Autores

Oliveira, P.C.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Luz Netto, F.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA) ; Rodrigues, S.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA)

Resumo

As pesquisas inerentes ao Patrimônio Geomorfológico, desenvolvidas profundamente na Europa, são conceituadas e desenvolvidas, com aplicabilidade em diversas áreas do conhecimento, principalmente em Geociências e inseridas no cotidiano das pessoas, principalmente para o público especializado nas áreas correlatas a essa temática. No Brasil, essa temática é considerada relativamente nova e na região do Triângulo Mineiro, se encontra poucos trabalhos que abordaram e/ou desenvolvem pesquisas na área de Patrimônio Geomorfológico. Para alcançar os objetivos propostos, realizou-se uma pesquisa bibliográfica do tema, da área de estudo, trabalhos de campo, processamento de dados cartográficos e análises e considerações apresentadas ao longo dessa dissertação. A partir da aplicação dessa metodologia, encontrou-se cinco locais de interesse geomorfológicos, todos caracterizados, apresentando valores científico, estético e turístico.

Palavras chaves

Patrimônio Geomorfológico; Rio Claro; Identificação

Introdução

No Brasil, estudos ligados ao Patrimônio Geomorfológico são recentes e a temática está restrita aos meios acadêmicos e em algumas ações pontuais de órgãos públicos. A aplicação desses estudos geralmente engloba extensas áreas que apresentam aspectos singulares e valiosos no meio abiótico. De acordo com Pereira (2006), Patrimônio Geomorfológico, inserido no Patrimônio Geológico, envolve o conjunto de formas de relevo com raridade e/ou originalidade, unindo-se aos aspectos de vulnerabilidade a algo/algum evento de origem natural ou antrópica e pela combinação espacial das formas do modelado comprovam interesse científico. De acordo com Panizza (2001) geomorfossítio são formas geomorfológicas que apresentam valor científico, cultural, histórico, social e econômico na perspectiva humana, tanto para a percepção, quanto para a sua exploração, podendo ser modificados, degradados ou destruídos pelas atividades antrópicas. Os geomorfossítios são pouco conhecidos na esfera pública e também em outras áreas científicas o que denota a necessidade da ampliação dos estudos que possam buscar valorizar e promover o mesmo (PANIZZA; PIACENTE, 2005). Segundo Cristo (2013), Patrimônio Geomorfológico é considerado a junção de diversas feições geomorfológicas, constituídos pelos conjuntos de formas de relevo e processos modeladores, atribuindo valor ecológico-ambiental para a manutenção ambiental de uma determinada área. Brilha (2005) destaca que os termos geossítios, geótopo e locais de interesse geológico designam feições do Patrimônio Geológico. Panizza (2001) destaca que Patrimônio Geomorfológico é a junção de diversos locais de interesse geomorfológicos que possuem valores de acordo com as percepções humanas. Diversos termos podem denominar um local de interesse geomorfológico, por exemplo, sítio geomorfológico ou geomorfossítio. (PANIZZA, 2005; REYNARD, 2005b apud PEREIRA, 2006). É a união dos locais de interesse geomorfológico que agregaram valor partindo da percepção humana. Diversos termos podem denominar um local de interesse geomorfológico, por exemplo sítio geomorfológico, geossítio ou geomorfossítio. Dessa forma, o conhecimento do Patrimônio Geomorfológico de uma determinada área pode fomentar as ações de ordenamento territorial e nas intervenções antrópicas sobre a natureza, ampliando o vasto conhecimento abiótico, algo ainda pouco considerado no território brasileiro. No caso do Rio Claro, identifica-se dois comportamentos distintos ao longo da área de contribuição e no leito original do rio. Nas porções do alto e médio curso do rio, a situação geomorfológica característica dos planaltos e chapadas e na porção de baixo curso desta bacia, o entalhamento das águas propiciou a formação de grandes quedas d’água e canyons que podem ser locais de interesse geomorfológico. É necessário salientar o grande potencial para uso hidrelétrico deste rio, em que nos estudos de viabilidade ambiental elaborados por esses empreendimentos não se considera os aspectos do Patrimônio Geomorfológico. Dessa forma, muitas áreas no Brasil foram perdidas e outras podem ter o mesmo destino, e nem mesmo serão catalogadas. O Rio Claro, apresenta-se projetos de instalação de usinas hidrelétricas com estudos de viabilidade que não apresentaram a grande riqueza existente neste campo. Outro fator agravante presente no Rio Claro: manancial de abastecimento da cidade de Uberaba, com transposição direta de parte das águas, na região do alto curso; forte conflito hídrico pelo uso entre as propriedades rurais e os projetos de construção dos empreendimentos hidrelétricos. A Bacia Hidrográfica do Rio Claro localiza-se no Estado de Minas Gerais, conforme Figura 1. Em termos ambientais, a referida bacia apresenta, assim como no domínio dos Cerrados do Brasil, forte interferência antrópica, no que concerne as atividades agropecuárias.

