Autores
Andrade, V.C.S. (UFU) ; Brito, A.L. (UFU) ; Bento, L.C.M. (UFU) ; Lisboa, R. (UFU) ; Severino, E.A.S. (UFU) ; Silva Júnior, I.B. (UFU)
Resumo
Indianópolis está localizado na região do Triângulo Mineiro, oeste de Minas Gerais e devido às suas características geológicas e geomorfológicas apresenta uma série de quedas d´água com potencial para aproveitamento geoturístico. Diante dessa riqueza, objetivou-se aplicar uma metodologia de avaliação que conjugasse aspectos qualitativos e quantitativos para direcionar qual destas quedas teria maior potencial geoturístico, contribuindo com um posterior planejamento da atividade no município. Trata-se, assim, de buscar alternativas metodológicas de avaliação que embasem as pesquisas no âmbito da geodiversidade e da geoconservação sob uma perspectiva que se integra ao propósito de conservação do meio ambiente, ao mesmo tempo em que se alia a atividade do geoturismo.
Palavras chaves
PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO; TURISMO; GEOCONSERVAÇÃO
Introdução
A partir da década de 1990 é visível no meio acadêmico, inicialmente entre um grupo de geocientistas europeus, pesquisas voltadas a valorização e divulgação de uma vertente da natureza pouco disseminada: os seus aspectos abióticos, bem como sua importância e necessidade de conservação. A partir de então começaram a circular termos como geodiversidade, patrimônio geológico (ou geopatrimônio), geoconservação e geoturismo. Todos esses conceitos emergem como resultado de esforços em se proteger esses aspectos, em virtude de valores que vão além dos benefícios econômicos diretos, tais como pelo seu valor científico, cultural e estético, entre outros. O geoturismo compreende uma nova prática turística que busca aliar a contemplação e o entendimento dos aspectos abióticos da natureza, preenchendo uma lacuna deixada pelo ecoturismo ao se priorizar a biodiversidade. O seu objetivo é chamar a atenção dos turistas e visitantes para os aspectos da geodiversidade, levando-os a apreciar não apenas sua beleza, mas, principalmente, a compreender sua importância e necessidade de conservação. Tal estratégia tem sido obtida através dos meios interpretativos, sejam personalizados ou não personalizados, os quais transmitem uma mensagem de forma mais lúdica, contextualizada e pertinente. Existem muitos locais que se destacam pela sua geodiversidade, ou seja, diversidade de elementos abióticos tais como minerais, rochas, solos, relevo, fósseis, entre outros. A geodiversidade apresenta seis valores básicos, a saber: i- intrínseco, ii- cultural, iii- científico, iv- econômico, v- estético e vi- funcional e quando um local reúne estas características recebe o nome de geossítio e seu conjunto, geopatrimônio. Diante dessa riqueza e premência de conservação tem se destacado pesquisas voltadas a avaliar a geodiversidade e estas conjugam aspectos qualitativos e quantitativos. O objetivo desse estudo é realizar uma avaliação tendo como critério norteador o potencial geoturístico de feições geomorfológicas comuns no município de Indianópolis/MG: as quedas d’água. Esse estudo é, na verdade, uma continuidade da pesquisa de mestrado do autor principal, o qual agora em equipe teve condições de incluir uma avaliação numérica na avaliação realizada inicialmente, sendo um importante instrumento a ser utilizado pelas autoridades públicas no sentido de ordenamento da atividade turística e conservação ambiental das quedas d’água.
Material e métodos
Para atingir o objetivo proposto por este trabalho foi necessário aplicar uma metodologia que conjugasse critérios qualitativos com quantitativos, reduzindo a subjetividade comum nesse tipo de avaliação. Nesse sentido, a avaliação qualitativa baseou-se na análise de três critérios das quedas d’água, a saber: i- acessibilidade, ii- diversidade litoestratigráfica e iii- estética. A composição litoestratigráfica foi um dos critérios de análise, pois através dele é possível se vislumbrar o valor científico da geodiversidade, sendo possível explicar os processos de evolução geológica- geomorfológica local observando tal composição. Levou-se em consideração também, a acessibilidade e a estética das quedas, pois são aspectos relevantes quando da implantação da atividade turística. Nesta etapa, a obra “Potencial geoturístico das quedas d’água de Indianópolis” foi de grande valia, uma vez que traz um estudo detalhado desses locais, com as informações necessárias para a avaliação qualitativa. A partir desta avaliação foram selecionadas três quedas: Saltinho Chapadinho, Salto do Mirandão e Saltinho Santo Antônio. Já a avaliação numérica contou com a elaboração de uma ficha, tendo em vista o objetivo de seleção da queda de maior potencial geoturístico, privilegiou- se dois valores: científico e turístico. O critério do Valor científico traz seis itens a serem avaliados, são eles: Representatividade dos Processos Geomorfológicos; Integridade; Variedade Geomorfológica; Diversidade; Raridade/Excepcionalidade e Potencial Didático. Já o critério do Valor turístico traz sete itens, sendo eles: Acessibilidade; Condições de Observação; Segurança; Relevância Cultural; Estética e Equipamentos. A partir destes critérios foi conferida uma pontuação de 0 a 3 de acordo com as características especificadas em cada item avaliado. Através do preenchimento desta ficha foi possível estabelecer a queda d’água com maior potencial geoturístico, tal como será apresentado nos resultados a seguir.
