Autores

Silva, B.A. (UNIOESTE) ; Colpani, J. (UNIOESTE) ; Mosconi, L. (UNIOESTE) ; Maia, M.S. (UNIOESTE) ; Dal’acqua, N.M. (UNIOESTE)

Resumo

Os estudos integrados da paisagem realizados por Bertrand (1972), Monteiro (2001), entre outros, destacam os fatores bióticos, abióticos e antrópicos componentes de uma região e que fundamenta o entendimento da relação natureza e sociedade. Este trabalho propõe caracterizar unidades de paisagem no trajeto realizado de Marechal Cândido Rondon ao município de Palmeira, Estado do Paraná. Para tanto, a interpretação dos elementos que compõem a área de estudo está embasada na Análise Integrada da Paisagem, trabalhos de campo e elaboração de produtos cartográficos como carta de geologia, altimetria, clima, fitogeográfico, solos, uso e cobertura da terra e aptidão do solo. A partir disso, foram delimitadas 5 Unidades de Paisagem, considerando as diferenças na intensidade de atuação de variáveis, com base na Análise Integrada da Paisagem.

Palavras chaves

GEODIVERSIDADE; GEOPROCESSAMENTO; MAPEAMENTO

Introdução

O conhecimento sobre os elementos (naturais ou humanos) que compõem a paisagem tornam-se importantes para a preservação e manutenção dos mesmos. Os estudos que pressupõem a análise integrada da paisagem mostram-se como um dos meios para entender o funcionamento do ambiente, a partir de uma perspectiva integradora. Assim sendo, para compreender a dinâmica paisagística os geógrafos têm utilizado metodologias que possibilitem uma maior aproximação com a realidade, na tentativa de refletir e estudar os fenômenos de forma holística, não esquecendo suas interconexões. É evidente que as propostas integradoras não dão conta de toda a complexidade da realidade, mas permitem uma maior aproximação. Neste contexto, a eficiência da gestão ambiental de um território depende em grande parte de levantamentos e estudos sobre os principais elementos e condicionantes do espaço geográfico. A ocupação inadequada do espaço e a utilização indevida dos recursos naturais podem acarretar em sérios problemas ambientais. O geoprocessamento, portanto, passa a ser uma ferramenta que pode auxiliar na avaliação do potencial dos recursos naturais em conjunto com o uso da paisagem, mediante a análise integrada de seus componentes (SANTOS et al., 2007; MANOSSO, 2009). A sua utilização possibilita realizar planejamento e estratégias de ação para que determinadas organizações espaciais tenham uma maior compreensão de seus potencias e riscos e assim minimizem impactos. Bertrand (1972) foi um dos autores que buscou compreender o meio ambiente a partir da perspectiva integradora. Para tanto, o autor conceitua a paisagem como o resultado da combinação dinâmica de elementos físicos, biológicos e antrópicos, que reagem uns com os outros e fazem da paisagem um conjunto único e indissociável em contínua evolução. É nesta perspectiva de integração (BERTRAND, 1972) que o presente trabalho foi fundamentado. Assim o principal objetivo da pesquisa é objetivo delimitar e caracterizar as Unidades de Paisagem que compõem o trajeto realizado durante o trabalho de campo, Marechal Cândido Rondon à Palmeira. com base em informações de geologia, relevo, vegetação, solos, clima, uso e cobertura do solo e aptidão. E com isso compreender as diferentes unidades de paisagens existentes no percurso descrito em conjunto com suas potencialidades e riscos.

