Autores

Santos, L.D.J. (UFPE) ; Souza, J.L. (UFPE) ; Souza, O.G. (UFPE) ; Corrêa, A.C.B. (UFPE) ; Oliveira, N.M.G.A. (UPE)

Resumo

O sistema turístico é complexo, porém necessários se fazem os moldes de gerir melhor os recursos turísticos para não serem suprimidos pela degradação. E nesse contexto, surge a Paisagem do Parque Nacional do Catimbau – PNC, localizado entre as coordenadas geográficas de 08º24’00’’ e 08º36’35’’ S e 37º09’30’’ e 37º14’40’’ W, onde um tipo específico de turismo se adequa, o Ecoturismo. É com esse intuito que a pesquisa se pauta em analisar a PNC, caracterizando os impactos negativos desenvolvidos e enfatizando as potencialidades atrativas e únicas do Parque Nacional que contemplam os fatores geomorfológicos e arqueológicos. A área do Parque até as suas extremidades deve ter certos cuidados de preservação e conservação, todavia a realidade é de abandono, levando o turismo a ser um fator determinante da degradação do espaço, estando presentes os impactos da agropecuária, desmatamento, extrativismo vegetal, depredação dos sítios arqueológicos, barulho e dentre outros destruidores do PNC.

Palavras chaves

PAISAGEM; SISTEMA; PARQUE NACIONAL DO CATIMBAU

Introdução

A área de pesquisa encontra-se pautada na Unidade de Conservação do Parque Nacional do Catimbau – PNC, localizado entre as coordenadas geográficas de 08º24’00’’ e 08º36’35’’ de latitude Sul do Equador e 37º09’30’’ e 37º14’40’’ de longitude Oeste de Greenwich. O PNC contempla uma área de 62.300 hectares do estado de Pernambuco, abrangendo os municípios de Buíque e Tupanatinga, situados na Microrregião do Vale do Ipanema, e Ibimirim, na Microrregião do Moxotó. De acordo com o Decreto de Criação do Parque (BRASIL, 2015) os 62.300 hectares de terras estabelecidos têm no município de Ibimirim a sua maior proporção, com 40% das terras, Tupanatinga com quase 37% e Buíque com 20%, ressaltando que o PNC tem áreas da zona fisiográfica do sertão com os municípios de Ibimirim e Tupanatinga e área do agreste pernambucano com o município de Buíque. A atividade turística é desempenhada por vários motivos os quais levam indivíduos ou grupos a se locomoverem e praticarem um tipo, forma e modalidade de turismo específico. Essa motivação desenvolve-se por meio de vários fatores que circundam o sistema de turismo, e dentre as motivações temos as paisagens salientes do meio físico que são fontes de visitas no mundo todo, ou seja, as belezas naturais ocorrentes nas paisagens são atrativas devido à natureza de um grande fluxo de pessoas no planeta. Dentre as proezas do meio físico, os aspectos geomorfológicos do parque possuem um potencial atrativo considerável. Isso é evidenciado nas paisagens naturais turísticas que, como um todo, detém um traço geomorfológico salutar nessa Paisagem a qual atrai turista. É dessa forma que a geomorfologia do local pode ser um potencial para o turismo, ressaltando também que esta pode, ainda, contribuir com o planejamento da área, prevenção ou minimização de acidentes, avaliação estética e estudos sistêmicos das paisagens. A paisagem do PNC se encontra inserida no Vale do Catimbau, que seria uma área de proporção maior, onde se encontram várias riquezas paisagísticas naturais para serem utilizadas como turismo. Especificamente no PNC, tem-se, na Paisagem, uma beleza ímpar, sendo representativa dentro do Vale, com uma geomorfologia e arqueologia prestando-se de embasamento aos motivos que levam aquela área a se tornar uma Unidade de Conservação na categoria de Parque Nacional – PARNA. Dentre os processos geomorfológicos ocorrentes nessa Unidade de Conservação - UC, os quais serviram para enquadrar a área do PNC na categoria de PARNA, tem- se como princípio a existência de uma grande representatividade da geomorfologia e da geologia do Estado na área, e isso contribui para uma melhor compreensão da evolução geomorfológica e geológica, acrescentando, de forma exuberante, as formações areníticas de estrutura frágil, sujeitas a uma maior ação da erosão eólica e pluvial, garantindo uma beleza cênica com multiplicidade de formas, levando o turista a viajar através de seu imaginário. Nesse sentido, encontra-se no PNC, podendo ser mensurada, a chapada de São José, com serras, vales e planícies fluviais, os quais detêm certas formas, que, devido as suas características, passaram a formatar uma morfologia atrativa ao olhar do turismo no parque. A diversidade de formas no relevo desenvolvidas pela ação da água que atua de maneira química e física alterando a composição e estrutura dos minerais agregados na rocha arenítica. O processo químico atua modificando a composição química da rocha, evidenciado na coloração amarela e vermelha devido à presença da oxidação nos minerais ferruginosos. Dessa forma, existe um verdadeiro multicolorido nas fisionomias das formas de relevo residuais. No que se refere aos processos geomorfológicos físicos, tem-se o vento, composto de sedimentos lançados contra as formas residuais, desagregando as partículas devido ao impacto físico causado pelos sedimentos transportados pelo vento e pelos agregados na rocha constituinte do relevo.

