Autores

Santos, G.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (UFS)) ; Lira, D.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (UFS)) ; Santos, C.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (UFS))

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo realizar o estudo sobre a ação das falhas encontradas no Baixo São Francisco – Sergipe, levando em consideração os recentes terremotos ocorridos nessa região, apontando para atividades neotectônicas. Esta região é considerada epicentral, com evidências de liquefação nos sedimentos quaternários que se encontram sobre a Formação Barreiras. A metodologia foi baseada no uso de imagens de radar interferométricas – SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), com elaboração do MDT – Digital Terrain Model. Através da pesquisa bibliográfica, do mapeamento da linha de falhas e da ocorrência dos terremotos, foi possível concluir que a região situa-se sobre terrenos móveis, com acomodação de camadas ocorrida durante os terremotos.

Palavras chaves

Baixo São Francisco; Sismos; Quaternário

Introdução

Os estudos em torno da neotectônica, possuem uma grande importância no que diz respeito a evolução da crosta continental, como aborda Trifonov (1989). A observação, medição e datação mais precisa dos movimentos tectônicos cenozoicos são elementos importantes destes estudos. Há uma relação entre sismos e campos geofísicos que ligam a tectônica superficial com uma estrutura profunda, bem como suas transformações; a comparação de tectônicas ativas com as antigas permite que haja uma compreensão das consequências desses eventos a partir de escalas de tempo, bem como ao desenvolvimento destes. O quaternário é reconhecido pelas oscilações de condições climáticos (com períodos áridos, semiáridos e úmidos), sendo evidenciadas marcas na paisagem, como coloca Suguio (1999) e Correa (2001), havendo uma consequente evolução da geomorfologia e que depende da dinâmica entre os agentes exógenos e endógenos na formação do relevo. O neotectonismo, no Brasil e na Região Nordeste, tem se configurado como um elemento de muitas paisagens, sendo encontrado em maior parte na faixa litorânea. O estudo em questão se baseia nas rochas da Formação Barreiras, que é um complexo sedimentar com importante relevância tectônica, assim como abordado por Lima (2000). Em Sergipe, através de pesquisas feitas por Pontes (1969), identificou-se diversas espessuras nos sedimentos, o que levantou suposições de que as estruturas das falhas estiveram ativas durante a deposição, influenciando em tectonismo ativo a partir do Neógeno. Porém, na região que este trabalho norteia, sua maior parte teve a deposição ocorrida apenas no Quaternário, ou seja, mediante a atividade da tectônica que já existia. O objetivo do trabalho foi entender o contexto da sismicidade na região do Baixo São Francisco como uma forma de auxiliar no reconhecimento da forma de relevo existente. A Geomorfologia, por possuir um sentido não finalista do tempo, mas que volte-se inteiramente para compreensão de elementos responsáveis pela transformação ou até mesmo manutenção das formas de relevo, aplica-se um novo paradigma que aprofunde as técnicas de observação e mensuração de processos, a exemplo das neotectônicas (CORRÊA, et al., 2016). Os mapeamentos geológicos e geomorfológicos, com auxílio e utilização das geotecnologias trazem diversas contribuições para os estudos sobre a Geomorfologia da região, visto que permite a realização de levantamento de dados para estudo, buscando entender as causas e motivos que levam aos frequentes tremores.A área do estudo abrange os 14 municípios do Baixo São Francisco, com uma área de 1867,10 Km² e estando localizados nas mesorregiões Leste e Agreste do Estado de Sergipe. As principais atividades econômicas estão relacionadas a agropecuária e pesca.

Material e métodos

Foi realizado um levantamento bibliográfico, que buscou-se entender mais sobre o neotectonismo, desde as primeiras ocorrências no Terciário Superior e os atuais reflexos no Quaternário. Os dados referentes aos sismos, que oferece as coordenadas precisas dos fenômenos e que foram de suma importância para a realização do campo, foram obtidos através do Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN (LabSis), Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (OBSIS) e Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP). Para processamento de dados, utilizou-se o pacote do software ArcGis, a partir da licença acadêmica obtida pelo site da ESRI: <http://www.esri.com/>, disponibilizando de suas ferramentas e acesso ao ArcMap. Ainda, foi necessária a realização de um inventário de dados da região para que os objetivos designados ao trabalho fossem cumpridos, chegando assim a proposta final da pesquisa. A imagem SRTM foi obtida através do site da USGS – Serviço Geológico dos Estados Unidos: <http://earthexplorer.usgs.gov/>, com utilização da folha SC-24-Z-B, referente a porção do estado de Sergipe, ocorrendo posteriormente o recorte da área correspondente aos estudos. Construiu-se um modelo digital de elevação, sendo realizadas extrações das curvas de níveis com diversas cotas, bem como a elaboração dos mapas temáticos.Dados adquiridos a partir do mapa geológico do estado de Sergipe, disponível no site da CPRM – Serviço Geológico do Brasil <http://www.geobank.cprm.gov.br/>, possibilitou a obtenção de informações que dizem respeito a subclasses das rochas e a uma melhoria nas análises da área estudada, contribuindo para definição de unidades geomorfológicas e assim relaciona-las com os sismos ocorridos na região. A partir da imagem SRTM, bem como do ambiente SIG – Sistema de Informação Geográfica, foi possível identificar e delimitar os lineamentos de relevo do Baixo São Francisco. Tal medida foi tomada afim de melhorar e ampliar os dados referentes à área de estudo, possibilitando trazer maiores contribuições aos estudos sobre sismicidade, bem como os motivos que estão levando aos corriqueiros tremores na região. Para a realização dos mapeamentos e caracterizações morfoestruturais e morfoesculturais, foram seguidos os pressupostos metodológicos da taxonomia de Ross (1992) e IBGE (2010). O objetivo é representar o relevo em seus aspectos fisionômicos, havendo uma ordem cronológica do tempo geológico, classificando-as de acordo com o grau de detalhe que se percebe no relevo.