Material e métodos

A delimitação e caracterização das unidades de paisagem foi realizada com base em dados cartográficos e de radar georreferenciados, respectivamente, disponibilizados no site do Instituto de Terras, Cartografia e Geociencias do Estado do Paraná (ITCG) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Ela foi realizada a partir do percurso da BR-277 nos municípios de Marechal Cândido Rondon, Quatro Pontes, Toledo, Cascavel, Catanduvas, Ibema, Guaraniaçu, Nova Laranjeiras, Laranjeiras do Sul, Virmond, Cantagalo, Candói, Guarapuava, Prudentópolis, Guamiranga, Imbituva, Ipiranga, Ponta Grossa e Palmeira. Portanto a caracterização das unidades só pode ser utilizada nas proximidades do percurso e não foi validada para os municípios como um todo, pois para tanto haveria a necessidade da realização de mais trabalhos de campo. Os dados adiquiridos no site do ITCG (escala 1:250.000) são de geologia, relevo, clima, fitogeográfico, uso e cobertura da terra, aptidão agrícola e solos. No site da EMBRAPA foram baixadas as imagens de radar (SRTM) com 90 metros de resolução com as seguintes identificações (escala 1:250.000): SG- 21-X-B, SG-21-X-D, SG-22-V-A, SG-22-V-B, SG-22-V-C, SG-22-V-D, SG-22-X-A, SG-22-X-B, SG-22-X-C e SG-22-X-D. Após serem armazenados num ambiente de Sistemas de Informações Geográficas, os dados foram importados para o software QGis2.10 para análise visuaização e plotagem. A partir do geoprocessamento dos dados foram gerados mapas temáticos referentes as variáveis de geologia, relevo, topografia, clima, solo, uso e cobertura e aptidão do solo. Estes mapas foram analisados em conjunto por toda equipe afim de gerar hipóteses das possíveis unidades de paisagem que poderiam ser encontradas no percurso. O trabalho de campo na área de estudo possibilitou a verificação das hipóteses e a averiguação das unidades de paisagem e de seus potenciais e riscos. A avaliação foi elaborada com base em descrições realizadas em tantos20 pontos ao longo do trajeto. Após este momento deu-se início a confrontação dos dados coletados e dos mapas temáticos gerados anteriormente, para conferir e delimitar as unidades de paisagem. Deste modo, foram delimitadas 5 unidades de paisagens.