Material e métodos

Os procedimentos utilizados objetivaram melhorar a identificação dos locais de interesse geomorfológico da área de estudo. O fluxograma 1 demonstra a estrutura desses procedimentos adotados durante a execução desse estudo. Pereira (2006) demonstra que a inventariação, parte integrante do processo de avaliação do patrimônio geomorfológico, objetiva definir os locais de interesse, com as seguintes etapas, conforme o Fluxograma 2. Neste trabalho, a identificação dos locais de interesse geomorfológico ocorreu através da adaptação da metodologia de Pereira, 2006, nas tabelas de inventariação dos geomorfossítios, tais como a exclusão da ficha de identificação de potenciais locais de interesse geomorfológico os valores ecológico e cultural, por não serem aspectos marcantes na área de estudo e a inclusão do valor turístico, justificado pelo potencial presente na área de estudo. A Ficha 1 demonstra tal situação.

Resultado e discussão

Os locais de interesse geomorfológico foram catalogados, analisadas e descritas de acordo com os estudos prévios realizados na área de pesquisa aliada com avaliação em campo, a saber: 1.1 – Cachoeira da Fumaça; 1.2 – Cascata Ponte – BR452 1.3 – Cachoeira Cristal; 1.4 – Cachoeira Pedal Ativo; 1.5 – Canyons; Assim, estes locais foram visitados, fotografados, catalogados e analisados de acordo com a proposta metodológica. Conhecida regionalmente por Cachoeira da Fumaça, localiza-se na porção do baixo curso do Rio Claro, considerado inicialmente como local de interesse geomorfológico. Na avaliação dos potencias, a cachoeira da Fumaça apresenta elevado valor científico, para pesquisas em Geomorfologia, presença de trabalhos científicos e como recurso didático, sendo possível observar a disposição das camadas rochosas e na potencialidade de uso, foi considerado o acesso difícil e a visibilidade moderada e por fim, os aspectos da necessidade de proteção, de deterioração fraca e proteção média. Por apresentar valoração elevada no campo científico, turístico e estético, este local é considerado um local de interesse geomorfológico e os outros aspectos contribuem para melhorar a caracterização. Localizada a montante da cachoeira da Fumaça, a cascata está logo abaixo da ponte da rodovia BR452, entre os municípios de Uberlândia e Nova Ponte. Os valores científicos e turísticos foram considerados elevados e o estético moderado. Nas potencialidades de uso, a acessibilidade e a visibilidade foram consideradas elevadas e no campo da necessidade de proteção, foram consideradas a deterioração elevada e a proteção fraca. Dessa forma, este local de interesse geomorfológico apresenta alto valor científico e turístico. A cachoeira Cristal localiza-se na porção a jusante da cachoeira da Fumaça, no município de Nova Ponte e o acesso via estrada está localizada dentro de uma propriedade privada. No âmbito da valoração, foram considerados elevados o valor científico e estético e o valor turístico foi considerado médio, dificultado pelo acesso por área privada. O valor científico é pela presença dessa cachoeira em um canyon, com alta preservação e visibilidade do basalto, formando uma bela paisagem. A cachoeira Pedal Ativo localiza-se na porção mais a jusante do Rio Claro, com acesso pelas propriedades particulares, no município de Nova Ponte. No campo da valoração, o valor científico novamente é considerado elevado, apresentando características semelhantes às anteriores e com a formação de canyon, não apresenta nenhum uso antrópico direto, com elevado valor estético. Nos outros campos, as potencialidades de uso demonstram dificuldades de acesso e alta visibilidade, assim como não apresenta sinais de deterioração. As áreas de Canyons estão localizadas em diversas partes do baixo curso do Rio Claro, a partir da Cachoeira da Fumaça, com a formação de diversos patamares, paredões e escarpas, com a presença de pequenas quedas d’água. A valoração desses locais demonstra a importância científica e desperta interesses econômicos, pela existência da queda d’água e o grande potencial hidrelétrico disponível. Em termos turísticos, de modo geral estes locais são considerados de difícil acessibilidade, o que dificulta o acesso de pessoas e o valor estético é elevado, com grande beleza cênica. Assim, pode-se observar que grande parte do baixo curso do Rio Claro apresenta importância geomorfológica, o que propicia o enriquecimento do aparato científico para o entendimento da paisagem. O Mapa 2 representa a espacialização dos geomorfossítios localizados no baixo curso. É necessário ressaltar que outras áreas do rio foram visitadas e não se verificou nenhum local com potencial interesse geomorfológico para serem analisados e classificados como geomorfossítios. Dessa forma, o levantamento do Patrimônio Geomorfológico da área de estudo contribui para uma nova vertente dos estudos ambientais no Brasil, a inclusão dos aspectos abióticos como áreas de relevância e passíveis de interesse geomorfológico e que possam fomentar os estudos da paisagem e o entendimento do atual cenário.

