deslizamento de encosta, acompanhado por processos de perda do solo provocados pela erosão laminar através do escoamento de fluxo difuso superficial. Possibilitou também, identificar a ação conjunta dos condicionantes que contribuem para a suscetibilidade do local, tomando como principais problemáticas a remoção da vegetação, os assentamentos precários, a falta de saneamento básico, o despejo de lixo nas encostas, a canalização clandestina de águas residuais, corte de taludes em áreas instáveis e remoção de sedimento para construções. Mediante os resultados é necessário atentar-se a um planejamento urbano, especialmente para áreas de relevos mais íngremes, onde há maior propensão na ocorrência de deslocamento de massa e queda de barreiras. Sendo possível uma avaliação para construções de políticas públicas através da metodologia do Ministério das Cidades (2006). A ocupação crescente e desordenada em região de encosta somada as condicionantes de vulnerabilidade torna a Rua dos Coqueiros no Bairro Chã da Jaqueira uma área de risco, a qual demanda ações dos órgãos governamentais para o planejamento ocupacional, sendo também necessário orientar a população quanto ao uso do solo a fim de conservar, evitar e/ou minimizar catástrofes deste gênero, proporcionando um crescimento urbano para a localidade que não se restrinja apenas a atuações emergenciais, contemplando assim as diferentes realidades socioeconômicas.
Agradecimentos
Referências
GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Org.), GEOMORFOLOGIA E MEIO AMBIENTE. 6. ed. - Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2006.
GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Org.), GEOMORFOLOGIA: uma atualização de bases e conceitos. 9. ed. - Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2009.
FLORENZANO, T. G. (Org.), GEOMORFOLOGIA: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo, Oficina de Textos, 2008.
BIGARELLA. J. J., ESTRUTURA E ORIGEM DAS PAISAGENS TROPICAIS E SUBTROPICAIS. 3. ed. – Florianópolis, Ed. da UFSC, 2003.
SANTOS CARVALHO, Celso; GALVÃO, Thiago (Org.). Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas : Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Brasília: Cities Alliance, 2006. 111 p. Disponível em: <http://planodiretor.mprs.mp.br/arquivos/prevencaoriscos.pdf>. Acesso em: 07 nov. 2017.