Autores
Costa, J.N.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Araujo, S.M.S. (UFCG)
Resumo
O trabalho teve como objetivo analisar a compartimentação geomorfológica e estrutural do município de Campina Grande-PB, o qual está inserido na Província da Borborema. Para tanto, foram utilizados dados da literatura geomorfológica brasileira, além de imagens aéreas e de radar do tipo textura, criando assim mapas cujas caracterizações do modelado. Este foi dividido em 4 compartimentos homogêneos, considerando os fatores da evolução do relevo estudado, como também demonstrando a interferência estrutural e litológica na distribuição da rede de drenagem hidrográfica do município. As contribuições da pesquisa foram: apresentar a compartimentação e classificação da drenagem do município.
Palavras chaves
Geomorfologia; Província Borborema; Morfoestrutura
Introdução
A ciência que estuda as feições é a Geomorfologia, sendo um ramo da Geografia Física, tendo o relevo como principal fonte de estudo. Este é construído ao longo das eras e períodos geológicos, regido por uma série de mecanismos. Para Penck (1924 apud Corrêia, 2010) as formas da paisagem são resultados de forças endógenas e exógenas, seguindo no tempo e espaço, e que as estruturas são resultantes de um jogo de forças internas e externas atuantes; para tanto foram utilizados vários conceitos para o enfoque na área espacial estudada neste trabalho. O principal mecanismo gerador de feições estruturantes é o tectonismo, e que no recorte espacial do território brasileiro o principal evento tectônico ocorreu no ciclo brasiliano (período entre 950 Ma e 490 Ma, segundo CPRM, 2016). Estudado por Ab’Sáber e Bigarella (1952,1961), com análise do terreno construído por esse grande evento orogênico, que contribuiu para a gênese da província geológica da Borborema, umas das principais províncias da plataforma sul-americana, na qual parte do planalto de mesmo nome é alvo da pesquisa em foco. A pesquisa teve como objetivo analisar a compartimentação geomorfológica estrutural do município de Campina Grande-PB, com ênfase nas feições do modelado e nos padrões de drenagem, através de fotointerpretação STRM. ÁREA DE ESTUDO - O município de Campina Grande localiza-se na Mesorregião Agreste do estado da Paraíba (AESA, 2010). Tendo uma área de 593,026 Km² (IBGE, 2015).. No âmbito geoambiental o município possui um clima do tipo As’(quente e úmido com chuvas de outono-inverno), segundo a classificação de Köppen e chuvas de 803 mm/ano (CNPM EMBRAPA, 2016). Os principais sistemas fluviais são os rios Salgadinho, Bodocongó, São Pedro, do Cruzeiro e Surrão, além dos riachos Logradouro, da Piaba, Marinho, Caieira, do Tronco e Cunha. Os principais cursos d’água têm regime de escoamento intermitente e o padrão de drenagem é dendrítico (CPRM, 2005), sendo todos esses pertencentes a área do médio curso da bacia hidrográfica do Rio Paraíba. Os solos de Campina grande são os Solo Netzsolodizado (SS), Neossolo Regolítico Distrófico (RE), Neossolos Litólicos Eutróficos (R), Vertissolos (V), Luvissolos Crômicos (NC), segundo Embrapa (2006). CONTEXTO GEOLOGICO E GEOMORFOLOGICO DA ÁREA – A área é composta de Cinturões Móveis Neoproterozóicos – Compreendendo extensas áreas representadas por planaltos, alinhamentos serranos e depressões interplanálticas elaborados em terrenos dobrados e falhados, incluindo principalmente metamorfitos e granitóides associados (IBGE, 2009). O relevo está representado pelo Planalto da Borborema com formas convexas e tabulares (AESA, 2010), com altitude variando entre 250 a 650m (AESA, 2010), na qual formam um conjunto de terras altas no Nordeste oriental brasileiro (Figura 1). A tectônica regional possui: Granitóides Brasilianos que estão sob influência DZT – Domínio da Zona Transversal e que estão inseridos em lineamentos e zonas de cisalhamentos (Rodrigues, 2008). Pela complexidade tectônica e litológica da província Borborema, a área de pesquisa encontra-se em parte dos Terrenos Alto Pajeú (TAP) e Alto Moxotó (TAM) (Figura 2). O primeiro (TAP) está distribuído nas áreas: N>NO>NE; sendo formado por Granitóides (Neoproterozóico Brasiliano s.l), Granitóides/migmatitos, Rochas supracrustais do Mesoproterozóico Esteniano (Cariris Velhos), Granitóides brasilianos no plúton conhecido por granito Campina Grande (Super Suíte II - Neoproterozóico Brasiliano), segundo CPRM, 2002, e que estes detêm as seguintes zonas de cisalhamento: de cinemática transcorrente Sinistral (Z.C. Matinhas e Z.C. Galante) e de cinemática destral (Z.C. Campina Grande) descritos por Rodrigues (2008). O segundo (TAM), está distribuído nas áreas: S> SO> SE; é formado por Embasamento Gnáissico-Migmatítico (Arqueano a Paleoproterozóico), Granitóides/migmatitos do Mesoproterozóico Esteniano (Cariris Velhos) e Granitóides (Neoproterozóico Brasiliano s.l) (CPRM, 2002).
