Autores

Vianna, N. (UFTM) ; Pereira, A. (UFTM) ; Machado, M. (UFTM)

Resumo

O trabalho não só propõe técnicas metodológicas para esse fim, mas também busca relacioná-las com a compreensão e funcionamento do sistema ambiental e seus processos de deposição na bacia do Córrego das Laranjeiras, município de Colômbia, SP. A partir de coleta de dados in loco e ensaios de testes físicos no solo, associado a interpretação de registros cartográficos e imagens orbitais foi possível atingir os objetivos delineados no trabalho. Ficou evidente, que a gênese da área e a forma da bacia são os agentes controladores de maior hierarquia desse sistema ambiental, seguido das variáveis físicas que se inter-relacionam e na base da hierarquia o controle vem da ocupação antrópica da área. Espera-se que o trabalho chame a atenção na proposta de entendimento da dinâmica e funcionamento do sistema ambiental, para nortear nas medidas mitigadoras de recuperação de áreas degradadas tropicais.

Palavras chaves

Áreas degradadas; Avaliação ambiental; Testes físicos no solo

Introdução

Os estudos sobre as áreas degradadas são cada vez mais frequentes e novas técnicas e ações para minimizar e ou até recuperar os impactos negativos são apresentados no meio acadêmico. Estudos in loco com atenção dada as características abióticas e bióticas do ambiente, tais como análise física do solo, fauna, flora, presença de ravina ou voçoroca, pontos de erosão, fisiografia da bacia hidrográfica dentre outras, são contudo estratégias básicas para definição de ações de reversão e ou reabilitação de área degradada em área natural. Bertrand (1972) é um dos pioneiros a propor uma sistemática de estudo para análise do ambiente físico a partir da observância da paisagem. Como resultado síntese do balanço de energia entre os elementos abióticos e bióticos que a compõem sua dinâmica natural de retroalimentação. Magalhães (1995) atribui a água, um dos elementos abióticos, principal fator atuante em áreas degradadas, devido a sua força erosiva. Volume, velocidade do escoamento, espessura da lâmina d’agua, declividade e comprimento da vertente, além da cobertura da vegetação interferir no grau de intensidade de erosão. Alguns estudos mais recentes revelam que existem diversas maneiras e medidas diferentes de recuperação, dependendo da gravidade de cada situação considerando tipo do solo, índices pluviométricos, declividade do terreno, etc. A Embrapa (2006), assim como Magalhães (1995), prevê algumas medidas como: reconhecimento da área; isolamento da área e prevenção contra pragas; análise do solo; reconstituição da cobertura vegetal e monitoramento sempre que possível. Em trabalho publicado no II Simpósio de Geoestatística Aplicada em Ciências Agrárias no ano de 2011, um estudo no município de Colômbia, Estado de São Paulo, para conhecer a expectativa de erosão em determinado solo foi realizado. Após análise, Miqueloni; Gianello e Bueno (2011) revelam que o uso e ocupação inadequados ligados á ação antrópica, foram determinantes para conhecimento da expectativa de erosão. Entretanto, o estudo não detalhou o distrito de Laranjeiras, pertencente ao município de Colômbia-SP, onde se verifica diferentes estágios de erosão, composta por pequenos sulcos e ravinas maior que margeiam as construções. Chama a atenção o local porque a situação tem se agravado nos últimos anos. Os processos erosivos que vem evoluindo no tempo está avançando sentido ao distrito e escavando lateralmente os muros, a poucos metros das casas. A população existente na área revela as dificuldades que enfrentam com o descaso dos órgãos públicos, muitas das vezes solicitando soluções, porém todas em insucesso. Em conversas informais com alguns moradores, relatam o interesse de aumentarem suas casas, porém ficam impossibilitados diante dos processos erosivos atuantes que se manifestam cada vez mas abrangente com o passar dos anos. Este cenário tem despertado o interesse não só pela temática, mas na busca de compreensão dos processos de erosão. Entende-se a grande relevância do estudo uma vez que não há nenhum tipo de análise ou avaliação do local que apresente alternativas para solução do problema. Além de alterações na paisagem natural a população torna-se pacífica,a magnitude da erosão que vem interferindo nas suas residências e qualidade de vida. O presente trabalho objetiva uma avaliação ambiental de área degradada no Distrito de Laranjeiras, município de Colômbia, SP, com o intuito de compreender as variáveis ambientais que exercem controle na dinâmica natural e as interferências antrópicas na bacia hidrográfica do Córrego das Laranjeiras. Espera-se que os resultados alcançados possam nortear nas políticas públicas e em ações propositivas para recuperação das áreas degradadas no município, em especial a área em questão.

