Autores
Entrena Pineda, M.J. (UFSM) ; Cardoso da Silva, G. (UFSM) ; Silva Aimon, J.G. (UFSM) ; Flores Dias, D. (UFSM) ; Behling, A.A. (UFSM)
Resumo
Trabalho localizado no município de Agudo – RS, instituído a caracterizar e avaliar os movimentos de massa na localidade do Cerro Seco do mesmo município. Desenvolvido na base do método dedutivo, obtendo-se do conhecimento prévio de autores. Na etapa metodológica houve coleta de dados a campo, com câmeras fotográficas e um GPS de navegação, posteriormente foram analisados informações complementares (geologia e relevo).Em relação aos resultados se destacouo trecho da estrada,elaborou-se o perfil de elevação, com o objetivo de apresentar as altitudes e declividades da área. Por fim se teve a utilização do “anexo C” da Norma Brasileira 11682 (NBR 11682/2009), para a caracterização local.A partir dele se obteve a identificação de pequenas cicatrizes dos movimentos, raízes expostas, blocos e rochas, e a presença de coluvio no ambiente,apresentando-se como forte marcador dos processos,pois provoca a suscetibilidade quando em contato com outro tipo de material, como rocha mais coesa
Palavras chaves
Movimento de Massa; Cerro Seco; Município de Agudo
Introdução
O estudo dos movimentos de massa é bastante relevante para a população em geral, colaborando com a compreensão de fenômenos, e possibilitando a prevenção de desastres, já que pode indicar locais onde não devem haver moradias, ou até mesmo constatar a necessidade da retirada delas. Os movimentos de massa sãovolumososdeslocamentos de materiais de diferentes arranjos, como exemplo tem-se a composição de solo e rocha, ou apenas solo, ocorrendo em vertentes de distintas inclinações, de acordo com a influência da gravidade, e sendo desencadeado, ou não, de acordo com a interferência de outros agentes, como água, gelo ou ar, e suasdiversas intensidades, além de fatores como altitude, declividade, curvaturas, litologia, solo, entre outros (BIGARELLA, 2003). Existem diferentes classificações quanto aos movimentos de massa, estas possuem subdivisões distintas variando a quantidade de conceitos. Uma classificação comumente utilizada e bastante objetiva, éa elaborada pelo IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, que basicamente estabelece três classes, a primeira com rastejos e corridas de massa, a segunda com escorregamentos e a terceira com quedas e tombamentos (IPT, 1991; AUGUSTO FILHO, 1993; GUIDICINI & NIEBLE, 1983). No Estado do Rio Grande do Sul, na Mesorregião do Centro Oriental Rio-grandense, o município de Agudo tem seu centro urbano localizado nas coordenadas 29° 38’ 42” S e 53° 14’ 24” O. Neste sentido, o município está também está situado na Bacia do Rio Jacuí, tendo como limites municipais: Cerro Branco, Nova Palma, Ibarama, Lagoa Bonita do Sul, Restinga Seca, Paraíso do Sul e Dona Francisca. Apresentando uma distância de 250 km da capital Porto Alegre, o município de Agudo tem 59% de sua população residindo na zona rural e 41% em área urbana, totalizando 16.729 habitantes. Possui área equivalente a 536,117km² o que resulta em uma densidade demográfica aproximada de 31,2 hab./km² (IBGE, 2010). O município de Agudo aparece pela primeira vez em um mapa originado pela Província no ano de 1800, contudo apenas em 1938 é elevado à categoria de Cidade. Hoje o município é constituído por 33 localidades, sendo que a região Norte possui maior concentração de ocupação rural, apresentando como base econômica atividades agrícolas como o cultivo de fumo como principal produto, ao contrário da porção Sul, que se baseia no cultivo do arroz. Essa diferenciação se apresenta, em parte, devido ao relevo local. O Norte do município se compõe por morros e morrotes, com vertentes de declividade acentuada, onde se caracteriza como área de transição entre o Planalto e a Depressão Central gaúcha, conhecida como rebordo do Planalto (MÜLLER FILHO, 1970). Com isso, o meio favorece a fumicultura, além de outras atividades que não utilizam grandes áreas de lavouras, tendo assim a concentração de agricultura familiar. Ao Sul e Sudoeste do município, tem-se a planície de inundação do Rio Jacuí, com depósitos aluviais proporcionando o plantio do arroz. A existência de uma população local nas proximidades da estrada, ainda que de pequeno porte, e o fato de não haver estudos publicados com a análise na referida área especificamente, justifica o presente estudo, visto que existe a possibilidade de perdas materiais e humanas, além da chance de obstrução da estrada, o que provocaria transtornos aos moradores. A pesquisa se torna viável dada à facilidade de acesso à estrada que se pretendeu trabalhar, à possibilidade de geração de dados pertinentes ao trabalho, além dasignificativa bibliografia pré-existente, que vem a corroborar com a elaboração de avaliações. Sendo assim, observadas as características físicas do local, e com a utilização de uma metodologia previamente estabelecida, o objetivo deste trabalho é avaliar os movimentos de massa ocorridos e os indícios de novos em uma estrada no interior do município de Agudo, RS, na localidade de Cerro Seco.
