Autores
Domingues Dutra, T. (UFSJ) ; Oliveira Pereira, K.G. (UFU-FACIP)
Resumo
O município de Ituiutaba se localiza entre as coordenadas 19º01’37.60” S e 49º33’13.99” W a sudoeste de Minas Gerais, na mesorregião do Triângulo Mineiro. A área está inserida no “Domínio dos Chapadões Tropicais do Brasil Central” Realizou-se uma revisão bibliográfica sobre a geomorfologia e gênese das formas residuais do município. Posteriormente para a confecção do mapa hipsométrico foi utilizado o software Quantum Gis 2.10. Os morros analisados possuem feições residuais em forma de mesa com topos planos, escarpas com declividade chegando a 90°, depósitos coluviais e cornijas. Aspectos morfoclimáticos derivados das oscilações climáticas do Quaternário (clima seco e úmido) contribuíram para processos de dissecação vertical do talvergue e horizontalização das formas, dando origem a mesas residuais ou inselbergs de topo plano e escarpas, delimitados por superfícies de aplainamento característicos do grupo Bauru na região do Triângulo Mineiro.
Palavras chaves
Morros residuais; Triângulo Mineiro; Geomorfologia
Introdução
Conforme Guerra e Cunha (2012), as irregularidades da superfície terrestre são constituídas por diferentes formas que configuram o relevo. Desta forma, a Geomorfologia constitui como ciência das dinâmicas naturais de formação da paisagem e de análise ambiental. Suas abordagens na produção do conhecimento estão ligadas à Geografia e Geologia, constituindo uma especialização de concepções teóricas de caráter prático quanto ao estudo do relevo. Para Christofoletti (1980), a Geomorfologia é o estudo das formas do relevo. Seus pressupostos centrais baseiam-se na junção do estudo das formas com o estudo dos processos naturais analisando, por exemplo, topografias trabalhadas e retrabalhadas, condições climáticas e tempo geológico. As forças que modelam a superfície terrestre podem ser endógenas e exógenas. Deste modo o conjunto de fatores endógenos, como intensidade, magnitudes e frequências, interagem produzindo graus diferentes de processos geomorfológicos, a estrutura e composição da superfície terrestre, de forma ampla, influencia de forma passiva ou ativa o grau de interações e resistência dos materiais. Por outro lado, os aspectos exógenos, como a pluviosidade, temperatura e atividade biológica, podem exercer forças de erosão e deposição, conduzindo ao nivelamento da superfície terrestre. Essa tendência poderá ser alterada pelas forças endógenas levando a soerguimentos, rebaixamentos e variações do nível de base (GUERRA e CUNHA 2012). A superfície terrestre é o resultado da interação litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera, configurando as trocas de energia e matéria, sua gênese e processos constitui o estudo das formas do relevo, sendo o objeto da Geomorfologia. Para Casetti (2008) as formas do relevo são geradas por atividades tectogenéticas e tempo geológico, que vão evoluindo e a cada tempo configurando diferentes formas através de processos morfogenéticos. O relevo no quadro ambiental está associado aos componentes do meio físico natural e sua interação é responsável pela gênese de inúmeras fisionomias presentes na paisagem em constante transformação no modelado terrestre. Dessa forma, os estudos geomorfológicos são ferramentas para o planejamento e desenvolvimento socioeconômico destes ambientes naturais com vistas à preservação do Cerrado que vem sendo muito degradado nas últimas décadas. As bacias intracratônicas são formadas por processos de epirogênese ou movimentos que tem como características soerguimentos e subsidências, com movimentos lentos e verticais. No Brasil as bacias geológicas se localizam em regiões de estabilidade tectônica, com cratons ligados a terrenos do Pré- Cambriano, ocorrendo amplos arcos regionais, como os do Paraná, Parnaíba e Amazonas, que são datados do Paleozóico. Nessas regiões comumente são representadas feições de relevo em formas de planaltos, chapadas, planícies, cuestas e morros residuais. Nos afloramentos de rocha sedimentares ocorrem diversas estruturas correspondentes aos processos de deposição, a estratificação e a forma de camadas paralelas, indicando mudanças nos processos deposicionais e com variações de ângulos. Diante da necessidade de contribuir com estudos da gênese e evolução das formas do relevo no município de Ituiutaba, o objetivo deste trabalho foi discutir brevemente os relevos residuais e sua distribuição geográfica, bem como as formas presentes em belas paisagens, uma vez que os conhecimentos geomorfológicos são muito importantes para o desenvolvimento de projetos aplicáveis aos estudos ambientais, para pesquisas relacionadas aos recursos naturais e à preservação/recuperação de áreas afetadas por impactos ambientais.
