Autores
Dutra, L.M. (UFG) ; Amaral, A.K.N. (UFG) ; Silva, M.P. (UFG)
Resumo
As relações de antropização vêm exercendo forte tensão na ampliação de novas áreas destinadas à agricultura a fim de atender as necessidades da demanda populacional, com isso, a conversão de recursos naturais em áreas agrícolas tem demasiadamente confrontado com as questões socioambientais. Nessa temática, objetiva-se estudos de casos como subsídio para o planejamento ambiental. Devido às intensas alterações do meio físico e o manejo inadequado do uso das terras, alia-se a essa perspectiva um estudo referente à compartimentação morfopedológica do município de Correntina – Bahia, que está evidentemente estabelecido pela integração dos fatores geológicos, geomorfológico e de solos, interligados diretamente com o relevo e o uso do solo. Dentre os compartimentos sintetizados, os que apresentaram maior relação com a vulnerabilidade são os CPM 3, 4 e 5 por terem sido evidenciados pelo uso intensivo de agricultura e pastagem, que pode acarretar diversos problemas ambientais.
Palavras chaves
Compartimentação morfopedológica; Planejamento ambiental; Cerrado
Introdução
Segundo o ministério do meio ambiente (MMA) o bioma Cerrado é considerado o segundo maior bioma mundial, possuindo uma área equivalente a 2.036.448 km² cerca de 22% do território Brasileiro. Possui diversidades em abundâncias de espécies endêmicas, mas que atualmente devido as más condições de ordenamento de território e dos recursos naturais, vem sofrendo extrema perda de habitat. Este bioma está sendo evidenciado como um dos hotspots mundiais de biodiversidade, por apresentar inúmeras condições de desmatamento que são provenientes das alterações em relação as ações antrópicas, e que concomitantemente exerce forte tensão na criação de novas áreas, que vigoram atender as necessidades da demanda populacional. A forte pressão por novas áreas, tem subsistido exponencialmente nos dias atuais promovendo a conversão de recursos naturais em áreas agrícolas e agropecuárias. Frente a esses processos de antropização, torna-se evidente resultantes problemas socioambientais negativos, e nessa contingencia tem como importância primordial estudos de casos como; diagnósticos ambientais que subsidiam um planejamento ambiental efetivo. Devido as intensas alterações do meio físico combinado com o manejo inadequado da terra, tem desencadeado alarmante vulnerabilidade ambiental, que geralmente há perdas irreversíveis, problemas significativos resultantes da desprovida e grande atividade produtiva, que por sua vez reflete demasiadamente nas questões sociais em geral tanto como processos de assoreamentos, desmatamento e desertificação MELO, e LIMA (2011). Contudo é possível perceber a inexistência de comprometimento com os recursos naturais que em suma deveriam ser melhor estudados e preservadas, sob uma adequação mais rigorosa em relação aos recursos naturais. Aliado a essa perspectiva, vê a grande necessidade de um diagnóstico geoambiental como fator resultante de um estudo detalhado em relação ao meio físico, para beneficiar áreas com maior potencial de vulnerabilidade ambiental, e favorecer através dessas informações um melhor desempenho produtivo. Essa abordagem busca a partir de uma analise metodológica avaliar os componentes do meio físico e suas relações, que de certa forma possibilitará tomada de decisões futuras. Segue referente o estudo da compartimentação morfopedológica do município de Correntina Bahia, o qual fará necessário o uso de todos fatores preponderantes das geotecnologias e que de maneira integrada aborda os componentes do meio físico, tendo como o cruzamento de dados referentes a relação da integração dos condicionantes de relevo, solos, geologia e geomorfologia, que estabelece como resultado um produto para o planejamento do uso das terras CASTRO e SALOMÃO (2000). Diante dessas condições, o limiar desse trabalho segue intencionado pela proposta de analise da compartimentação morfopedológica do município de Correntina no estado da Bahia a partir da caracterização de compartimentos. E especificamente, diagnosticar a partir de métodos cartográficos o uso e ocupação das terras de cada compartimento, sobretudo tendo como enfoque avaliar se os mesmos encontra-se em condições de vulnerabilidade ambiental, para assim subsidiar o manejo da área e proporcionar uma melhor qualidade produtiva.