Material e métodos

A pesquisa iniciou com um levantamento dos aspectos já existentes (dados secundários) do Parque Nacional do Catimbau. Isso procedeu fazendo um levantamento histórico sobre o processo de construção do parque averiguando as varia leis vigentes no Brasil das quais tratam de Parques Nacionais e Unidades de Conservação. Evidenciando um estudo teórico da temática do trabalho dando ênfase a paisagem turística do Parque Nacional do Catimbau, caracterizando os elementos geomorfológicos e arqueológicos como elementos formadores dos atrativos ao ecoturismo. Posterior foi analisado as características naturais da paisagem (solo, clima, vegetação, relevo e hidrografia). Através do conhecimento desses elementos fez entender o porquê do modelado da área se encontrar com tais formas e assim analisar estes como pontos atrativos ao turismo. Foi contabilizado os pontos relacionados aos aspectos geomorfológicos do espaço que são visitados com maior frequência pelas pessoas. Em seguida, foram feitas visitas a campo para averiguar os impactos existentes no parque sendo estes de cunho dos turistas ou ainda dos indivíduos residentes na área do Catimbau. Houve uma grande tomada de fotos para captar as ações ruins praticadas e serem analisadas na discussão do trabalho. E por conseguinte, houve a associação dos impactos ao território do parque para de maneira direta ver quais locais o turismo agredia a paisagem.

