Autores

Silva, C.J.G. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA) ; Silva, S.G. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA) ; Ribeiro, S.C. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA)

Resumo

Este trabalho visa analisar as ocorrências de processos erosivos na encosta da Chapada do Araripe na cidade do Crato-CE, focando nas consequências ambientais que vem ocorrendo devido ao uso e ocupação do relevo. A metodologia organizou-se em três fases, a primeira tratou de um levantamento bibliográfico sobre a temática, e o locus da pesquisa, foram essenciais as leituras das obras de Antônio José Teixeira Guerra, Valter Casseti, Jurandyr Ross e outros. A segunda foi a pesquisa de campo, onde fez-se registros fotográficos e as medições da voçoroca da área da pesquisa, por terceiro a produção de mapas cartográficos, analisando as declividades e a topografia local para compreender o escoamento superficial, os processos erosivos e os deslocamentos de massas gerados pela intervenção antrópica e os processos exógenos que vem alterando o relevo das encostas.

Palavras chaves

Processos erosivos; Chapada do Araripe; Desenvolvimento imobiliário

Introdução

O propósito da elaboração desta pesquisa foi analisar a produção espacial que está se desenvolvendo no bairro Belmonte na encosta da Chapada do Araripe, onde o crescimento imobiliário (especialmente loteamentos) está avançando para áreas instáveis, sendo possível identificar os processos de erosões próximos às casas que estão localizadas nas partes mais elevada do bairro. O município de Crato, localizado no sul do Ceará, compreende uma área de 1.176,467 km², está distante aproximadamente 560km de Fortaleza, e possui uma população de 121.428 habitantes segundo o censo IBGE realizado em 2010, estimando-se para 2017 um total de 130.604 habitantes. As coordenadas geográficas da cidade de Crato são 07º 14' 03" S de latitude e 39º 24' 34" W longitude e o bairro Belmonte, localizado na latitude de 7°16'3.97"S e a longitude de 39°27'21.40"O (figura 1). Foi escolhido como recorte espacial por conta do crescimento das construções e por estar situado em relevo com declividade considerável, no alto da encosta da Chapada do Araripe. Sua altitude varia aproximadamente 660m a 960m, influenciando as temperaturas mais amenas na localidade, o que o torna atrativo para o crescimento de loteamentos. A ocorrência de erosão nas áreas de encostas, naturais, podem se intensificar através da intervenção antrópica, uma vez que as atividades humanas ajudam a acelerar a ocorrência de erosão. O lançamento das águas pluviais e servidas a meia encosta é um fator gerador de erosões. A água pluvial escoa acompanhando a declividade do terreno, e nesse trajeto, abre sulcos, que rapidamente se transforma em ravinas, que podem passar a voçorocas, (CASSETI, 1994). O presente trabalho teve como finalidade identificar os processos erosivos da localidade do bairro através das intervenções humanas e dos fatores exógenos, ressaltando o papel da declividade contribuindo para aceleração dos processos erosivos. A ação antrópica tem contribuído na instabilidade das vertentes, e um dos fatores é a construção de vias. A avenida José Horácio Pequeno localizada no bairro, vem alterando o relevo, transformando encosta estáveis em áreas de risco devido a mudança de declividades que contribuem para o aumento da rapidez do escoamento superficial.