Material e métodos
A metodologia de trabalho foi desenvolvida primeiramente com base em uma revisão de literatura sobre a temática com a intenção de subsidiar as análises e discussões. Para análise dos aspectos geológicos e de solos foram utilizados dados secundários obtidos através do portal Dados.gov (http://dados.gov.br/dataset/cren_geologiasd23), sendo este uma atualização do mapeamento realizado pelo projeto RADAMBRASIL (1981). Para compreensão dos agentes geomorfológicos a pesquisa baseou-se na interpretação dos modelos digitais de elevação (MDE) de resolução espacial de 30 m, obtidos em: INPE TOPODATA. A compartimentação morfopedológica reflete o comportamento síntese da paisagem podendo adotar a partir deste procedimento critérios corretivos ou preditivos de manejo dos solos. Estes compartimentos tiveram como pressupostos de identificação e delimitação, níveis de dissecação do relevo, grupos de solos mais homogêneos e reconhecimento dos principais usos e ocupações, visto que devem ser agrupados conforme a sua semelhança (CASTRO; SALOMÃO op. cit.). Consta no cruzamento de informações de geologia, geomorfologia e solos (CASTRO; SALOMÃO, 2000). O uso do solo foi utilizado para identificar quais são os respectivos usos em cada compartimento. A sistematização dos dados utilizados ocorreu no programa ArcGis versão 10.1, que possibilitou a integração das informações e a elaboração de informação geográficas, além dos mapas apresentados.
Resultado e discussão
GEOLOGIA
A geologia do município de Correntina, consiste basicamente segundo LIMA et
al (2010) por rochas sedimentares do grupo Urucuia que estão classificados
por arenitos de finos á médios, impuros com alguns níveis conglomeráticos.
Os sedimentos compõem-se de areias, cascalhos, siltes e argilas. Ocorre
ainda a formação de Argilito silexito Ritmito e marga, próximo a essa área é
composta por migmatitose ortognaisses presente na (Figura 1) do Quadro 1.
GEOMORFOLOGIA
A geomorfologia do município de Correntina esta representada por: Carste
coberto chamado de depressão médio do rio São Francisco, relevo carstico; ou
seja, relevo desenvolvido em região calcária, devido ao trabalho de
dissolução pelas águas subterrâneas e superficiais, podendo ser observado na
(Figura 2) do Quadro 1.
Apresenta geomorfologia homogenea convexa em todos os pontos, está
representada por patamares e pelo chapadão ocidental Baiano.
Pediplano: Superfície plana a suavemente inclinada, pavimentado por material
alúvio-coluvionar.
Pediplano degradado inumado: pertencente ao chapadão ocidental Baiano;
superfície de aplainamento parcialmente conservada ocorrendo nos topos de
planaltos.
Pediplano retocado inumado: caracterizado pelo chapadão ocidental Baiano;
superfície de aplainamento formado em detrimento as depressões pediplanadas.
A Planície fluvial está ligeiramente representada por planícies e terraços
fluviais: consiste na área plana resultante de acumulação fluvial que está
devidamente sujeitas á inundações, ocorrendo geralmente nos vales.
SOLOS
Os solos do município de Correntina estão representados respectivamente
pelos LVad; Latossolos Vermelho Amarelo Distrófico. RQo; Neossolos
Quartzarêncios Orticos. GMa; Gleissolos Melanico Alumínico. CXue;
Cambissolos Haplico Eutroficos. TCp; Luvissolo Crômico Pálico.
A area de estudo evidencia solos bem profundos e razoavelmente ferteis de
acidez acentuada, caracteriza quatro tipos de solos sendo eles
expecificamente segundo LIMA et al (2009) Cambissolos Haplicos distróficos,
textura média, fase Cerrado sentido restrito, relevo ondulado.
Os Gleissolos Háplicos distrófico, tendo em vista a (Figura 3) do Quadro 1.
Possui textura média, fase vereda e relevo plano. Os Latossolos vermelhos,
por sua vez distrófico textura média, fase Cerrado sentido restrito, relevo
plano. Latossolo vermelho amarelo LVAd, e Latossolos Amarelo distrófico
textura média, fase Cerrado sentido restrito relevo suave ondulado.
Neossolos quartzarênico órtico - RQo fase Cerrado sentido restrito de relevo
plano a suave ondulado.
O percentual de solos distribuídos no município de Correntina - BA segundo
EMBRAPA – Cerrados (2009) está equivalente a dimensão de 30% de
neossoloquartzarênico, 29% Latossolo vermelho amarelo, 23% cambissolo
Háplico, 8% Latossolo amarelo, gleissolo háplico 6 % elatossolo vermelho
4%.