Resultado e discussão

A atividade turística é desenvolvida no espaço e este seria concretizado pela existência de várias ações, das quais por uma questão de (des) equilíbrio correspondem ao processo de uma reação, na qual seria consequência da ação praticada, isto é uma ação desenvolvida no espaço turístico teria seu desenvolvimento se processando na forma de outra ação como uma cadeia (ANDRADE, 1997). E, por conseguinte, toda a atividade que realize uma ação no espaço, mesmo sendo ela positiva, concordando com a ação, desencadeará reações que podem contribuir para a instabilidade do sistema (CHRISTOFOLETTI, 1979). O turismo é um sistema não isolado, aberto, isso porque ele faz contato e realiza intercessões com outros sistemas, trocando matéria e energia, levando o Sistema de Turismo – SISTUR a ser complexo (BENI, 2007). Segundo o mesmo a complexidade advém das várias nuances englobadas pelo turismo, sendo elas: Relações Ambientais (ecológico, social, econômico e cultural), Conjunto da Organização Estrutural (super estrutura e infraestrutura), Conjunto das Ações Operacionais (oferta, mercado e demanda). Esse SISTUR é composto de meio ambiente (conjunto de todos os objetos que não fazem parte do sistema em questão), realimentação (processo de controle) e o modelo (representação do sistema). Dessa forma, as atividades turísticas, se não bem planejadas pela base do SISTUR como um todo único e mutável, levarão o turismo a um desequilíbrio dos atrativos turísticos. A atividade turística do PNC vem sendo feita antes do decreto do dia 13 de dezembro de 2002, referente à criação do PNC, e os estudiosos de várias áreas do conhecimento, por noção dessa riqueza geológica, arqueológica e espeleológica, presente na atual área do parque, desenvolveram um projeto para a conservação e preservação por meio da criação de uma UC que, devido às características do local, se situaria na categoria de PARNA. No ano de 2002, com ajuda da Sociedade Nordestina de Ecologia – SNE, outros pesquisadores criaram o segundo PARNA do estado de Pernambuco, sendo o primeiro o Fernando de Noronha. Imaginava-se que com a criação do PNC, as atividades turísticas irregulares na área viriam a ser legalizadas perante as especificações determinadas na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, do PARNA e do próprio decreto de criação deste. Todavia as atividades não ocorreram dessa forma, e atualmente o PNC vem sofrendo com o turismo predatório e com os abusos dos residentes não desapropriados desde a criação deste. As ações desenvolvidas para a manutenção do parque só se concretizaram no papel, sendo notórios os diversos impactos negativos que ocorreram com a criação do PNC, acentuando-se cada vez mais. No que se reporta aos impactos negativos existentes no PNC, gerados pelo Turismo e/ou outra fonte, como os moradores ainda não desapropriados residentes no PNC, pode-se destacar: agricultura, pecuária, extrativismo vegetal, caça, queimadas, construções irregulares, desmatamento, depredação arqueológica, erosão, assoreamento, zona de amortecimento e zoada. No que se destina à agricultura, tem-se a prática de atividades de subsistência ocorrentes dentro da área do PNC como também na sua zona de amortecimento. Dentre as culturas mais praticadas, observou-se a do milho, feijão, coco, da palma, do caju e da melancia. Outro impacto de caráter permanente, causado pelos residentes do PNC seria a Pecuária praticada de maneira extensiva, com a presença da criação de animais, como ovinos, caprinos, suínos, equinos e bovinos. Da mesma forma que na agricultura, na pecuária, ocorre também uma destruição da flora com a criação desses animais que desequilibram o ambiente, levando espécies nativas a serem comidas e pisoteadas, acabando com o ciclo de sementes, as quais perpetuam as plantas. A implantação, naquele ambiente, de plantas exóticas comestíveis, como o capim, para esses animais favorece o empobrecimento da quantidade de espécimes, além da compactação do solo causada pelo pisoteio constante dos animais, dificultando a infiltração das águas e o não crescimento das plantas nativas, não adaptadas a essas situações. Dessa forma, os residentes intensificam o processo de destruição das belezas do parque, sendo uma delas a grande diversidade da fauna e flora, com a presença de espécies endêmicas do PNC, como o lagarto-das-rochas e a lagartixa-de-Kluge, além de outras endêmicas da caatinga e raras no Nordeste, como a Maria-macambira, o picapauzinho e o pintassilgo. Outro desastre ocorrente dentro do PNC seria o extrativismo vegetal, isto é, os moradores colhem espécimes raras da flora e vendem como também não dão condições para a sua sobrevivência, criando-as nas suas residências. Ressalta- se, ainda, que certas plantas medicinais são exploradas para a subsistência dos moradores, ou seja, são colhidas para fabricação de remédios medicinais. Ainda se pode verificar a ocorrência comum da utilização da flora para ser transformada em lenha, de utilização doméstica dos moradores ilegais do PNC, destruindo várias espécimes lenhosas da vegetação, sendo usada também para se fazerem cercas (FIGURA 01), as quais circundam a área de suas casas (terreno), locais de plantio e criatório dos animais. As cercas prejudicam também a passagem de animais da fauna silvestre de maior porte do parque que necessitam se locomoverem pelo espaço, sendo acuados pelas cercas e luzes das casas. A caça é outra agressão negativa à biodiversidade, sendo agora o foco da fauna do PNC. A caça é proibida pela PARNA das Unidades de Conservação por ser contributiva ao desaparecimento das espécimes, não importa a qual categoria pertença, predatória ou esportiva. As presas mais perseguidas são animais comestíveis pelos seres humanos que são utilizados como refeição diária e, do mesmo modo, animais com certo valor no mercado clandestino (contrabando), como, por exemplo, várias espécies de aves. As queimadas ocorrentes dentro do PNC são atividades secundárias, ou seja, com fins de descampar uma área para a criação ou plantação, sendo utilizado o fogo, o qual realiza o trabalho de maneira mais rápida. As queimadas prejudicam os solos por destruírem a matéria orgânica presente nas camadas mais superiores do solo da qual as plantas necessitam, tanto as nativas como as cultivadas. Outro fator negativo seria a morte de animais que ficam presos ou não se locomovem mais velozmente que o fogo, levando a vários óbitos. A necessidade de se atender ao turismo ocorrente no Parque faz com que alguns moradores se utilizem de recursos próprios com o objetivo de edificar construções para acomodar os turistas (FIGURA 02). Todavia essas construções são feitas na área do PNC e ainda são construídas em terreno pouco consolidado. Dessa forma, têm-se dois conflitos negativos causados pela falta do cumprimento da lei do SNUC, na qual se aborda claramente que não pode haver residências (construções) nos limites nem na Zona de Amortecimento da unidade de conservação da categoria PARNA. As atividades de pichação (FIGURA 03) realizadas de forma direta, nas gravuras e pinturas rupestres são as mais evidentes do PNC, por estarem sobre estas. O desrespeito decorre de tal maneira que vários sítios possuem agressão à cultura dos povos antigos, e os materiais usados por esses criminosos são: a tinta, o lápis, o giz e o carvão. O fogo (FIGURA 03) é outro problema para os sítios arqueológicos; os caçadores fazem fogueiras dentro das cavernas, e a alta temperatura em consonância com a fuligem (fumaça) fazem as paredes e os tetos de arenito tornarem-se pretos, prejudicando o sítio. Outro descaso viria, exclusivamente, dos moradores ilegais do PNC devido ao uso da pecuária extensiva de caprinos (FIGURA 04) próxima aos locais dos sítios, usados como abrigo para esses animais. É dessa forma que as excretas dos caprinos em consonância com os contatos diretos com as paredes das cavernas, local dos sítios, destroem os registros rupestres feitos há muitos anos, sendo hoje usados para o turismo.