Mapa 1

Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Claro

Fluxograma 1

Estrutura da Pesquisa

Fluxograma 2

Sub etapas da inventariação

Ficha 1

Identificação dos potencias locais de interesse Geomorfológico

Considerações Finais

Este estudo contribui para a inserção da temática do Patrimônio Geomorfológico e a valorização dos aspectos abióticos, em especial os geomorfológicos, que de certa forma ficam esquecidos e nem mesmo são considerados em avaliações ambientais. A região do Triângulo Mineiro apresenta vários empreendimentos que promovem grandes impactos socioambientais inundaram uma imensidão de áreas antes típicas de ambientes lóticos e pelas características da paisagem – climática, geológica e geomorfológica – apresentavam áreas de grande potencial de interesse geomorfológico que nem mesmo foram catalogadas ou pensadas na perspectiva de Patrimônio Geomorfológico. A região já apresenta atividades turísticas e esportes radicais, tais como o camping e o rapel. São atividades exploradas por proprietários e empresas turísticas, principalmente de Uberlândia. Isso já demonstra uma das formas de uso desses patrimônios. Sugerimos, portanto, a reorganização turística desses locais, inicialmente com estudos focalizados na demanda e identificação dos tipos de turísticas e os objetivos que procuram na área; criação de trilhas, com estudo de capacidade de porte diário que busca explorar as áreas mais distantes e que mesmo assim são atrativas; capacitar guias e as pessoas que vivem nesse local, da importância paisagística e das condições abióticas desses locais e por fim, gerir de forma consciente e equilibrada tais atividades.

Agradecimentos

A FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) pelo apoio financeiro na participação do XV SINAGEO - Simpósio Nacional de Geomorfologia, e pela bolsa CNPQ/ Brasil n°150699/2015-8.

Referências

BRILHA, J. Patrimônio Geológico e Geoconservação – a conservação da natureza na sua vertente geológica. Braga: Palimage, 2005.

CRISTO, S. S. V. Abordagem Geográfica e Análise do Patrimônio Geomorfológico em Unidades de Conservação da Natureza: Aplicação na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins e Área de Entorno: Estados do Tocantins e Bahia. 2013. 245f.
PANIZZA M. (2001): Geomorphosites: Concepts, methods and examples of geomorphological survey. Chinese Science Bulletin, 46, 4-6.

PANIZZA M.; PIACENTE S. (2005): Geomorphosites: a bridge between scientific research, cultural integration and artistic suggestion. Italian Journal of Quaternary Sciences. Vol. 18(1), Volume Speciale, AIQUA, 3-10. Disponível em: <http://www.aiqua.it/index.php?option=com_joomd&view=joomd&layout=detail&id=241&Itemid=200&lang=it>. Acesso em mai. 2013.

PEREIRA, P. J. da S. Patrimônio geomorfológico: conceptualização, avaliação e divulgação. Aplicação ao Parque Natural de Montesinho. 2006. 395 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Escola de Ciências, Universidade do Minho, Minho, 2006.