A declividade está evidenciada na (Figura 4) respectiva do Quadro 1. Onde
predominantemente está associado ao relevo plano á ondulado. As cotas de
Altitude estão entre 445 á 1020 m representadas na (Figura 5) do Quadro 1.
USO DO SOLO
O uso da terra no município de Correntina - BA está representado em sua
maior totalidade por vegetação natural, entretanto esse percentual, está
diminuindo devido as atividades de agricultura intensiva, podendo ser
observado na (Figura 6) do Quadro 1. Por se beneficiar de solos bem
desenvolvidos profundos e férteis, e relacionar-se com o relevo
relativamente plano.
As atividades de pastagem também tem tomado espaço no município, nesse
contexto enfatiza uma análise posterior da dinâmica do uso da cobertura da
terra, objetivando um estudo da relação entre a evolução do uso e os
aspectos sócioambientais.
COMPARTIMENTAÇÃO MORFOPEDOLÓGICA
A compartimentação morfopedológica como sendo um reflexo da integração e
intersecção dos temas de solos, geologia, e geomorfologia resultou na
caracterização sucinta de cada compartimento estabelecido na (Figura 7).
Tendo como auxilio primordial os temas de declividade, hipsometria e uso da
terra, na relação com a vulnerabilidade de cada compartimento que está
diretamente sintetizados na (Tabela 1).
O CMP 1 está representado com uma área de 556,2 Km² um percentual de 45,82 %
da área total do município, seu relevo estende-se desde suave ondulado á
ondulado, tem altitude de 685 á 750m, possui geologia que se caracteriza por
aluviões holocênicos, formação sete lagoas. Sua geomorfologia está inserida
sobre pediplano retocado inumado com solos do tipo LVad; Latossolo Vermelho
Amarelo Distrófico. RQo; Neossolos Quartzarêncios Orticos. Tendo o uso
natural como uso atual. Esse compartimento por ter cobertura de vegetação
remanescente, apresenta vulnerabilidades menos intensa podendo ser
evidenciado na (Tabela 1).
O CMP 2 possui área com 640,6 Km² com 5,27 % da área total, está inserido
sobre planície fluvial, composta por aluviões holocênicos, do grupo Urucuia,
seus solos subdividem entre os RQo; Neossolos Quartzarêncios Orticos. E GMa;
Gleissolos Melanico Alumínico. O relevo está meramente evidenciado por
relevo ondulado, com altitude 595 á 685m, com uso da terra relativamente
composto por água e vegetação natural, nesse caso esse compartimento
encontra-se de certa forma ocupado por vegetação, mas que necessita ser
preservado particularmente.
O CMP 3 possui área de 5225,2 Km² e 43,0% da área total, aborda o pediplano
degradado inumado pertencente ao grupo Urucuia, tem como solos LVad;
Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico. Uso atual por agricultura devido seu
relevo plano, possui cotas de altitude desde 750 á 1020m. Esse
compartimento mediante analise sucinta observa-se que por possuir solos bem
desenvolvidos e que propicie a atividade de agricultura necessita ser
julgado com mais minuciosidade, pois a pratica intensiva da agricultura pode
acarretar diversos problemas desde a contaminação dos solos por cargas
contaminantes pelos usos dos pesticidas e herbicidas, entre outros processos
de manuseio excessivo da terra. Contudo mesmo havendo a prática excessiva de
agricultura na área, os solos e a declividade são propícios para tal
atividade.
CPM 4 com área total de 112,8 e 0,92% da área, respectivamente comporta a
sua geomorfologia por carste coberto pela formação sete lagoas e subgrupo
paraopebas, o relevo está baseado em forte ondulado á escarpado, e altitude
de 445 á 595m seus solos estão evidenciados pelos CXue; Cambissolos Haplico
Eutroficos. E pelo uso de pastagem, é possível constar a vulnerabilidade
deste compartimento pela incidência do uso intensivo por pastagem, podendo
proporcionar a compactação e inúmeras perdas de solo. Nesse caso devido a
geomorfologia de carstes, sendo o relevo de carste composto extremamente por
rochas calcárias, associado ao acentuado uso por pastagem, torna o
compartimento completamente vulnerável.
CPM 5 possui 596,0 Km² de área um percentual de 4,91% composto
essencialmente pela geomorfologia homogênea convexa, solos GMa; Gleissolos
Melanico Alumínico. TCp; Luvissolo Crômico Pálico. Tendo como sua geologia a
formação sete lagoas, e complexo caraíba, o relevo estende-se desde
ondulado a escarpado e altitude de 445 á 685m, está presente a atividade de
pastagem combinada com a vegetação natural, esse compartimento reflete a
associação desses dois condicionantes, o que torna indispensável a
preservação dos remanescentes naturais.