Material e métodos

O presente trabalho se baseou em leituras bibliográficas de livros, dissertações e artigos para embasamento teórico sobre o tema. A revisão bibliográfica se pautou em literaturas clássicas como Bertrand (1972) com sua análise de paisagem, Tricart (1977) sobre os meios da ecodinâmica, Bertoni e Lombardi Neto (1990) na formação e conservação do solo. Outras literaturas recentes, Guerra e Cunha (2012) com os processos erosivos nas encostas, Guerra e Jorge (2013) na erosão e recuperação de áreas degradadas, entre outros citados ao longo do trabalho. Para identificação e localização da área foram feitas visitas no local com GPS para coleta das coordenadas geográficas e posteriormente, imagens de satélites de períodos anteriores para acompanhamento da evolução do processo erosivo, juntamente com a construção de mapas de declividade e hipsometria para melhor detalhamento do local. Na elaboração dos mapas utilizamos cartas topográficas do IBGE e imagem digital de elevação SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) processadas e trabalhadas no software ArcGis. Foram feitos testes físicos como: 1.1. TESTE DE INFILTRAÇÃO: Para realização do teste de infiltração utilizamos os anéis concêntricos (infiltrômetro) que tem o seguinte procedimento proposto por Camargo (2009): escolher a área onde vai ser feita a determinação, limpando-a e nivelando-a com a enxada. Assentar o anel externo de ferro, que deve ter 47 cm de diâmetro e 15 cm de altura, por percussão de um martelo ou marreta em cima de um caibro de madeira colocado sobre o anel. Introduzi-lo 5 cm no solo. Com o centro coincidindo com o do anel externo, assentar o anel interno, que tem 24,5 cm de diâmetro por 27 cm de altura, introduzindo-o também 5 cm no solo. Fixar uma bóia no anel interno e ligá-la ao depósito de água, que garantirá uma carga hidráulica constante e de aproximadamente 11 cm de altura. Conectar a mangueira que liga o depósito à bóia com a torneira fechada, abastecendo-o de água até o nível superior da escala medidora. Encher o espaço entre os anéis com água até 5 cm da borda do anel externo e manter este nível até o final da determinação. Encher o cilindro central com uma lâmina de água de 11 cm de altura e abrir rapidamente a torneira do depósito, anotando o tempo do início da infiltração e a leitura inicial da escala medidora. Anotar sucessivamente os tempos e as alturas de água infiltrada fornecida no aparelho. (p. 70) 1.2. TESTE DE RESISTÊNCIA DO SOLO A PENETRAÇÃO Para realização do teste de resistência do solo à penetração, utilizamos o penetrômetro reduzido de impacto, que segundo Stolf (1991): “tem características dinâmicas de penetração, pois a haste penetra no solo através do impacto de um peso que cai de uma altura constante, em queda livre. Conta-se o número de impactos necessários para que o aparelho penetre a espessura de determinada camada” (p. 230) 1.3. COLETA DE AMOSTRA DE SOLO PARA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA Para conhecer a textura do solo o procedimento ideal é a análise granulométrica, que se deu por coleta de amostras deformada, ou seja, solo coletado com o trado holandês, já que não houve a necessecidade de preservar as camadas. Além do trado utilizamos fita métrica para medir as profundidades determinadas, sendo elas amostras de 10cm e 50cm; sacos plásticos para reservar cada coleta; fitas adevisas e canetas para identificação. Após coletar os cinco pontos ao entorno e dos três dentro da ravina os sacos plásticos foram lacrados e levados á geladeira para não haver perda da umidade natural existente no solo. No laboratório realizamos a pesagem das amostras e posteriormente deixamos na estufa por 24 horas em temperatura de secagem de 105 ºC, após esse período repetimos a pesagem e encontramos a porcentagem de umidade existente nas amostras. Para a granulometria utilizou-se como referência a NBR-7181 da ABNT. Os resultados obtidos nos testes compuseram os boletins analíticos que subsidiram na intepretação dos resultados.