Material e métodos

Para embasamento dos resultados apresentado, a metodologia da pesquisa foi pautada em procedimentos organizados em três fases: a primeira envolve os levantamentos bibliográficos relacionados ao tema abordado e à área de estudo, quando foram realizadas leituras de livros e artigos com temas direcionados ao uso e ocupação do solo e aos processos erosivos ocorrido no bairro. A partir da abordagem teórica de Guerra (1998) sobre os fatores controladores que determinam as variações nas taxas de erosão, foram identificados os elementos que compõem a paisagem da localidade. Os estudos de Guerra possibilitaram a compreender as consequências que estão ocorrendo no bairro tanto no temporal e espacial. A ocupação da categoria vertente de Casseti (1995) busca analisar os processos e formas de apropriação e a transformação do relvo através do homem que se intensificam no tempo e no espaço, diante disso foi possível compreender a dinâmica de ocupação do bairro Belmonte, através do modelo de produção capitalista. Na segunda fase a pesquisa de campo, foram feitos os registros fotográficos utilizando a câmera Canon PowerShot SX500 IS, podendo registrar os resultados das ocupações imobiliárias, ações de erosão, movimentos de massa e voçoroca. Foram feitas observações dos processos erosivos devido a erosão pluvial no relevo da encosta, através dessas observações foram realizadas as medições de comprimento, largura, e a profundidade da voçoroca através da trena. Foram feitos os mapeamentos das voçorocas encontrado no bairro através do aplicativo GPS com finalidade na produção de mapas. As aplicações de entrevistas foram relevantes para compreender a produção imobiliária no relevo da encosta. Já na terceira foram produzidos mapas através do Sistema de Informação Geográfica SIG, pelos softwares: Qgis, Google Earth, Global Mapper, objetivando identificar a expansão urbana, o relevo e a declividade local. Foram elaborados mapa de localização da área, produzido no Qgis 2.18 (32-bit), usando bases cartográficas disponibilizadas pelo IBGE, os shapfile do limite do município do Crato-CE, escalas de 1:500.000. A elaboração do mapa de declividade foi atraves do Qgis 2.18 (32-bit), as imagens SRTM, diponibilizados no site serviço geologico dos EUA, EarthExplorer, teve a finalidade de identificar as áreas com mais declividades, o perfil de elevação MDE foi através da folha do Crato SB-24-Y-D.tif, foram determinadas as classes de declividade (EMBRAPA, 1979). O software Google Earth Pro 7.3.0.3832 (32-bit), serviu para mapear os locais que ocorrem os movimentos de massa e as erosões, através da vetorização da área possibilitou identificar as casas que estão em áreas de riscos numa escala de 1:10.000. O Global Mapper versão 17.0.5 (32- bit), serviu para gerar perfis topográfico da área, demostrando compreender o escoamento superficial das encostas devido a topografia do local. Além desses procedimentos, as aplicações de questionários junto à população que se encontra em área de riscos, tiveram bastante contribuição para a pesquisa.