Mapas do meio físico município de Correntina Bahia. Fonte: Dados.gov
Mapa de hipsometria e uso da terra município de Correntina Bahia. Fonte: Dados.gov
Mapas de compartimentação morfopedológica município de Correntina Bahia. Fonte: Dados.gov
Tabela de Síntese da Compartimentação Morfopedológica Município de Correntina Bahia.
Considerações Finais
A análise da compartimentação morfopedológica do município de Correntina - BA, mostrou-se diversificado demonstrando de forma incipiente as características do meio físico do local. Logo destacou as diferentes proporções de vulnerabilidades que cada compartimento está submetido articulado com cada uso atual. No caso dos compartimentos 3 e 4 foram os que mais apresentaram um certo teor de preocupação, por propiciar elementos favoráveis ao desenvolvimento de culturas em geral, como a evidencia de relevo planos em sua maior totalidade, e solos férteis. Também em questão ao compartimento 5 apresenta- se altamente vulnerável por ser um local com alta declividade e apesar disso empregar o uso de pastagem. O partilhar desse trabalho destaca pela vulnerabilidade ambiental, devido o uso intensivo das terras por agricultura e pastagem e que consequentemente reflete nos alarmantes desgastes naturais, como; empobrecimento, contaminação, e compactação do solo, ocasionando também a contaminação dos lençóis freáticos pelo processo de lixiviação. Nessa contingencia toma-se como enfoque esse trabalho base, como fator relevante para o manejo adequado do uso da terra no município, tendo em vista o desenvolvimento de estratégias capazes de beneficiar as atividades produtivas, contíguo a perspectiva de uma melhor qualidade ambiental no local.
Agradecimentos
Agradecemos a Instituição de Estudos Sócio-ambientais IESA da Universidade Federal de Goiás – UFG por proporcionar o ambiente de estudo, o qual se firmou este trabalho, aos professores em sua totalidade, aos colegas de classe e todos os integrantes dos laboratórios vinculados pela benevolência.
Referências
Bioma Cerrado. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas/cerrado>. Acesso em 03. Dez. 2015.
CASTRO, S. S.; Salomão, F. X. T. Compartimentação morfopedológicae sua aplicação: considerações metodológicas. Revista GEOUSP, São Paulo, n.7, p.27-37, 2000
LIMA, L. A. de S.; MARTINS, E. de S.; GOMES, M. P.; BRAGA, A. R. dos S.; PASSO. D. P.; CASTRO, K. B. de; CARVALHO JÚNIOR, O. A.; GOMES, R. A. T. Caracterização geomorfológica do Município de Correntina, Oeste Baiano, Escala 1:100.000. EMBRAPA – Cerrados. Jun. 2010. Planaltina. DF. UNB
LIMA, S. A. L.; MARTINS, S. E.; REATTO, A.; CASTRO, B. K.; PASSO, P. D. CARDOSO, S. W.; SANTANA, A. O.; JUNIOR, C. A. O. ; GOMES, T. A. R. Levantamento Preliminar de Solos do Município de Correntina – BA. EMBRAPA Cerrados. 2009. Planaltina. DF. UNB. Disponível em:<https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/711886/levantamento-preliminar-de-solos-do-municipio-de-correntina---ba-escala-1-100000-2009>.Acesso em: 03. Mar. 2016.
Melo, J. A. B. ; Lima, E. R. V. Diagnostico Geoambiental em Microbacia Hidrográfica do Semiárido Brasileiro, A partir do Uso de Geotecnologicas. Revista de Geografia (UFPE) V. 28, No. 1, 2011. Disponível em: < http://www.revista.ufpe.br/revistageografia/index.php/revista/article/viewArticle/378 >. Acesso em: 20. Out. 2015.
RADAMBRASIL. Levantamento de Recursos Naturais Folha SD.23 Brasília: geologia,geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro: Ministériode Minas e Energia. Secretaria Geral, 1982, v. 29, 660 p.
SILVA, A. A. ; MIZIARA, F. Avanço no Setor sucroalcooleiro e Expansão Agrícola em Goiás. Agropec. V. 41. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pat/v41n3/a07v41n3.pdf>.Acesso em: 03. Mar. 2016.