Material e métodos
O estudo foi realizado no município de Ituiutaba que se localiza entre as coordenadas 19º01’37.60” S e 49º33’13.99” W no sudoeste de Minas Gerais, mesorregião do Triângulo Mineiro. Conforme Mendes e Queiroz (2011), o município de Ituiutaba classifica-se climaticamente como AW quente úmido (segundo a classificação de Koppen), tropical de inverno seco, com estação chuvosa bem definida no período de outubro a abril e um período seco de maio a setembro. Temperaturas médias entre 14ºC em Junho e 31ºC em Dezembro. Não é comum a ocorrência de geadas. Assim, se caracterizam em períodos quentes e úmidos durante o ano, onde as temperaturas são marcantes nos meses secos. A umidade relativa do ar é de 72,05% (média anual). A precipitação pluviométrica é em média de 1.470 mm anualmente, as chuvas aparecem em alguns meses em grande abundância. Há predominância de vegetação de Cerrado, característico do geossistema dos planaltos aplainados do Brasil Central. Os tipos fisionômicos da região de Cerrados são: mata de galeria ou ciliar, mata mesofítica ou subcaducifólia de encosta, mata de várzea, Cerradão, Cerrado striso-sensu, campo sujo ou cerradinho, campo limpo ou hidromórfico e vereda. Para o desenvolvimento deste estudo foram estabelecidas etapas de trabalho com a geração de informações sobre a área de estudo que pudessem ser sobrepostas gerando o maior número de dados possível. As etapas foram o referencial teórico, os levantamentos de dados em campo, elaboração de mapa hipsométrico e uso das cartas topográficas. Para o desenvolvimento da revisão bibliográfica foram selecionadas as referências que discutiam sobre a Geologia e Geomorfologia do Triângulo Mineiro, bem como a evolução e gênese das atuais formas e estruturas geológicas do Grupo Bauru para o município de Ituiutaba (MG). Para a coleta de dados, foi feito em laboratório o estudo prévio das cartas topográficas do IBGE (1983) por meio das quais foram traçadas as rotas para análise em loco. Foram selecionados oito morros residuais distribuídos ao norte e ao sul do município, os quais são denominados popularmente como: Morro do Bauzinho, Morro do Baú velho, Morro da Aroeira, Morro da Mamona, Morro da Mesa, Morro do Corpo seco, Morro do Cachorro Deitado e Morro do São Vicente. Em campo, foi obervado a disposição das camadas e tipo de sedimento e características dos extratos rochosos. Utilizou-se ácido clorídrico (HCL) para identificação de carbonato de cálcio nas rochas. Com auxílio de aparelho GPS Garmin modelo legend H, foi aferida a localização e altitude. Para realização do mapa hipsométrico foi utilizado o software Quantum Gis 2.10, com aquisição de imagens SRTM (Shutte radar topography mission) pelo site da EMBRAPA, que possui dados numéricos do relevo do Brasil. Para aquisição de imagens orbitais foi utilizado imagens do satélite LANDSAT 5 TM, com resolução de 30 metros, órbita 222, ponto 73, data 12/08/2001. Para elaboração das figuras dos morros utilizou-se o software Google Earth, posteriormente trabalhadas no Software Photoshop.
Resultado e discussão
Processos tectônicos decorrentes da separação do continente Gondwana e
posteriormente término das atividades vulcânicas da formação Serra Geral de
basaltos, geraram abatimento no Centro Norte da Bacia do Paraná. Essa
subsidência, lineada pelo Alto Paranaíba, província Alcalina do sudoeste de
Goiás, Serra do Mar e Arco de Ponta Grossa, foram fatores geradores de uma
fase tectônico-sedimentar que posteriormente deu origem a um novo nível de
base local resultando na formação do Grupo Bauru, no Cretáceo superior, com
área aproximada de 330000 Km², compreendendo as regiões do Triângulo Mineiro
em Minas Gerais, Sul de Goiás, Centro-Oeste de São Paulo, Nordeste de Mato
Grosso e Sudeste do Mato Grosso do Sul (FERNANDES e COIMBRA, 1996).
