Autores

Silva, J.F.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Aquino, C.M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Oliveira, D.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ)

Resumo

Nas últimas décadas, temáticas como geodiversidade, patrimônio geológico e geomorfológico, geoconservação, geoturismo, dentre outras, tem ganhado destaque no cenário internacional. No Brasil, porém, ainda há grande carência de estudos sobre a área. É sobre o potencial geomorfológico da “cidade de pedras”, localizada nos municípios de São José do Piauí e São João da Canabrava-PI que este trabalho irá tratar. Os objetivos deste estudo são realizar uma avaliação da “cidade de pedras” como potencial área de interesse geomorfológico e propor a utilização da mesma como potenciadora de atividades ligadas à educação ambiental e ao geoturismo. O foco desta pesquisa foi o turístico e o didático pela intenção de juntar o valor geoturístico do local à educação ambiental. A metodologia utilizada para a quantificação desse estudo foi a seguida no trabalho de Oliveira e Rodrigues (2014). Por meio da mesma pôde-se constatar que o local analisado possui alto potencial para uso didático e geoturístico.

Palavras chaves

Patrimônio; Avaliação; Potencial

Introdução

O Brasil apesar de possuir uma enorme geodiversidade ainda é carente de estudos sobre esta temática e demais a ela relacionadas tais como patrimônio geológico e geomorfológico, geoconservação, geoturismo, dentre outras, embora as mesmas venham ganhando cada vez mais destaque no cenário internacional. Portanto, são necessários alguns esclarecimentos acerca de tais termos e outros correlatos, tratados neste trabalho. Para o Serviço Geológico do Brasil - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - (CPRM) Geodiversidade é definida como A natureza abiótica (meio físico) constituída por uma grande variedade de ambientes, fenômenos e processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas, minerais, águas, solos, fósseis e outros depósitos superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o educativo e o turístico (CPRM, 2010) Patrimônio Geológico para Brilha (2005) é entendido como o conjunto de geossítios inventariados e caracterizados pertencentes a uma determinada área ou região. O mesmo autor ainda ressalta que o patrimônio geológico “integra todos os elementos notáveis que constituem a geodiversidade.” (BRILHA, 2005, p. 53). Já Patrimônio geomorfológico é para Pereira (2006), citado por Oliveira, Pedrosa e Rodrigues (2013) o conjunto de locais que apresentam interesse geomorfológico e para os quais foram atribuídos um ou mais valores, e para avaliação desse patrimônio, aborda cinco valores principais: Valor científico, valor ecológico, valor cultural, valor estético e valor econômico. Geopatrimônio é um termo mais abrangente e engloba todos os demais termos vistos anteriormente. O conceito de Geopatrimónio, como equivalente do termo inglês Geoheritage, tem de ser entendido como o conjunto de valores que representam a Geodiversidade do território. Será, assim, constituído por todo o conjunto de elementos naturais abióticos existentes à superfície da Terra (emersos ou submersos) que devem ser preservados devido ao seu valor patrimonial. Nesta definição pela positiva, o Geopatrimónio inclui o Património Geológico, o Património Geomorfológico, o Património Hidrológico, o Património Pedológico e outros já referidos. (RODRIGUES; FONSECA, 2008, p. 6). Geodiversidade e Geopatrimônio formam a base para a geoconservação a qual envolve atividades tais como proteção legal das feições geológicas e geomorfológicas, valorização da geodiversidade e do geopatrimônio, educação geocientífica e o geoturismo. Geoturismo por sua vez é “o turismo que sustenta e incrementa a identidade de um território, considerando a sua geologia, ambiente, cultura, valores estéticos, patrimônio e o bem-estar dos seus residentes”. (UNESCO, citado por NASCIMENTO, MANSUR; MOREIRA, 2015, p.1). É sobre o potencial geomorfológico da “cidade de pedras”, área pertencente a zuna rural dos municípios de São José do Piauí e São João da Canabrava, localizados na mesorregião do sudeste piauiense, microrregião de Picos, no interior do Piauí, que este trabalho irá tratar. Os dois municípios são visitados constantemente por universitários que se deslocam até o local a fim de conhecer a “cidade de pedras” formada por geoformas de rara beleza, fruto, principalmente da erosão eólica e pluvial. Apesar da excepcional beleza dessas geoformas que resulta em feições erosivas impressas nos arenitos da formação Cabeças, o local é carente de estudos, o que reforça a relevância e pertinência desta pesquisa. É preciso ainda destacar que os geomorfossítios são além de belos, fontes para o entendimento da origem e evolução da Terra, o que faz com que sejam merecedores de serem protegidos da ação humana por meio de estratégias de geoconservação, principalmente o geoturismo.

