Autores

Melo Falcão, N. (UFAL) ; Santos, M. (UFAL) ; Casela, T. (UFAL)

Resumo

O presente trabalho é parte do projeto de pesquisa do PIBIC/UFAL, que objetiva estudar as áreas de riscos geomorfológicos no município de Rio Largo em Alagoas. Como primeira parte do projeto fez-se o mapeamento de uso do solo e cobertura vegetal do município, no qual foram mapeadas oito classes, subdivididas em ambientes naturais e antropizados que correspondem a 306,842 km² totais da área mapeada, sendo a cana-de-açúcar a classe de maior expressão, representando mais de 50% da área municipal. A metodologia empregada foi desenvolvida a partir do Ministério das Cidades (2007) com a interpretação da imagem rapideye de resolução de 5m, cedida pela IMA-AL. Como resultado da interpretação da imagem percebeu-se que a monocultura e o solo impermeabilizado concentra o fluxo d´água superficial e aumenta os riscos de movimentos de massa e enchentes.

Palavras chaves

Uso do solo; Geoprocessamento; Riscos

Introdução

Os problemas ambientais de um determinado município residem na falta de planejamento para ocupação do solo, sendo a utilização de imagens de satélites e Sistemas de Informação Geográfica (SIGs) com o intuito de subsidiar o planejamento ambiental de uma região é uma prática muito comum atualmente. (XAVIER-DA-SILVA e SOUZA, 1988). Para Feltran-Filho et al. (1989), o uso da terra trata-se da forma de como o solo está sendo utilizado pelo homem e de como este uso pode impactar o meio ambiente, como erosão intensa, inundações, assoreamento dos reservatórios e cursos d’água. E comporta uma parte importante no conhecimento de uma região, o que possibilita avaliar a capacidade de suporte ambiental e a identificação de alternativas promotoras de sustentabilidade, sendo as análises e os mapeamentos levantados ferramentas fundamentais de planejamento e de orientação à tomada de decisão. (IBGE, 2006) Em virtude disto, o presente artigo tem como objetivo geral mapear o uso do solo e cobertura vegetal no município de Rio Largo – AL como base para o zoneamento de riscos geomorfológicos, utilizando as técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, consideradas alternativas que aceleram o mapeamento e permite uma análise confiável. Sendo adotadas imagens de satélite e cartas topográficas para mapeamento. Este mapeamento de uso do solo e cobertura vegetal possibilita identificar a relação entre os ambientes antropizados e ambientais, estabelecendo uma relação entre eles, a fim de fornecer fundamentação a gestão pública e auxiliar o zoneamento das áreas suscetíveis a movimentos de massa e a enchentes.

Material e métodos

A obtenção dos dados, para a elaboração do mapeamento de uso do solo e cobertura vegetal do município de Rio Largo-AL, foram provenientes da análise e interpretação das bases de dados geográficos em meio digital do Instituto de Meio Ambiente de Alagoas (IMA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trabalho de campo e da literatura existente. Sendo utilizados os seguintes materiais: a) cartas topográficas SC-25-V-C-I-3 (Rio Largo) e SC-25-V-C-IV-1(Pilar) na escala de 1:50.000, em formato digital, levantadas e vetorizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); b) imagem de satélite RAPIDEYE com resolução espacial de 5m, na composição verdadeira (RGB 321); c) o software adotado para este estudo foi o QGIS, versão Lyon 2.12.3 - que é um Sistema de Informação Geográfica (SIG) amigável, livre e licenciado sob a “GNU General Public License”. Suporta vários formatos vetoriais, raster, de banco de dados e outras funcionalidades. A execução do mapeamento proposto foi divido em três etapas. Na primeira etapa foram pré-estabelecidas as categorias de cobertura natural e tipos de usos (agricultura e urbano) que obedeceram aos critérios de importância para o zoneamento do risco de geomorfológico de Rio Largo e segundo as características da região. Deste modo, foram verificados 8 tipos diferentes de uso do solo: •Cana-de-açúcar •Sítio urbano – sendo somada a esta categoria as áreas de urbanização rarefeita e indústrias; •Vegetação – nesta classe foram agrupadas as categorias de floresta ombrófila secundária e secundária descaracterizada, estágios de sucessão natural e formação pioneira aluvial; •Campo/Pastagem; •Solo exposto; •Aeroporto e zona aeroportuária; •Outros cutivos; •Lagos artificiais, açudes e rede de drenagem (Rio Mundaú). A segunda fase envolveu a fotointerpretação da imagem de satélite e a classificação manual das categorias supracitadas, com base na manipulação e estudo de sensoriamento remoto. No qual, foram utilizadas as chaves de interpretação. Para auxiliar na identificação dos alvos, foi sobreposto a imagem de satélite as cartas topográficas de Rio Largo e Pilar, respeitando a curvas de nível e a hidrografia local. Posteriormente, foi feita a verificação da topologia dos polígonos, evitando sobreposições de vizinhos e adjacências