Segundo Batezelli (2010), na região do Triângulo Mineiro o Grupo
Bauru é representado por sedimentos das formações Adamantina e Marília.
Essas camadas assentam-se sobre basaltos da Formação Serra Geral do Grupo
São Bento, Bacia do Paraná. Os sedimentos da Formação Marília
(Maastrichtiano) afloram de forma desigual em formas de morros residuais.
A gênese destes tipos de relevo, em primeiro momento, se dá pelo
rearranjo do sistema hidrográfico, ocorrendo com a orientação e imposição do
mergulho das camadas ou pela pediplanação ao nível de base, iniciadas com a
incisão do talvergue dadas às condições úmidas. Com o desenvolvimento dos
esforços epirogenéticos a incisão fluvial tende ao aprofundamento do
talvergue, com a variação dos estratos rochosos podendo originar patamares
estruturais ou formas específicas. Isto pode ser observado no município de
Ituiutaba conforme a figura 1, nas classes hipsométricas de altitude de 655
a 708 m.
Os planaltos caracterizam-se por superfícies planas ou por variação
topográfica delimitada ou não por escarpas. Já as planícies são superfícies
planas de deposição de áreas adjacentes. As cuestas são formadas pela
diferenciação dos estratos rochosos com superfícies inclinadas formando
Fronts. O relevo tipo chapada se configura por extratos rochosos em camadas
horizontais, onde a resistência e sua morfogênese formam paisagens em forma
de planaltos e mesas de topo plano.
Para Suertegaray (2008) os planaltos são superfícies com topografias
irregulares, sua morfogênese se dá pelo extenso processo erosivo e pela
diferenciação do estrato rochoso aos processos intempéricos, podendo
apresentar em suas bordas formação de relevos residuais, conjunto de morros
e colinas de características de detritos possuindo saliências próximas ao
declive associadas aos processos erosivos como, por exemplo, formação de
festão e cornijas.
A diagênese é o conjunto de processos derivados da precipitação
química orgânica e inorgânica, que resulta na cimentação dos sedimentos
formando arenitos, conglomerados, siltitos e folhelhos. Segundo Suguio
(2003) os arenitos do Grupo Bauru apresentam estruturas maciças com presença
de conglomerados mal selecionados de matriz arenosa cimentados por calcretes
e silcretes.
Para Baccaro (2004) a formação Marília, representada na paisagem em
formas de morros residuais de topos planos, escarpas e rampas coluviais são
subdivididas em unidades geomorfológicas de anfiteatro intensamente
dissecado, anfiteatro medianamente dissecado e levemente dissecado, heranças
das ações morfogênicas do Terciário e Quaternário. Em trabalho de campo nos
morros residuais observou-se presença de arenitos que se intercalam com
depósitos de conglomerados sustentados por material calcífero como mostra a
figura 2. Nestes topos se localizam as cabeceiras dos afluentes do Rio
Tijuco e Rio da Prata que constituem as principais bacias hidrográficas do
município de Ituiutaba.
Em climas áridos as vertentes são horizontalizadas pelo recuo
paralelo, com isso os vales são abertos. Em climas úmidos ocorre à incisão
vertical do talvergue, cada rocha sofrerá variações dadas pelo clima quanto
a sua resistência. As formas tabuliformes e residuais seriam o resultado das
sucessivas fases climáticas, onde a erosão remontante atuaria na formação de
canais de primeira ordem, expondo as camadas indiferenciadas com processos
denundacionais nos topos interfluviais (CASETTI, 2008).
Na região do Brasil Central a gênese do relevo está associada a
superfícies aplainadas presentes em diferentes níveis. As superfícies
horizontais originam os pediplanos e sequências concrecionais ferruginosas e
material detrítico. Esses materiais são resultado dos processos
paleoclimáticos associados a ambientes áridos a semiáridos (CASETTI, 2008).
Aspectos morfoclimáticos derivados das oscilações climáticas do
Quaternário (clima seco e úmido) contribuíram para processos de dissecação
vertical do talvergue e horizontalização das formas, dando origem a mesas
residuais de topo plano e escapadas, delimitados por
superfícies de aplainamento característicos do grupo Bauru na região do
Triângulo Mineiro como pode ser visto no município de Ituitaba-MG conforme
as figuras 3 e 4.