Material e métodos

A metodologia para elaboração deste trabalho consistiu em duas etapas. Inicialmente foi feita uma vasta pesquisa bibliográfica em livros, artigos, dissertações e teses, além de sites que tratam da temática. A segunda etapa foi a realização da pesquisa de campo através da observação, levantamento fotográfico, preenchimento da ficha inventário, caracterização e avaliação do local por meio de fotografias, imagens de satélite e pesquisa sobre a geologia e geomorfologia da região. Como já dito, Pereira (2006) aborda valores para avaliação do patrimônio geomorfológico, para ele são cinco os valores principais: científico, ecológico, estético, econômico e cultural, no entanto, ressaltamos serem várias as metodologias de avaliação. A metodologia de avaliação para quantificação desse estudo foi a seguida no trabalho de Oliveira e Rodrigues (2014) os quais se basearam nos estudos de Brilha (2005), Pereira (2006), Lima (2008), Pereira (2010) e Medina (2012). Como já citado, o foco se deu nos critérios turístico e didático devido ao grande potencial da área e da possibilidade de usar este potencial para fins educacionais. No valor turístico estão presentes os seguintes parâmetros: acessibilidade, aspecto estético, estado de conservação, condições de observação e associação com elementos culturais. No didático estão presentes: potencial didático, diversidade e valores da geodiversidade. Assim como no trabalho de Oliveira e Rodrigues (2014), para cada parâmetro atribui-se valores entre 1 e 3 e para se obter o resultado final, somou-se os valores atribuídos a cada parâmetro de classificação dos geomorfossítios, assim, quanto maior a soma, maior o potencial do local. De acordo com a classificação definida por Oliveira e Rodrigues (2014, p. 6) “os geomorfossítios com valor final de 8 a 16 são considerados com baixo potencial, os geomorfossítios com valor de 17 a 19 são considerados com médio potencial e os geomorfossítios com valor final de 20 a 24 são considerados com alto potencial”. Outra pesquisa que utilizou metodologia análoga para a quantificação dos geossítios, porém, também uma adaptação da proposta de Pereira (2010) foi o estudo de Lopes, Araújo e Nascimento (2012) sobre os Valores de Uso Turístico dos Geossítios de Sete Cidades (PI). Como se pode perceber a metodologia baseada nos estudos de Brilha (2005), Pereira (2006), Lima (2008), Pereira (2010) e Medina (2012) é bastante utilizada, porém, com adaptações a cada caso.

Resultado e discussão

Através dos estudos realizados acerca da “cidade de pedras” ficou claro que o local apresenta alto potencial turístico e didático visto que apresenta valor entre 20 e 24, uma vez que o mesmo apresenta a maior parte das condições necessárias nos critérios avaliados, conforme demonstra o quadro e fotos a seguir. Quadro 1 - Matriz de quantificação da “cidade de pedras”. Adaptado de Oliveira e Rodrigues (2014) Critério: Valor Turístico. Parâmetros: 1. Acessibilidade – Indica o grau de acesso ao local. Valor 2 = Acessibilidade moderada; 2. Aspecto estético – Relativo ao aspecto beleza cênica do local. Valor 3 = Grande aspecto estético; 3. Associação com elementos culturais - Indica se o local possui algum tipo de associação com elementos culturais. Valor 2 = Vínculo indireto (ruínas, pinturas rupestres); 4. Condições de observação - Indica o grau de facilidade de observação do geomorfossítio. Valor 3 = Facilmente observável; 5. Estado de conservação - Indica o grau de deterioração do geomorfossítio. Valor 2 = Deterioração moderada. Critério: Valor Didático. Parâmetros: 1. Potencial didático - Indica a possibilidade de realizar atividades didáticas, ilustrando elementos ou processos da geodiversidade. Valor 3 = Passível de ser utilizado para fins didáticos por público de qualquer nível; 2. Diversidade - Indica outros tipos de elementos geomorfológicos com interesse científico. Valor 3 = Mais de três elementos geomorfológicos; 3. Variedade da geodiversidade - Indica a quantidade de interesses e elementos da geodiversidade associados (solo, água, rochas, relevo, etc). Valor 2 = Diversidade moderada. VALOR FINAL = 20 As fotos, fruto da pesquisa de campo, mostram também claramente o valor didático e os parâmetros a ele atribuídos: Potencial didático, Diversidade e Variedade da geodiversidade. Portanto, fica claro que as geoformas da “cidade de pedras” são dotadas de valor didático e turístico, uma vez que são frequentemente visitadas, principalmente por universitários atraídos tanto pela beleza cênica quanto pela possibilidade de entendimento dos processos geológicos e geomorfológicos do local, o que faz do mesmo potenciador de atividades ligadas a educação ambiental e ao geoturismo, assim como ratifica Pereira (2006) ao afirmar que o patrimônio geomorfológico é formado por locais de interesse geomorfológico aos quais foram atribuídos um ou mais valores e que estes locais, também conhecidos como geomorfossítios, “são vistos como elementos da cultura e potenciadores de atividades ligadas à educação ambiental ou ao geoturismo” (PEREIRA, 2006, p. 34).

Foto 1

Acessibilidade: Trajeto para a “cidade de pedras” com acessibilidade moderada devido a existência de algumas subidas.

Foto 2

Aspecto estético: Local de rara beleza cênica devida as geoformas existentes

Foto 3

Associação com elementos culturais: Vínculo indireto pois há pinturas rupestres / Estado de conservação: Moderado devido a ação humana nas pinturas

Foto 4

Condições de observação: Local facilmente observável

Considerações Finais

A pesquisa atingiu o objetivo proposto, uma vez que a avaliação da “cidade de pedras” embora utilizando uma metodologia adaptada, mostrou que o local tem alto potencial para uso didático e geoturístico. Além disso, por ser o primeiro estudo sobre a área, espera-se que sirva de incentivo a outros e com isso amenizar a carência de estudos sobre o local, pois por ser de rara beleza cênico-paisagística e de elevado valor didático, propostas de utilização do mesmo com vistas a geoconservação e o uso sustentável serão sempre necessárias.

Agradecimentos

Aos docentes da Universidade Federal do Piauí, em especial à Professora Doutora Cláudia Maria Saboia de Aquino, pelo incentivo e apoio. A amiga e grande incentivadora, professora Glácia Lopes Araújo.

Referências

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