Resultado e discussão
Indianópolis está localizada no Triângulo Mineiro, oeste do Estado de Minas
Gerais, entre as coordenadas geográficas 18º 51’ 06’’ e 19º 07’ 13’’ de
latitude Sul e 47º 39’ 42’’ e 48º06’09’’ de longitude Oeste. Esse município
possui diversas quedas d´água e a principal justificativa para tal situação
associa-se com a configuração geológica e geomorfológica da região onde se
insere: Bacia Sedimentar do Paraná. Indianópolis se situa na porção nordeste
desta bacia, apresentando rochas vulcano-sedimentares que se assentam de
forma discordante sobre rochas do pré-Cambriano do Grupo Araxá e recobrindo
as rochas mais antigas e localizadas nas partes superiores do relevo
encontra-se a Cobertura Cenozóica (BENTO; RODRIGUES, 2011). No entanto, são
os basaltos da Formação Serra Geral o representante litológico de maior
expressão no município e que, inclusive, serve de substrato para os cursos
d’água direcionando o sistema de drenagem, formação e evolução das quedas
d’água.
Bento (2010) identificou vinte quedas d’água no município de Indianópolis e
a partir da avaliação qualitativa selecionaram-se três: Saltinho Chapadinho,
Salto do Mirandão e Saltinho Santo Antônio (Figura 01).
Já a avaliação numérica apontou que a queda Saltinho Santo Antônio é a que
apresenta uma maior somatória dos valores científicos e turísticos que foram
utilizados para essa quantificação. Tal fato se deu, em especial, por dois
aspectos, a saber: i - elevado potencial didático da queda, consubstanciado
pela presença de três tipos de rocha bem definidas e de fácil visualização e
ii- facilidade de acesso ao local, que se encontra bem próximo da BR 365,
com pequeno trecho de estrada de terra e trilha de acesso de curta extensão
e pouca inclinação, sem exigir grande preparo físico de seus visitantes, o
que justifica a presença de muitos banhistas no local.
Além disso, a queda d’água Saltinho de Santo Antônio foi a única a
apresentar valor turístico em relação à relevância cultural, tornando-se um
diferencial para a análise do potencial turístico dessa queda, que atrai
visitantes que vão ao local professar sua fé.
No quesito Integridade, no Saltinho Santo Antônio, os números também
apresentam um valor relativamente baixo, em comparação com as demais quedas
d’água. Esse fato pode ser atribuído a uma maior circulação de pessoas
naquele local e à falta de mecanismos para conservação da mesma.
Considerando a quantificação realizada nesse estudo, a queda d’água Saltinho
de Santo Antônio é a que apresenta um maior potencial geoturístico dentre as
quedas avaliadas no município de Indianópolis, devido principalmente aos
seguintes fatores: diversidade, acessibilidade, segurança, boas condições de
observação e relevância religiosa.
No que se refere ao potencial científico desta queda acredita-se que é
possível incentivar uma visita que integre, além da contemplação e do lazer,
o entendimento de sua formação e evolução através da visualização dos três
tipos de rochas existentes no seu perfil (Figura 02).
Essas rochas compreendem parte da história geológica do planeta Terra, desde
o Proterozoico até o Mesozoico, eras associadas, respectivamente, ao Grupo
Araxá (gnaisses) e Grupo São Bento (arenitos e basaltos), pois as rochas e
também os fósseis são os registros, as testemunhas de todos os processos
e/ou acontecimentos do nosso planeta. Segundo Bento e Rodrigues (2010) o
gnaisse encontrado na parte inferior do perfil da queda foi formado no
pré-Cambriano, era que corresponde a 80% da história da Terra, desde a
formação do planeta até o surgimento das primeiras formas de vida, como as
bactérias, os fungos e as algas. É um tipo de rocha metamórfica que, em
conjunto com as rochas ígneas, constituem as principais litologias
encontradas nessa fase e aparece junto às margens do rio Araguari e em
trechos inferiores dos seus afluentes, tais como o que encontramos na base
do Saltinho Santo Antônio.