Resultado e discussão

Localizada à norte do estado de Sergipe, a área de estudo (Figura. 1) faz fronteira com o estado de Alagoas, sendo separados pelo Rio São Francisco com a foz localizada no município de Brejo Grande (SE), onde há o encontro com o mar. Através dos meios digitais e das tecnologias, a geomorfologia acaba incorporando diferentes tipos de aplicações que permitem classificações, análises e observações com um processamento mais ágil, dando maior autonomia aos resultados (LIMA e MONTEIRO, 2010). Com a criação do banco de dados, através de uma base geológica e estudos relacionados ao contexto da área de estudo, criou-se o mapa morfoestrutural com os lineamentos das falhas e fraturas (Figura. 2). Com auxílio da imagem SRTM, identificou-se e delimitou-se estas falhas. Identificou-se duas unidades morfoestruturais: a Bacia Sedimentar de Sergipe e os Terrenos da Faixa de Dobramentos do Grupo Macururé – sendo neste que há o maior predomínio dos sismos no Baixo São Francisco, visto que é uma área de terrenos móveis. Encontrou-se folhelhos, carbonato bioclástico, calcilutito, arenito, conglomerado e evaporito como sedimentos da área. A Bacia Sedimentar de Sergipe – correspondente a Bacia Sergipe-Alagoas, apresenta bons afloramentos e possui uma seção sedimentar completa, utilizada como uma bacia escola para estudos tectono-estratigráficos com relação a evolução da margem continental leste brasileira. Localiza-se na margem equatorial do nordeste brasileiro, com uma área continental de 13.000 Km² e a parte marítima de 32.760 Km² até a cota batimétrica de 3000 m. Se limita a norte com a Bacia Pernambuco-Paraíba e a sul, emerso pela Plataforma de Estância. Há deposição de sedimentos no Carbonífero e Permiano, havendo relação com processos evolutivos das bacias: as diferentes etapas da separação das placas sul-americanas e africana. Há sedimentação dos estágios em Sinéclise Paleozoica – idade neocarbonífera; Pré-Rifte – deposição entre o Neojurássico e Eocretáceo; Rifte – deposição das rochas em ambiente continental e de subsidência mecânica da bacia; Transicional – intensa erosão e resultante de uma estabilidade tectônica - com deposição no intervalo do Meso ao Neo-Aptiano; Drifte – subsidência termal e sobrecarga sedimentar ocorridas numa bacia tectonicamente estável – deposito do Eo ao Mesoalbiano. Os Terrenos da Faixa de Dobramento do Grupo Macururé localizam- se no extremo sudeste da Província Borborema, constituído como um orógeno estruturado durante o Neoproterozoico, quando há colisão entre o Cráton do São Francisco e o Maciço Pernambuco-Alagoas. Consideram-se de natureza metapelítica, com calciosilicáticos e metavulcânicos, onde o metamorfismo se impõe ao grupo, com idade atribuída ao Mesoproterozoico. Há intrusão granítica que truncam a foliação regional e através dos contatos com metassedimentos, há recristalizações, com evidências a influência térmica e gerando os hornfels, com presença de diques de granada-muscovita-granito. Através do mapa morfoestrutural, com utilização da imagem SRTM, identificou- se falhas e fraturas existentes na região, criando-se o traçado dos possíveis parâmetros evolutivos da paisagem, evidenciando-se o fato de ser uma região epicentral. A análise dos lineamentos demonstrou que mapas de relevos sombreados fornecem melhores resultados do que imagens de satélite, sobretudo aos lineamentos mais expressivos. Estudos feitos por Silva et al (2004) e Lima & Barbosa (2003), indicaram a presença de depósitos pleistocênicos na planície costeira do Rio São Francisco, observando-se sismitos associados a sedimentos e com possíveis confirmações de atuação do tectonismo durante o período de deposição da Formação Barreiras. Diversas são as falhas e fraturas encontradas na região, sendo elas: falha extensional; falha ou zona de cisalhamento contracional; falha ou zona de cisalhamento; foliação com mergulho medido e indicado; foliação horizontal e vertical; lineação do estiramento com mergulho medido. Utilizando da imagem SRTM, fazendo uma prévia análise e utilizando a classificação por máxima verossimilhança, cruzaram-se os dados da imagem com as curvas de nível, permitindo a criação do mapa geomorfológico e a identificação de suas unidades (Figura. 3). Percebeu-se a presença da Planície Costeira, Planície Fluvial, Tabuleiros Dissecados, Tabuleiros Conservados, Colinas e Pedimentos Dissecados. A Planície Costeira é uma área com terras baixas e planas, na área do litoral. Datam do terciário ou quaternário, com fontes primárias de sedimentos e armadilhas para retenção deste. Está associado a desembocadura de grandes rios (no caso, o Rio São Francisco) ou reentrâncias da linha de costa, com presença de falésias ou costões rochosos datados do pré- cambriano. Forma-se por justaposição dos cordões litorâneos, com feições marcantes do litoral, encontrando-se praias, dunas frontais, cordões litorâneos e zonas intercordões. As Planícies Fluviais são terrenos de baixa declividade, sendo formados por sedimentos fluviais do quaternário, em maior presença as margens dos rios e sujeitos a inundações periódicas. São associados a depósitos de níveis de base locais e regionais, como colocam Ross & Moroz (1997). Os Tabuleiros Conservados possuem topos planos, com vales bem entalhados e esculpidos sobre diferentes litofáceis, com predominância na paisagem por conta da baixa pluviosidade relacionada ao aumento da continentalidade. Há presença de ombreiras em direção a baixa encosta, com depressões fechadas em diferentes dimensões. O maior exemplo na região é o Platô de Neópolis. Os Tabuleiros Dissecados são superfícies sulcadas através de uma rede de canais com densidades variando entre média e baixa, com aprofundamento variado e gradientes entre médio e elevados. Topos planos com fraca vulnerabilidade à erosão, com predomínio de infiltração e sinais de erosão laminar através do escoamento difuso. Os vales encaixados se encontram presentes em área de forte vulnerabilidade à erosão, com sulcos e ravinamentos que resultam do escoamento superficial concentrado. As Colinas e Pedimentos Dissecados apresentam como feições individuais de topos planos a arredondados, com vertentes convexo-côncavas de cabeceiras de drenagem em anfiteatro – feições do relevo cristalino. O intemperismo químico e a intensa drenagem provocaram o recuo das vertentes através do escoamento superficial, formando rampas de colúvio com extensões variadas, havendo rastejamento e coluviamento. Os pedimentos se estruturam através do embasamento cristalino, com um caráter inter planáltico caracterizado pelos diversos níveis pedimentares pouco dissecados, sem cobertura sedimentar e que transitam para maciços estruturais formando encostas de perfil côncavo- planar. O Baixo São Francisco sofre com tremores (Figura. 4) pois falhas antigas, que formaram o talvegue e vale do rio estão sendo reativadas, como aborda Fontes (2010). Durante mais de 20 anos, vários tremores de terra ocorreram, classificando-os como moderados para os padrões de sismos nacionais. Os sismos de maior intensidade ocorreram em 25 e 27 de Setembro de 1973 no município de Capela, com 3.5 graus na escala Ritcher. Muitos foram os tremores identificados pelo Laboratório de Sismologia da UFRN, Observatório de Sismologia da Universidade de Brasília e Centro de Sismologia da USP, que fazem monitoramento da região e das atividades que ocorrem. Percebe-se que a ocorrência de sismicidade no Baixo São Francisco, bem como o processo de erosão e reativação das falhas influenciados pelo rio São Francisco, reforça ainda mais estes fenômenos que ocorrem sobre a plataforma continental.