Material e métodos
Um dos maiores desafios para a realização desse trabalho, foi com relação a união de diferentes profissionais, de forma com que a promoção de um diálogo multidisciplinar entre os autores, contribuísse para o enriquecimento profissional e científico nos agentes envolvidos. Diante disso, a realização desse estudo foi desenvolvida com base no método dedutivo, aliando-se o conhecimento prévio dos autores com a pesquisa teórica realizada em diversas bases referenciais, onde dessa forma será ocupado inicialmente o espaço local que é de seu conhecimento, a fim de facilitar o processo de planejamento e a coleta de dados. Dentre as diversas referências consultadas para a realização do trabalho, destaca-se a classificação proposta pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 1991) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas através da utilização do “anexo C” da Norma Brasileira 11682 (NBR 11682/2009 - Estabilidade de encostas), a norma foca os estudos relativos à estabilidade de encostas e à elaboração de laudo de vistoria para ter o contexto de avaliação. Com relação a etapa da coleta de dados no trabalho de campo, utilizou-se como referência o anexo “C” da NBR, que serviu como modelo e laudo de vistoria da área a ser analisada. Além dessas observações, foram utilizadas câmeras fotográficas e um GPS de navegação (modelo GarminEtrex) para a localização do trecho da estrada vistoriada, na localidade de Cerro Seco no interior do município de Agudo. Posterior a essa etapa, os dados foram analisados com o auxílio de informações complementares sobre a área de estudo, como a geologia local que é disponibilizada pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) na escala 1:50.000, e o relevo com bases nas imagens de RADAR da missão Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) com resolução espacial de 30 metros. Em contra partida, é importante destacar que ocorre uma ausência de mapas de unidades geotécnicas, pedológicas e litológicas em escala maior da área de estudo. O que faz com que as maiores análises, sejam realizadas por meio do trabalho de campo, com o intuito de indicar as áreas mais suscetíveis aos processos de movimentos de massa. A suscetibilidade do terreno foi caracterizada através do estudo do talude observado no campo e na análise do perfil topográfico. As principais feições observadas foram: características da vegetação na encosta, erosão laminar indicada por exposição de raízes ou blocos de rocha no solo, parede de rocha fraturada e mergulho das fraturas em relação ao corte, acúmulo de entulhos na encosta inclinada, distância e altura do talude de corte/aterro, presença de descontinuidade entre solo e rocha, presença de acúmulo de água no terreno, águas servidas lançadas diretamente na encosta e inclinação da encosta. Maciel Filho e Nummer (2014) destacam alguns parâmetros para identificar os movimentos de massa, e entre os quais, encontrou-se no local a elevação do nível piezométrico em taludes, o efeito de vibração, e a ruptura por cisalhamento. Desta forma, Amaral e Gutjahr (2011) relatam que esses movimentos apresentam sinais, sendo que, se percebem nas pequenas mudanças no terreno, como trincas, postes inclinados, entre outros, especialmente em períodos de chuva fortes ou prolongada. Em geral, os movimentos de massa podem ser classificados de acordo com o tipo do material, a velocidade e o mecanismo do movimento, o modo de deformação, a geometria da massa movimentada e o conteúdo de água, conforme representa a Figura 1. Em posse das informações levantadas, foram realizadas discussões e alguns apontamentos sobre as especificidades da área de estudo, principalmente sobre as fragilidades encontradas, além das áreas potenciais a risco.