Já os arenitos da Formação Botucatu surgiram entre o Triássico e o Jurássico
(Mesozóico), época em que o clima foi ficando cada vez mais seco e quente,
propiciando a formação de grandes desertos arenosos. Silva (2004, p. 54)
argumenta que nesta época os ventos moveram grande parte das areias destes
desertos, gerando “[...] depósitos sedimentares compostos por arenitos
avermelhados de granulação fina a média com estratificações cruzadas de
médio a grande porte”, vindo a formar a Formação Botucatu. Em termos de
biodiversidade, o Triássico corresponde ao período de surgimento dos
primeiros dinossauros, mamíferos ovíparos e árvores de grande porte, as
coníferas. E, no Jurássico, começa a haver a separação da África e da
América do Sul e os répteis marinhos foram as maiores formas de vida
encontradas. Além disso, foi o momento em que surgiram os primeiros pássaros
e plantas com flores (BENTO; RODRIGUES, 2010).
Os autores supracitados explicam que, entre o Jurássico e o Cretáceo, surgiu
a Formação Serra Geral, época em que ainda predominavam as condições
desérticas, correspondendo ao vulcanismo fissural passivo devido a separação
de continentes, quando “[...] as lavas, muito fluidas, subiam por fissuras,
grandes fendas ou geóclases e menores falhas, em rápida intrusão, escoamento
e represamento nos terrenos arenosos ou inter-dunas” (SILVA, 2004, p. 55). O
Cretáceo corresponde ao período em que houve o desaparecimento dos
dinossauros, entre outras espécies animais e vegetais e, em contrapartida,
surgem os mamíferos placentários (BENTO; RODRIGUES, 2010).
Além de evidenciar o Saltinho Santo Antônio pelos valores de sua
geodiversidade é possível, ainda, destacar seu valor ecológico, pois são
áreas importantes do ponto de vista biogeográfico, pois criam condições
ambientais específicas, “sendo um ambiente muito propício ao surgimento de
espécies endêmicas de plantas e animais, tudo isto em função da umidade do
ar, no solo e nas paredes rochosas” (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2007, p. 28),
permitindo uma visão integrada dos aspectos bióticos e abióticos da
natureza.
Localização das quedas d’água analisadas
Quantificação dos valores científicos e turísticos das quedas d’água do município de Indianópolis – com grifo na queda de maior potencial geoturístico
Perfil litoestratigráfico do Saltinho Santo Antônio
Considerações Finais
A partir da metodologia empregada depreende-se que é de suma importância a aplicação de metodologias voltadas à avaliação da geodiversidade, pois elas contribuem na identificação dos geossítios e são instrumentos importantes para o planejamento ambiental e turístico dos lugares. No caso de Indianópolis/MG percebeu-se que as quedas d´água do município são aproveitadas enquanto locais de recreação, tendo apenas potencial para a prática do geoturismo, pois não existe nenhuma infraestrutura voltada ao desenvolvimento da atividade com segurança para o visitante e, muito menos, a preocupação com a proteção desses locais que são importantes tanto do ponto de vista de sua biodiversidade como geodiversidade. Através da adaptação de metodologias para o estudo em questão, chegou-se a conclusão de que a queda d’água Saltinho Santo Antonio é a que apresenta maior potencial geoturístico. É preciso, portanto, ressaltar que, tal como se encontra hoje, é apenas um potencial e não um produto turístico. O que equivale a dizer que é um espaço que se desenvolve à medida em que o interesse social se manifesta através da visitação, e que por isso faz-se necessário a formatação de formas de políticas públicas que estabeleçam possibilidades de acesso e estrutura para comportar o movimento de visitação e, ao mesmo tempo, de conservação dos aspectos inerentes as possibilidades de geoturismo no local. A necessidade de um planejamento turístico se impõe no sentido de minimizar e plane
Agradecimentos
Agradecimentos à CAPES pela bolsa de pós doutorado concedida ao autor
principal.
Os agradecimentos:
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de pós doutorado nº processo 1527165 cedida a Lilian Carla Moreira Bento, à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG e a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação – PROPP da Universidade Federal de Uberlândia pelo apoio à participação individual no evento.
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