Resultado e discussão

O município de Crato está localizado no sopé e na encosta da Chapada do Araripe, uma área de destaque geomorfológico, por ter a altitude de cimeira aproximadamente de 960m encravada em uma área predominantemente pediplanadas, e o bairro Belmonte localiza-se no alto de sua encosta (figura 1). Sua ocupação foi realizada de forma irregular, segundo os moradores por necessidades financeiras. As pessoas iniciam o processo de ocupação do solo com casas de taipas depois foram construindo as vilas, e hoje o adensamento populacional do bairro vem produzindo riscos ambientais devido à apropriação desordenada do relevo. De acordo com Casseti (1995.p,89), “As transformações acontecidas nas vertentes independentemente das diferenciações de classes, acabam muitas vezes atingindo aqueles que habitam as áreas de riscos, o proletariado, como as enchentes que se intensificam a partir da impermeabilização de superfície associada ao processo de assoreamento por mau uso, ou a contaminação por efluentes produzidos principalmente por aqueles que detêm o capital[...].” No campo foram identificados que existem casas próximos próximas de voçorocas, pois segundo os moradores as “grotas” (nome popular local das voçorocas) estão crescendo. A figura 2, identifica os locais de riscos geomorfológicos encontrado na localidade, o ponto A, apresenta voçorocas encontradas próximo das residências com comprimento acima de 50m, com 6m de largura e 5,5m de altura, foram geradas devido os processos erosivos através das ocorrências de chuvas concentradas típicas de ambientes semiáridos, mas também pelas transformações das vertentes produzidas pelo homem na apropriação do relevo tendo grande consequências na paisagem local. O escoamento superficial na Avenida José Horácio Pequeno localizada no bairro, vem modificando o relevo da encosta, devido a perda da vegetação, o tipo de solo que facilita o escoamento e a própria característica da encosta a declividade e a topografia. Segundo Guerra (1998,p.150), “Os fatores controladores eu determinam as variações nas taxas de erosão (erosividade da chuva, propriedades do solo, cobertura vegetal e características das encostas). É, por causa da interação desses fatores que certas áreas erodem mais que outras. A intervenção do homem pode alterar esses fatores e, consequentemente, apressar ou retardar os processos erosivos.” O ponto B mostra casas que estão em áreas de risco por conta das erosões e dos movimentos gravitacionais de massa que estão se desenvolvendo próximo das habitações - no campo foram identificados a construção de novas casas no local. O ponto C apresenta a queda de blocos devido aos processos exógenos, isso vem gerando os movimentos gravitacionais de massa, devido a propriedade do solo ser porosa facilita e infiltração e aceleram o processo da queda dos blocos, o escoamento superficial indo em direção as casas. No ponto D, foram identificados locais de transportes de massa devido o escoamento superficial, a erosão é uma das principais formas de degradação dos solos na maioria das vezes é causado pela intervenção antrópica, na encosta do Belmonte. Segundo o Governo do Estado do Ceará (2012. p.50) “[...] o regime de chuva varia de média de 700 a 1000mm/ano. As variações térmicas anuais na área da chapada são muito baixas, sendo que as temperaturas médias situam-se geralmente entre 23ºc e 27ºc, no período de maio a agosto é mais ameno, com temperaturas média, entre 21ºc e 25ºc”. Esses fenômenos naturais ocorridos, vem facilitando a entender a ter uma melhor compreensão das consequências que estão ocorrendo no bairro, o aumentando dos fluxos superficiais devido os asfaltos, por conta da declividade da localidade. Figura 3, o ponto A, mostra o mapa de declividade na localidade do município de Crato-CE–, as áreas representadas no tom de verde mais forte, equivale às localidades de menores declives que está representando (0 a 3%) considerado plano, as áreas representadas no tom verde mais claro apresentando (3 a 8%) são consideradas ondulações suaves. Já os locais com ondulações e fortes ondulações localizados no mapa, apresentam duas tonalidades diferentes do amarelo creme, representando as porcentagens de (8 a 45%). As localidades com (45 a 75%) são relevos fortes e montanhoso identificada na cor laranja escuro, acima de (75%) de declividade as áreas representadas no tom vermelho, são as locais escarpado. Podendo compreender que a escarpa da Chapada do Araripe não mantém acumulo de águas por esta em um local com declividade considerável devido as características naturais, através dos níveis de precipitação pluviométrica aumenta velocidade do escoamento superficial através da declividade desenvolvida, possibilita a retirada de sedimentos e da cobertura vegetal, gerando erosão e dando origem às ravinas e voçorocas, isso modelando o relevo. O ponto B, mostra perfil traçado na área da pesquisa, podendo interpretar a topografia da área por ser desenvolvida, facilita o escoamento superficial nos períodos de chuvas, foram identificados o transporte lixos e sedimentos em direção as casas e podendo chegar até entupir os ralos. No ponto C, mostra os perfis topográfico demonstrativo da topografia da área traçada. Contudo a ação humana sobre o meio ambiente contribui exageradamente para a aceleração deste processo, trazendo consequências e perda dos solos férteis por conta da expansão urbana e as rodovias, arenito que estrutura o topo da Chapada que está na formação Exu, os asfaltos modificam a morfologia das encostas. Segundo Guerra (1994, p.14) Não é possível ignorar-se a presença e a participação do homem nos processos erosivos; não apenas porque ele atua como agente acelerador dos processos, mais também por ser ele transformador de ambientes, e consequentemente, responsável direto por uma série de problemas ambientais na face da Terra. As observações no campo tornaram-se relevantes para entender suas características físicas, oferecendo um novo modo de ver a produção urbana no relevo da localidade. Foram analisados o processo de movimento de massa, e as marcas de erosões ocorridas devido os processos pluviais. “Aliada esses pressupostos naturais é cada vez mais significativa a ação humana, que, ao apropriar-se do território e de seus recursos naturais, causa grandes alterações na paisagem natural com um ritmo mais intenso que aquele normalmente produzido pela natureza” Ross (2006,p.53). O uso dos SIG, possibilitaram identificar os locais de riscos geomorfológicos encontrado no bairro, a utilização de imagens de satélites de alta resolução foi relevante para o trabalho, permitindo a vetorização do bairro, isso podendo compreender a produção urbana no relevo, uso do solo, e consequências ambientais devido a ocupação do homem em áreas naturais. A Figura 4 mostra a localização das voçorocas no bairro Belmonte, através da vetorização do local da pesquisa, foi relevante para ter uma melhor compreensão do uso e ocupação do solo e o desenvolvimento imobiliário que está crescendo para as partes mais elevada do relevo da encosta, isso vem gerando várias consequências ao meio ambiente, desmatando a vegetação, reduzindo a cobertura vegetal, aumentado dos processos erosivos da área e outros. Foram feitos os mapeamentos das voçorocas do local da pesquisa. Os pontos (1, 2 e 3) são as voçorocas encontradas no bairro, o ponto 1 está localizado com a latitude 7°16'10.36"S e longitude 39°27'22.53"O. O ponto 2 está localizado com a latitude 7°16'10.36"S e longitude 39°27'20.67"O, já o ponto 3 está na latitude 7°16'5.98"S e longitude 39°27'19.53"O. No período chuvoso segundo os relatos das pessoas entrevistadas os locais mapeados ocorrem escorregamento de massa que descem em direção as casas devido a topográfica, deixando várias consequências e perdas de bens mateiras, os moradores do bairro relataram que existia mais “grotas’, devido a ocupação do lugar, foram entupindo as “grotas” para poder construir suas casas, porém em tempo de inverno ocorre consequências.