Resultado e discussão
Baseado na metodologia desenvolvida para o presente trabalho e diante das possibilidades com relação as análises, puderam-se obter alguns resultados dentro da área de estudo.
Uma das dificuldades enfrentadas é a falta de mapeamentos em escalas maiores, que acabam por não fornecer as respostas necessárias para este tipo de pesquisa. Como exemplo deste fato, tem-se o mapeamento litológico disponibilidade pela CPRM, em que o trecho da estrada analisado se encontra na formação Gramado, próximo a um corpo d’água e de estruturas como lineamentos, ainda que a escala de 1.750.000 não seja satisfatória para a presenta análise.
Afim de localizar a área de estudo, elaborou-se o mapa da Figura 1, que destaca o município de Agudo e o trecho da estrada analisada, aproveitando também para explorar a altitude local, visto que é uma importante variável dentro da pesquisa.
De forma geral, as altitudes são crescentes no sentido Sul-Norte, com uma variação de até 500 m entre Restinga Seca, no extremo Sul (20 m), e Pinhal Grande, no extremo Norte, com até 520 m.
Outra análise bastante relevante no que tange os movimentos de massa, é a da declividade, que apresenta as inclinações das vertentes dentro de determinada área, podendo justificar uma série de processos que venham a acontecer.
Dentro deste contexto, elaborou-se o perfil de elevação da Figura 2, com o objetivo de apresentar as altitudes e declividades encontradas na área de estudo.De forma geral, nota-se que o perfil possui uma descontinuidade na porção Leste da imagem, podendo ser visualizada uma porção mais retilínea que separa duas vertentes, uma superior, e outra inferior, esta última se apresentando até a estrada, já a Oeste da estrada tem-se uma vertente contínua, ambos os lados com altitudes semelhante, com cerca de 370 m.
O perfil estabelecido possui 1,3 km de extensão, uma diferença de cerca de 180 m da altitude maior para a menor, inclinação média de cerca de 25% e máxima de 45%, sendo importante destacar que o trecho da estrada em análise se encontra em cerca de 190 m de altitude e não se localiza na porção mais baixa da vertente, visto que logo abaixo (a Leste) se encontra um corpo d’água.
De acordo com a classificação do IPT (1991) a declividade média encontrada estaria classificada entre 15 e 45%, que seria definida por legislação federal - Lei 6766/79,estabelecendo como o limite máximo para urbanização sem restrições, já a declividade máxima, 45%, se encontra na classificação de 30 à 47%, que é definido pelo código florestal como limite máximo de corte raso, a partir do qual a exploração só será permitida se sustentada por cobertura de florestas.
Ainda de acordo com a Figura 2, percebe-se que a área possui um significativo volume de vegetação, o que de maneira geral é favorável a não ocorrência de movimentos de massa, com exceção de algumas áreas em que podem ser constatadas a utilização antrópica, inclusive com o estabelecimento de algumas residências.
Para colaborar com esta análise, fez-se oportuna a saída de campo, vindo a corroborar com a confirmação de algumas sentenças previamente estabelecidas, além do surgimento de novas constatações.
Desta forma, baseado no Anexo C (normativo) da Norma Brasileira ABNT NBR 11682, segunda edição, de 21/08/2009, que abrange a estabilidade de encostas, foi realizada uma breve análise e classificação da área de estudo. Assim, a estrada se encontra nas coordenadas 29°30'4.76"S e 53°15'20.09"O, de acordo com o receptor de GPS, mas para cumprir com o que é exposto no Anexo C, referido, tem-se as coordenadas UTM 281345.76 m Ee6734349.97 m S. O campo ocorreu no dia 25/11/15 e foram constatados tanto “Movimento ocorrido” quanto “Possibilidade de movimento”, ou seja, foram percebidas pequenas cicatrizes na vertente e fragmentos de rochas em locais que evidenciavam a ocorrência de movimentos pretéritos, além da percepção da possibilidade de novos episódios.
Dando continuidade ao laudo de vistoria, nos aspectos locais, o tipo de ocupação foi classificado como estrada de densidade baixa, o tipo de vegetação era arbórea e arbustiva de densidade média, em maioria, a drenagem natural era satisfatória, com relevo escarpado e encosta convexo-côncavo.