Material e métodos
A pesquisa foi desenvolvida pelas seguintes etapas metodológicas: 1) Busca e leitura de referências bibliográficas, sob os princípios clássicos e atuais da Geomorfologia e Geologia; 2) Coletas e observações de imagens de satélite (LANDSAT 5 TM e 8 ETM+, Google Earth) e relacionadas às fotografias aéreas disponibilizadas pelo GEOBANK do CPRM (Serviço Geológico do Brasil – CPRM / Esri. HERE De Lome. Mapmy India. © Open Street Map contributors, and the GIS user community / Earth star Geographics, CNES/ Airbus DS.), os dados imagéticos são resultados do STRM - Shuttle Radar Topography Mission; 3) Para análise morfoestrutural das imagens foi utilizada a interpretação Foto- Geológica, com o Método Lógico-Sistemático (Guy,1966 apud Arcanjo, 2011), na qual utiliza de conjuntos ou zonas homólogas para estudo do relevo com repetições de texturas e formas, e no estudo das propriedades do relevo e dos elementos texturais e estruturais. 4) De posse das imagens e com base nas informações teórico-metodológicas, definiu-se a grandeza escalar do modelado da pesquisa; e neste caso, a escala de abordagem ficou compreendida na 4ª ordem de grandeza geomorfológica proposta pelo IBGE (2009). No que se refere ao conceito de modelado, o mesmo abrange um padrão de formas, na qual apresentam geometrias similares, devido haver uma gênese comum e de processos morfogenéticos atuantes, resultando na recorrência dos materiais correlativos superficiais (IBGE 2008). 5) Com os resultados obtidos foram desenvolvidos mapas, melhor maneira de se representar uma análise geomorfológica. Para isso, foram utilizados os softwares ArcGis 8.0, o programa de computação gráfica CorelDRAW X7® e tratamento de imagens no Adobe Photoshop CS6 Extended®, nos quais cada tema foi abordado e discutido sobre a área espacial e suas características relacionadas a autores referenciais da Geomorfologia.
Resultado e discussão
Valendo-se das metodologias empregadas, foram identificados os seguintes
tipos de modelados na cidade de Campina Grande.
Modelado do TIPO 1 – DISSECADOS – Este tipo são os mais recorrente na
paisagem brasileira, dividindo-se em: Modelado TIPO 1 A – DISSECADOS
HOMOGÊNEOS (D) e Modelado TIPO 1 B – DISSECADOS ESTRUTURAIS (DE). Os dois
são definidos pela forma dos topos e pelo aprofundamento e densidade da
drenagem. Com as feições de topo do relevo classificadas em: convexas (c),
tabulares (t) e aguçadas (a). Destacamos os seguintes tipos na cidade de
Campina Grande:
No Modelado TIPO 1 A – DISSECADOS HOMOGÊNEOS (D) Tem uma feição de fácil
observação textural, com colinas e morros, seu padrão de drenagem é o
dendrítico, porém com algumas peculiaridades pontuais, na qual serão
abordadas posteriormente. No Modelado TIPO 1 B – DISSECADOS ESTRUTURAIS (DE)
a dissecação fluvial é marcada por influências estruturais, principalmente
em áreas de falhas ou similares, ou em rochas de menor coalescência (ex.