Resultado e discussão

A seguir são descritos os elementos que compõem as 5 Unidades mapeadas (Figura 1). A Unidade I (Figura 02) apresenta temperatura e precipitação média de 19°C e 1650 milímetros anuais, respectivamente (IAPAR, 2016 & INPE, 2016). Essas características são controladas pelo tipo climático Cfa (PARANÁ, 2013). A geologia é de origem vulcânica, basalto (Formação Serra Geral). Caracteriza-se por rochas vulcânicas básicas com diferentes graus de resistência (MINEROPAR 2006). O relevo apresenta formas desde planas a suave-onduladas, com predomínio de vales abertos, vertentes convexas e retilíneas com comprimento variando entre 500 metros a mais de 2.000 metros de extensão, e declividades, de modo geral, inferior a 25%. Áreas com declividade superior a 25% são encontradas próximas aos canais fluviais, cabeceiras de drenagem e rupturas de declive. Os solos são espessos, com horizontes com alta taxa de oxidação, destacando os Latossolos, Nitossolos, Cambissolos e Neossolos. A vegetação predominante é a Floresta Estacional Semidecidual e Submontana (IBGE, 2012) com a presença de eucalipto, leucena e pinus. A ocupação do solo é caracterizada por atividades que envolvem a produção primária, com instalação de cooperativas que beneficiam a matéria prima produzida. A produção baseia-se no cultivo da soja, milho, trigo, gado de corte e leite, suínos, piscicultura e aves. Encontram-se várias propriedades agrícolas características de latifúndio, principalmente na região de Toledo e Cascavel. Os riscos da Unidade I associam-se às áreas com declividades superiores a 25%. Estudo realizado por (SANTOS et al.,2007) enquadra essa região com baixa vulnerabilidade a erosão, corroborando o que foi observado em campo. Esses setores indevidamente ocupados provocam processos erosivos nos solos, assim como, movimentação de massa, o que pode trazer prejuízos econômicos, ambientais e sociais. A Unidade II apresenta precipitação e temperatura média, respectivamente, de 1763 milimetros, 17° C anuais (IAPAR, 2016 & INPE, 2016). A área apresenta transição de vegetação Estacional Semidecidual para Ombrófila Mista e clima influenciados pela mudança de relevo. Predominam rochas basálticas da Formação Serra Geral (MINEROPAR, 2006). Os climas Cfa e Cfb atuam sobre a unidade. O relevo apresenta formas mais movimentadas, em relação a unidade anterior. Conforme classificação da EMBRAPA (2013) as formas de relevo que se destacam na área são desde onduladas a forte-onduladas, com áreas mais dissecadas. As principais classes de solos que se destacam nessa unidade são dos Neossolos, Cambissolos e Nitossolos. A vegetação é classificada como Ombrófila Mista Montana e Alto Montana (IBGE, 2012), com presença de espécies exóticas como pinus e eucalipto, como observado no campo. O uso do solo é predominantemente agrícola, com presença de pequenas propriedades, destacando o cultivo de milho, hortaliças, erva mate, silvicultura (pinus e eucalipto) e forrageiras que abastece a pecuária de pequeno porte e a criação de gado leiteiro. Os fatores de risco identificados na Unidade II estão: localidades ocupadas com a silvicultura do pinus e eucalipto, espécies altamente agressivas e se proliferam com facilidade e se sobrepõe às espécies nativas; áreas íngremes, indevidamente ocupadas, propiciam a erosão dos solos. A Unidade III (Figura 3) situa-se no 3º Planalto Paranaense. A precipitação média é 1706 milímetros anuais e temperatura média de 16,5° C (IAPAR, 2016 & INPE, 2016). A geologia assemelha-se a das Unidades I e II. O clima é do tipo Cfb (PARANÁ, 2013). O relevo apresenta formas suave-onduladas a forte- onduladas, conforme se aproxima da transição com o 2º Planalto. A distribuição espacial dos solos relaciona-se com as formas de relevo, superfícies mais suaves predominam os Latossolos e Nitossolos, e áreas mais acidentadas destacam-se os Cambissolos e Neossolos. A vegetação está associada à distribuição dos solos, em áreas com solos mais desenvolvidos o tipo de vegetação é a Ombrófila Mista, já em áreas com solos menos desenvolvidos há a presença de Campo Limpo e Campo Sujo. Na área em questão, o uso do solo é caracterizado pela presença de latifúndios em áreas mais suave-onduladas, com prática de agricultura intensiva e poucas propriedades de agricultura familiar. Os riscos erosivos associam-se às áreas mais acidentadas, assim como a utilização de agrotóxicos e manejo inadequado dos solos. Outro fator de risco está vinculado à má distribuição de renda, que segundo Albuquerque (2007) vários municípios, notadamente nos Campos Gerais, têm alta retenção territorial concentrada nos latifundiários, em consequência gera o alto nível de pobreza da população e o baixo nível de desenvolvimento humano. A Unidade IV (Figura 4) limita-se à escarpa da Serra da Boa Esperança. A precipitação média anual é de 1614 milímetros e temperatura de 18° C (IAPAR, 2016 & INPE, 2016). O topo da escarpa apresenta rocha basáltica (Formação Serra Geral) e em direção à base há rochas areníticas e siltítos da Formação Pirambóia, Formação Rio do Rastro, Formação Terezina, Formação Botucatu e Grupo Passa Dois (MINEROPAR, 2006). O tipo climático é característico do Cfa (PARANÁ, 2013), com elevados índices de precipitação influenciando no tipo de vegetação mais densa nessa unidade. A forma de relevo nessa Unidade é escarpada, no entanto na base da escarpa encontram-se áreas mais aplainadas. Esse ambiente é o limite transicional entre os planaltos de Guarapuava e de Ponta Grossa, e apresenta características singulares, em relação às outras unidades estudadas, em função das declividades encontradas nesse ambiente e da possibilidade de movimento de massa mais intenso em relação às outras áreas. Na Unidade IV são encontrados solos ricos em matéria orgânica, principalmente na base da escarpa. Com base nas informações levantadas encontram-se as classes dos Organossolos, associações de Neossolos+Cambissolos+Argissolos e afloramento de rochas. A vegetação é influenciada pela presença de umidade que se concentra na escarpa, favorecendo a formação da Floresta Ombrófila Densa e em menor quantidade Ombrófila Mista, também são encontradas áreas de reflorestamento com presença de Pinus e Eucaliptos (IBGE, 2012). O uso do solo nessa Unidade é restrito, em função das fortes declividades (>30%). Deste modo, destaca-se a presença da Silvicultura e a produção de cerâmicas e erva-mate. Na área são encontradas pequenas propriedades. O risco ambiental na área é mais elevado se comparado com as outras Unidades. A forma de relevo, associada à concentração de umidade, e espessura dos solos favorecem aos movimentos de massas, que são comuns nesse tipo de paisagem. A Unidade V apresenta rochas do Grupo Paraná (Formação Ponta Grossa e Furnas) e do Grupo Itararé (Formação Rio do Sul, Mafra e Campo do Tenente) (MINEROPAR, 2006). A precipitação e temperaturas médias anuais, respectivamente, são 1562 milímetros e 17° C (IAPAR, 2016 &INPE, 2016). O clima dessa unidade é do tipo Cfb (PARANÁ, 2013). As formas de relevo são suaves onduladas a onduladas (EMBRAPA, 2013). Deste modo, nas vertentes mais alongadas há o predomínio dos Latossolos (topo), Argissolos (média vertente), Cambissolos (vertentes mais íngremes) e Neossolos associados a afloramento rochoso. A vegetação que compõe a área é classificada como Ombrófila Mista e Campos Gerais(IBGE, 2012), que são influenciadas pela precipitação e tipo de solos encontrados na área. A vegetação de Ombrófila Mista é encontrada, principalmente, em setores onde ocorrem depressões. Os Campos Rupestres encontram-se na alta vertente, Campos limpos e Campos Sujos da média a baixa vertente. Uso do solo é predominantemente agrícola, soja, trigo, silvicultura e gado, destacando a presença de latifúndios e de áreas industriais em Ponta Grossa. O tipo de uso do solo, associado às formações geológicas, favorece a erosão dos solos. Segundo (SANTOS et al., 2007) a vulnerabilidade dos solos a erosão nessa região é moderada.