FIGURA 01

A utilização de plantas da vegetação do PNC na construção de cercas para casas, plantações e criatórios.

FIGURA 02

Construções irregulares para acomodar turistas nos limites do PNC.

FIGURA 03

Destruição dos patrimônios arqueológicos e geomorfológicos ocasionado pelos turistas e moradores ilegais do PNC.

FIGURA 04

A pecuária extensiva de caprinos tem, nos abrigos dos sítios arqueológicos, os seus locais de dormitório, destruindo os registros rupestres pelos contatos diretos.

Considerações Finais

A prática turística do PNC vem a partir de 2002, quando se verifica uma sucessão de impactos ambientais, não poupando, inclusive, o acervo arqueológico. É fato que o turismo do PNC cresceu quantitativamente, agravando a paisagem geográfica no que se refere à preservação do ambiente e inserindo novos hábitos ambientais negativos ao sistema. Os espaços que deveriam ser conservadas e ou preservadas se encontram em procedimento de autodestruição devido à interferência de uma única espécie, a humana. O Sistema de turismo não é usado pelas atividades turísticas na área pesquisada, levando à crise das ações desenvolvidas pelo turismo, quando este deverá se espelhar nos aspectos da natureza, da sociedade, da cultura e da economia. Nas condições atuais, o turismo, em várias nações, ajuda a dinâmica local, regional e até nacional, porém, em alguns locais, como é o caso da área pesquisada, as práticas turísticas acabam por destruir, cada vez mais, o ambiente, maculando a essência dos elementos imprescindíveis à riqueza do turismo na área em questão. Tal fato é mais perceptível nas atividades voltadas às belezas naturais. No que se remete à importância do estudo da paisagem turística do Catimbau, a elaboração eficaz dos planejamentos num modo integrado e holístico ajudará no crescimento desse setor, direcionando todos os esforços para a maximização das decorrências positivas, derivadas do turismo.

Agradecimentos

Referências

ANDRADE, José Vicente de. Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática, 1997.

BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. 12 ed. rev. e atualizada. São Paulo: SENAC, 2007.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – MMA. Decreto de 13 de dezembro de 2002. Criação do Parque Nacional do Catimbau. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/dnn/2002/Dnn9771.htm. Acesso em: 06 janeiro de 2015.

CHRISTOFOLETTI, Antônio. Análise de Sistemas em Geografia-Introdução. São Paulo: UFSP, 1979.