Conforme o RADAM Brasil (1983) a área está inserida nos “Planaltos e
Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná” ou segundo Ab´ Saber (1971) no
“Domínio dos Chapadões Tropicais do Brasil Central”. De acordo com este
último autor o relevo destes locais é caracterizado por ser mediamente
dissecado com a presença de vales encaixados e vertentes com acentuado
declive.
O município de Ituiutaba se localiza na bacia
do Rio Tijuco que se insere na unidade planalto dissecado do Tijuco, sendo
delimitado ao sul por um planalto residual e leste por um planalto tabular,
estes pertencentes à sub-unidades morfoesculturais da região do Triângulo
Mineiro ROCHA;FERREIRA,BACCARO,RODRIGUES,2003)
No atual relevo da região, unidades litoestratigráficas em forma de
morros e anfiteatros, que fazem parte da formação Marília, coincidem com o
sentido NW-SE, de acordo com os mapas geológicos, e apresentam extensos
chapadões em municípios como Monte alegre, Tupaciguara, Araguari, Ituiutaba
e Uberlândia, Gurinhatã, Prata e Campina Verde.
Mapa hipsométrico do município de Ituiutaba-MG.
Camadas sedimentares de topo.
1-Morro do Baú Velho; 2- Morro do Bauzinho; 3- Morro da Aroeira; 4- Morro da Mamona.
5- Morro da mesa; 6- Morro do Corpo Seco; 6- Morro do Cachorro Deitado; 7- Morro do São Vicente.
Considerações Finais
Com o fim dos depósitos sedimentares, houve o início de lineamentos sobre os basaltos. Na paisagem houve o reordenamento do sistema de drenagem e mais períodos interglaciais e glaciais foram modelando as atuais formas de morros testemunhos, evidenciando as formações sedimentares de ambiente árido a semiárido. Essas superfícies eram grandes sistemas fluviais regidos pelas condições paleoambientais. Com isso os processos de erosão, transporte e carreamento dos sedimentos fizeram com que a paisagem atual adquirisse estas belas paisagens. No município estudado os morros residuais seguem um padrão de distribuição geográfica que os configura como principais divisores de águas das bacias hidrográficas dos rios Tijuco, Prata, São Lourenço e Paranaíba. O município de Ituiutaba, localizado na região Oeste do Estado de Minas Gerais, na região da bacia sedimentar do Paraná possui inúmeros morros residuais. Esses belos cenários se formaram há milhões de anos por processos sedimentares resultando em morros escarpados, anfiteatros rodeados por colinas suavemente convexas e vales rasos.
Agradecimentos
Referências
AB’SABER, A. N. Contribuição à Geomorfologia da área dos Cerrados. In:Simpósio sobre o Cerrado. São Paulo: EDUSP,97-103p. 1971.
BACCARO, C. A. D; SANTOS, L. Caracterização geomorfógica da bacia do Rio Tijuco. Caminhos de Geografia. v.1, n.11, p. 1-21, 2004.
BATEZELLI, A. Arcabouço tectono-estratigráfico e evolução das Bacias Caiuá e Bauru. Revista brasileira de geociências, 40(2): 265-285 junho de 2010.
CASSETI,V.Geomorfologia.Disponívelem:http://www.funape.org.br/geomorfologia/>. Acesso em: 06 Jun 2008.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2 ed. São Paulo: Blucher, 1980.
FERNANDES, L; COIMBRA, A. A Bacia Bauru (Cretáceo Superior, Brasil). Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 68, n. 2, p. 195-205, 1996.
GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B (Org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos.11ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
PORTUGUEZ,A.P; SEBRA, G.T.; QUEIROZ, O.T.M.M. Turismo, espaço e estratégias de desenvolvimento local. João pessoa; editora Universitária da UFPB, 2012.
RADAM BRASIL, Ministério de Minas e Energia, secretaria geral. Levantamento de recursos naturais, Rio de Janeiro, p. Folha SE-22 Goiânia, 1983.
ROCHA, M.R. et al. Mapeamento Geomorfológico do Triângulo Mineiro – Brasil. X Simpósio brasileiro de Geografia Física aplicada. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UERJ 2003.
SUERTERGARAY, A.M.D. (Org.) Terra: feições ilustradas. 3ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.
SUGUIO, K. Geologia sedimentar. 1ed. São Paulo: Blucher, 2003.