gnaisses). No que tange os dois tipos de modelados (1A e 1B), homogêneos (D)
e estruturais (DE), respectivamente, eles podem possuir outras
subclassificações, as formas de topo, são elas: as formas de topos convexos
(c) que em nossa situação são esculpidas em rochas ígneas e metamórficas, em
alguns pontos denotando controle estrutural. São caracterizadas por feições
entalhadas por sulcos e cabeceiras de drenagem, e alguns com características
de alongamento. As formas de topos tabulares (t) tem uma analogia visual de
lombadas, geralmente esculpidas em rochas metamórficas, ou áreas de formação
superficial (acumulação ou autóctone). Possuem uma rede de drenagem de baixa
densidade, com vales rasos, normalmente com vertentes de pequena
declividade. Resultam da instauração de processos de dissecação, atuando
sobre uma superfície aplanada, esta feição de topo é bastante citada em
levantamentos clássicos na área de pesquisa. Modelado do TIPO 2 - PLANO DE
INUNDAÇÃO (AI) – Possui uma morfologia abaciada (côncava), com solos arenoso
e/ou argiloso (IBGE, 2009), sujeita ou não a inundações, sob condições
pluviométricas acima da normalidade ou em um curto espaço temporal, em nossa
área de pesquisa se comportam nas linhas de drenagem com sinuosidade ou
áreas mais planas com bastante rede de drenagem (Figura 2A). Modelado TIPO 3
– CRISTA SIMÉTRICA – Forma residual alongada, que difere de seu entorno,
pois tem drenagem inversa a sua faces, mas tem constituição litológica
homogênea na área, inferindo que a paleodrenagem esculpiu o entorno da
feição de crista simétrica na área SE da cidade (Figura 2B). Modelado do
TIPO 3 – ESCARPA DE FALHA– Esta feição é resultante de processos erosivos
remontantes, acompanhando paralelamente uma zona de falha. Ocorre nas zonas
de falhamentos verticais e/ou transcorrentes em morfoestruturas constituídas
por rochas rígidas (IBGE, 2009). A escarpa de falha tem características de
faces trapezoidais ao prosseguimento da erosão (Figura 2C). Modelado do TIPO
4 – VALE OU SULCO ESTRUTURAL– Estas são formas de vale originado a partir de
falha, fratura ou diáclase, submetida à tectônica rúptil, de ocorrência
litológica generalizada (IBGE, 2009). A litologia na área pesquisada são de
granitoides (Figura 2D). Modelado TIPO 5 – APLANAMENTO OU APLAINAMENTO –
Apresentam pouco dissecadas, que podem ser separada por escarpas. Com
inclinações suaves e possuindo coberturas detríticas e/ou de alteração,
identificada em muitos setores estão sob condições deposicionais pretéritas,
fazendo assim seu aplanamento, este faz parte das categorias de Modelados de
Acumulação.
OUTRAS CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E GEOMORFOLOGICAS ESTRUTURAIS - As
conhecidas quebras de relevo ou zonas homólogas (ARCANJO, 2011) são
abordadas de diversas ópticas, principalmente a partir das semelhanças de
elementos texturais e estruturais, fazendo uma relação entre contatos
litológicos, linhas de gênese rúptil (Zonas de cisalhamento e falhas),
microrelevos (convexos e côncavos), para junção de tais elementos propomos
um mapa esquemático na qual aborda as principais feições do modelado,
atrelando as condições geológicas e de zona de ocupação urbana (Figura3). No
compartimento tipo C1, observou-se que o modelado possui uma elevada taxa de
dissecação do relevo, seguindo um padrão preferencial das áreas de tectônica
falhadas, vou sulcos estruturais, escarpas de falhas e formas que apresentam
aparente grau de declividade de suas vertentes, precisando assim um estudo
morfométrico da área C1. No compartimento tipo C2, observa-se um
aplainamento ou que alguns autores chamam de pediplanície, essa área possui
um relevo suave devido a sua área de drenagem e ser um possível local de
deposição das áreas mais altas e íngremes no norte do município. No
compartimento C3 existe um alto grau de dissecação com semelhanças com o C1,
controlado por rede fluvial erodindo e depositando no relevo, mesmo tendo um
comportamento litológico de dureza ele está sendo degradado, na área está
inserido o granito campina grande (Rodrigues, 2008), também contém cristas
simétricas com a drenagem inversa às faces desse modelado. O compartimento
C4 ocupa grande parte, possuindo em geral formas de dissecação homogênea com
topo convexo, também controlado por cisalhamentos e falhas tendo
interferência estrutural. Sabins (1996 apud Maia, 2014) define que
lineamentos são feições que podem representar uma zona de fraqueza
estrutural, tendo características quase retilíneas; seu mapeamento pode ser
simples ou compostos, e que em alguns pontos na escala da pesquisa os
lineamentos não são observáveis, indicando assim que foram submetidas a
deposição e ou mascaramento por coberturas de solo. Na geomorfologia,
lineamentos representam variações na elevação, alinhamento de cristas,
segmentos de escarpas, trechos de drenagem e vales (Jordan; Schott, 2005
apud Maia, 2014), sendo este um importante indicador tectônico para o estudo
evolutivo do relevo, principalmente numa escala regional. Ressalta-se que
Campina Grande e região adjacente, inserem-se no contexto tectônico do
Domínio da Zona Transversal – DZT, contendo megacisalhamentos e ao ser feita
uma relação geocronológica percebeu-se que grande parte dos complexos e
suítes presentes no município teve origem no Neoproterozóico (CPRM, 2002 e
2005), comandado pelo geodinamismo do Ciclo Brasiliano e que nesses domínios
distribuem-se inúmeras suturas.