Resultado e discussão

O município de Rio Largo está localizado na porção leste do estado de Alagoas, distante 27 km da capital. Está situado na mesorregião do leste alagoano e na microrregião de Maceió (Figura 1). Faz limite ao norte com os municípios Messias e Murici, ao sul com Pilar e Satuba, a leste com Maceió e a oeste com Atalaia. O acesso ao município se dá pelas rodovias BR-104 e AL-210. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Rio Largo em 2010 é de 68.481 habitantes que ocupam uma área de 299,110 km². O clima é tropical úmido, com uma temperatura que varia de 19ºC a 30ºC, com verões secos e a quadra mais chuvosa é de abril a julho, com um total anual em torno dos 2.000mm. Segundo o CPRM/PRODEM (2005), o município de Rio Largo faz parte da unidade dos Tabuleiros Costeiros, apresentando altitude média de 50 a 100 metros. Entre os topos planos do Tabuleiro Costeiro e a planície fluvial do rio Mundaú, que corta o município de noroeste para sudeste, têm-se as áreas de encostas, com inclinação superior a 10%. Os solos são profundos e de baixa fertilidade natural, sendo os principais tipos de solos os Latossolos e os Argissolos presentes nos topos dos tabuleiros costeiros e topos residuais, tendo também predominância dos Gleissolos e Neossolos Flúvicos nas áreas de várzeas. A vegetação predominante é Floresta Subperenifólia, com partes de Floresta Subcaducifólia e cerrado/ floresta, nas quais encontram-se bem degradadas, com vários estágios sucessivos. Em relação a parte geológica, o município encontra-se inserido na Província da Borborema. A área estudada encontra-se em um ambiente sedimentar de deposições datadas de vários períodos geológicos, iniciando no Cretáceo, passando pelo Terciário até o Quaternário. Esses depósitos sedimentares representam três unidades litológicas: a Formação Muribeca, a Formação Barreiras e os Depósitos Flúvio-lagunares O mapeamento de uso do solo e cobertura vegetal resultou na fotointerpretação de 8 categorias, subdivididas em ambientes naturais e antropizados que correspondem a 306,842 km2 totais da área mapeada. A tabela 1 apresenta as classes com suas respectivas áreas e percentagens sobre a área analisada. A categoria de maior ocorrência no município de estudo foi a cana-de-açúcar, com 57% do total da área analisada. Correspondendo a área de tabuleiros costeiros (Formação Barreiras), sobre relevo preponderantemente plano e suavemente ondulado (EMBRAPA, 2013). A vegetação apresentou a segunda maior extensão territorial, com 30% da área estudada. Manifestando-se sobre altimetrias variadas, com exceção da formação pioneira aluvial que se restringiu as áreas de cotas altimétricas mais baixas, visto que a sua relação direta com a rede fluvial. As classes de campo/pastagem e sítio urbano corresponderam a aproximadamente cada 5% da área do município, enquanto que as demais categorias possuem área percentual inferior a 1%. Essas classes representam o atual uso do solo de Rio Largo e pode-se perceber que as áreas de encostas estão com vegetação rala, solos desnudos e até já impermeabilizado, favorecendo o escoamento superficial concentrado nos períodos chuvosos, como pode ser visto na Figura 2.

Figura 1

Mapa de Localização da Área de Estudo

Tabela 1

Distribuição das classes de uso do solo por percentuais

Figura 02

Mapa de Uso do solo e cobertura vegetal de Rio Largo - AL

Considerações Finais

A análise dos documentos cartográficos, do reconhecimento de campo e pela análise das variáveis ambientais do município evidenciaram o domínio dos ambientes antropizados, com 213,418 km² (70%), em detrimento aos ambientes naturais, com somente 93,424 km² (30%), sendo incluso nesta classe a rede de drenagem (Rio Mundaú). Neste sentido, o conhecimento da localização dessas áreas de uso do solo e cobertura vegetal pode subsidiar avaliações ambientais - dentre eles o zoneamento de riscos geomorfológicos - e planejamentos territoriais. Sendo o levantamento deste mapeamento uma ferramenta fundamental de orientação à tomada de decisão. Quanto ao uso de tecnologias e geoprocessamento, neste caso o Sistema de Informação Geográfica QGIS Lyon, a importância reside na confiabilidade das informações resultantes. Com a organização do banco de dados e as futuras análises dos geoambientes será possível identificar as principais áreas de riscos geomorfológicos do município e auxiliar a gestão pública nas medidas de conservação dos ambientes e convivência dos moradores nas áreas de encostas e próximos do vale do rio Mundaú e seus afluentes.

Agradecimentos

Agradecer ao CNPq pela concessão da bolsa PIBIC.

Referências

BRITO, J. L. S.; PRUDENTE, T. D. Mapeamento do Uso da Terra e Cobertura Vegetal do município de Uberlândia, utilizando imagens CDD/CBERS 2. Caminhos de Geografia, 13(15) 144-153, jun/2005.

CPRM - Serviço Geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea. Diagnóstico do município de Rio Largo, estado de Alagoas. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005.

Feltran-Filho AF, Lima SC, Rosa R. Mapeamento do uso do solo no município de Uberlândia – MG, através de imagens TM/LANDSAT. Sociedade & Natureza 1989; 1(2):127-145

IBGE. Manual Técnico de Uso da Terra. Rio de Janeiro, 2006. 91p.
Rosa, R. Introdução ao sensoriamento remoto. 5 ed., Uberlândia: EDUFU, 2003, 228p.

IBGE. Manuais Técnicos em Geociências: Manual Técnico de Uso da Terra. 2ª ed. Rio de Janeiro, IBGE, n. 7, 2006.

SILVA, J. X. da. A pesquisa ambiental no Brasil: uma visão crítica. Cadernos de Geociências, Rio de Janeiro: IBGE, n. 14, p. 15-27, abr./jun. 1995