Figura 1 - Mapa de Localização do Baixo São Francisco - SE

Fonte: Atlas Digital de Sergipe. Elaboração do autor.

Figura 2 - Mapa Morfoestrutural e de Lineamentos do Baixo São Francisc

Elaboração do autor.

Figura 3 – Mapa Geomorfológico com Lineamentos do Baixo São Francisco

Elaboração do autor.

Figura 4 – Mapa de registros dos sismos do Baixo São Francisco.

Elaboração do autor.

Considerações Finais

A elaboração dos mapas morfoestruturais, geomorfológicos, bem como a identificação das falhas e fraturas mediante a geologia e relevo, foram de grande importância para os objetivos propostos e podendo ser utilizados em estudos posteriores. Há destaque ainda para a aplicação de mapas derivados do MDT – Modelo Digital de Terreno, que foram obtidos através do procedimento geoestatístico por vetorização semiautomática. Os sismos no Baixo São Francisco são ocasionados pela proximidade ao rifte do São Francisco, que através da reativação das falhas/fraturas, geram tremores e consequentemente a acomodação de rochas, que após o sismo principal podem gerar novas movimentações, sendo estas reflexos do primeiro tremor. A elaboração de mapas e uso do banco de dados, que foi construído com o desenvolver do trabalho, bem como de todos estudos, foram de tremenda importância para a conclusão do trabalho, bem como os outros diversos subsídios procurados e encontrados para sanar dúvidas e que foram utilizados para a construção de todo o artigo. Este trabalho se constitui como uma ferramenta para análises posteriores e diagnósticos com objetivação em compreender as diversas dinâmicas das paisagens, bem como a sua compartimentação de forma integrada.

Agradecimentos

Referências

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