CARACTERÍSTICAS DA DRENAGEM- Para análise e caracterização da drenagem, suas
particularidades devido às diferenças do terreno, adotou-se a seguinte
classificação quanto à densidade de drenagem, que relaciona o comprimento
total dos canais e a área amostrada (IBGE, 2009), dividida em: muito
grosseira (1); grosseira (2); média (3); fina (4); e muito fina (5),
representadas nos compartimentos na figura 09. Sob a óptica do estudo
textural, são as incisões no relevo que configuram a competência erosiva
fluvial diante das características litológicas; ademais, utilizou-se a
metodologia de classes de aprofundamento das incisões (IBGE, 2009). As duas
caracterizações propostas são propícias área da pesquisa, pois são
aplicáveis aos modelados de dissecação (homogêneo e estrutural), sendo
classificado em: muito fraco (1); fraco (2); médio (3); forte (4); e muito
forte (5). (Figura 4). De forma geral, a drenagem de Campina Grande
configura-se com um padrão dendrítico, reforçando assim toda literatura
generalizada histórica do município. Mas ressalta-se que grande parte da
rede hidrográfica tem padrão direcional sentido N>S, o que configura o
padrão sub-dendrítico de Arcanjo (2011) e outras microformas de drenagem. Na
área N da cidade existem alguns pontos alinhados de nascentes, alinhamento
de segmentos de direção N>S, com estruturas de drenagem tipo candelabro; na
área SO tem uma estrutura ovalada o que corresponde uma dissecação em rochas
menos competentes (no caso os ortognaisses) ou mecanismos concêntricos
complexos na área (Figura 4, D1).
Mapa hipsometrico e perfis de elevação. Produzido por Autores (2016).
Modelados da área estudada. Organizado por autores (2016). Fonte de dados: Google Imagens, IBGE (2009) e fotos de arquivo pessoal.
Mapa dos elementos Geológicos-Geomorfológicos Estruturais do município. Produzido por Jonatas Costa, 2016.
Mapa de drenagem de Campina Grande. Fonte: elaborado por Jonatas Costa, 2016.
Considerações Finais
As evidências reunidas nesse trabalho pautadas no estudo Geológico- Geomorfológico permitiram orientar as considerações abaixo sobre a Geomorfologia estrutural de Campina Grande. Os aspectos das formas e texturas permitiram delimitar os compartimentos que variam dos tipos C1 ao C4, essas estruturas marcam e influenciam a rede de drenagem, e que em alguns pontos esta rede remonta indícios de um passado ora de erosão (C1) e outros de acumulação (C2). As diferenças de altitude, as litologias e a gravidade controlam o desenvolvimento desses dois processos na evolução do relevo. A evolução tectônica regional proporcionou também grande influência para o retrabalhamento do relevo, pois são observadas várias zonas de cisalhamento e fraturas também visíveis e descritos em trabalhos anteriores; mas outras não são visíveis em aerofotografias e nem mapeáveis, colocando assim a necessidade de desenvolvimento de estudos aprofundados e pesquisas de campo afim destas caracterizações. Quanto à drenagem natural, classifica-se um padrão dendrítico, que variam em espaçamentos, com uniformidade e simetria e também sem estas características (desuniformidade e assimetria). E que nos compartimentos C1 e C4 possuem um padrão direcional de seus fluxos no sentido N-S, também variando de direção no compartimento C3, direcionando–se no sentido N-SE, devido às linhas das falhas e sua esculturação pela drenagem ali estabelecida.
Agradecimentos
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