Nas características específicas, o local vistoriado foi classificado como um talude de corte, com altura de 7 m, largura de 191 m, e inclinação quase vertical, próximo aos 90º. Cabe destacar a não existência de obras de contenção no local, nem mesmo há sinais do futuro estabelecimento de uma. As condições de saturação observadas se enquadram como “seco” e quanto a natureza do material, constatou-se a presença de solo e rocha em contato, além da presença de diques, fraturas e blocos desprendidos, além de ser de significativa importância a existência de colúvio na área. Para melhor compreender a vertente e os processos presenciados neles, tem-se as Figuras 3 e 4.
A partir das fotografias, pode-se perceber que a vertente possui uma pequena variação na declividade, o que é bastante comum dada a sua extensão, mas fica evidente que é bastante inclinada, tendendo a estar próxima dos 90º. Também pode-se notar que o material está significativamente intemperizado e em muitos pontos frágil, devido a outros fatores, como a declividade acentuada, apresentando muitas fraturas e, inclusive, material desprendido. A Figura 4 deixa bastante visível o contato entre solo e rocha, e colabora para a compreensão da existência tanto dos deslizamentos, quanto das quedas, de acordo com a classificação do IPT.
A presença de colúvios foi constatada, e como já comentado, é de fundamental importância na compreensão da dinâmica local. O termo colúvio é utilizado para denominar o material resultante de movimentos de massa ocorrentes em encostas, podendo também ser aplicadoa processos de escorregamentos em taludes de rios e aterros de barragens e mineração. Comumente esse tipo de material é pouco coeso, e, por conta disso, estando em contato com uma formação rochosa no terreno, pode promover um ponto de fraqueza, e, dependo de outros agentes, como a presença de água proveniente da precipitação, promover um movimento de massa.
Mapa de localização do município de Agudo, com destaque para a área de estudo e sua hipsometria.
Perfil de elevação da área de estudo.
(A) Fotografia representando o perfil da encosta com orientação SE-NW. (B) Fotografia representando o perfil da encosta com orientação NW-SE.
(A)evidencia da queda de um bloco de rocha. (B)a natureza do material(solo, rocha e colúvio) do perfil da en da encosta. (C)As fraturas da rocha
Considerações Finais
O tráfego no trecho da estrada não é expressivo, tampouco o número de residências, mas na análise in loco pode-se perceber que havia, mesmo que momentaneamente, um significativo fluxo de caminhões de grande porte, provavelmente utilizados no transporte de algum material rochoso das proximidades. Assim, nota-se que este tipo de atividade vem a colaborar com o desprendimento de materiais, visto que a trepidação é um fator bastante relevante, principalmente se for levada em consideração a repetição dessa atividade. Sabe-se que mesmo que a estrada seja de pequeno porte, não pavimentada e com fluxo pouco expressivo, é evidente que carece de cuidados, já que há a possibilidade de transtornos leves, perdas materiais e até mesmo humanas. Desta forma se necessita de no mínimo cuidados, um exemplo clássico para áreas como movimentos de massa em encosta de estrada são as medidas de contenção para melhor estabilidade do local e do trafico, sendo que no mesmo elas não se encontram tornando-se com isso um local de risco social e econômico. Tendo em vista que não existem estudos específicos sobre a área, sendo que este se destaca como pioneiro em relação àavaliação dos movimentos de massanas emendas da estrada do interior do município de Agudo, especificamente na localidade de Cerro Seco.
Agradecimentos
Referências
AUGUSTO FILHO, O. Escorregamentos em Encostas Naturais e Ocupadas: análise e controle In: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São. São Paulo: IPT-Digeo, 1993.
BIGARELLA, J. J. Estrutura e origem das paisagens tropicaise subtropicais. Florianópolis: UFSC, 2003.
GUIDICINI, G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de taludes naturais e de escavação. São Paulo: Edgard Blücher, 1983.
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Ocupação de encostas. Coord. Cunha, M. A. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 1991.
MACIEL FILHO, C.; NUMMER, A. Introdução à Geologia de Engenharia. 4 ed. Santa Maria: Ed da UFSM, 2014
MÜLLER FILHO, I.L. Notas para o estudo da geomorfologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Publicação Especial, Departamento de Geociências da UFSM, n. 1, 94 p., 1970.