Resultado e discussão

Os trabalhos de campo no distrito das Laranjeiras foram norteadores na avaliação ambiental das áreas degradadas no local, cujos processos de erosão laminar e superficial estão se agravando ao longo dos anos. Pontos mais avançados de erosão, com ravinas, avançam sistematicamente no sentido das edificações em área urbana, ameaçando romper muros e outras estruturas que ali se encontram. Numa visão mais ampla de análise do ambiente, a nível de bacia hidrográfica, o distrito de Laranjeiras é palco dos processos naturais, onde os fluxos de energia e matéria (água e sedimento) entram no sistema pelas cabeceiras e rios tributários pertencentes a bacia do Córrego Laranjeiras. Esses fluxos convergem para único ponto de saída, ainda na bacia do Córrego Laranjeiras, marcando a entrada do médio curso da bacia hidrográfica. Observa-se que no alto curso da bacia hidrográfica trata de uma área de degradação sedimentar natural e ativa, devido a identificação de grande quantidade de rios tributários. No médio curso da bacia, que se inicia a partir da confluência dos rios tributários onde o Córrego das Laranjeiras segue seu curso praticamente como canal principal, a dinâmica sedimentar observada é outra. Funciona preferencialmente como uma área de transferência de energia e matéria para o rio maior, em meio a processos de degradação sedimentar menos atuantes do que no alto curso da bacia, devido a existência de poucos canais tributários. Soma-se a esse entendimento da dinâmica sedimentar, balanço entre processos de erosão e deposição, a forma da bacia hidrográfica no seu alto curso. Visivelmente, muito próxima a índices que caracterizam como forma circular, propícia a enchente e ou inundação de algumas áreas que se deve ao tempo de drenagem das águas superficiais na bacia quase no mesmo intervalo. Cabe destacar que tais fatos são íntrisecos ao sistema ambiental da bacia hidrográfica do Córrego das Laranjeiras. Na hipótese de definir hierarquias de controle ambiental como uma tentativa de compreensão dos processos erosivos que avançam em direção ao distrito de Laranjeiras, as expostas acima seriam as de hierarquia de maior controle por estarem associadas a gênese de evolução natural da bacia hidrográfica, cuja interferência antrópica ou não, o sistema continuará ininterruptamente na busca do equilíbrio dos processos sedimentares até a selenidade do relevo. Na hierarquia abaixo, as variáveis ambientais que compõem uma pasaigem estariam exercendo controle na velocidade com que desencadeiam os processos sedimentares e retroalimentam outros sub-sistemas ambientais menores. A exemplo da vegetação com potencial de redução dos efeitos da gota da chuva no solo que por sua vez, textura e porosidade, influencia diretamente nos índices de infiltração. Esta, retroalimenta outros sub-sistemas como os fluxos hortonianos, os hipodérmicos, os de retorno e os subterrâneos. Nas análises de granulometria realizadas no LAGECS Laboratório de Geomorfologia, Clima e Solos do Departamento de Geografia desta instituição, em amostras coletadas em campo, obsevou-se a predominância de textura silte, de acordo com a NBR-7181 da ABNT (Imagem 1). Não apresentam sensação de aspereza, mas sim de sedosidade quando esfregadas entre os dedos e devido sua textura é mais propenso à ação do intemperismo. Seus poros são menores e muito mais numerosos que os poros presentes nas partículas de areia, sendo assim, o silte retém mais água e permite uma menor taxa de drenagem o que é visível e comprovado na área da ravina, prevalecendo assim o escoamento superficial, que no balanço morfogenético é classificado como positivo. O teste de resistência do solo à penetração revelou baixos índices de limitações de crescimento de raízes e compactação como observados nos pontos (P1, P4 e P5, pois o escoamento superficial é inversamente proporcional à compactação. Vale destacar a importância deste teste que não é muito utilizado em trabalhos de avaliação ambiental, pois através de sua realização é possível obter-se a profundidade da camada compactada e, a partir daí, optar pelo implemento mais adequado de descompactação, sendo assim, conclui-se a predominância do escoamento superficial e baixos índices de compactação na área degradada estudada (Imagem 1). De acordo com Nunes, Silveira, et al (2013), solos com cobertura vegetal tendem a ter maior velocidade de infiltração, devido a fatores como presença de canais formados por raízes, presença de matéria orgânica e atividade microbiológica. A diferença de velocidade de infiltração entre latossolos vermelho com cobertura vegetal e sem cobertura no campo experimental da UFMT-CUR é muito alta chegando a ser 7,55 cm h-1 tendo assim 64,92% de diferença entre ambas. Conclusão essa, que também pode ser observada nos testes na ravina de Laranjeiras, já que os pontos (P1, P2 e P3) contam com a presença de vegetação, mesmo que seja de pequeno porte, diferente do ponto (P4) que está localizado em uma área sem desenvolvimento da vegetação no local e obteve maior tempo na velocidade de infiltração como se observa no (Imagem 1). Não foram realizados testes químicos na área degradada, porém toma-se nota do trabalho de Camargo, Júnior, et al. (2013), que apresenta as mesmas condições geomorfológicas, topográficas e geológicas da ravina em Laranjeiras. De acordo com os autores, após análises, foram revelados que devido a formação de basalto mais próximo ao fundo do vale tem-se a predominância de minerais máficos (Fe) e que através de testes de densidade observou-se maior porosidade e menor densidade, como vimos nos testes granulométricos realizados na ravina em Laranjeiras. Vale destacar também no trabalho de Camargo, Júnior, et al. (2013) que devido à análise das amostras em suspensão, conseguiu-se determinar e classificar a argila presente, que no caso teve predominância do óxido de ferro hematina e fração de argila gipsita. As interferências antrópicas no sistema ambiental da bacia hidrográfica do Córrego das Laranjeiras estariam no terceiro nível de controle hierárquico. Como um agente catalisador na velocidade dos processos sedimentares e seus associados. Por ser palco dos processos naturais, onde ocorre a troca de energia e matéria, na qual os fluxos convergem para o exultório, o distrito de Laranjeiras está em meio a essa dinâmica, pois encontra-se no médio curso da bacia hidrográfica do Córrego Laranjeiras, em degradação sedimentar natural ativa, como identificado através da quantidade de rios tributários. Através dessa análise da forma da bacia e quantidade de tributários, ou seja, processos não controlados pelo homem, conclui-se que esses processos funcionarão normalmente e continuarão ininterruptamente na busca do equilíbrio dos processos sedimentares até o senilidade do relevo.