FIGURA 1

Figura 1. Localização da área da pesquisa numa escala de 1:10.000. Fonte: Limites extraidos do IBGE (2006), softwere QGIS,versão 2.18.12 (32-bit). Data 24/11/2017. Elaborado pelo autor.

FIGURA 2

Figura 2.(A) Inicio de voçorocas;(B) Ocupação imobiliária em áreas de risco;(C) Queda de bloco;(D) Transporte de massa devido a erosão. Registos fotográficos pelo próprio autor. Google Earth Pro 7.3.0.3832 (32-bit). Data 24/11/2017.

FIGURA 3

Figura 3. (A) Mapa de declividade da área, com suas respectivas classes, de acordo com o que foi definido pela EMBRAPA (1979), (B) perfil traçado na área da pesquisa, (C) perfil topográfico demonstrativo da topografia da área traçada. Data 28/11/2017.

FIGURA 4

Figura 4. Mapa de localização das voçorocas atravez da vetorização da área, os pontos (1, 2 e 3) são as voçorocas encotradas no bairro Belmonte. Elaborado pelo autor. Data 28/11/17.

Considerações Finais

A importância do campo foi relevante para a compreensão da dinâmica dos processos erosivos que vem ocorrendo no bairro Belmonte em Crato-CE. Segundo os relatos dos moradores entrevistados, as primeiras ocupações na encosta tiveram com finalidade de produção e plantações de canas de açúcar e milho, uma outra parte da população que atualmente está situada nos locais mais elevados na vertente, tiveram suas casas construídas de taipa durante o início do processo de ocupação imobiliária, não conhecendo os riscos geomorfológicos da área. As mudanças na paisagem são devido a ação do homem na construção de estradas e habitações inadequadas, através das implantações das rodovias vem alterando os fluxos d´água originada pela chuva, os processos exógenos também um dos fatores que modelam o relevo da localidade, no bairro foram identificados movimentos gravitacional de massa e voçorocas. Através dos SIG foi possível analisar a declividade e a topografia local, que possibilitou ter uma melhor construção teórica e uma assimilação do espaço, percebe-se os locais desmatados por conta da intervenção antrópica, a utilização de imagens de satélite permitiu mapear os locais de riscos onde estão as voçorocas através da vetorização, com isso podendo contribuir para um planejamento urbano adequado.

Agradecimentos

À Profa. Dra. Simone Cardoso Ribeiro pelas orientações e por toda sua atenção; Ao Prof. Mestre Francisco das Chagas Souza da Costa; A Profa. Sherly Gabriela; Aos amigos da graduação e do Laboratório pelo apoio técnico na produção de mapas.

Referências

CASSETI, Valter. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto 2ª edição, 1995. 89 p.
CASSETI, Valter. Geomorfologia. [S.l.]: [2005]. Disponível em: <http://www.funape.org.br/geomorfologia/> Acesso em: 25/11/2017.
GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, Geopark Araripe: Histórias da terra, do Meio Ambiente da Cultura. Secretaria das Cidades, Projeto Cidades do Ceará – Cariri Central. Crato-CE, 2012. 50 p.
GUERRA, José Teixeira Guerra. A erosão do solo no contexto social. Anuário Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 1994. 14 p.
GUERRA, José Teixeira Guerra. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. 150 p.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Base de dados Cartográficos, 2010.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades: Crato. Disponível em: <http://cod.ibge.gov.br/2V6RZ> Acesso em: 20/10/2017.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Ecogeografia do Brasil: Subsídios para o planejamento ambiental. São Paulo. Oficina de textos, 2006. 53 p.
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