Mapa de localização da área de estudo.

Agrupamento dos municípios por Unidade mapeada.

Mapas temáticos das Unidade I e II

Representação da geologia, altimetria, clima, pedologia, vegetação, Uso e cobertuta da terra e aptidão do solo.

Mapas temáticos das Unidade III

Representação da geologia, altimetria, clima, solos, vegetação, uso e cobertura da terra e aptidão do solo. Unidade III.

Mapas temáticos das Unidade IV e V

Representação da geologia, altimetria, clima, solos, vegetação, uso e cobertura da terra e aptidão do solo. Unidade IV e V.

Considerações Finais

A partir do trabalho de campo e dos mapas temáticos, elaborados com ferramentas utilizadas nas Geotecnologias, foram identificadas cinco diferentes unidades de paisagens, delimitadas e classificadas com base na análise dos elementos que compõem a paisagem da área estudada. Os elementos físicos como geologia, clima e relevo foram preponderantes para a diferenciação e delimitação das unidades. Os resultados alcançados demonstram a diversidade paisagística que o Estado do Paraná possui, evidenciando a necessidade de preservação da herança cultural e ambiental que a paisagem da área de estudo apresenta. Do mesmo modo, é preciso considerar as fragilidades e riscos das paisagens caracterizadas neste estudo.

Agradecimentos

Referências

ALBUQUERQUE, Edu Silvestre de. Os donos da terra e do crédito público nos campos meridionais brasileiros. 2007. Disponível em: <http://livros01.livrosgratis.com.br/cp048614.pdf> Acesso em: 13 dez. 2015.

BERTRAND, Georges. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Caderno de Ciências da Terra, n. 13, p.1-27, 1972.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília, DF: Embrapa 3ª ed. 353 pg; 2013.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Dados de radar. Disponível em < http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/download/> Acesso em 2015.

INPE, Instituto de Pesquisas Espaciais. Disponível em < http://www.inpe.br/> Acesso em Janeiro de 2016.

IAPAR, Instituto Agronômico do Paraná. Disponível em < http://www.iapar.br/> Acesso em Janeiro de 2016.

IGBE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Rio de Janeiro, 2012.
ITCG – Instituto de Terras, Cartografias e Geociências. Documentos Cartográficos. Disponível em <http://www.itcg.pr.gov.br/modules/faq/category.php?categoryid=8> Acesso em: 10/06/2014.

MINEROPAR, Minerais do Paraná. Atlas Geomorfológico do Estado do Paraná. Curitiba, 2006.

MANOSSO, Fernando Cesar. Estudo integrado da paisagem nas regiões Norte, Oeste e Centro-sul do Estado do Paraná: relações entre a estrutura geoecológica e a organização do espaço. Bol. geogr., Maringá, v. 26/27, n. 1, p. 81-94, 2009.

PARANÁ. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Bacias hidrográficas do Paraná: Série histórica.2. ed. Curitiba, 2013.

SANTOS, Leonardo José Cordeiro et al. Mapeamento da vulnerabilidade geoambiental do estado do Paraná. Revista Brasileira de Geociências, volume 37 (4), 2007