IMAGEM 1

Tabela de granulometria, resistência do solo à penetração e teste de infiltração respectivamente, nos 5 pontos determinados para coleta de dados.

Considerações Finais

2.1. MEDIDAS INDICATIVAS PARA CONTENÇÃO DA RAVINA Após conhecer a área e a realização dos estudos na mesma, se proporá a partir de medidas de recuperação/conservacionistas já existentes que de inicio o ideal é o cercamento da área protegendo a ravina do pisoteio de animais, passagem de pessoas e automóveis. Outra medida viável é a revegetação proposta por Bertoni e Lombardi Neto (1990) na qual afirma que a cobertura vegetal: é a defesa natural de um terreno contra a erosão através dos seguintes benefícios: (a) proteção direta contra o impacto das gotas de chuvas;(b) dispersão da água interceptando-a e vaporando-a antes de atingir o solo;(c) decomposição das raízes das plantas que formando canalículos no solo aumentam a infiltração de água;(d) melhoramento da estrutura do solo pela adição de matéria orgânica aumentando assim sua capacidade de retenção de água e (e) diminuição da velocidade de escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito na superfície.(p. 59) O terraceamento também é uma medida viável para o local, porém de alto custo, pois prevê construção de valas transversalmente à direção do maior declive para controlar erosão e aumentar a infiltração de água no solo. Com a construção dos terraços, diminui a velocidade das enxurradas e consequentemente as perdas de solo contribuindo para amenizar a topografia local. Essas medidas não poderão ser realizadas se antes de qualquer intervenção haja um acordo da população que reside na área com a Prefeitura Municipal de Colômbia.

Agradecimentos

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